Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
COSTA, Anne Isabelita Sabino de Mendonça. As xananas da praça: um breve estudo sobre as identidades no microterritório da prostituição
na praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN). Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122502, 2025.
Submissão em: 11/06/2024. Aceito em: 21/12/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
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SEÇÃO ARTIGOS
As xananas da praça:
um breve estudo sobre as identidades no microterritório da prostituição na praça Gentil
Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN)
The xananas of the square:
a brief study on the identities in the micro-territory of prostitution in the Gentil Ferreira
square in the neighborhood of Alecrim (Natal/RN)
Las xananas de la plaza:
Un breve estudio sobre las identidades en el microterritorio de la prostitución en la
plaza Gentil Ferreira en el barrio de Alecrim (Natal/RN)
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v12i25.63280
Anne Isabelita Sabino de Mendonça Costa
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Rio Grande do Norte, Brasil
e-mail: prof.isabelita@gmail.com
Resumo
O presente artigo foi o resultado de uma pesquisa individual realizada como membro do Programa de Educação
Tutorial (PET) do curso de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O estudo teve
como objetivo principal formular a compreensão das identidades das profissionais do sexo, atuantes no
microterritório da Praça Gentil Ferreira, no bairro Alecrim, em Natal/RN. Destaca-se que o trabalho tem um viés,
majoritariamente, qualitativo e, para o seu desenvolvimento, foram executados o levantamento bibliográfico, as
visitas a campo para as observações e execução de entrevistas semiestruturadas com seis interlocutores. No que
diz respeito aos resultados observados, notamos a complexidade das interações socioespaciais existentes nesse
microterritório, em junção às questões temporais na construção da identidade e as relações de poder com os atores
do espaço vivido.
Palavras-chave
Identidade e microterritório; Profissionais do sexo; Relações de poder.
1
Professora da Educação Básica da Secretaria da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer do Estado do Rio
Grande do Norte (SEEC). Graduada em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
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COSTA, Anne Isabelita Sabino de Mendonça. As xananas da praça: um breve estudo sobre as identidades no microterritório da prostituição
na praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN). Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122502, 2025.
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Abstract
The present article is the result of an individual research conducted as a member of the Tutorial Education Program
(PET) within the Geography course at the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN). The study aimed
primarily to formulate an understanding of the identities of sex workers operating in the micro-territory of Praça
Gentil Ferreira, located in the Alecrim neighborhood of Natal/RN. It is worth noting that this work is
predominantly qualitative in nature, and to carry it out, a literature review was conducted, field visits were made
for observations, and semi-structured interviews were conducted with six participants. Regarding the observed
results, we have noted the complexity of the socio-spatial relationships existing in this micro-territory concerning
temporal aspects in identity formation and power dynamics with the actors within the lived space.
Keywords
Identity and micro-territory; Sex workers; Power relations.
Resumen
Este artículo fue el resultado de una investigación individual realizada como miembro del Programa de Educación
Tutorial (PET) del curso de Geografía de la Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). El objetivo
principal de este estudio fue formular la comprensión de las identidades de las trabajadoras sexuales, que actúan
en el microterritorio de la Praça Gentil Ferreira, en el barrio de Alecrim, en Natal/RN. Cabe destacar que el trabajo
tiene un sesgo, mayormente cualitativo, y para su elaboración, se realiel levantamiento bibliográfico, las visitas
de campo para las observaciones y realización de entrevistas semiestructuradas con seis interlocutores. En relación
con los resultados observados, observamos la complejidad de las relaciones socioespaciales existentes en este
microterritorio en relación con las cuestiones temporales en la construcción de la identidad y las relaciones de
poder con los actores del espacio vivido.
Palabras clave
Identidad y microterritorio; Trabajadoras sexuales; Relaciones de poder.
Introdução
De antemão, apresenta-se a demanda para o esclarecimento da palavra “xanana”. Esta é
um substantivo próprio atribuído a uma planta tropical, ornamental, comestível e medicinal,
com o nome científico Turnera Subulata, considerada símbolo da cidade do Natal. Conforme
afirma Aloufa (2002), o poeta Diógenes da Cunha Lima defendia esta inflorescência como
representação poética da capital potiguar devido às suas características, dentre elas: a
resistência, persistência, beleza e fortaleza. Ao passearmos pela cidade, em muitos becos,
avenidas e vielas, é possível percebermos a existência das xananas que resistem, bravamente,
às mais adversas condições: são manifestações de tenacidade e obstinação. Diante do exposto,
como um recurso poético, destaca-se a iminente similitude entre a resiliente flor e as
profissionais do sexo que trabalham na praça Gentil Ferreira.
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na praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN). Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122502, 2025.
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Um dos conceitos-chave da Geografia é o território, fundamental para a compreensão
das relações de poder que se estabelecem em uma determinada parcela do espaço geográfico.
É importante ressaltar que tal conceito é objeto de distintas definições e conceituações. Desta
forma, infere-se que o território é construído não somente por suas fronteiras, sejam elas visíveis
ou invisíveis, oficiais ou não, mas também pelas relações simbólicas, estruturais e, como dito
anteriormente, de poder, revelando, assim, a sua dinamicidade (Raffestin, 1993; Haesbaert,
1997; Sack, 1986 e Santos, 2002).
Face a isso, o presente trabalho é fruto de uma pesquisa, realizada em 2022, voltada
para a compreensão das identidades das profissionais do sexo atuantes na praça Gentil Ferreira,
esta enquanto um território situado no bairro do Alecrim, no Natal/RN. Um dos nossos intuitos
foi tornar visíveis aqueles grupos pouco analisados na produção científica geográfica, como
postula Silva (2009b), contribuindo, assim, com os estudos sobre as mulheres e suas
sexualidades.
