Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SOARES, Larícia Gomes; FARIAS, Juliana Felipe. Um Olhar Sobre o Território Por Meio do Mapeamento Participativo no Distrito Pituba
em Baía Formosa/RN. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e-112419, 2024.
Submissão em: 15/06/2024. Aceito em: 15/08/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
1
SEÇÃO ARTIGOS
Um Olhar Sobre o Território Por Meio do Mapeamento Participativo no Distrito Pituba
em Baía Formosa/RN
A View of the Territory Through Participatory Mapping in the Pituba District in Baía
Formosa/RN
Una Mirada Sobre el Territorio a Través del Mapeado Participativo en el Distrito
Pituba en Baía Formosa/RN
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v11i24.63324
Larícia Gomes Soares
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Rio Grande do Norte, Brasil.
e-mail: laricia.gomes.121@ufrn.edu.br
Juliana Felipe Farias
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Rio Grande do Norte, Brasil.
e-mail: juliana.farias@ufrn.br
Resumo
O mapeamento participativo, por meio da prática da Cartografia Social (CS), envolve diretamente as comunidades
na identificação e representação dos aspectos físicos e sociais de seus territórios. Este estudo apresenta os
resultados do mapeamento participativo realizado no distrito Pituba, em Baía Formosa, Rio Grande do Norte, no
nordeste brasileiro. Foram seguidas quatro fases metodológicas da CS, adaptadas para a área de estudo, sendo elas:
1) criação de vínculos entre pesquisador e a comunidade para compreender o contexto local; 2) utilização de
técnicas cartográficas e realização de oficinas temáticas; 3) elaboração e análise de materiais cartográficos,
incluindo a conversão de mapas analógicos para digitais; 4) entrega dos mapas e debate sobre possíveis aplicações.
Espera-se que os resultados, especialmente as potencialidades e problemas socioambientais destacados, orientem
políticas públicas municipais e contribuam para a promoção de um desenvolvimento mais justo e sustentável para
o distrito Pituba. Conclui-se que o compartilhamento de conhecimento e a colaboração entre todos os envolvidos
têm potencial de transformar desafios em oportunidades. O mapeamento participativo apresenta a perspectiva dos
moradores e suas experiências diárias, contribuindo para a compreensão da realidade do território e de sua
comunidade.
Palavras-chave
Cartografia social; Território; Comunidades.
1
Mestra em Geografia pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
2
Professora adjunta no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
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SOARES, Larícia Gomes; FARIAS, Juliana Felipe. Um Olhar Sobre o Território Por Meio do Mapeamento Participativo no Distrito Pituba
em Baía Formosa/RN. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e-112419, 2024.
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Abstract
Participatory mapping, through the practice of Social Cartography (SC), directly involves communities in the
identification and representation of the physical and social aspects of their territories. This study presents the
results of the participatory mapping carried out in the Pituba district, in Baía Formosa, Rio Grande do Norte, in
northeastern Brazil. Four methodological phases of SC were followed, adapted to the study area: 1) establishing
connections between researchers and the community to understand the local context; 2) using cartographic
techniques and conducting thematic workshops; 3) developing and analyzing cartographic materials, including
converting analog maps to digital formats; 4) delivering the maps and discussing possible applications. It is
expected that the results, especially the highlighted potentialities and socio-environmental issues, will guide
municipal public policies and contribute to promoting more just and sustainable development for the Pituba
district. It is concluded that the sharing of knowledge and collaboration among all involved have the potential to
transform challenges into opportunities. Participatory mapping presents the residents perspective and their daily
experiences, contributing to the understanding of the territorys and communitys reality.
Keywords
Social cartography; Territory; Communities.
