Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, João Lucas Soares. O espaço do cidadão e os espaços da bola: futebol e Milton Santos. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25,
e122511, 2025.
Submissão em: 19/09/2024. Aceito em: 24/04/2025.
ISSN: 2316-8544
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escala menor para uma maior, é necessário abordar por etapas, onde todas se complementam e
se correlacionam, tendo a prática do esporte como algo em comum.
Inicialmente temos o futebol bricolado, popularmente conhecido como “pelada de rua”,
passível de adaptações em seu jogo e regras devido ao seu espaço de prática, como argumenta
Campos:
A matriz bricolada se refere às práticas futebolísticas que admitem grandes variações
e adaptações das regras. Por não seguir as normas e regras oficiais do futebol
institucionalizado, tem caráter livre e informal, entretanto não incompleto. O futebol
bricolado se caracteriza por sua adaptabilidade: do número de jogadores, no campo
no qual é praticado, nos materiais utilizados, etc. [...] Conhecido popularmente com o
nome de pelada, o futebol bricolado não necessita de muitos recursos para se efetivar.
Em geral, a partida é arbitrada pelos próprios jogadores [...]. Além disto, há um ethos
próprio nas peladas, em que são valorizados os valores masculinos, o que Damo
(2007) chama de dramatização de gênero (Campos, 2009, p. 110).
A criatividade e a fácil adesão ao futebol de rua se complementam com outras escalas
de prática, essas que não ignoram a anterior, mas se complementam. Campos (2009) desenvolve
que peladas de rua possuem a capacidade de adaptação ao espaço e às condições (local da
partida, número de jogadores, divisão dos jogadores em times, etc.), tendo em vista que não
precisa de muitos recursos para ocorrer. A escola de futebol, por sua vez, ensina os conceitos
básicos e regras do esporte coletivo, exigindo um espaço mais adaptado à prática e ao
desenvolvimento de fundamentos.
Junto às escolas de futebol, outro elemento comum nos bairros brasileiros é a existência
de times amadores, com elencos compostos normalmente por trabalhadores do bairro onde o
time possui sua sede. Esses times carregam consigo as características locais, visto que são
geridos, organizados e jogados por seus moradores, atuando como agentes transformadores do
espaço, tanto física quanto culturalmente.
Aquino (2023) conclui que o time amador não só se torna parte da identidade local,
como também se torna parte do lazer de seus jogadores
Dessa maneira, o Futebol Amador como mecanismo da cultura da comunidade e como
prática de lazer por aqueles que o praticam e o assistem, de fato pode ter uma relação
direta com a perspectiva de lazer definida por Marcellino (2000), no qual o tempo e a
atitude são indissociáveis na medida em que o tempo liberado do trabalho, tem
conjuntamente, uma associação com uma atividade que promova uma satisfação em
estar realizando.
Nesta perspectiva, percebe-se que a prática do Futebol Amador pelos jogadores da
equipe, é uma válvula de escape, em que o indivíduo encontra uma forma de exercer