Nesse sentido, para atingir o intuito do nosso estudo, é preciso, primeiramente,
compreendermos o território. Com isso, foi fundamental o estudo sobre as diferentes
abordagens existentes acerca desse conceito. No levantamento bibliográfico, destacamos alguns
teóricos como Raffestin (1993), Haesbaert (1997), Sack (1986), Santos (2002) e outros
intelectuais que referenciaram tal definição. Em vista disso, buscamos trabalhos que discutem
esta formulação e a territorialidade, em diferentes perspectivas, as quais contribuem de forma
significativa para alcançarmos o objetivo deste artigo.
Além da questão territorial, há uma marca relevante em nosso trabalho: as temáticas de
gênero e sexualidade. Tratar sobre esses assuntos, dentro das Ciências Geográficas, se torna
excessivamente dificultoso, haja vista a temática sexual ser escassamente abordada
geograficamente (Lopes, 2024). Mesmo diante das dificuldades que se apresentam no recorte
identidade-território-gênero, a Geografia nacional conta com estudiosos de destaque nas
temáticas, como Miguel Ângelo Ribeiro (1998), Joseli Maria Silva (2009a; 2009b), Márcio José
Ornat (2012) e Benhur Costa (2010; 2017), entre outros que vêm contribuindo com a
abordagem metodológica para que o tradicional e consolidado conceito de território seja
redefinido e incorporado às questões de gênero (Silva, 2009a).
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O intuito desta pesquisa refere-se, portanto, à realização de um breve estudo sobre as
identidades no microterritório da prostituição feminina na Praça Gentil Ferreira, situada no
bairro do Alecrim, importante centro de comércio popular na zona leste da capital norte-rio-
grandense. Metodologicamente, as principais questões de partida foram: Como se deu a
construção dessa identidade das profissionais do sexo e do seu microterritório? Que fatores
foram responsáveis pela sua delimitação? Como é delineada a prática dessa atividade na praça?
Desse modo, a fim de alcançarmos a meta principal do estudo, foi necessário
compreender a formação e a dinâmica do bairro em que a praça está localizada, o perfil
socioeconômico das mulheres que nela trabalham com atividades sexuais remuneradas e
analisar a dinâmica estabelecida pelas denominadas xananas, dentro desse microterritório.
Assim, foi possível perceber que há uma identificação dessas trabalhadoras com essa parte do
espaço geográfico, corroborando Santos (2002) quando este afirma que o território é o lugar
onde a história humana plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência. Além
disso, foram observados os fatores que contribuíram para a sua construção e parte da dinâmica
das relações socioespaciais que se estabelecem no local.
Para tanto, utilizou-se de pesquisas bibliográficas, além de visitas a campo para
observação e a realização das entrevistas semiestruturadas, sendo essas as ferramentas
fundamentais para alcançarmos os objetivos propostos. Estruturalmente, o trabalho está
configurado da seguinte forma: na primeira seção, abordaremos algumas perspectivas sobre o
conceito, sob a ótica de autores supracitados. Esta foi subdividida em uma segunda subseção,
na qual, de forma breve, caracterizamos, o bairro e a praça. Na segunda seção, foram abordadas
as questões realizadas durante as entrevistas e as análises feitas a partir delas, em que foi
possível compreender sua construção territorial e identitária. Por último, realizamos algumas
considerações a partir dos dados teórico-empíricos.
Metodologia
Destaca-se, primeiramente, que o nosso estudo tem um viés, predominantemente,
qualitativo. Para a realização deste trabalho e uma compreensão mais ampliada sobre o conceito
basilar abordado, foi essencial o levantamento bibliográfico, uma vez que este tipo de pesquisa
é “[...] desenvolvida a partir de material elaborado, constituído principalmente de livros e
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artigos científicos” (Gil, 2006, p. 65). Em relação aos levantamentos bibliográficos, é
importante destacar que um trabalho com esse perfil de gêneros e sexualidades é mais familiar
aos antropólogos, sociólogos e historiadores (Matos; Ribeiro, 1995). Segundo a investigação
realizada por Silva, Santos e Almeida (2021), a situação se torna mais crítica quando aplicado
o recorte regional. no Nordeste poucos trabalhos na Geografia com essas temáticas.
Investigando as teses e dissertações dos Programas de pós-graduação, nos repositórios online
das principais universidades federais do Nordeste e no Catálogo de Teses e Dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), os cientistas
demonstraram que a Universidade Federal da Paraíba é a que mais concentra trabalhos nesta
área: até o ano de 2021, contava com doze dissertações e uma tese de doutorado sobre as
temáticas (Silva; Santos; Almeida, 2021).
Apesar dos tímidos avanços, o estudo de grupos sociais invisibilizados é bastante árduo,
uma vez que os registros documentais não são tão facilmente detectáveis, acessíveis e
intercambiáveis (Silva, 2009a). Contudo, apesar das dificuldades mencionadas, e influenciados
pela Geografia anglo-saxônica, há pesquisadores que embasam essa nova forma de conceber e
praticar a Geografia (Silva, 2009a).
Além da bibliometria, realizamos visitas a campo para as observações da área e
realizações de entrevistas semiestruturadas, nas quais o pesquisador deve formular questões e
aplicá-las diretamente ao investigado. No processo de diálogo com os interlocutores, deve-se
levar em conta a integração entre a mente racional e o corpo que sente, um duplo vínculo entre
o material e o discursivo (Silva, 2009a). Desta forma, conjecturamos que há a possibilidade de
uma maior interação social cuja fonte de informação está na pessoa entrevistada (Gil, 2006, p.
