Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AGUIAR, Nicolas Vinicius Cesario de; NABARRO, Sergio Aparecido. Percepções e técnicas de pesquisa: um estudo a partir do X Simpósio
Internacional de Geografia Agrária. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122509, 2025.
Submissão em: 26/11/2025. Aceito em: 15/04/2025.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
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SEÇÃO ARTIGOS
Percepções e técnicas de pesquisa:
um estudo a partir do X Simpósio Internacional de Geografia Agrária
Perceptions and research techniques:
a study based on the 10th International Symposium on Agrarian Geography
Percepciones y técnicas de investigación:
un estudio a partir del X Simposio Internacional de Geografía Agraria
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v12i25.65495
Nicolas Vinicius Cesario de Aguiar
1
Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Paraná, Brasil
e-mail: nicolas.aguiar@uel.br
Sergio Aparecido Nabarro
2
Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Paraná, Brasil
e-mail: sergionabarro@uel.br
Resumo
As técnicas de pesquisa desempenham um papel fundamental no direcionamento de investigações científicas. Este
estudo teve como objetivo analisar o X Simpósio Internacional de Geografia Agrária a partir do uso de técnicas
qualitativas, como fotografia, trabalho de campo e entrevistas e explorar as experiências dos entrevistados, durante
as conversas. A pesquisa foi conduzida na Universidade de São Paulo (USP) entre 14 e 18 de novembro de 2023,
utilizando uma abordagem qualitativa baseada em revisão bibliográfica de livros, artigos e fontes especializadas.
Os resultados indicaram que os entrevistados apresentaram percepções diversas sobre o evento e sobre as técnicas
qualitativas mais empregadas, refletindo a subjetividade de cada participante e seus objetivos específicos ao
comparecer ao simpósio. Conclui-se que essa diversidade de perspectivas contribuiu significativamente para o
enriquecimento e a atualização dos debates promovidos durante o evento.
Palavras-chave
Trabalho de campo; Fotografia; Entrevista; Observação.
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina (PPGEO UEL).
2
Professor do Programa de Pós-graduação (mestrado e doutorado) em Geografia da Universidade Estadual de
Londrina (PPGEO UEL).
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AGUIAR, Nicolas Vinicius Cesario de; NABARRO, Sergio Aparecido. Percepções e técnicas de pesquisa: um estudo a partir do X Simpósio
Internacional de Geografia Agrária. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122509, 2025.
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Abstract
Research techniques play a fundamental role in guiding scientific investigations. This study aimed to analyze the
10th International Symposium on Agrarian Geography through the use of qualitative techniques such as
photography, fieldwork, and interviews, as well as to explore the experiences of the interviewees during
conversations. The research was conducted at the University of São Paulo (USP) from November 14 to 18, 2023,
using a qualitative approach based on a literature review of books, articles, and specialized sources. The results
indicated that the interviewees had diverse perceptions of the event and the most commonly employed qualitative
techniques, reflecting the subjectivity of each participant and their specific objectives in attending the symposium.
It is concluded that this diversity of perspectives significantly contributed to enriching and updating the debates
promoted during the event.
Keywords
Fieldwork; Photography; Interview; Observation.
Resumen
Las técnicas de investigación desempeñan un papel fundamental en la orientación de las investigaciones
científicas. Este estudio tuvo como objetivo analizar el X Simposio Internacional de Geografía Agraria a partir del
uso de técnicas cualitativas, como la fotografía, el trabajo de campo y las entrevistas, y explorar las experiencias
de los entrevistados durante las conversaciones. La investigación se llevó a cabo en la Universidad de São Paulo
(USP) entre el 14 y el 18 de noviembre de 2023, utilizando un enfoque cualitativo basado en la revisión
bibliográfica de libros, artículos y fuentes especializadas. Los resultados indicaron que los entrevistados
presentaron percepciones diversas sobre el evento y sobre las técnicas cualitativas más empleadas, reflejando la
subjetividad de cada participante y sus objetivos específicos al asistir al simposio. Se concluye que esta diversidad
de perspectivas contribuyó significativamente al enriquecimiento y la actualización de los debates promovidos
durante el evento.
