Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
JESUS, Jefferson Dias Andrade de; SILVA, Mary Anne Vieira. Identidade, Futebol e o Ato de Torcer Fora dos Grandes Centros: o caso de
Anápolis/GO. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112422, 2024.
Submissão em: 24/08/2024. Aceito em: 22/11/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons 1
SEÇÃO ARTIGOS
Identidade, Futebol e o Ato de Torcer Fora dos Grandes Centros:
o caso de Anápolis/GO
Identity, Football and the Act of Cheering Outside the Major Centers:
the case of Anápolis/GO
Identidad, fútbol y el acto de animar fuera de los grandes centros:
el caso de Anápolis/GO
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v11i24.64373
Jefferson Dias Andrade de Jesus1
Universidade Estadual de Goiás (UEG)
Goiás, Brasil
e-mail: jeffersondiasgeo@gmail.com
Mary Anne Vieira Silva2
Universidade Estadual de Goiás (UEG)
Goiás, Brasil
e-mail: mary.silva@ueg.br
Resumo
O presente artigo foca na análise da formação e estrutura das identidades entre torcedores de futebol. O cerne do
estudo se desenvolve dentro do recorte espacial da cidade de Anápolis, Goiás. A temática se justifica em virtude
do papel de destaque que o futebol e os seus adeptos desempenham nas relações socioespaciais na sociedade
urbana moderna. Outro aspecto que traz relevância ao ensaio é a carência de obras científicas vinculadas ao tema
no recorte espacial de Anápolis-GO. Objetivou-se compreender as identidades futebolísticas dos torcedores das
equipes locais, investigando como elas se formam e se manifestam. Como resultado, a pesquisa apontou para um
dilema entre aceitação e aversão aos torcedores bifiliados e mistos. Para tanto, analisamos o ato de torcer em um
contexto distante dos grandes centros futebolísticos. No aspecto metodológico, parte-se da perspectiva qualitativa
de natureza descritiva. A construção da ideia de identidade no artigo é abordada como fluida, sendo moldada por
dinâmicas de poder, cultura e história.
Palavras-chave
Futebol; Identidade; Pertencimento; Torcida.
1
Graduado em Geografia pela UEG - UnUCSEH. Mestre em Ciências Sociais e Humanidades pelo Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (PPG-TECCER) da Universidade
Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas (UnUCSEH).
Atualmente, é professor efetivo da rede estadual de ensino do Tocantins.
2
Possui Pós-Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Doutora em Geografia
pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).
Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente, é Professora Estatutária Adjunto
Nível II da Universidade Estadual de Goiás (UEG) em regime de dedicação em tempo integral à docência e à
pesquisa (RTIDP). Atua como docente no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu Interdisciplinar em Territórios
e Expressões Culturais no Cerrado (PPGTECCER) e no curso de Geografia (licenciatura) da Unidade Universitária
de Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas (UnUCSEH) da UEG.
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Anápolis/GO. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112422, 2024.
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Abstract
This article focuses on analyzing the formation and structure of identities among soccer fans. The core of the study
takes place within the spatial context of the city of Anápolis, Goiás. The subject is justified by the prominent role
that soccer and its fans play in socio-spatial relations in modern urban society. Another aspect that brings relevance
to the essay is the lack of scientific works on the subject in the spatial area of Anápolis-GO. The aim was to
understand the soccer identities of fans of local teams, investigating how they are formed and manifested. As a
result, the research pointed to a dilemma between acceptance and aversion to bifiliated and mixed fans. To this
end, we analyzed the act of cheering in a context far from the major soccer centers. The methodological approach
is qualitative and descriptive. The construction of the idea of identity in the article is approached as fluid, being
shaped by dynamics of power, culture, and history.
Keywords
Soccer; Identity; Belonging; Fans.
Resumen
Este artículo se centra en el análisis de la formación y estructura de las identidades entre los aficionados al fútbol.
El núcleo del estudio tiene lugar en el contexto espacial la ciudad de Anápolis, Goiás. El tema se justifica por el
destacado papel que el fútbol y sus aficionados desempeñan en las relaciones socioespaciales de la sociedad urbana
moderna. Otro aspecto que aporta relevancia al es la falta de trabajos científicos sobre el tema en el ámbito espacial
de Anápolis-GO. El objetivo fue comprender las identidades futbolísticas de los hinchas de los equipos locales,
investigando cómo se forman y manifiestan. Como resultado, la investigación apuntó a un dilema entre la
aceptación y la aversión a los hinchas bifiliados y mixtos. Para ello, se analizó el acto de animar en un contexto
alejado de los grandes centros futbolísticos. El enfoque metodológico es cualitativo y descriptivo. La construcción
de la idea de identidad en el artículo se aborda como algo fluido, moldeado por dinámicas de poder, cultura y
historia.
Palabras clave
Fútbol; Identidad; Pertenencia; Hinchas.
Introdução
O futebol, mais do que um esporte, é um fenômeno social e cultural que transcende
fronteiras e impacta profundamente as identidades individuais e coletivas. Na era da
globalização, as dinâmicas identitárias tornaram-se ainda mais complexas, permeadas por
processos de hibridização (Bhabha, 1998; Canclini, 2008) e multiterritorialidades (Haesbaert,
2007). A globalização não apenas reduz as distâncias físicas e temporais, mas também
reconfigura as identidades, muitas vezes de forma ambivalente e fragmentada.
