Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AGUIAR, Felipe Costa; MOURA, Jeani Delgado Paschoal. Aproximando as margens da formação docente: tornando-se professor de Geografia
em zonas de fronteiras. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 23, e102315, 2024.
Submissão em: 18/02/2024. Aceito em: 15/06/2024.
ISSN: 2316-8544
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fronteira, face a face — margem a margem. Estar na margem da experiência curricular é estar
no centro porque, de certa forma, “é nas fronteiras que se dá, de forma mais clara, a hibridização
das culturas” (Pinto; Lopes, 2021, p. 193). Assim, as fronteiras são o centro da produção
curricular.
Hibridismo, encontro, fronteira, margem, limite, espaço e lugar são termos que, juntos,
fazem com que nossa abordagem se volte para a geograficidade da formação docente em
Geografia, pois formam uma tessitura de experiências equiprimordiais para a constituição
existencial dos professores. Com Valladares (2009; 2014; 2015), compreendemos que os
currículos vividos pelos professores em formação não se dão em lugares isolados, mas em zonas
de fronteiras.
[...] era possível pensar estágio supervisionado como uma zona de fronteira, como um
lugar dividido por limites institucionais, às vezes difusas (como as ruas que marcam
o começo e o fim de alguns países, como Paraguai e Brasil), às vezes muito visíveis
(como pontes ou como postos alfandegários) que registram a existência de dois
territórios (escola e academia). Avançando para além do limite de cada um dos
territórios de ambas as instituições, essa zona fronteiriça funcionaria como uma área
de trabalho para formação docente, para quem estivesse a se preparar academicamente
para o exercício da profissão, podendo favorecer formação continuada de quem
estivesse nela (professoras de escola e de estágio) buscando continuar se aprimorando
(Valladares, 2009, p. 102)
Nas zonas de fronteiras, quem são os sujeitos e como eles vivem essa experiência
geográfica?
Nas zonas de fronteiras, sujeitos se gestam, se gostam, se gastam e (de)gustam
diferentes sabores de vida, em seus projetos e tentativas de humanização. Nessas
zonas de fronteiras, os que por ali vivem, teimosamente presos a um território da
fronteira perdem sua condição inicial de nómade ou migrante - estiveram na escola,
foram a universidade e voltaram para a escola, não voltam mais à universidade ou,
então, estiveram na escola, foram para a universidade e não querem ficar na escola.
Estiveram nômades, foram migrantes, hoje são moradores antigos. Outros desejam
ardentemente um dos territórios da fronteira, são ‘arrivistas', repudiados pelos que
ocupam fixos espaços, pois nos fazem lembrar que, um dia, também foram recém-
chegados. E nós, que por ali transitamos nómades, migrantes talvez, carregados de
sonhos e aprendizagens para trocas e novas invenções, tornamo-nos híbridos, porque
nem somos da academia, nem somos da escola e somos de ambos porque não somos
apenas professores ou apenas alunos, somos uns e somos outros, deixando de ser um
ou outro ou ambos, às vezes, em nossas transgressões, em nossas resistências, em
nossas teimosias e incompreensões. Somos sujeitos híbridos vivendo nossas histórias
de formação que contagiam a formação de outros sujeitos - e é preciso estar atento à
responsabilidade do que isto significa (Valladares, 2015, p. 76).