Resumen
El mapeo participativo, a través de la práctica de la Cartografía Social (CS), involucra directamente a las
comunidades en la identificación y representación de los aspectos físicos y sociales de sus territorios. Este estudio
presenta los resultados del mapeo participativo realizado en el distrito Pituba, en Baía Formosa, Rio Grande do
Norte, en el noreste brasileño. Se siguieron cuatro fases metodológicas de la CS, adaptadas al área de estudio: 1)
creación de vínculos entre investigadores y la comunidad para comprender el contexto local; 2) utilización de
técnicas cartográficas y realización de talleres temáticos; 3) elaboración y análisis de materiales cartográficos,
incluyendo la conversión de mapas analógicos a digitales; 4) entrega de los mapas y debate sobre posibles
aplicaciones. Se espera que los resultados, especialmente las potencialidades y problemas socioambientales
destacados, orienten políticas blicas municipales y contribuyan a la promoción de un desarrollo más justo y
sostenible para el distrito Pituba. Se concluye que el intercambio de conocimiento y la colaboración entre todos
los involucrados tienen el potencial de transformar desafíos en oportunidades. El mapeo participativo presenta la
perspectiva de los residentes y sus experiencias diarias, contribuyendo a la comprensión de la realidad del territorio
y de su comunidad.
Palabras clave
Cartografía social; Territorio; Comunidades.
Introdução
A tradicional abordagem centralizada de planejamento e ordenamento territorial, que
por vezes negligencia as vozes e necessidades de comunidades locais, tem se mostrado
insuficiente para enfrentar os complexos desafios do século XXI. A crescente consciência sobre
a importância da participação cidadã e da inclusão das perspectivas locais no processo de
tomada de decisões revela que a busca por soluções sustentáveis e socialmente mais justas
requer novas abordagens. Nesse sentido, instrumentos coletivos, como a Cartografia Social
(CS), surgem como meio auxiliar para a tomada de decisão de forma agregadora e participativa.
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Verifica-se que são diversos os conceitos de Cartografia Social, todavia, o ponto de
encontro entre as diferentes conceituações é que a CS é constituída como um ramo da
cartografia geral, à medida que é utilizada como uma ferramenta que facilita o conhecimento e
a análise de um conjunto de informações espaciais de determinado território. Somado a isso, o
adjetivo social informa que o mapeamento é resultado de um processo coletivo (Soares,
2024).
De acordo com Acselrad (2013), foi a partir dos anos 1990 que se multiplicaram as
experiências de inclusão de populações locais em práticas de mapeamento. A ampliação dos
espaços e a diversificação das formas de representação espacial, além da emergência de novas
tecnologias e de novos “sujeitos mapeadores”, deram lugar à constituição de um campo da
representação cartográfica em que se estabelecem relações entre linguagens representacionais
e práticas territoriais, entre a legitimidade dos sujeitos da representação cartográfica e seus
efeitos de poder sobre o território e elementos constitutivos da paisagem.
Assim, o mapeamento participativo, através da práxis da Cartografia Social, pode
propiciar aos sujeitos envolvidos a possibilidade de expressarem os problemas, potencialidades,
limitações e proposições de ações a serem implementadas, buscando mais eficiência no
processo de tomada de decisões e contribuindo para o planejamento e gestão territorial (Costa
et al., 2016).
De acordo com Silva e Verbicaro (2016), o mapeamento participativo, emergindo dentro
de um novo paradigma científico e apoiado pela tecnologia computacional, está se consolidando
como uma ferramenta importante para a análise das diversas territorialidades do espaço
geográfico. Essas territorialidades são intrinsecamente ligadas ao cotidiano dos indivíduos que
habitam um determinado território, refletindo suas vivências e relações espaciais.
Desse modo, a cartografia social apresenta ligação direta com o entendimento das
diferentes faces do território, uma vez que nos permite uma compreensão mais significativa
quanto aos conflitos de cunho ambiental, econômico e político advindos dos diversos usos
existentes em determinada área.
Segundo Haesbaert (1997, p. 42), o território envolve, ao mesmo tempo, mas em
diferentes graus de correspondência e intensidade, uma dimensão simbólico-cultural e uma
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dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar”. A primeira diz respeito à identidade
territorial atribuída pelos grupos sociais como forma de controle simbólico sobre o espaço
onde vivem (sendo, portanto, uma forma de apropriação); a segunda centra-se no domínio do
espaço pela definição de limites ou fronteiras, visando à disciplinarização dos indivíduos e ao
uso/controle dos recursos aí presentes.
Nesse contexto, em termos sumários, Haesbaert (2004) identifica que o território vem
sendo abordado em duas perspectivas principais: materialista e idealista. Os estudos
desenvolvidos em uma perspectiva materialista têm privilegiado a dimensão físico-concreta,
compartimentada em três concepções: a naturalista, que considera o território com base nas
relações entre sociedade e natureza, moldadas através do comportamento natural dos homens
em relação ao seu meio físico; a concepção jurídico-política, que concebe o território como
espaço delimitado e controlado através do qual se exerce um determinado poder; e a concepção
econômica, pela qual o território é visto como fonte de recursos.