Palabras clave
Trabajo de campo; Fotografía; Entrevista; Observación.
Introdução
Este artigo teve origem na disciplina “Pesquisa Científica e Perspectiva Teórico-
Metodológica”, do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade
Estadual de Londrina (UEL), que apresenta, discute e realiza a aplicação piloto de técnicas de
pesquisa. Além disso, este artigo inclui uma revisão bibliográfica, que fundamentou os
procedimentos metodológicos adotados.
A pesquisa teve como objetivo realizar um estudo do X Simpósio Internacional de
Geografia Agrária, realizado na Universidade de São Paulo (USP) entre os dias 14 e 18 de
novembro de 2023, por meio das seguintes técnicas de pesquisa: fotografia, trabalho de campo,
entrevista e exploração das experiências dos entrevistados. O foco foi investigar as técnicas
utilizadas para coleta de dados, entre as quais se destacaram : o trabalho de campo, fundamental
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nas pesquisas geográficas por permitir a imersão direta do pesquisador no ambiente estudado;
a realização de entrevistas, ferramenta para coleta de informações sobre as experiências e
percepções dos participantes, o que permite ao pesquisador explorar com maior profundidade
a temática abordada; a observação, que possibilita ao pesquisador registrar fenômenos, relações
e comportamentos; e o registro fotográfico, forma de documentar visualmente os elementos
relativos à temática estudada. Essas abordagens visam aprofundar a compreensão das
percepções, práticas e interações dos entrevistados, proporcionando uma análise detalhada e
contextualizada do tema em estudo.
O conhecimento dessas técnicas ocorreu antes da etapa de testagem no evento. Essa
aplicação piloto proporcionou insights valiosos, permitindo a realização dos ajustes necessários
para otimizar a eficácia das técnicas no contexto específico desta pesquisa.
O presente artigo está estruturado em três seções. A primeira descreve os procedimentos
metodológicos adotados na pesquisa, detalhando seu direcionamento. A segunda discute, de
forma teórica, as técnicas selecionadas para a aplicação da testagem piloto, fornecendo uma
base conceitual para as discussões. Por fim, a terceira seção apresenta a execução prática das
técnicas na aplicação piloto.
Procedimentos Metodológicos
Para conduzir o estudo, foi necessário, primeiramente, buscar referências bibliográficas
dedicadas à temática apresentada. A opção pela abordagem qualitativa na realização da
pesquisa se fundamenta no emprego de um conjunto diversificado de técnicas interpretativas.
Essas técnicas têm como objetivo descrever e decodificar os componentes de um sistema
complexo de significados (Gil, 2002; Maanen, 1979).
O levantamento de fontes primárias e secundárias é uma etapa essencial para garantir
que o processo de coleta dessas informações ocorra de maneira sistemática e criteriosa. Isso
visa assegurar que o pesquisador tenha acesso a materiais confiáveis, relevantes e atualizados,
fundamentais para embasar a análise. Segundo Baggio, Costa e Blattmann (2016), os
documentos primários são aqueles que fornecem dados ou informações diretas sobre a temática
em estudo, sendo originários do próprio objeto estudado e, portanto, não tendo passado por
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análises prévias, como, por exemplo: congressos, conferências, legislação, normas técnicas,
patentes, periódicos, teses, dissertações e projetos em andamento. Por outro lado, os
documentos secundários são livros, manuais, sites, arquivos científicos, dicionários,
enciclopédias, biografias, catálogos e filmes. Estes materiais fornecem informações sobre os
documentos primários, sendo organizados de maneira sistemática e servindo como um guia
para o leitor acessar as fontes originais.