Neste contexto, o futebol se apresenta como um campo privilegiado para explorar as
relações entre o local e o global, especialmente em regiões periféricas, onde as identidades
locais são constantemente desafiadas pelas forças globais. O futebol global interfere nas formas
de torcida do futebol local por meio de vários processos de globalização, como a divulgação de
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mídia, cultura de consumo e influência econômica. A cidade de Anápolis, em Goiás, é um
exemplo emblemático dessa dinâmica. Situada à margem dos grandes centros do futebol
brasileiro e mundial, Anápolis enfrenta desafios particulares na manutenção e fortalecimento
de suas identidades futebolísticas, que são frequentemente obscurecidas pelo domínio midiático
e econômico dos clubes nacionais.
Este artigo busca investigar como as identidades futebolísticas são construídas e
mantidas na periferia da periferia do futebol, focando nos torcedores dos clubes de Anápolis. A
análise considera as influências globais que permeiam o futebol local. Além disso, o fenômeno
do torcedor misto, que apoia tanto um clube local quanto um clube de maior expressão em
outra região, será examinado como uma manifestação das tensões identitárias vividas pelos
torcedores em contextos periféricos.
O torcer na periferia da periferia do futebol
Na atual fase da globalização, como apontam Hall (2006), Bhabha (1998), Massey
(2008), Canclini (2008) e Harvey (2008), o desmantelamento das identidades passa a ser
marcado por hibridismos, nunca coesos ou uniformes, frente aos debates nacionalistas que
surgem nos centros de estudos ao afirmarem que um claro deslocamento das identidades
desterritorializadas, constituídas por mesclas e multiterritorialidades. De acordo com Harvey:
Temos vivido, nas últimas décadas, uma intensa fase de compressão do tempo-espaço,
que tem tido um impacto desorientado e disruptivo sobre as práticas político-
econômicas, sobre o equilíbrio do poder de classe, bem como sobre a vida social e
cultural (Harvey, 2008, p. 257).
Corroborando com este pensamento, Hall (2006) afirma que uma das principais
características da última etapa da globalização nas identidades nacionais é a redução das
distâncias no espaço e no tempo, resultando na aceleração dos processos globais. Isso faz com
que o mundo pareça menor e as distâncias mais curtas. Além disso, eventos ocorridos em um
local têm um impacto imediato em pessoas e lugares distantes.
Bhabha (1998), aponta que as fronteiras nacionais frequentemente enfrentam uma
dualidade temporal: um processo de formação de identidade através da sedimentação
histórica, enquanto, simultaneamente, ocorre uma perda de identidade no processo de
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significação cultural. O tempo e o espaço envolvidos na construção da finitude nacional são
comparáveis à ambivalência narrativa de tempos e significados divergentes.
Para Massey (2008, p. 274), “Nem o espaço nem o lugar podem fornecer um refúgio em
relação ao mundo”. O espaço é resultado de interações, e essas interações só podem ocorrer em
um espaço diversificado, onde nada é estabelecido de forma permanente. Conforme Massey
(2008), a afirmação de que o local contribui para a construção do global implica na constatação
de que as políticas locais endossam as políticas e práticas geradas pelos agentes da globalização.
Não se trata, simplesmente, de defender o local contra o global, mas sim, de buscar mudar os
efeitos e mecanismos da globalização em nível local.
Referente à condição moderna, bem como às rupturas e fragmentações que ela traz,
Harvey (2008, p. 22) aponta que:
Se a vida moderna está de fato tão permeada pelo sentido do fugidio, do efêmero, do
fragmentário e do contingente, há algumas profundas consequências. Para começar, a
modernidade não pode respeitar sequer o seu próprio passado, para não falar de
qualquer ordem social pré-moderna. A transitoriedade das coisas dificulta a
preservação de todo sentido de continuidade histórica. Se algum sentido na história,
que o descobrir e defini-lo a partir de dentro do turbilhão da mudança, um turbilhão
que afeta tanto os termos da discussão como o que está sendo discutido. A
modernidade, por conseguinte, não apenas envolve uma implacável ruptura com todas
e quaisquer condições históricas precedentes, como é caracterizada por um
interminável processo de rupturas e fragmentações internas inerentes.
Alguns pontos citados por Harvey são fortalecidos por Canclini (2008), ao salientar que
a incerteza sobre o significado e o valor da modernização não é apenas resultado das divisões
entre nações, etnias e classes sociais, mas também das interações socioculturais, onde o
tradicional e o moderno se entrelaçam. Indica-se que uma abordagem colaborativa das ciências
sociais pode proporcionar uma nova perspectiva sobre a modernização, não apenas como uma
força externa e dominadora que procura substituir o tradicional, mas sim como esforços de
renovação que diversos setores realizam diante da heterogeneidade temporal de cada sociedade.
Pensar quais caminhos a construção das identidades percorrem e percorrerão é um
processo delicado, ou por não conhecermos a trajetória a ser seguida, ou porque não
aceitamos definí-la de forma processualista e essencialista. As identidades se assumem como
modificadas e/ou agregadas aos novos aspectos do tempo e, geograficamente, o global permite
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enfraquecê-las e localmente se fortalecem. Espaço-tempo, escalas que redefinem os sentidos de
pertença a “isso” ou “aquilo”.