Por outro lado, “a perspectiva idealista prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva,
em que o território é visto, sobretudo, como produto da apropriação e valorização simbólica de
um grupo em relação ao seu espaço vivido” (Haesbaert, 2004, p. 40). No estudo em questão,
enfatiza-se a relação da Cartografia Social com o processo de afirmação do território, o qual se
apresenta com múltiplas faces, centrando-se em parte na perspectiva materialista (naturalista e
econômica) e idealista.
Logo, a CS destaca-se como uma metodologia de análise que envolve diretamente
comunidades no processo de identificação e representação dos aspectos físicos e sociais do seu
território. Ao envolver a comunidade na criação de mapas, essa abordagem não apenas revela
a realidade material, mas também fortalece o senso de pertencimento e empoderamento dos
sujeitos sobre o ambiente que ocupam.
O processo de mapeamento participativo, composto por momentos coletivos, pressupõe
a reunião de indivíduos com diversas especificidades, níveis de escolaridade, contextos vividos
e percepções. Assim, faz sentido quando a comunidade se apropria dos conhecimentos
científicos e compreende que os símbolos gráficos no papel representam objetos e feições reais
(Soares, 2024).
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É essencial que a comunidade entenda como os mapas são construídos em consonância
com suas expectativas pessoais e coletivas. Segundo Gorayeb, Meireles e Silva (2015), a
comunidade precisa ter o desejo, o senso de organização, o companheirismo e o espírito de
união coletiva para refletir sobre a realidade que vivenciam, com o intuito de pensar em
estratégias para mitigar ou resolver problemas socioambientais e conquistar direitos ou serviços
comunitários. Desse modo, este estudo tem como objetivo apresentar os resultados do
mapeamento participativo realizado no distrito Pituba, em Baía Formosa/RN.
O município localiza-se no estado do Rio Grande do Norte, a aproximadamente 98 km
de Natal, capital do estado. Limita-se, a noroeste, com o município de Canguaretama (RN), e,
a sul, com Mataraca (PB). (Figura 1). O distrito Pituba encontra-se cercado por canaviais, uma
vez que as plantações de cana-de-açúcar ocupam aproximadamente 64% da extensão territorial
total do município (Soares, 2024). Quanto às vias de acesso para o distrito Pituba, não há vias
oficiais pavimentadas, apenas estradas vicinais.
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Figura 1 Mapa de localização do município de Baía Formosa/RN
Fonte: Autoras (2024)
O distrito enfrenta atualmente uma série de desafios decorrentes da falta de
planejamento urbano adequado, afetando diretamente a qualidade de vida de seus habitantes.
Através da Cartografia Social, moradores foram incentivados a refletir sobre suas condições de
vida, identificando problemas e potencialidades de seu território com vista a facilitar a
compreensão coletiva das dinâmicas territoriais e promover uma gestão mais inclusiva e
sustentável.
Procedimentos metodológicos
Conforme Almeida (2018) destaca, a Cartografia Social tem ganhado relevo
metodológico e analítico em pesquisas realizadas no Nordeste brasileiro. Esse processo segue
uma série de etapas que resultam na criação de mapas sociais. A primeira fase desse processo
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envolve estabelecer uma conexão entre o pesquisador e a comunidade. Neste estudo, o contato
inicial ocorreu na residência de um dos moradores, um representante local dos moradores do
distrito Pituba, em Baía Formosa.
A segunda fase foi conduzida através de oficinas e contou com a participação de 35
pessoas, com idades entre 18 e 68 anos. Esta etapa possibilitou a apresentação do conceito de
mapa, sua finalidade e como ele pode ser elaborado de forma colaborativa, além de conteúdos
educativos sobre boas práticas com o meio ambiente. Destaca-se ainda, nessa fase, o
compartilhamento de experiências e técnicas cartográficas, assim como imagens de satélite da
área ocupada pela comunidade no distrito, proporcionando uma compreensão mais abrangente
do contexto local, para então pensar no mapeamento.
