Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
JESUS, Jefferson Dias Andrade de; SILVA, Mary Anne Vieira. Identidade, Futebol e o Ato de Torcer Fora dos Grandes Centros: o caso de
Anápolis/GO. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112422, 2024.
Submissão em: 24/08/2024. Aceito em: 22/11/2024.
ISSN: 2316-8544
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As espacialidades dos torcedores na cidade também se estendem a pontos como
bares, restaurantes e internet, por intermédio das ditas redes sociais, e tais áreas contribuem
para a composição da identidade dos jovens torcedores. Para Linhares:
A ação de torcer por determinado clube de futebol é algo que é apreendido
socialmente, ou seja, nenhum indivíduo nasce torcendo, mas, aprende a torcer,
sobretudo quando está inserido numa configuração, a qual a faceta futebolística se faz
presente na identidade social e, por consequência, na identidade individual dos
indivíduos que a formam (Linhares, 2019, p. 93).
A identificação e o pertencimento a uma torcida, pode apresentar uma conotação de
convicção quase que religiosa. Elias e Dunning sugerem isso ao dizer:
[...] não seria ir longe demais sugerir que, pelo menos para alguns grupos na sociedade
atual, o desporto se tornou uma atividade quase religiosa e que, encarado numa
perspectiva da sociedade, o desporto veio, em certa medida, preencher a lacuna aberta
na vida social pelo declínio da religião. Um exemplo extremo, mas não menos
comprovativo deste caráter quase religioso do desporto moderno, é fornecido pelo
fato de se ter tornado, aparentemente, uma tradição em Liverpool, o lançamento das
cinzas dos adeptos falecidos do FC de Liverpool sobre o campo de Anfield; assim,
parecem ter o desejo de permanecer, mesmo para além da morte, identificados com o
“altar” ou “templo” onde “adoraram” durante a sua vida (Elias; Dunning, 1995, p.
324).
Quando o sujeito torce para uma equipe de futebol, é construído um sentimento de
aversão aos seus rivais, pois não basta torcer pelas cores, símbolos e jogadores que compõem
aquela equipe. O rival direto no futebol aparece como o maior símbolo de oposição ao clube
que se torce, ele figura no imaginário do torcedor como uma ameaça e, talvez, realmente seja,
tendo em vista que a alegria de um se relaciona diretamente com a tristeza do outro. Linhares
(2019, p. 38) indica que “[...] o torcedor define a identidade rival nas interações em que ele
ridiculariza, faz gozações ou desqualifica seus rivais”.
A manifestação do torcedor em seu cotidiano, de defesa quase que incondicional das
cores e dos símbolos de seu clube e de modo, proporcionalmente, avesso aos seus principais
rivais, é o que pode ser chamado de identidade do torcedor. De acordo com Damo (2014, p.
39) “O fato de que os torcedores cantam o hino dos clubes, numa prova de identificação
inquestionável, mesmo quando as performances do time são tão ruins que acabam rebaixando
o clube, ilustra esta dimensão sagrada e a identificação duradoura”. Nessa perspectiva, Ferreira,
Leão e Paiva Junior (2014, p. 87) apontam que “[...] ao defender as cores de seu clube, o