O cultural se encontra na ebulição dos entendimentos social, político e econômico, que
envolvem a vida cotidiana e, no que se refere a Lefebvre (2013), a vida cotidiana é fragmentada
e atende às lógicas horizontal e vertical da reprodução das relações sociais. Não seria difícil
afirmar que, recentemente, o futebol agrega múltiplos públicos. A questão de gênero não é
central no artigo, mas a atração de torcedores homens marca o universo futebolístico. Nesse
contexto, ocorre, ainda, a ideia categorizadora de práticas, atividades e escolhas que designa os
processos identitários centrais ao presente estudo. Os acontecimentos e situações que ocorrem
durante a vida humana contribuem para as identidades que adquirimos?
Sim, porque identidade carrega consigo tantos traços de unidade essencial e “mesmice”,
e as identidades escritas e inscritas nas escalas espaço-tempo expressam as inúmeras relações
de poder, construídas pelas diferenças e separações culturais (Hall, Woodward e Silva, 2014).
Não, porque a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou
representado, de forma que a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida.
Esse processo é, às vezes, descrito como constituição da mudança de uma política de identidade
(de classe) para uma política de diferença (Hall, 2006).
Essa configuração atual, pode se modificar em um mundo em que o espaço-tempo está
em constantes ajustes quando se refere às identidades. Neste sentido, Mariconi (2014, p. 15)
afirma que:
A identidade é construída durante todo o decorrer da vida, e ela é passível de
mudanças de acordo com os momentos e fases que cada um vive. Porém, isso não
significa que, de repente, eu esquecerei minha identidade e me tornarei totalmente
diferente, como se, com a renovação, eu estivesse começando sempre do “ponto zero”
da nossa vida.
A produção de nossas identidades se ao longo da vida, mas, afinal, o que é
identidade? Hall et al. (2014, p. 73) indica:
[...] em uma primeira aproximação, parece ser fácil definir identidade. A identidade
é simplesmente aquilo que se é [...] A identidade, assim concebida, parece ser uma
positividade (aquilo que sou), uma característica independente, um fato
autônomo. Nessa perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria: ela é
autocontida e autossuficiente.
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Em contrapartida, ao mesmo passo que a identidade define aquilo que sou, ela também
define tudo o que não sou. Seria o torcedor de futebol um sujeito com múltiplas identidades,
um indivíduo representado ou representante de determinado segmento identitário? As
representações atreladas ao futebol são bem delineadas quando nos referimos, por exemplo, às
torcidas organizadas.
Conforme Holanda (2008), a palavra torcedor é um termo tipicamente do futebol
brasileiro, remontando à prática das mulheres que, no início do século XX, assistiam aos jogos
e torciam os seus cabelos nos momentos mais angustiantes dos jogos, diferente de outros países
da América Latina, onde os simpatizantes de uma equipe são chamados de hinchas.
Sobrinho et al. (2018, p. 50) afirmam que, “ao longo das últimas décadas, essa reunião
informal para torcer pelos times tem tomado um caráter mais rígido e frequente, criando, assim,
as chamadas torcidas organizadas.” Dessa forma, entende-se que se tem crescido e intensificado
o encontro e convivência de pessoas em torno do futebol, ao ponto de se agruparem nessas
chamadas “torcidas organizadas”.
No Brasil, conforme afirmado por Sobrinho e César (2008), as torcidas organizadas
surgem de maneira oficial em 1940, com a criação da torcida uniformizada do São Paulo
Futebol Clube. Pouco tempo depois, em 1942, ocorre a criação da Charanga do Flamengo. As
torcidas organizadas, de acordo com Holanda (2008,) vão ganhando novas configurações e um
novo formato com o passar dos anos.
Nos anos 1940, surge, em São Paulo, o movimento das torcidas uniformizadas, iniciado
por torcedores da alta sociedade que frequentavam clubes e festas, estabelecendo vínculos com
os clubes e seus dirigentes. Estes, se organizavam para comparecer aos estádios e ocupar uma
determinada área da arquibancada. No final da década de 60 ocorreu uma mudança na forma
de torcer com a iniciativa de novas torcidas organizadas no Brasil. Essas novas torcidas
possuíam seus próprios estatutos e regras, adotando uma postura de contestar diversas ações
dos gestores dos clubes, diferente das torcidas anteriores, que apresentavam um apoio
incondicional a estes dirigentes. Durante esse período, a socialização entre estes torcedores se
limitava ao tempo de duração dos jogos, mas poderia ser relembrada em momentos do dia a
dia, como em encontros com amigos (Silva, 2009).
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Em 1969, na cidade de São Paulo, surgiu o Grêmio Gaviões da Fiel, seguido pela
Torcida Jovem do Santos e a Torcida Uniformizada do Palmeiras, em 1970. A Torcida
Independente do São Paulo veio logo em seguida, em 1972, todas com o objetivo de maior
autonomia em relação às diretorias dos clubes. Essas torcidas passaram a ter seus próprios
regimentos e liberdade para protestar em momentos de crise da equipe. Durante a década de
1970, surgiram outras associações torcedoras em todo o país, muitas delas, cada vez mais
estruturadas independentemente dos clubes e dos meios de comunicação (Holanda, 2008).
É na década de 1980 que crescem as animosidades entre as torcidas. No entanto, foi
durante os anos 90 que as torcidas estiveram envolvidas em situações de violência coletiva
intensa: ocorriam, frequentemente, relatos de fatalidades após o encerramento das partidas, nos
momentos em que as torcidas se reuniam. A violência não impediu que as torcidas organizadas
continuassem a crescer de maneira significativa durante a década de 1990 e nas décadas
seguintes. Os conflitos entre torcidas organizadas não são um fenômeno exclusivamente
brasileiro.