A terceira fase concentra-se na construção e análise dos materiais cartográficos, com a
transposição dos mapas analógicos para os digitais. Inicialmente, cria-se coletivamente o
mapeamento participativo analógico, seguindo os métodos tradicionais de representação
manual. Os materiais utilizados incluem: imagem de satélite do distrito (extraída do software
Google Earth® em 5 de fevereiro de 2023), papel vegetal, cartolina, folhas de papel ofício,
lápis grafite, canetas diversas, tesoura, réguas e borrachas.
Posteriormente, os dados desse mapeamento são transferidos para um ambiente de
Sistemas de Informação Geográfica (SIG), resultando em mapas digitais. Essa fase abrange
também a transferência dos símbolos cartográficos, utilizando fontes pré-existentes, elaboradas
(desenhadas) pelo próprio grupo, para digitalizar os mapas e convertê-los do formato analógico
para o digital, convergindo esforços para uma representação cartográfica precisa e acessível.
É importante ressaltar que a transferência dos dados envolve registrar as coordenadas
dos pontos identificados no terreno por meio de visitas guiadas. Para a marcação dos pontos,
utilizou-se o aplicativo GPS Essentials. Em seguida, os pontos são migrados do formato KML
para o ambiente SIG (ArcGis 10.5), convertidos para o formato Shapefile e corrigidos quanto
ao Datum. Esses pontos são então plotados em um mapa base, usando a mesma imagem do
mapeamento analógico em grupo, com a aplicação de transparência de 45% para melhor
visualização das informações do mapa.
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Na quarta e última fase, a ênfase recai sobre a entrega do mapa ao grupo participante do
processo, marcando um momento essencial de interação. Isso promove discussões
significativas sobre as possíveis aplicações do mapa e as direções que podem ser tomadas a
partir dele. Por meio de uma roda de conversa, foi construída coletivamente uma proposta de
melhorias. Essa proposta consistiu no agrupamento de sugestões para a mitigação de problemas
e melhores usos, tendo em vista práticas socioambientais. Essa interação entre a comunidade e
o pesquisador fecha o ciclo, demonstrando a relevância da participação colaborativa e do
compartilhamento de conhecimento.
As fases supracitadas estão ilustradas na figura 2, ressaltando que essa abordagem
transcende a representação cartográfica convencional. Trata-se de uma ferramenta dinâmica e
participativa que empodera as comunidades locais, permitindo-lhes contribuir ativamente.
Figura 2 Percurso metodológico da Cartografia Social
Fonte: Adaptado de Soares (2024)
Desse modo, a Cartografia Social, ao englobar essas quatro fases, evidencia-se como
uma abordagem participativa. Desde o estabelecimento de uma relação inicial entre pesquisador
e comunidade, passando pelo compartilhamento de técnicas cartográficas e a construção
colaborativa de materiais, até a entrega final dos mapas e a discussão de seus usos, cada etapa
fortalece o vínculo e a participação ativa dos envolvidos no processo.
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A fase inicial de conexão entre pesquisador e comunidade é fundamental para criar um
ambiente de confiança mútua. Esse relacionamento permite que os moradores se sintam parte
integral do projeto, compreendendo que suas vozes e experiências são valorizadas. O
compartilhamento de cnicas cartográficas e a condução de oficinas não apenas educam os
participantes sobre os processos de mapeamento, mas também encorajam o intercâmbio de
conhecimentos locais e científicos. Essa troca de informações é crucial para a criação de mapas
que reflitam com precisão a realidade vivida pela comunidade.
A construção colaborativa de materiais cartográficos, tanto em formatos analógicos
quanto digitais, é outro aspecto essencial dessa abordagem. Ao trabalhar juntos na criação dos
mapas, os moradores desenvolvem um entendimento mais profundo das dinâmicas territoriais
de sua região, identificando pontos críticos e oportunidades de melhoria.
A fase final de entrega dos mapas e discussão de suas possíveis aplicações promove um
senso de responsabilidade coletiva. As rodas de conversa e as propostas de melhorias
coletivamente construídas permitem que a comunidade pense estrategicamente sobre como
enfrentar os desafios identificados e aproveite as potencialidades do território. Esse processo
participativo não fortalece a capacidade dos moradores de se organizarem e reivindicarem
melhorias junto ao poder público, mas também fomenta um sentimento de pertencimento e
empoderamento. Portanto, a Cartografia Social não se limita à representação espacial, mas se
configura como uma metodologia dinâmica e inclusiva ao engajar a comunidade em todas as
etapas do mapeamento, desde a concepção inicial até a proposição de mitigações.