117).
Sendo assim, foi elaborado um roteiro dividido em duas partes: uma com o objetivo de
caracterizar o entrevistado e outra com questões próprias da pesquisa. As indagações
constituíram-se como um norte para a realização das entrevistas, uma vez que outras questões
surgiram durante a sua aplicação. Temos, neste caso, a defesa de que o processo investigativo
contém em si a possibilidade de que vários elementos, que se influenciam mutuamente, sejam
considerados de forma mais relacional e reflexiva (Silva, 2009a, p. 6).
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Para alcançarmos nosso planejamento, optou-se por uma pesquisa explicativa, que,
conforme Gil (2006, p. 44), “determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse
é o tipo de estudo que mais aprofunda o conhecimento da realidade, por que explica a razão e
o porquê das coisas”.
Território: Algumas Perspectivas
A discussão e análise sobre o território são fundamentais para o embasamento desta
pesquisa. Por se tratar de um conceito que tem como sustentáculo, para a sua compreensão, as
relações de poder e do uso do espaço pela sociedade, independentemente da corrente filosófica
que o discuta, já que:
A partir da década de 1970, sobretudo, os debates sobre as concepções de território e
territorialidade emergiram na geografia, especialmente, devido às transformações que
ocorreram na sociedade em função das novas formas de organização sócio-espacial
que delimitam, agenciam, controlam pessoas, informações, fluxos, fenômenos e
idéias. Neste contexto complexo, as concepções de território e territorialidade são
diversas, com diferentes enfoques, dependendo de cada autor que as desenvolve (Plein
et al., 2009, p. 47).
Mesmo diante dos vários enfoques existentes, delimitaremos nossas discussões sobre o
conceito visado de acordo com as reflexões, principalmente, dos autores Raffestin (1993),
Haesbaert (1997), Sack (1986) e Santos (2002). A partir dos seus pressupostos, defendemos
que o território é abordado sob uma perspectiva da vivência e cultura. Apesar dos teóricos
apresentarem concepções diferentes sobre o mesmo conteúdo, todos enriqueceram e
contribuíram para o nosso embasamento. Assim:
Cada autor, dependendo da sua linha de trabalho e de suas concepções metodológicas,
dá ênfase a alguns aspectos dentro do território, seja o aspecto econômico, político e
cultural ou o entrelaçamento destes fatores, para explicar o conceito e a dinâmica de
um espaço que está sempre em construção (Bordo, 2010, p. 5).
Destacamos algumas dessas concepções de território a fim de possibilitar uma melhor
compreensão sobre essas diversas abordagens, mesmo que de forma breve. Plein (2009) ressalta
que uma abordagem territorial que fosse, também, da territorialidade, tornou-se indispensável
para se entender e relacionar a teoria geográfica com os acontecimentos da vida. Para o autor,
esses conceitos estão interligados a diversas situações cotidianas: desde escalas geográficas
“maiores” a “menores”, ou seja, os eventos diários. No caso específico da atividade da
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prostituição, trabalhar pelo recorte do conceito de território é possível, pois a atividade citada
constitui o estabelecimento de uma relação de poder, e os profissionais da área estabelecem um
território onde se desenvolve a prostituição (Matos; Ribeiro, 1995).
Como dito anteriormente, as relações de poder são inerentes ao território. Por isso, Sack
(apud Plein, 2009, p. 52) ressalta que “para haver um território é preciso haver uma delimitação
de área, um controle e uma forma de poder”. Relacionando com os ideais de Sack (1986), a
forma de controle será a territorialidade, ou seja, o meio pelo qual um grupo ou individuo utiliza
para manter o domínio sobre essa área delimitada. Sob essa perspectiva, podemos realizar a
seguinte indagação: qual será a (micro)territorialidade que as prostitutas da Praça Gentil
Ferreira utilizam para dominarem o seu (micro)território?
Para Sack, essa territorialidade em investigação possuirá três características
fundamentais, que tratam: da classificação da área, comunicação e, por último, a forma de
coação ou controle. A primeira refere-se às características que fazem parte desse território, ou
seja, aquilo que pertence a ele. A segunda apresentará uma forma simbólica de declaração sobre
a posse do território e a última trata-se do modo como esse território é dominado.
Outra contribuição sobre o entendimento do território é a de Raffestin (1993), que faz
uma distinção bastante clara sobre espaço e território conceitos muitas vezes utilizados como
sinônimos. Contudo, para o autor, o espaço antecede o território. Sendo assim:
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um
ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar
de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator
“territorializa” o espaço (Raffestin, 1993, p. 143).
Mais uma vez, podemos perceber a apropriação e a relação de poder como partes
fundamentais do conceito de território. Esse ponto deve ser bem esclarecido, pois, para entender
a construção do território da prostituição no locus de pesquisa, é primordial a compreensão
sobre a pertinência e a relação de poder que se estabelecem nesse espaço.
Sobre a temática, Raffestin (1993) também discorre sobre a territorialidade que, para o
intelectual, “se manifesta em todas as escalas espaciais e sociais; ela é consubstancial a todas
as relações e seria possível dizer que, de certa forma, é a ‘face vivida’ da ‘face agida’ do poder”
(Raffestin, 1993, p. 162). Um exemplo pode ser observado no setor da saúde, no qual o conceito
de território é amplamente utilizado e seu significado está relacionado aos pressupostos da
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Geografia, mas com uma ênfase na promoção de saúde e prevenção. O território em saúde é
realizado de modo horizontal formando a rede de serviços que deve ser ofertada pelo Estado a
todo e qualquer cidadão como direito de cidadania (Gondim; Monken, 2009).