De acordo com Oliveira (2022), as torcidas organizadas são uma realidade em várias
partes do mundo, compartilhando traços comuns. Esses grupos possuem atributos que refletem
a geração a que pertencem (predominantemente, jovens), mostram uma distinção de gênero
(apesar do aumento da presença feminina nas arquibancadas, ainda são, majoritariamente,
compostos por homens) e oferecem apoio fervoroso e fanático a um time de futebol específico
ou à seleção nacional. Tais grupos ganham diferentes denominações, conforme a localidade
onde estão inseridos. Na Inglaterra são conhecidos, primordialmente, como Hooligans; em
grande parcela do continente europeu, como Ultras, e em diversos países da América Latina,
como Barras Bravas.
Assim, como qualquer organização, as torcidas organizadas utilizam estratégias de
marketing para promover seus produtos e, nesse caso, construir uma imagem de grupos temidos
e violentos, o que pode ajudar a atrair um público consumidor cada vez maior. Esse público,
em grande parte composto por jovens que buscam segurança, algo em que acreditar e uma
identidade e visibilidade social, não consome apenas os produtos das torcidas, como uniformes,
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bonés e camisetas, mas também todo o imaginário e elementos lúdicos criados pelo grupo
(Sobrinho; César, 2008).
O pertencimento ligado ao futebol e, por vezes, às torcidas organizadas se apresenta em
diferentes formas e escalas; no entanto, trabalhamos neste artigo com a escala local, entendendo
que o futebol nessa escala sofre interferências regionais, nacionais e globais. Abordamos aqui
as influências do global no local. Tendo em vista que a centralidade dessa pesquisa se prima
por discutir as motivações de ser torcedor de clubes de futebol, as seleções nacionais e suas
competições não serão contempladas.
As influências globais para as identidades futebolísticas, forçosamente, demarcam seis
competições de clubes mais assistidas e valiosas no mundo. De acordo com o Lance (2023,
s/p.), estamos falando do: Campeonato inglês (Premier League); Campeonato espanhol (La
Liga); Campeonato Italiano (Serie A); Campeonato Alemão (Bundesliga); Campeonato Francês
(Ligue 1); e a competição de clubes de maior prestígio na Europa e no mundo, a Liga dos
Campeões da Europa. O primeiro fator que chama a atenção é que todas as competições estão
situadas na Europa. Fora deste eixo, entendemos que os outros torneios de clubes constituem a
periferia do futebol.
O mundo globalizado traz uma rede complexa de desdobramento que impulsiona o
poderio midiático dos clubes globais. Conforme Simões (2017, p. 227), “as últimas décadas do
século XX inauguraram uma nova realidade na indústria do entretenimento em geral, com o
advento da televisão enquanto meio de comunicação massivo para a qual o esporte, em especial
o futebol, significava um dos principais produtos. Esse novo contexto acelera e aprofunda um
ideal de futebol que visa servir de entretenimento midiático.
Ao se tratar das escalas global e local, depreendemos a ideia de Santos (2002), do quanto
o global interfere no local, dificultando a resistência dos torcedores dos pequenos clubes. Para
Freire (2006, p. 63), “A cultura local vem perdendo importância junto à maioria da população,
que tem adotado padrões de manifestação da cultura importada”. Nessa perspectiva, de acordo
com Ferreira (2023), o esporte passou a atrair atenção de grandes atores financeiros, tornando-
se uma alternativa de investimento de capitais. Nesse cenário, configura-se o processo de
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empresarização e financeirização do futebol, no qual os clubes são transformados em
verdadeiras empresas globais.
O fácil acesso a partidas dos principais clubes e campeonatos do mundo faz com que os
pequenos clubes tenham que disputar, em atratividade, dentro do seu próprio mercado local. Os
campeonatos que envolvem clubes entendidos como pequenos apresentam baixa divulgação,
além de pouco ou nenhum acesso de transmissão com imagem. Em 2023, a transmissão dos
seis jogos de cada rodada do campeonato goiano se dividiu em três plataformas: o canal no
Youtube da Federação Goiana de Futebol, o serviço de streaming DAZN, e, na TV aberta, no
canal TV Brasil Central (TBC). Cada jogo estava disponível em apenas uma dessas plataformas.
Neste mesmo ano, todos os jogos da Liga dos campeões da Europa, competição que
reúne os principais clubes do continente europeu, de acordo com desempenho esportivo, esteve
disponível na plataforma de streaming Home Box Office Max (HBOmax), enquanto uma parcela
dos jogos esteve disponível também no Turner Network Television (TNT) e no canal Space,
todos estes canais são propriedades do grupo Warner/Discovery (Fernandes e Ferreira, 2024).
Os jogos mais relevantes também tiveram transmissão do Sistema Brasileiro de Televisão
(SBT).
Além disso, Premier League, La Liga, Serie A e a Ligue 1, estão disponíveis na
plataforma de streaming Star Plus, ou seja, em apenas uma plataforma é possível acessar todos
os principais jogos de 4 das 5 maiores ligas nacionais do mundo. Diversos jogos destas
competições estão disponíveis também na TV fechada nos canais Entertainment and Sports
Programming Network (ESPN). A Bundesliga, que completa as 5 maiores ligas nacionais,
esteve com a maioria dos disponíveis na plataforma de streaming One Footbaall, e com
diversos jogos na TV aberta na Rede Bandeirantes (Band) (Jacobs, 2021).