Resultados e discussão
Mapeamento Participativo no Distrito Pituba: Desvelando o Território Esquecido
O distrito Pituba, localizado a sul da sede urbana de Baía Formosa, apresenta atualmente
uma divisão em duas partes distintas: Pituba velha e Pituba nova Vila Nova 1 e 2 (Figura 3).
A primeira é caracterizada como um pequeno aglomerado, predominantemente habitado por
famílias que levam uma vida simples, engajadas em atividades agrícolas e rurais de pequena
escala. Por sua vez, as vilas 1 e 2 abrigam a população que anteriormente residia na sede urbana
de Baía Formosa, entretanto, não dispunha de moradias próprias. Essas pessoas encontraram
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no crescimento do distrito Pituba, mediante a implementação do projeto Minha Casa Minha
Vida
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, uma alternativa para conquistar o direito à moradia.
Figura 3 Mapa de localização da Pituba velha e Pituba nova vilas 1 e 2
Fonte: Autoras (2024)
Contudo, é importante ressaltar que essa migração para o distrito ocorreu sem um
planejamento adequado. Em decorrência disso, embora algumas pessoas tenham adquirido o
direito à moradia, as condições mínimas necessárias para assegurar uma permanência digna não
foram devidamente atendidas. Tal situação tem acarretado uma série de problemas e limitações
que podem ser prontamente identificados atualmente.
Segundo relatos dos moradores, algumas melhorias foram observadas ao longo dos
últimos cinco anos, porém, ainda existem diversos desafios a serem enfrentados. Diante dessa
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O Programa Minha Casa, Minha Vida é um programa de habitação federal do Brasil, criado em março de 2009
(Brasil, 2009).
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realidade, os membros da comunidade foram instigados a refletir sobre o que temos, o que
queremos e como podemos melhorar?, observando o território do distrito Pituba sob a ótica da
Cartografia Social.
Em fevereiro de 2023, foi promovido um encontro que reuniu residentes e
representantes das vilas e da Pituba velha com o propósito de fomentar a reflexão e a
espacialização das principais potencialidades, bem como dos problemas e limitações, mediante
a prática do mapeamento participativo. No momento inicial das reflexões, o grupo dedicou
especial atenção aos principais problemas identificados, tais como a insegurança, a presença de
resíduos sólidos nas vias públicas, a escassez de transporte coletivo e as deficiências nos
serviços de saúde e educação.
No que concerne à questão da insegurança, a população residente da Pituba velha
ressalta que tal problema se agravou com a construção das Vilas 1 e 2. Muitas residências
permanecem fechadas ou são cedidas a terceiros, o que atrai indivíduos com intenções de
invasão de propriedades, prática de furtos, roubos e até mesmo a utilização desses locais como
pontos de venda de drogas ou esconderijos para criminosos procurados pelas autoridades
policiais.
Essa situação encontra-se diretamente relacionada a outros desafios, como a quase total
escassez de transporte público, o que impõe grandes dificuldades à vida cotidiana dos
indivíduos desprovidos de veículos particulares. Segundo relatos dos moradores, a prefeitura
disponibiliza apenas um ônibus de segunda a sexta-feira, responsável por operar o trajeto entre
a Pituba e a sede urbana. O ônibus parte da Pituba às 5h30 e retorna às 18h, principalmente com
o objetivo de atender às necessidades dos trabalhadores.
Essa limitação de horários exerce um impacto significativo na rotina diária dos
moradores. Por exemplo, caso alguém tenha um compromisso na sede urbana às 9h ou às 14h,
não distinção, pois todos devem sair e retornar nos mesmos horários estabelecidos pelo
serviço de transporte público. Essa falta de flexibilidade dificulta o acesso a serviços essenciais
e a realização de atividades do dia a dia.
Ademais, a escassez de transporte evidencia outra problemática identificada pelo grupo:
a precariedade do sistema de saúde no distrito Pituba em relação a outros distritos do município.