O território, assim, é estudado por diversas vertentes que, conforme explicado por
Haesbaert (2006), podem apresentar um caráter mais naturalista ou uma dimensão política ou
simbólica. No caso dessa última, segundo Haesbaert (2006, p. 120), o território é visto como
“[...] uma apropriação simbólica, especialmente através das identidades territoriais, ou seja, da
identificação que determinados grupos sociais desenvolvem com seus ‘espaços vividos’”.
Nesse sentido, devemos enfatizar que as práticas sociais são as pontes principais para
entendermos o território sob essa perspectiva, uma vez que se trata de uma área onde se dará o
delinear dessa prática. Assim sendo, o território nada mais é do que a manifestação geográfica
dessa territorialidade, através dos seus limites que se dão de modo diferenciado (Ribeiro, 1998).
Por questões metodológicas e conceituais, foi relevante para o nosso trabalho debruçar-
se sobre território, conceito basilar na Geografia. Contudo, estudar a construção do território da
prostituição na Praça Gentil Ferreira é um ato bastante peculiar, sobretudo, por se tratar de um
espaço onde podem ser percebidos diversos grupos sociais e pelo fato de que essa prostituição
acontece, como poderemos ver mais adiante, sem seguir o padrão apresentado pela maioria dos
grupos que praticam essa mesma atividade.
Com essas constatações brevemente apresentadas, e partindo do conceito simbólico-
cultural de território, reforçadas pelo recorte de gênero e sexualidade, além do uso da escala
tendo em consideração o tamanho do recorte espacial, optamos em nosso trabalho pelo micro,
pelo local, pontual (Neto, 2022).
São nos microterritórios que ocorrem microterritorialidades, ações de domínio do
espaço social que se apresentam nos comportamentos corporais e nas manifestações grupais
(Costa, 2017). Assim, acreditamos melhor ilustrar nossos estudos sobre as interações sociais
que constituem e ocorrem na praça Gentil Ferreira. Entretanto, antes de tudo, torna-se
necessário realizarmos uma caracterização histórica e espacial da Praça Gentil Ferreira. Desse
modo, compreenderemos melhor os resultados que nos são apresentados na atualidade, a partir
dos quais poderemos perceber e entender os acontecimentos que contribuíram para a
(re)produção do microterritório.
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A praça Gentil Ferreira: uma construção histórica e espacial.
A Praça Gentil Ferreira é também conhecida, popularmente, como a Praça do Relógio
do Alecrim, e destaca-se como uma das mais movimentadas de Natal. Isso se dá,
principalmente, em virtude da sua localização, estabelecida no centro de um dos principais
locais comerciais da capital, o bairro do Alecrim (Figura 1). A praça é rodeada por lojas,
diversos vendedores ambulantes, além de moradores e dos próprios consumidores que lhe
atribuem essa enorme dinâmica.
Figura 1 Bairros de Natal/RN, em destaque o bairro do Alecrim, 2022.
Fonte: Google Earth (2022).
A atividade comercial, formal e informal, é a principal característica do bairro do
Alecrim, cuja localização geográfica faz desse local uma área privilegiada para o comércio,
uma vez que se trata de um espaço que interliga as diversas regiões da cidade, favorecendo,
assim, o grande fluxo, sobretudo de pessoas no bairro (Lucena; Santos, 2011). Esse movimento
chega a ser de, aproximadamente, 3 milhões de pessoas mensalmente (Diário de Natal, 2011).
Essa dinâmica e sua importância para a cidade estão expressos no jornal local:
O quadrado que forma o maior centro comercial do Rio Grande do Norte foi palco de
inúmeros artistas, abrigou cinco cinemas, é endereço do teatro Sandoval Wanderley,
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da Base Naval e onde foram sediados vários clubes sociais. Depois do cemitério foi
construído na área o Grupo Escolar Frei Miguelinho (1913), a Igreja de São Pedro
(1919), o Hospital Policlínica do Alecrim (1934) e o Relógio do Alecrim (1965),
localizado na Praça Gentil Ferreira e palco de eventos populares, artísticos, religiosos
e atos políticos (Diário de Natal, 2011).
A dinâmica existente nesse bairro é enorme e a sua importância como centro comercial
para o estado é inquestionável. A praça, como um dos elementos fundamentais desse território,
também se apresenta com as mesmas características. Além disso, ainda é possível ressaltar que
muitos lugares da boemia que marcaram o bairro durante a década de 1980, ainda resistem ao
tempo. Assim, temos que:
O bairro teve, em sua história, como um dos principais pontos de encontro o bar
Quitandinha na Praça Gentil Ferreira, local de “bate papo”, onde boêmios varavam as
madrugadas, desde a época da II Guerra Mundial. O bairro ainda tem como marca
registrada o comércio de produtos populares, com sapatarias, lojas de tecidos,
produtos agrícolas e as barbearias, que resistem ao tempo. bares e esquinas com
jogo do bicho, uma tradição do lugar (SEMURB, 2007).
Segundo Cunha (1982), esse é o “Bairro do Povão”. Esse termo representa bem a
popularidade que o local tem, que o comércio realizado no território, principalmente, é
bastante popular. Tal fato explica também a presença acentuada das camadas sociais mais
pobres. Por conseguinte, sua história mostra o quanto importante o Alecrim é, não apenas para
Natal, mas para todo o estado do Rio Grande do Norte.
