Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
DO VALE, Beatriz Carvalhal Berla. Nós na rua: contrastes e perspectivas. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122514, 2025.
Submissão em: 22/11/2024. Aceito em: 09/05/2025.
ISSN: 2316-8544
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observar o que está registrado, também considera o contexto e as escolhas do autor, destacando
a importância de se interrogar o processo de obtenção da imagem e os elementos subjetivos que
a constituem (Hollman; Lois, 2015). No espaço público, essas interações se intensificam (Costa
Gomes, 2013), uma vez que cada corpo presente nele, visível ou não, carrega histórias,
exclusões e pertencimentos que moldam sua relação com o espaço.
Justificativa
Se a fotografia pode não apenas registrar, mas também questionar o espaço e as relações
que o moldam, torna-se essencial considerar a subjetividade envolvida tanto na captura quanto
na composição das imagens. Este ensaio adota uma abordagem visual e textual para analisar a
produção do espaço utilizando a fotografia como ferramenta metodológica e objeto de reflexão
crítica. Busca-se contribuir para o debate sobre a produção do espaço ao integrar camadas
subjetivas às discussões sobre materialidade e organização socioespacial. Além da contribuição
teórica, este esforço justifica-se pelo potencial da fotografia como um meio de dar visibilidade
às relações entre corpo e espaço, ampliando a compreensão para além das grandes estruturas e
evidenciando as experiências individuais que compõem o tecido urbano e rural.
Cada fotografia é acompanhada por uma breve descrição e um texto reflexivo curto, nos
quais o enquadramento, o momento e o tom revelam contrastes espaciais e evidenciam tanto a
singularidade das experiências nos espaços retratados quanto a subjetividade do olhar que os
captura. As reflexões transitam entre a poesia e a crítica, sugerindo questionamentos que
entrelaçam desigualdades materiais, vivências individuais e a intencionalidade da autoria.
Assim, o ensaio não pretende apresentar conclusões fechadas, mas convidar o leitor a construir
sua própria interpretação crítica, interrogando o espaço como experiência e conectando as
escalas geográficas às vivências internas de cada corpo.
As imagens, registradas entre 2016 e 2023 em contextos espaciais distintos — Estados
Unidos, Brasil e Índia — foram inicialmente capturadas fora de um contexto acadêmico. No
entanto, ao revisá-las à luz do pensamento geográfico e de autores como Santos, Tuan e Han,
essas imagens se conectam a um debate mais amplo sobre espaço e subjetividade. As reflexões
que as acompanham combinam referenciais teóricos com considerações pessoais, como no caso