A análise dos dados e a sistematização das informações obtidas durante a convivência e
as conversas com os entrevistados permitiram observar que a abordagem qualitativa oferece
uma compreensão mais profunda e contextualizada dos fenômenos em estudo, considerando as
experiências e percepções dos participantes (Fraser; Gondim, 2004). Os resultados obtidos nas
entrevistas durante o evento foram fundamentais para compreender a percepção sobre o evento
nesse período de participação. No total, foram entrevistadas 15 pessoas entre alunos de
graduação, pós-graduação e professores da rede estadual.
Técnicas para a testagem piloto: Trabalho de campo, entrevista, observação e registro
fotográfico
Para a aplicação piloto, foi necessária a escolha de técnicas capazes de ajudar no
desenvolvimento da pesquisa. São elas: trabalho de campo, aplicação de entrevista, observação
e registro fotográfico.
Cada técnica oferece abordagens distintas para a coleta de dados, proporcionando uma
visão mais completa e detalhada do objeto de estudo. Ao integrá-las, é possível obter vantagens
para a abordagem da pesquisa de maneira completa, capturando diversas perspectivas e
aspectos do fenômeno estudado. Com isso, é possível certificar o planejamento e rigor na
aplicação de cada técnica, levando em consideração a ética da pesquisa e a necessidade de
obtenção de dados confiáveis e representativos para análise.
A relevância de explorar as diversas dimensões do espaço geográfico mediante a
realização de trabalho de campo é fundamental para a pesquisa em Geografia, pois permite
desenvolver habilidades como a delimitação, a análise e a conceituação da paisagem, sempre
em acordo com os objetivos propostos e o cronograma estabelecido.
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No âmbito geográfico, a execução do trabalho de campo exige a cuidadosa definição de
espaços conceituais alinhados aos fenômenos a serem investigados. A efetiva delimitação
desses espaços é crucial para a revelação e visualização dos fenômenos desejados,
possibilitando uma análise mais aprofundada da realidade (Serpa, 2017). O trabalho de campo
é uma técnica amplamente empregada na Geografia desde o surgimento da disciplina. Essa
prática é evidenciada por relatos de pesquisadores, viajantes e naturalistas que tinham o meio
ambiente como objeto de análise.
Desde o surgimento da humanidade, há uma inerente necessidade de compreender
melhor o próprio espaço e os recursos essenciais para a sobrevivência humana (Souza, 2014).
A importância do trabalho de campo, conforme destacado por Barbosa (2018), reside na
capacidade de descrever e apresentar o espaço geográfico enquanto dinâmico e processual, o
que evidencia a interação contínua entre o homem e o meio, resultando na transformação da
paisagem.
Como já destacado, a centralidade do trabalho de campo na pesquisa em Geografia
remonta à sistematização desta ciência, ainda no século XIX. Desde então, a prática tem sido
uma parte essencial do método de investigação dos geógrafos, pois a consolidação da Geografia
como ciência se deve muito ao conjunto de pesquisas e relatórios de campo elaborados por
viajantes, naturalistas, entre outros estudiosos. Esses relatórios eram valiosas fontes de
informações e foram essenciais na construção das bases do desenvolvimento da Geografia
(Alentejano; Rocha-Leão, 2017).
A definição de trabalho de campo se destaca por sua natureza estar relacionada ao seu
caráter prático, investigativo e exploratório. Outro destaque é a forma como a pesquisa pode
ser utilizada e articulada em diferentes escalas, que podem ir de pequena ou média a grande,
auxiliando na melhor compreensão do local de estudo.
Conforme expresso por Lacoste (1985), o trabalho de campo não deve se limitar a um
empirismo, necessitando estar intrinsecamente ancorado em uma formação teórica. O autor
enfatiza que saber pensar o espaço não se limita a abordar apenas os problemas em escala local,
uma vez que requer também a habilidade de articular de forma eficaz essas questões aos
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fenômenos que ocorrem em extensões mais amplas. É importante, portanto, compreender o
trabalho de campo como uma ferramenta à disposição dos geógrafos, sempre articulada à teoria.