Segundo Marinho (2003, p. 146), a Praça Gentil Ferreira foi destinada à população
alecrinense como mais um local de lazer, no “coração do Alecrim”, sendo sua inauguração
esperada com muita alegria pelo povo. (Figura 2). Palco de inúmeros acontecimentos históricos
para a cidade de Natal, a praça toma proporções significativas para a cidade.
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Figura 2 Praça Gentil Ferreira, bairro do Alecrim
Fonte: Canindé Soares (2024). Disponível em: https://canindesoares.com/prefeitura-entrega-obras-da-praca-
gentil-ferreira-nesta-sexta-feira Acesso em: 29 de agosto de 2024.
O local constituiu-se como um espaço de lazer durante as primeiras décadas após sua
construção, em meados da década de 1930. Alguns anos depois, a praça torna-se o território de
diversos “personagens indesejáveis” perante a sociedade, tais como as prostitutas e
homossexuais. Conforme Marinho (2003), os “desviantes” viriam a ser retirados da localidade
por meio de uma espécie de “limpeza” (higienização social), realizada pelo poder público na
década de 1980. Entretanto, a falta de fiscalização favorece o retorno dessas pessoas à praça.
Independentemente de como a sociedade da época, ou até mesmo atualmente, veja essas
pessoas, sabemos que esses indivíduos constituem elementos significativos e complexos da
praça, que se tornou o lugar das práticas e desses personagens repudiados.
O microterritório da prostituição na praça Gentil Ferreira e a identidade
Na Praça Gentil Ferreira, locus desta pesquisa, foi possível observar a existência de
vários grupos distintos, onde encontra-se o local dos idosos, dos vendedores ambulantes,
engraxates e o das prostitutas. Segundo Raffestin (1993, apud Costa, 2017), a praça é o espaço
social e o território, o que gera a apropriação dessa mesma áera. Tal espaço social, pensado e
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
COSTA, Anne Isabelita Sabino de Mendonça. As xananas da praça: um breve estudo sobre as identidades no microterritório da prostituição
na praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN). Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122502, 2025.
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projetado pelo poder público, permite diferentes formas de apropriação, seja ela de
configuração formal, à qual foi propositada sua construção, ou informal, como a que
encontramos no nosso local de estudo.
Para esse ato de ocupação informal feita pelos corpos nos espaços sociais, Costa (2017
p. 17) conceituou de microterritorializações. Assim sendo, “temos um espaço social, que é
expresso por múltiplas microterritorializações” (Costa, 2010 p. 11). A lógica dessa convivência
é a mistura de vários tipos estéticos e comportamentais que compartilham o mesmo espaço
(Costa, 2017), um espaço marcado por uma complexidade que apenas pode ser entendida a
partir de uma análise mais atenta do local.
Em suma, concebemos a praça Gentil Ferreira como um espaço planejado, sendo um
local homogêneo e ordenado, apropriado por vários grupos distintos, formados por processos
socioculturais identitários divergentes (Costa, 2017). Diante desse espaço social expresso por
diversas microterritorializações, o microterritório das profissionais do sexo é o que nos
interessa. Mas, antes que possamos falar sobre como se desenvolve a prática, é fundamental
entendermos o espaço ao qual estamos nos referindo.
Em busca de uma maior compreensão do microterritório da prostituição na praça,
procuramos, em campo, conversar com as mulheres que trabalham como prostitutas, com o
objetivo de identificar, por meio da realização de entrevistas semiestruturadas, como se
estabelecem as práticas sociais exercidas nesse espaço social. Dessa forma, o método utilizado
na entrevista foi o snowball. Tal escolha, comunga com a metodologia dialética da
microterritorialização que defende uma empatia, a presença do entrevistador e o lembrete do
distanciamento científico (Costa, 2017). As entrevistas foram aplicadas, na primeira visita
realizada in locus, com o auxílio da líder da associação dos moradores, das profissionais do
sexo e congêneres do Rio Grande do Norte (ASPRORN). A partir dessa liderança, as outras
profissionais apresentavam-se e indicavam as demais, recrutando os outros sujeitos para a
entrevista (Baldin; Munhoz, 2011).
O roteiro foi estruturado em duas seções de blocos temáticos flexíveis. Na primeira
seção, tratamos de identificar o perfil socioeconômico das mesmas e na segunda abordamos
questões da pesquisa.
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Assim, a partir da primeira parte do roteiro, identificamos que as mulheres que foram
entrevistadas apresentavam o seguinte perfil:
Idades entre 20 e 50 anos;
O grau de escolaridade baixo;
Moravam em bairros periféricos; muitas tinham filhos, de baixa renda e uma delas é
casada.
Essas características são fundamentais para que se possa compreender o perfil
socioeconômico dessas mulheres. Dessa forma, considerando as diferenças de idade existentes,
pode-se perceber que um comportamento distinto entre as mulheres mais velhas e as mais
novas. Como marcas de distinção etária destaca-se o modo de se vestir, uma vez que as
mulheres mais velhas não mostram o corpo, porém utilizam mais adornos como óculos escuros,
maquiagem e brincos mais chamativos.