O acesso cada vez mais fácil e em grande quantidade a jogos internacionais faz com que
os clubes com maior poderio econômico no mundo tenham todos ou quase todos os seus jogos
transmitidos, competindo em atratividade com clubes nacionais e regionais. Em 2022, o Real
Madrid disputou 61 partidas, Barcelona 53, Atlético de Madrid 49, Manchester City 62,
Liverpool 52, Arsenal 49, Tottenham 50, Chelsea 50, Juventus 56, Milan 52, Internazionale 57,
Paris Saint-Germain 50, Bayern de Munique 49, sendo todas essas transmitidas por alguma
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plataforma ou canal de TV (Jacobs, 2021). A oferta de jogos dos principais clubes brasileiros é
ainda mais elevada: Flamengo 77, Corinthians 72, São Paulo 77, Palmeiras 74, Vasco da Gama
53.
No ano de 2022, a Anapolina entrou em campo apenas em 14 oportunidades, o Anápolis
jogou mais vezes, somando 28 partidas, e o Grêmio Anápolis computou 25 jogos. Em 2021, as
três equipes somaram menos jogos do que em 2022, com a Anapolina jogando 12 vezes, o
Anápolis 15 e o Grêmio Anápolis 18. Em 2020, a pandemia de Covid-19 impactou diretamente
o futebol, provocando a paralisação de diversos campeonatos, fazendo com que cada uma das
3 equipes de Anápolis jogasse apenas 10 vezes. Todavia, apesar dos impactos da pandemia, o
Flamengo jogou 58 vezes em 2020, mesmo ano em que o Corinthians somou 47 jogos, o São
Paulo 54, o Palmeiras 58 e o Vasco da Gama 49.
O futebol de Anápolis aparece como um futebol periférico já no cenário regional, onde
os principais clubes do estado, pela perspectiva de valor econômico, estão localizados em
Goiânia. O Futebol de Goiás também se situa na condição de periférico no contexto nacional,
pois se apresenta fora dos principais clubes localizados no Eixo Sudeste-Sul; esses,
reiteradamente, são representativos nos cenários do esporte, com destaque no futebol para
alguns estados do nordeste, que assumem notória participação no ranking de clubes nacionais.
Em relação ao futebol brasileiro, tal condição é recorrente quando se remete aos clubes
europeus. Na Figura 1, apresentamos o mapa de localização do município de Anápolis.
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Figura 1 Mapa de localização de Anápolis
Fonte: Autores (2024)
Dessa forma, quando falamos dos torcedores das equipes de futebol de Anápolis,
assume-se a ideia de que os torcedores resistem e seguem suas equipes, ainda que essas se
encontram distantes dos grandes centros. Aferimos, nessa perspectiva, resistência no futebol a
partir das motivações e dos sentidos de pertencer e torcer para um clube pequeno, tendo em
vista as dificuldades que permeiam os clubes no que tange a patrocinadores, campanhas
publicitárias e marketing.
Neste sentido, Mittmann (2021, p. 74) afirma que o caso em tela, o de um pequeno
clube, parece ser sempre o de uma luta dos torcedores (comunidade) pela sua continuidade: às
vezes na série A do campeonato local, às vezes a sua simples existência”. É neste difícil cenário
de disputa por agregar ou não perder torcedores para clubes grandes a nível regional e, em
especial, a nível nacional e global, que estão inseridos os clubes pequenos como os de Anápolis.
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Bauman (2001) argumenta que a globalização e a fluidificação das sociedades modernas
têm feito com que a identidade se torne cada vez mais incerta e complexa. Tais incertezas no
que tange às identidades, bem como as identidades futebolísticas, são fatores que ameaçam até
mesmo a sobrevivência dos pequenos clubes, tendo em vista que os torcedores também são
clientes destas equipes.
Conforma aponta Fonseca (2014, 159), [o] torcedor, agora cliente, é visto como
consumidor em potencial e a sua paixão pelo clube um negócio altamente lucrativo. Os clubes
precisam desses clientes para adquirirem seus diversos produtos como camisetas, bermudas,
jaquetas, canecas, ingressos, entre tantos outros. O valor que o clube recebe pela transmissão
de seus jogos está ligado diretamente ao alcance de espectadores que este agrega, e o número
de espectadores de um clube também tem relação direta com o tamanho de suas torcidas.
O torcedor bifiliado ou “misto”
As identidades das torcidas dos clubes de Anápolis lutam, e dentro desta resistência
existem ainda aqueles que resistem ao fenômeno da bifiliação clubística, que, conforme
Campos e Toledo (2013), é aquele admirador que torce para mais de um clube. O torcedor
bifiliado tende a torcer por um clube da sua cidade e região, e outro localizado em outra região;
é comum que esse torcedor que se identifica com mais de um clube seja chamado, de forma
pejorativa, de “misto”. Para atender aos propósitos da pesquisa, que é compreender as
características do torcer por equipes futebolísticas de Anápolis, como entender o futebol na
cidade de Anápolis e sua inserção no futebol goiano e nacional, além de caracterizar o perfil
dos torcedores das equipes futebolísticas de Anápolis, primou-se por determinados
procedimentos metodológicos por meio de questionamentos nas redes sociais como meio de
aproximações dos sentidos dos pertencimentos às equipes futebolísticas.