Kayser (1985) enfatiza que a pesquisa de campo não é um fim em si mesma, mas um
meio necessário para a análise da situação social. O autor ressalta que a pesquisa de campo está
relacionada à situação social, não apenas à situação espacial, e que o espaço não pode ser
estudado de forma isolada, pois ele é um dos elementos do sistema social.
Além do trabalho de campo, as entrevistas também são muito utilizadas na pesquisa em
Geografia. Entretanto, elas não podem ser confundidas com meras conversas ou diálogos
informais. Para Colognese e Melo (1998), trata-se de uma interação social organizada e dirigida
entre o pesquisador e o entrevistado. O primeiro tem por objetivo obter informações do
segundo, que irão auxiliar na compreensão do fenômeno estudado.
A aplicação da entrevista como técnica de pesquisa social ocorre há muito tempo. De
acordo com Fraser e Gondim (2004), acredita-se que essa abordagem, combinada com
observações etnográficas
3
, tenha sido pioneiramente empregada por Charles Booth, um
armador britânico, positivista comteano, pesquisador social e reformador, mais conhecido por
seus estudos filantrópicos inovadores sobre a vida da classe trabalhadora em Londres no final
do século XIX. Em 1886, Charles Booth iniciou um estudo sobre as condições sociais e
econômicas dos habitantes de Londres, cuja pesquisa foi posteriormente publicada sob o título
Vida e Trabalho do Povo em Londres (1902–1903).
A entrevista se tornou uma técnica de investigação essencial em diversos campos do
conhecimento. Profissionais que lidam com questões sociais (sociólogos, historiadores,
geógrafos, antropólogos, psicólogos, pedagogos entre outros), frequentemente recorrem à
técnica não apenas para coletar dados, mas sobretudo para realizar diagnósticos, análises e
orientações.
Ao longo das últimas décadas, a entrevista desempenhou um papel crucial no
desenvolvimento das ciências sociais (Gil, 2008). Utilizar a entrevista como meio de obtenção
de informações visa compreender a subjetividade do indivíduo por meio de seus relatos,
3
É uma pesquisa que estuda as pessoas a partir de uma análise profunda sobre os comportamentos, as crenças, os
costumes e outras características da comunidade, ou seja, a pesquisa etnográfica estuda os padrões mais previsíveis
das percepções e dos comportamentos na sua rotina diária das pessoas.
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proporcionando uma visão única de seu tempo histórico, ambiente e experiências. Segundo
Duarte (2004), extrair o aspecto subjetivo e pessoal do entrevistado nos permite analisar as
dinâmicas das relações estabelecidas nos grupos sociais que ele integra ou já integrou, em um
determinado tempo e espaço.
A relação entre entrevistador e entrevistado é considerada uma característica central da
entrevista qualitativa. Ela possibilita a negociação de diferentes visões da realidade, resultantes
do contexto social em que os participantes constroem conhecimento e buscam atribuir
significado ao mundo que os cerca (Minayo, 2010). Um bom entrevistador é aquele que não
apenas ouve, mas realiza uma escuta ativa, demonstrando interesse genuíno nas falas e emoções
do entrevistado. Este profissional utiliza questionamentos relevantes, gestos afirmativos para
mostrar atenção e evita influenciar o discurso do participante. Assim, ele aprofunda o relato,
destacando detalhes significativos durante a interação (Belei et al., 2008).
A entrevista é uma forma de interação entre duas ou mais pessoas a partir da qual o
investigador coloca-se diante do entrevistado e, por meio de perguntas formuladas, busca obter
dados e/ou informações relevantes para sua pesquisa. Trata-se de uma conversa, realizada por
iniciativa do entrevistador, com o objetivo de obter informações relevantes sobre o objeto de
estudo. Durante a execução, o entrevistador explora temas igualmente relevantes para atingir
esse propósito (Minayo, 2010). A condução de uma entrevista requer a consideração de vários
fatores, incluindo os objetivos da pesquisa, as circunstâncias envolvidas, a população
entrevistada e o ambiente escolhido para a sua realização (Gil, 2008).