Por sua vez, as mais jovens utilizavam roupas mais curtas e decotadas. Foi possível
deduzir que tal distinção se realiza em função da influência da própria idade sobre o corpo, uma
vez que, culturalmente, é concebida pela sociedade a valorização da beleza de um corpo mais
jovem em detrimento do mais velho. Perante o exposto, é observado que as ações performáticas
de gênero podem ser realizadas por corpos dissonantes do modelo “esperado”. O espaço, nesse
sentido, compõe o gênero performático, mas também os atos subjetivados que se diferenciam
do ideal de gênero, jamais realizável em sua concretude (Silva, 2009b). Nesta perspectiva
mutante, pertencente à construção e reconstrução ao gênero nas relações humanas, o espaço é
fundamental.
Acerca das outras características, a questão étnico-racial, o grau de escolaridade e a
renda baixa, refletem, por exemplo, a própria escolha do local de trabalho e o perfil dos clientes
que elas possuem, estes que detalharemos mais à frente. Outro dado observado, e por demais
importante, foi que todas as entrevistadas eram mães, porém somente uma era casada, e mesmo
assim, o companheiro se encontrava preso, demonstrando a necessidade eminente de renda. Na
segunda parte da pesquisa, busca-se compreender como se dá o microterritório da prostituição
na praça, onde foi possível identificar que essas mulheres possuem um local delimitado dentro
da praça.
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É preciso salientar, como na seção anterior, que há uma distinção entre território como
instrumento de poder, quase sempre referindo-se ao caráter estatal, e território como espaço de
identidade cultural e multiculturalista, incluindo os diferentes tipos de territorialidade
moldados por cada cultura (Haesbaert, 1997). Isso é, justamente, o que se aplica ao
microterritório das prostitutas, ou seja, uma identidade cultural das xananas com a praça, sob
diversas perspectivas. “As microterritorializações se constituem, neste caso, como ocupação de
um ‘pedaço’ de uma praça” (Costa, 2017, p. 23), uma apropriação do espaço urbano na
perspectiva cultural que reproduz coletivamente uma identidade estigmatizada socialmente.
É relevante destacar marcas identitárias importantes em nosso estudo: mulheres
cisgênero, a faixa etária, a pobreza e a questão étnica. Ao tratarmos sobre esta construção da
identidade social, elucidaremos um conceito que surge dentro da psicologia social. Para Tajfel
(apud Fernandes e Pereira, 2018, p. 35) “a identidade social pode ser definida como o conjunto
formado pelo autoconceito do indivíduo, sua pertença grupal e a valorização atribuída a esta
pertença”. Desta forma, existe a busca pela compreensão das pessoas que se unem em grupos
em virtude de uma determinada característica com o objetivo que este agrupamento seja
reconhecido como tal. Uma vez afirmado que uma questão de identidade dessas mulheres
com o microterritório e com o espaço social (a praça), podemos conceber que tal conexão ganha
embasamento ao ser observado o perfil socioeconômico das profissionais, traçado
anteriormente, que nos permite realizar uma ponte entre o microterritório, a praça, o perfil das
profissionais e sua clientela.
Atentando que se trata de um bairro cujo comércio é popular, a maior parte dos seus
frequentadores são pessoas negras
2
que dispõem de uma renda baixa. uma relação direta
entre as características étnicas e econômicas do bairro, da praça, das prostitutas e de quem
procura seus serviços. Assim, notamos que o espaço de identidade cultural ou, como denomina
Poche (apud Haesbaert 1997), espaços de referência identitária se define à Praça Gentil
Ferreira: tomada pelo domínio simbólico exercido pelas prostitutas, símbolo cheio de signos do
imaginário, que afirma e fortalece a identidade, individual e/ou coletiva.
2
Conforme convenção do IBGE, no Brasil, população negra é o somatório de pretos e pardos. Para fins políticos,
negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique (Oliveira, 2004).
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Portanto, uma prostituta, mesmo em conflito com as demais, se identifica com o grupo
(o microterritório) e este com o próprio espaço social da Praça. Em relação à questão da
formação desta identidade, além das marcas identitárias supracitadas, as condições de trabalho
e as relações de poder estabelecem a identidade, pois a união do grupo não se faz, precisamente,
pela vontade própria dos indivíduos: é pelo modo homogêneo que os outros os tratam (Vogt e
Lorenço; 2015). A identidade, ao se manifestar no ator espacial, se torna a justificativa para a
realização do território. Dessa forma, Souza (2009, p. 84) afirma que: “A ocupação do território
é vista como algo gerador de raízes e identidade: um grupo não pode mais ser compreendido
sem o seu território, no sentido de que a identidade sociocultural das pessoas estaria,
inarredavelmente, ligada aos atributos do espaço concreto”.
Partindo dessa premissa, não é possível entender as práticas realizadas por esse grupo
sem que haja a compreensão do seu microterritório e, sobretudo, da identidade que elas têm,
que a relação de poder, como visto em outras questões da pesquisa, tornou-se algo mais
secundário. Dessa forma, buscar os fatores que corroboram para a apropriação desse coletivo
sobre esse espaço, tornou-se primordial.
As experiências espaciais compartilhadas pelo grupo, marcadas por elementos que
geram exclusão socioespacial, são aquelas que resultam na formação de identificação entre
iguais, formando laços na constituição do território (Silva, 2010a). Desse modo, o território
pode ser entendido como “[...] um campo de forças, uma teia ou rede de relações-sociais que, a
par de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a
diferença entre nós [...] e os outros.” (Souza, 2009, p. 86).
A diferença entre o grupo das prostitutas e os demais frequentadores da praça é
estabelecida a partir dessa identidade que, historicamente, as categorias sociais permitem, de
acordo com preceitos morais (Costa, 2010), a ocorrência de generalizações estereotipadas e
simplistas para que haja a classificação através da construção de identidade, conforme
verificado por Fernandes e Pereira (2018).