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Em teoria, os atendimentos médicos e odontológicos deveriam ocorrer em dias específicos, no
entanto, a população relata frequentes ausências injustificadas por parte dos profissionais de
saúde. Além disso, os serviços disponíveis são considerados básicos e, em casos que demandam
maior atenção, os pacientes precisam ser encaminhados para o hospital na sede municipal.
Infelizmente, o transporte disponibilizado para essa locomoção costuma apresentar más
condições, quando disponível.
Outra questão destacada diz respeito à “deficiência no sistema educacional” na Pituba.
Conforme relato de uma mãe, ao comparar os cadernos de anotações e materiais de seus filhos,
que frequentam a escola infantil na Pituba, com o material de outras crianças da mesma faixa
etária e série, que estudam em escolas na sede urbana de Baía Formosa, constatou-se um
considerável atraso nos assuntos abordados na escola da Pituba. Embora essa observação
provenha da percepção subjetiva dos pais, ela levanta uma preocupação válida sobre a possível
desigualdade na qualidade do ensino entre as diferentes áreas. Contudo, para validar essa
percepção e obter uma avaliação precisa, seria necessário conduzir um estudo comparativo
abrangente, utilizando parâmetros pedagógicos estabelecidos e analisando o desempenho
acadêmico dos alunos em ambas as localidades.
Verifica-se que os problemas mencionados anteriormente podem ser identificados em
todo o distrito da Pituba, abrangendo a Pituba Velha e as duas vilas mais recentes. No entanto,
é válido ressaltar que o problema do descarte inadequado de resíduos sólidos nas vias públicas
é praticamente exclusivo das duas vilas novas, de acordo com as falas dos moradores de ambas
as localidades, embora não haja dados oficiais quanto a esse ponto.
Na Pituba Velha, é possível notar a existência de locais específicos para o descarte de
resíduos próximos às residências das pessoas, o que resulta em vias mais limpas. Por outro lado,
nas vilas 1 e 2, é comum observar o descarte inadequado de resíduos sólidos em frente às
residências alheias, resultando em efeitos prejudiciais ao meio ambiente. Essa prática pode
acabar gerando uma cadeia de impactos negativos, como a contaminação do solo, a proliferação
de vetores de doenças e a poluição visual, que afeta a qualidade de vida dos moradores. Além
disso, é relevante destacar que a coleta de resíduos sólidos na Pituba velha ocorre com maior
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frequência, conforme relatado pelo grupo de moradores. Logo, as reflexões foram ricas no
tocante a esse tema.
No que se refere às potencialidades presentes no território da Pituba, o grupo expressou
certa descrença em relação a aspectos positivos, porém, destacou a prática adequada de descarte
de resíduos pelos moradores da Pituba velha como um ponto a ser enfatizado. Além disso, a
quadra esportiva de uso coletivo foi mencionada como um espaço de lazer na comunidade.
Eu estou aqui desde o início da construção das duas vilas da Pituba nova. Assim que
ganhei minha casa, me mudei, e a situação hoje não é boa, mas já foi pior. Chegamos
para morar e não tinha água encanada, não tinha iluminação, coisas necessárias para
se viver. Então, quando nos indagam sobre as potencialidades locais, só relatamos as
pequenas melhorias: água, iluminação, coisas necessárias, uma unidade básica de
saúde que não funciona como deveria, mas ao menos tem médicos alguns dias, coisa
que há 6 ou 7 anos atrás não tinha (Moradora da Vila 1).
O grupo ressaltou a ausência de uma praça no distrito, o que limita as opções de
recreação para crianças e animais. Quando buscam momentos de lazer, os moradores costumam
se deslocar para a sede urbana de Baía Formosa ou para a praia do Sagi, outro distrito do
município. A Figura 4 mostra alguns dos problemas e as potencialidades destacadas durante o
processo de mapeamento.
Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SOARES, Larícia Gomes; FARIAS, Juliana Felipe. Um Olhar Sobre o Território Por Meio do Mapeamento Participativo no Distrito Pituba
em Baía Formosa/RN. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e-112419, 2024.
Submissão em: 15/06/2024. Aceito em: 15/08/2024.
ISSN: 2316-8544
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Figura 4 Mosaico de problemas e potencialidades identificados no distrito Pituba
.
Fonte: Soares (2024). Legenda: A) descarte de resíduos sólidos em locais adequados Pituba Velha. B)
descarte inadequado de resíduos sólidos Vila nova 1. C) coleta de resíduos sólidos Pituba Velha. D) quadra
de esportes Pituba Velha.