Os mistos, recorrentemente, são vistos como “menos torcedores”, gerando uma própria
rivalidade dentro das torcidas:
Sabe-se que, em quase toda parte do Brasil, existe o perfil de torcedor que é
comprometido com um clube de outro estado. Em muitos casos, ele possuiu dois (ou
até mais) times do coração: um do seu próprio estado e outro(s) de fora. São os
pejorativamente chamados torcedores mistos. Quem criou essa nomenclatura foram
outros torcedores, críticos da maneira mista de torcer. Misto, como é possível
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interpretar, passa a ideia de mistura, impureza. Esses críticos, por vezes, denominam-
se “anti-mistos. Eles criam diversos meios para manifestar seu descontentamento:
faixas nos estádios, camisas, gritos de guerra, vídeos e grupos nas redes sociais são os
principais (Vasconcelos, 2014, p. 2).
A percepção de que o termo misto surge com uma conotação negativa, é reforçada
por Negreiros:
A partir de meados de 2008, o termo “misto” foi criado como uma crítica a esses
torcedores, principalmente na região Nordeste do Brasil. O movimento “anti-mistos”
nasceu para rebater e tentar amenizar a influência dos times grandes, de fora e de
dentro do futebol nordestino. A partir daí, houve uma certa ruptura dentro de torcidas
regionais. Os mistos foram negligenciados por aqueles de torcida única e taxados
como traidores do Estado. A valorização dos times locais é colocada em evidência
como argumento principal do movimento. No auge dos protestos, tornou-se comum
nos estádios faixas e placas apontando a torcida visitante como “a vergonha do
Nordeste” (Negreiros, 2018, s/p.).
O termo misto estende para além daqueles torcedores que possuem uma bifiliação
clubística. Ele agrega também os que torcem apenas para uma equipe de outro estado, e não
demonstra identificação com nenhuma equipe do seu Estado. No ano de 2009, em um jogo
contra o Flamengo, a torcida do Goiás estendeu uma faixa mostrando a sua aversão contra os
mistos, como mostrado na Figura 2.
Figura 2 Faixa falsos goianos
Fonte: Goleada PE (2009).
No final da primeira década do século XXI, faixas como essa se tornaram frequentes
nos estádios fora da região sudeste. A redução deste tipo de faixa, na década seguinte, não partiu
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dos torcedores. Como elenca Pdguerra (2014, p. 46) “Já na segunda década do século XXI, as
faixas ofensivas praticamente desapareceram dos estádios, graças a proibições da Polícia
Militar. A ideia central dos protestos, no entanto, continuou viva em movimentos organizados
pelas redes sociais”.
A proibição dessas faixas provocativas, como era previsível, não foi capaz de mudar o
sentimento de parte dos torcedores em relação aos mistos. O caminho encontrado frente a essa
situação, em que a provocação aos mistos por meio de faixas se mostrou inviável, foi o de
exaltação ao fato de torcerem por clubes de seus estados. Conforme Pdguerra (2014, p. 46),
“em vez de mensagens como falsos goianos ou vergonha de SC, o ativismo assumiu posturas
mais brandas, de valorização do orgulho nativo, e referências a torcedores de clubes de fora têm
sido menos explícitas. Esse comportamento pode ser visto na Figura 3.
Figura 3 Faixa sou Goiano, meu time também Anapolina
Fonte: O Canto das Torcidas (2016).
O movimento “Sou goiano e meu time também” estimula torcedores do estado a
escolherem a sua preferência entre os times de Goiás. Quem sabe, essa seja uma
semente, para que, no futuro tenhamos, em Goiás bem mais torcedores dos times
goianos do que os de fora (Isac, 2013, s/p.).
Dentre todos esses dilemas que envolvem a rejeição aos mistos, se encontram os clubes
pequenos. Dois caminhos se apresentam como possibilidade: agregar os torcedores mistos,
aumentando o seu número total de torcedores/clientes, ou fortalecer a identidade de resistência.
O que pesa contra a aceitação dos mistos é o sentimento de rivalidade que permeia o futebol. A
relação com o rival aparece como uma disputa entre o bem e o mal, o certo e o errado,
assemelhando-se a um pensamento maniqueísta. De acordo com Elias e Dunning:
É provável que o carácter de oposição inerente ao desporto, isto é, o fato de se tratar
de uma luta pela vitória entre duas ou mais equipes, ou entre dois ou mais indivíduos,
explique a sua proeminência como um foco de identificação coletiva. Isto significa
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que o próprio desporto proporciona a identificação de grupo, mais precisamente, a
formação da ideia de se “pertencer ao grupo” e de estar “fora do grupo”, de “o nosso
grupo” ou de “o grupo deles”, no quadro de uma variedade de níveis, como os níveis
da cidade, distrito ou pais (Elias; Dunning, 1995, p. 324).
Mascarenhas também discorre sobre a relação que os torcedores estabelecem com o
futebol:
O futebol se tornou, no Brasil, muito mais que mera modalidade esportiva. Sua rápida
e profunda disseminação, atuando, inclusive, no processo de integração do território
lhe propiciou a condição de elemento central na cultura brasileira. Constitui o futebol
um amplo sistema de práticas e representações sociais, uma complexa teia de sentidos
e significados, que entendemos como passível de se analisar, como uma poderosa
forma simbólica, com densa impregnação na paisagem urbana (Mascarenhas, 2005,
p. 62).