As relações de poder e a identificação do grupo são intrínsecas ao conceito de território.
Quanto a este primeiro elemento, as relações de poder podem ser observadas em campo;
evidenciam-se na espécie de “pedágio” que deve ser pago a uma das mulheres, identificada com
o pseudônimo de Damiana. A mulher não exerce mais a prostituição, e tornou-se uma espécie
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de “cobradora de impostos”, principalmente para as trabalhadoras recém-chegadas no local.
Contudo, algumas disseram trabalhar em uma espécie de parceria com outras colegas com mais
tempo na praça que impedem que elas paguem à senhora Damiana.
A partir disso, foi possível identificar uma espécie de microterritorialidade, onde as que
estão mais tempo cobram das mais novas ou as protegem. Assim, o poder é colocado em
prática por meio de uma questão temporal, onde a dominação territorial é exercida pela aquela
que trabalha no microterritório por mais anos, mesmo que não esteja na “batalha” (termo
utilizados pelas xananas para se referirem ao trabalho que exercem).
As mulheres que trabalham na praça têm uma maior liberdade, uma vez que podem ir
nos dias que quiserem mesmo que outras trabalhem diariamente. Algumas prostitutas relataram,
inclusive, que quando não estão na praça vão para outro ponto da cidade, como a Praia do Meio.
Outra característica marcante deste microterritório é o horário em que é exercida a atividade,
durante o dia, o que se explica por se tratar de um bairro comercial, onde a movimentação é
bem maior neste período, e pelo fluxo de clientes das lojas.
Ademais, quando questionadas sobre o porquê da escolha desse local, a maioria relatou
que, por terem filhos, preferem trabalhar durante o dia. Somando a essa particularidade, há uma
sensação de estarem mais seguras devido à movimentação de pessoas, que o bairro se torna
extremamente vazio à noite. É interessante ressaltar que, durante as entrevistas, as profissionais
do sexo afirmaram que a escolha do local se dá também pela praça ter uma relação direta com
os outros tipos de comércios que, como citado pelas interlocutoras, promove uma proximidade
com as drogas, bebidas e mais pessoas. Outro ponto convergente entre essas mulheres na
escolha do local de trabalho são seus próprios perfis físicos. Segundo as entrevistadas, as
mulheres das casas de bordéis o mais “selecionadas”, ou seja, elas compreendem que, por
serem mais velhas, não brancas e de baixa renda, em outros pontos de prostituição, não teriam
a preferência dos clientes. Essa espécie de “subemprego” dentro da prostituição é a condição
da maioria das mulheres de cor, e essa conjunção enquadra a situação daquelas que enfrentam
discriminação social e de gênero (Zakara, 2021). Para elucidar as desvantajosas condições
sociais e de trabalho destinadas às mulheres, principalmente às não brancas, a autora e psicóloga
Cida Bento reflete sobre a responsabilidade da lógica do sistema capitalista no quadro social
vigente. Tal sistema, que, segundo a pensadora, funciona baseado na exploração do trabalho
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assalariado, congrega classes, reforça a supremacia branca e o patriarcado. Como resultado da
citada lógica, a expropriação de elementos de grupos minoritário tal como terras quilombolas
e indígenas, além do direito ao trabalho com reconhecimentos jurídicos e sociais às mulheres
não brancas. Na sociedade brasileira, essa falta do usufruto de “privilégios” trabalhistas é o
resultado deste sistema que articulada o capital, o sexismo e o racismo (Bento, 2022).
No que se refere à delimitação do seu microterritório, essas mulheres marcam dois
pontos na praça: uma lanchonete (Figura 3), no centro, e outra no seu início. Um dos motivos
dessa demarcação territorial está no fato da grande movimentação no local e a necessidade da
delimitação para serem identificadas pelos clientes. Entretanto, durante as entrevistas, inferimos
que essa demarcação é, de certa forma, inconsciente. Além disso, existem outros fatores que a
justificam como, por exemplo, o próprio horário do trabalho exposto ao sol, os locais,
demarcados por elas, acabam ficando do lado mais arborizado.
Ainda existe uma particularidade que se trata de uma senhora que vende doces (Figura
4) mais de 15 anos na praça e permanece sempre posicionada na mesma área, próximo às
prostitutas. Essa senhora acaba sendo uma espécie de apoio para as xananas, informando às
prostitutas os clientes que são confiáveis ou não. A vendedora exerce um posto de poder, mas,
sobretudo, de cuidado com as profissionais do sexo: situação social conquistada no decorrer do
tempo e estabelecimento de confiança entre as prostitutas.
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Figura 3 Lanchonete da Praça Gentil Ferreira
Fonte: Google Maps.
Figura 4 Vendedora de doces na praça Gentil Ferreira
Fonte: Google Maps.
A fim de mapearmos o tempo que trabalhavam na praça, elaboramos um quadro e neste
é possível perceber que todas as prostitutas estavam há mais de 2 anos no local e que exerciam
a profissão mais tempo. Como um recurso para garantir o sigilo das entrevistadas,
escolhemos pseudônimos e, dialogando com o nosso título, cada uma será chamada com a
nomenclatura de uma flor, sendo elas: Flor de Guarujá, Bom dia, Turnera, Albina, Onze-Horas
e Damiana (Quadro 1).
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Quadro 1 Tempo de prostituição e de trabalho na Praça, 2022.