É importante salientar que os moradores frequentemente se referem à sede urbana como
Baía Formosa, denotando que não se sentem plenamente pertencentes ao território. O grupo se
autodenomina o distrito por vezes esquecido, revelando uma sensação de negligência em
relação à sua localidade.
Após a realização da oficina e do mapeamento participativo, foi possível obter um mapa
analógico (Ver figura 5) que foi posteriormente transposto para o ambiente digital usando o
software ArcGis 10.5.
A
B
C
D
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Figura 5 Mapa participativo analógico do distrito Pituba em Baía Formosa/RN
Fonte: Acervo das Autoras (2023). Legenda: A) Mapa participativo analógico (espacialização de
potencialidades e problemas. B) Legenda do mapa.
A partir do mapeamento participativo analógico foi gerado o mapa participativo digital
do distrito Pituba (Figura 6), representando visualmente as informações coletadas durante o
processo de reflexão e mapeamento.
A
B
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Figura 6 Mapeamento participativo distrito Pituba Ênfase: Potencialidades e
Problemas/Limitações
Fonte: Autoras (2024)
Nesse contexto, surge uma questão fundamental para a realidade da Pituba: O que
temos? uma pergunta que expressa uma preocupação crescente. No entanto, a comunidade
tem clareza sobre O que queremos? e suas demandas são evidentes. Entre as necessidades
mais urgentes, destacam-se a segurança, um direito fundamental que tem sido negligenciado no
distrito.
Além disso, a comunidade busca um sistema de transporte eficiente, capaz de otimizar
o deslocamento dos moradores. O setor de saúde também é uma prioridade, com os residentes
desejando atendimentos mais frequentes e humanizados. Da mesma forma, investimentos em
educação são essenciais, assim como a criação de espaços de lazer, como praças e parquinhos,
que promovam a convivência social e valorizem o ambiente.
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No entanto, essas melhorias estão diretamente ligadas a esferas mais amplas de gestão
municipal. É crucial destacar que a coleta e o descarte adequados de resíduos representam uma
responsabilidade compartilhada. Os moradores devem evitar a dispersão de resíduos em locais
impróprios, enquanto a administração municipal deve garantir um serviço de coleta regular,
pelo menos semanalmente.
No âmbito da busca por soluções Como podemos melhorar? a comunidade da
Pituba reconhece a importância de um entendimento aprofundado das potencialidades e
problemas do seu território. Com base nisso, foi elaborado coletivamente, por meio de uma
roda de conversa, o Quadro 1, que representa o “Como podemos melhorar” em relação às
demandas apresentadas.
Quadro 1 Propostas coletivas de melhorias para o Distrito Pituba
ESTRATÉGIAS
ATUAÇÃO
(AGENTES)
Melhorar a iluminação nas ruas e aumentar o contingente de
policiamento;
Incentivar a participação da comunidade em programas de
segurança (vizinhos vigilantes e campanhas de conscientização a
prevenção de crimes).
Gestão municipal e
comunidade local.
Regularizar o fornecimento de água e energia elétrica em todo
distrito;
Criar espaços coletivos de recreação e lazer.
Gestão municipal.
Ampliar o serviço público - mais ônibus e linhas adequadas aos
horários e demandas da comunidade. Alternativas como vans
comunitárias e caronas solidárias também podem ser consideradas.
Gestão municipal e
comunidade local.
Assegurar a presença regular de profissionais de saúde;
Investir em infraestrutura adequada, incluindo equipamentos e
recursos;
Promover campanhas de conscientização sobre saúde preventiva.
Gestão municipal.
Investir na formação continuada dos professores e fornecer
recursos adequados às escolas;
Estabelecer parcerias de projetis com instituições locais;
Fortalecer programas extracurriculares para o desenvolvimento
integral das crianças e jovens.
Gestão municipal,
instituições
governamentais,
ONGs e
comunidade local.
Implementar um sistema de coleta regular e eficiente para todos os
bairros da Pituba, com horários específicos;
Criar campanhas educativas para conscientizar sobre o descarte
adequado de resíduos sólidos;
Gestão municipal e
comunidade local.
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Incentivar a separação de materiais recicláveis e a compostagem de
resíduos orgânicos.