Apesar das influências que a relação do torcedor com o futebol tem sofrido nos últimos
anos, a configuração atual de fácil acesso a atrações presentes no futebol Europeu parece ainda
não ter sido capaz de moldar nos torcedores das equipes de Anápolis uma identidade de
bifiliação clubística com clubes de outros países. Entretanto, enquanto menos de 1% destes
torcedores das equipes de Anápolis que responderam ao questionário torcem para equipes
estrangeiras, a parcela que torce para equipes de outros Estados está em 75%.
Quando alguém se identifica como torcedor da seleção brasileira de futebol, isto sugere
que ele não torce para Argentina, Inglaterra, França, Alemanha ou qualquer outra seleção de
futebol, ou seja, afirmar uma identidade é ao mesmo tempo negar diversas outras. Isto nos leva
a pensar de que formas uma identidade tende a ser construída, quais motivos fizeram com que
este sujeito que afirma torcer para a seleção brasileira, torça para esta seleção e não outra.
Bauman (2001) argumenta que a identidade é uma construção social em constante
mudança, e não é algo fixo ou determinado. Ele afirma que a identidade é algo que é moldado
pelas condições sociais, pelas circunstâncias históricas e culturais. O autor enfatiza que a busca
por uma identidade sólida e estável é, na verdade, uma busca por segurança e estabilidade em
um mundo incerto e em constante mudança. No entanto, ele argumenta que essa busca é fadada
ao fracasso, pois uma identidade é algo que está sempre em transformação e nunca pode ser
completamente estabilizada.
Pinto (1991, p. 219) elementos para se pensar essa questão ao dizer que “[...] é
importante nunca se perder de vista que as identidades se constroem por identificação e
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diferenciação, com e contra, por inclusão e exclusão [...].” Esta leitura nos um
direcionamento que a identidade se forma a partir das semelhanças e das diferenças, como uma
forma de pertencimento, ou seja, o sentimento de se identificar e pertencer a um grupo vai
estabelecer a identidade do sujeito.
Da mesma forma que o sujeito se identifica com determinado grupo por demonstrar
este sentimento de pertencimento, ele não se identifica com demais grupos justamente por ter
uma ausência de conexão, que não permite se ver como integrante daquele meio. É uma relação
oposta àquela que lhe deu identidade, esta relação se pauta na diferença, na carência de
identificação.
A identidade pessoal dos entrevistados se encontra, antes de tudo, fortemente
vinculada ao futebol e ao time pelo qual torcem. Tamanha a identificação com tais
elementos que a vinculação à identidade coletiva da torcida organizada representa
uma forma de se tornar um torcedor diferenciado, que deixa de ser apenas espectador
do futebol para ser o responsável por garantir a festa na arquibancada e o apoio ao
time. Fazer parte da torcida organizada confere sentidos de protagonismo, utilidade e
superioridade perante os torcedores comuns (Sobrinho et al., 2018, p. 58).
Os torcedores possuem uma relação de pertencimento com seus clubes. Conforme
Mariconi (2014, p. 8), Sentimentos como pertencimento e identidade podem interferir na
construção dos valores e das atitudes”. A presente fala da Moriconi sobre a relação entre o
pertencimento e a identidade nos permite ampliar o nosso olhar para estes conceitos,
direcionando-nos a pensá-los não apenas como uma consequência, mas também como um fator
gerador de identificações e diferenças.
Pertencer a um time não representa uma simples escolha; representa a adoção de
determinado estilo de vida, de uma vivência em conjunto com outros torcedores que
compartilham essa paixão pelo objeto adorado, é uma vivência em comum, um amor
partilhado (Menezes, 2010, p. 15).
Ao integrar um grupo, uma torcida, os valores, pensamentos, comportamentos e crenças
do sujeito vão sendo moldados conforme os princípios predominantes do grupo. Conforme
aponta Balzano:
Como regra para pertencer ao grupo, é preciso aceitar os valores e as normas de
comportamentos impostos pelo mesmo, o que os conduz à segregação e ao
conformismo. O pertencimento a esse grupo gera uma cultura específica
compreendida e valorizada entre os seus componentes (Balzano, 2020, p. 72).
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As espacialidades dos torcedores na cidade também se estendem a pontos como
bares, restaurantes e internet, por intermédio das ditas redes sociais, e tais áreas contribuem
para a composição da identidade dos jovens torcedores. Para Linhares:
A ação de torcer por determinado clube de futebol é algo que é apreendido
socialmente, ou seja, nenhum indivíduo nasce torcendo, mas, aprende a torcer,
sobretudo quando está inserido numa configuração, a qual a faceta futebolística se faz
presente na identidade social e, por consequência, na identidade individual dos
indivíduos que a formam (Linhares, 2019, p. 93).
A identificação e o pertencimento a uma torcida, pode apresentar uma conotação de
convicção quase que religiosa. Elias e Dunning sugerem isso ao dizer:
[...] não seria ir longe demais sugerir que, pelo menos para alguns grupos na sociedade
atual, o desporto se tornou uma atividade quase religiosa e que, encarado numa
perspectiva da sociedade, o desporto veio, em certa medida, preencher a lacuna aberta
na vida social pelo declínio da religião. Um exemplo extremo, mas não menos
comprovativo deste caráter quase religioso do desporto moderno, é fornecido pelo
fato de se ter tornado, aparentemente, uma tradição em Liverpool, o lançamento das
cinzas dos adeptos falecidos do FC de Liverpool sobre o campo de Anfield; assim,
parecem ter o desejo de permanecer, mesmo para além da morte, identificados com o
“altar” ou “templo” onde “adoraram” durante a sua vida (Elias; Dunning, 1995, p.