Entrevistadas
Anos que trabalham nessa
profissão
Anos que estão
na praça
Flor de Guarujá
2 anos
2 Anos
Bom dia
12 Anos
2 Anos
Turnera
5 Anos
3 Anos
Albina
5 Anos
5 Anos
Onze-horas
14 Anos
3 Anos
Damiana
20 Anos
20 Anos
Fonte: Elaborado pela autora a partir das ideias de Santos (2021).
Outra questão abordada durante as entrevistas foi a existência de conflitos por disputa
territorial entre elas e, mais uma vez, foram mencionadas as brigas que sobre o pagamento à
senhora Damiana, que, neste cotidiano, é a prostituta a mais velha em termos de idade e carreira,
o que reforça, mais uma vez, a microterritorialidade realizada por meio de uma questão
temporal e etária. Entretanto, devemos ressaltar que nenhuma aceitou falar sobre como é
cobrada essa taxa.
Perguntamos ainda sobre o perfil dos seus clientes e todas responderam que se tratava
de homens mais velhos. Nessa perspectiva, devemos lembrar que a praça é bastante frequentada
por idosos que passam as tardes conversando com outros frequentadores assíduos do local.
Durante o período em que estivemos em campo, percebemos uma relação de intimidades entre
as prostitutas, os idosos e os ambulantes, uma vez que se conheciam pelos nomes, brincavam
entre si e as mulheres pediam dinheiro, doces, sorvetes aos senhores do local.
A partir dessas observações, podemos concluir que a construção do microterritório das
prostitutas na Praça é influenciada por diversas variáveis e que, além disso, se trata de uma
construção complexa cujas relações de poder não ficaram tão explícitas, mas a identidade das
xananas com o microterritório é bem clara. Como uma das principais marcas, está o fato de as
profissionais do sexo considerarem que não conseguiriam trabalhar em outros locais, como por
exemplo, em boates. Por fim, a própria dinâmica do bairro e, por conseguinte, a da praça,
acabam por ter uma relação direta com a organização territorial da prostituição.
Considerações Finais
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Durante a construção desse trabalho, foi possível realizar um levantamento, mesmo que
breve, das diversas concepções sobre o conceito de território. Assim, podemos elencar alguns
pontos fundamentais deste trabalho. Ficou evidente que a construção de um território se a
partir das relações de poder e da identificação (que incide sobre a identidade individual e
coletiva) que os atores sociais têm com o espaço. Além disso, outros pontos de relevâncias
foram destacados, como a escala do recorte espacial e a questão de gênero e sexualidade. Sobre
essa perspectiva, foi possível verificar a estruturado microterritório da prostituição na Praça
Gentil Ferreira no bairro do Alecrim/Natal.
Assim como os demais, este território também apresenta as suas fronteiras e para a sua
delimitação influência de diversas variáveis, das quais durante a pesquisa em campo foi
possível identificar: a localização da praça em um bairro comercial, o Alecrim, e a própria
estrutura da praça que, por não ser totalmente arborizada, favorece a permanência dessas
mulheres em uma das extremidades e/ou no meio da praça.
Somado a esses fatores, foi notável que as pessoas que estão na praça são frequentadores
assíduos e por diversas questões acabam sempre localizando-se nos mesmos lugares, como a
vendedora de doces que trabalha na praça aproximadamente 15 anos e que fornece as
informações às prostitutas mais novas sobre clientes.
Outra particularidade que merece destaque é o horário de trabalho que, no caso do
território em estudo, se efetiva durante o dia. Isso se torna explicável, por meio da própria
dinâmica existente no bairro, que como referenciado anteriormente, é comercial, ou seja, todo
o fluxo de pessoas ocorre enquanto as lojas estiverem abertas, após isso, o bairro fica
desocupado. Além disso, durante o dia elas se sentem mais seguras. Os territórios da
prostituição acompanham a dinâmica da própria cidade na qual estão inseridas (Matos; Ribeiro,
1995).
Como a maior parte das entrevistadas trabalhava no local mais de dois anos, existia
uma relação de amizade, uma espécie de coleguismo entre elas e as demais pessoas que também
usufruem da praça para relações comerciais. Identificamos, ainda, a relação de poder que é
estabelecida por uma questão temporal e geracional, ou seja, domina o território quem está no
local mais tempo. Entretanto, não foi possível identificar a espécie de “pedágio” que
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mencionamos na última seção e a senhora Damiana relatou que isso era apenas uma ajuda que
recebe delas.
Desse modo, podemos perceber que as relações sociais estabelecidas no microterritório
estudado são marcadas por uma questão de poder e pela própria identificação do grupo com o
local. Sob essa perspectiva, ficou muito claro o quanto há uma identificação do coletivo com o
espaço social, pois, durante as entrevistas, as prostitutas relataram que as suas características
não se adequam a outros locais, como boates, bares e bordéis frequentados por pessoas de maior
poder aquisitivo. Além disso, todas foram unânimes ao relatarem o tipo de clientes que elas são
habituadas a atender, a saber, homens idosos com baixa renda, não brancos. Por fim, apesar de
se tratar de um estudo em um microterritório, percebemos o quanto tornam-se complexas as
relações socioespaciais existentes nessa microterritorialidade e como se constituem a
identidade, comunicação e coação entres os atores deste espaço vivido.
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COSTA, B. P. da. Espaço social, cultura e território: o processo de microterritorializaçao
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Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
COSTA, Anne Isabelita Sabino de Mendonça. As xananas da praça: um breve estudo sobre as identidades no microterritório da prostituição
na praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN). Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122502, 2025.
Submissão em: 11/06/2024. Aceito em: 21/12/2024.
ISSN: 2316-8544
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