Fonte: Soares (2024)
Desse modo, é possível estabelecer um alinhamento entre a comunidade local e a gestão,
visando a implementação de melhorias efetivas no distrito e, consequentemente, a elevação da
qualidade de vida dos seus habitantes. Nesse contexto, destaca-se o mapeamento participativo,
à luz da cartografia social, como um instrumento de expressão e busca por avanços,
promovendo o equilíbrio entre a capacidade de suporte do meio e as demandas da comunidade.
Considerações Finais
O mapeamento participativo realizado no distrito Pituba, em Baía Formosa, revelou não
apenas os desafios enfrentados pela comunidade, mas também suas potencialidades e
demandas. Ao desvelar o “território esquecido”, os moradores puderam refletir sobre suas
condições de vida e contribuir ativamente para a identificação de problemas e proposição de
soluções. Por meio dessa abordagem participativa, foi possível criar um espaço de diálogo no
qual as vozes locais foram ouvidas.
Os objetivos do estudo foram alcançados, pois mapear as necessidades e potencialidades
do distrito gerou dados e informações espacializadas de suma importância para o planejamento
urbano e a implementação de práticas locais mais eficazes. A metodologia utilizada, baseada
na cartografia social, mostrou-se eficiente ao engajar a comunidade local e promover uma
análise detalhada e colaborativa do território. Esta abordagem permitiu não apenas a coleta de
dados, mas também a conscientização e o empoderamento dos moradores.
Os resultados obtidos destacam a complexidade das questões enfrentadas pela
comunidade do distrito Pituba, ressaltando problemas de natureza ambiental, social, econômica
e cultural, desde o descarte inadequado de resíduos sólidos até deficiências em serviços básicos.
A falta de planejamento urbano adequado e a migração para a Pituba nova vilas 1 e 2, sem
infraestrutura adequada, evidenciam a necessidade de intervenção.
Desse modo, é fundamental que essas demandas sejam ouvidas e consideradas pelas
autoridades locais e pela gestão municipal. O alinhamento entre a comunidade e os órgãos
responsáveis é essencial para garantir a implementação efetiva de melhorias e promover uma
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mudança positiva e duradoura no distrito Pituba. Por meio do compartilhamento de
conhecimento e da colaboração entre todos os envolvidos, o mapeamento participativo tem o
potencial de transformar desafios em oportunidades, construindo um futuro melhor para a
comunidade local, onde o meio ambiente é visto como instância de construção territorializada
de justiça.
Referências
ACSELRAD, H. (Org.). Cartografia social, terra e território. Rio de Janeiro: IPPUR/UFRJ,
2013.
ACSELRAD, H.; COLI, L. R. Disputas cartográficas e disputas territoriais. In: ACSELRAD,
H. (Org.). Cartografias sociais e território. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento urbano e Regional, 2008.
ALMEIDA, B. F. M. Cartografia social e conflitos territoriais no assentamento
Sabiaguaba, Ceará, Brasil. 2018. 102f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Departamento
de Geografia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2018.
BRASIL. Lei 11.977, de 7 de Julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha
Vida PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas.
Brasília, 2009. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l11977.htm Acesso em: 15 mai. 2024.
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Disponível em: https://revista.ufrr.br/actageo/article/view/3820. Acesso: 5 jan. 2021.
GORAYEB, A.; MEIRELES, A. J. A.; SILVA, E. V. Princípios básicos de Cartografia e
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Cartografia Social e Cidadania: experiências de mapeamento participativo dos territórios de
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HAESBAERT, R. Des-territorialização e identidade: a rede gaúcha no Nordeste. Niterói:
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HAESBAERT, R. O Mito da Desterritorialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
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SOARES, Larícia Gomes; FARIAS, Juliana Felipe. Um Olhar Sobre o Território Por Meio do Mapeamento Participativo no Distrito Pituba
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SOARES, L. G. Paisagem, comunidade e território: diálogos de saberes e mapeamento
participativo em Baía Formosa (RN). 2024. 189f. Dissertação (Mestrado em Geografia)
Departamento de Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2024.
SILVA, C. N.; VERBICARO, C. O mapeamento participativo como metodologia de análise do
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Disponível em: https://www.scientiaplena.org.br/sp/article/view/3140. Acesso em: 18 jul.
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