324).
Quando o sujeito torce para uma equipe de futebol, é construído um sentimento de
aversão aos seus rivais, pois não basta torcer pelas cores, símbolos e jogadores que compõem
aquela equipe. O rival direto no futebol aparece como o maior símbolo de oposição ao clube
que se torce, ele figura no imaginário do torcedor como uma ameaça e, talvez, realmente seja,
tendo em vista que a alegria de um se relaciona diretamente com a tristeza do outro. Linhares
(2019, p. 38) indica que “[...] o torcedor define a identidade rival nas interações em que ele
ridiculariza, faz gozações ou desqualifica seus rivais”.
A manifestação do torcedor em seu cotidiano, de defesa quase que incondicional das
cores e dos símbolos de seu clube e de modo, proporcionalmente, avesso aos seus principais
rivais, é o que pode ser chamado de identidade do torcedor. De acordo com Damo (2014, p.
39) O fato de que os torcedores cantam o hino dos clubes, numa prova de identificação
inquestionável, mesmo quando as performances do time são tão ruins que acabam rebaixando
o clube, ilustra esta dimensão sagrada e a identificação duradoura. Nessa perspectiva, Ferreira,
Leão e Paiva Junior (2014, p. 87) apontam que “[...] ao defender as cores de seu clube, o
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torcedor assume um papel importante dentro da dinâmica social em torno do esporte e de sua
vida e, assim, está definindo quem ele é neste cenário, ou seja, sua identidade”.
Todavia, essa concepção de identidade totalizadora vem sendo superada, uma vez que
a identidade no mundo atual é fragmentada e fragmenta a sociedade. Para Bauman (2001, p.
24), “O que foi separado não pode ser colado novamente. Abandonai toda esperança de
totalidade, tanto futura como passada, vós que entrais no mundo da modernidade fluida”.
Conforme o próprio autor afirma, fluido é característico daquilo que não se mantém sólido, que
se modifica com maior rapidez e velocidade. Todos estes aspectos se endossam na ótica de que
na modernidade líquida, os indivíduos estão sujeitos a mudanças mais rápidas em todos os
sentidos, seja de comportamentos, pensamentos, estética.
Ao analisar as identidades a partir da última fase da globalização, Hall (2006, p. 74)
afirma que “A medida em que as culturas nacionais se tornam mais expostas a influências
externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem
enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural”. No futebol, essa disputa
entre o local, o nacional e o global se evidencia no processo de identificação com clubes,
geograficamente, distantes.
De acordo com Linhares (2019, p. 48) “[...] sendo o futebol um fenômeno inserido no
contexto global, as identidades clubísticas têm-se tornado mais plurais, no que se refere a
bifiliações (time nacional e time do exterior) ou até trifiliações (time local, time nacional e time
do exterior)”. A inconstância dos elementos que compõem as identidades se faz ligada,
diretamente, às referências que se constituíam em figuras de autoridade ou símbolos mais
sólidos, e atualmente se proliferam de maneira significativa às figuras tidas como o modelo a
ser seguido.
Considerações Finais
A análise das identidades futebolísticas na periferia do futebol, com foco na cidade de
Anápolis, revela uma complexa teia de interações entre o local e o global que molda e redefine
as formas de torcer e pertencer. As forças globais, representadas pela massiva exposição
midiática e pela superioridade econômica dos grandes clubes, desafiam as identidades locais,
colocando em risco a sobrevivência e a relevância dos pequenos clubes. No entanto, a
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resistência das torcidas locais, ainda que fragilizada, demonstra a capacidade de adaptação e a
persistência das identidades regionais, que encontram formas de se afirmar mesmo diante de
um cenário adverso.
O fenômeno do torcedor misto emerge como um reflexo dessa complexidade
identitária. Este torcedor, que divide sua lealdade entre um clube local e outro de maior
expressão, representa a ambiguidade das identidades contemporâneas, que são ao mesmo tempo
locais e globais, tradicionais e modernas. A bifiliação clubística, embora vista de forma negativa
por alguns, pode ser compreendida como uma estratégia de negociação identitária, na qual o
torcedor busca conciliar suas raízes locais com as atrações globais.
Em última análise, o estudo das identidades futebolísticas em Anápolis evidencia as
profundas transformações que o futebol, como fenômeno cultural, vem experimentando na era
da globalização. As identidades, longe de serem estáticas, são continuamente reconstruídas em
resposta às influências externas e às dinâmicas internas. No entanto, a resistência dos torcedores
de clubes periféricos, como os de Anápolis, aponta para a possibilidade de um fortalecimento
das identidades locais, mesmo em um cenário global cada vez mais dominado pelos grandes
centros do futebol. A pesquisa sugere que, embora os pequenos clubes enfrentem desafios
consideráveis, a paixão e o sentido de pertencimento dos seus torcedores continuam a ser forças
vitais para a sua continuidade e relevância no cenário futebolístico.
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Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
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Anápolis/GO. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112422, 2024.
Submissão em: 24/08/2024. Aceito em: 22/11/2024.
ISSN: 2316-8544
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