Além da entrevista, outra técnica essencial na pesquisa científica é a observação, que,
como a entrevista, busca compreender a realidade, mas por meio de uma abordagem distinta.
Mesmo que a entrevista se concentre em dados subjetivos obtidos por meio da fala, a
observação foca em captar informações mais objetivas a partir da percepção direta do
pesquisador, notando o comportamento e o contexto ao seu redor.
A observação é um procedimento fundamental na pesquisa científica, especialmente na
pesquisa de campo. Essa técnica é uma ferramenta valiosa para compreender fatos e contextos,
abrangendo variáveis temporais e espaciais. Ela é definida como a técnica de produção de
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informações que utiliza os sentidos para apreender aspectos específicos da realidade (Silva;
Mendes, 2013).
A institucionalização do procedimento de observação no meio acadêmico começou a
tomar forma no fim do século XIX e início do século XX (Burgess, 1982). Dessa forma, de
início, a entrevista era utilizada como um instrumento para reduzir a distância física e material
entre o sujeito e o objeto nos meios “exóticos”
4
, porém, a observação evoluiu para servir como
um meio de reduzir a distância cultural e social entre o sujeito e o objeto em contextos
marginalizados (Nasser, 2008).
Marconi e Lakatos (2007) destacam o papel da observação na identificação e obtenção
de informações relacionadas a objetivos que os indivíduos podem não ter consciência, mas que
orientam seu comportamento. A observação, nesse contexto, é importante pois permite que o
pesquisador tenha contato direto com a realidade pesquisada. Dessa forma, observa-se que:
É uma ferramenta fundamental no processo de descoberta e compreensão do mundo.
O ato de observar pode desencadear muitos outros processos mentais indispensáveis
à interpretação do objeto analisado, principalmente se for feito com o compromisso
de buscar uma análise profunda dos fenômenos observados (Moreira; Freitas, 2012,
p. 58).
Triviños (1987) explica que a observação não se trata apenas do ato de observar, mas
de destacar aspectos específicos do grupo (objetos, pessoas e animais) e anotar as suas
características (cor, tamanho etc.). Portanto, observar um fenômeno social significa separar
abstratamente um determinado evento social, seja simples ou complexo, de seu contexto para
estudar seu comportamento, atividades, significados e relações em sua dimensão única. Este
recurso permite descobrir a sua “superfície” e seus aspectos mais profundos, até captar a sua
essência a partir de uma perspectiva concreta e ampla, mas também relacional nas suas
contradições e dinâmicas.
Complementando a observação, o registro fotográfico também desempenha um papel
relevante na investigação de fenômenos sociais, pois proporciona uma documentação visual
que pode tornar-se um documento do que foi observado. A fotografia permite capturar
4
No contexto dessa frase, o termo “exóticos” faz referência a grupos ou culturas que eram vistas como diferentes
ou distantes da cultura ocidental predominante, especialmente no início do século XX.
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momentos e detalhes que podem passar muitas das vezes despercebidos durante a observação.
Dessa maneira, oferece um registro permanente que pode ser revisitado outras vezes para
análise mais detalhada.
O registro fotográfico auxilia e complementa a exploração de aspectos da realidade,
contribuindo para uma compreensão mais ampla dos fenômenos sociais e humanos. Ele captura
momentos, expressões e detalhes que podem não ser captados por outras formas de
documentação, permitindo uma análise mais aprofundada e uma maior conexão com o tema de
estudo. As primeiras evidências para o surgimento da fotografia foram na forma de esquemas
de Câmara Escura, retratados por alguns historiadores, como o chinês Mo Tzu, no século V
a.C., e o grego Aristóteles (384-322 a.C). A primeira ilustração da Câmara Escura remonta ao
físico e matemático holandês Reiner Gemma Frisius, em 1545. Neste século, pintores já
utilizavam a Câmara Escura para a produção de desenhos e pinturas (Santos Thomaz, 2022).
Uma forma de observar e apreender a paisagem é por meio da fotografia. Esta nasceu
no período da Revolução Industrial, despertando grande interesse nas pessoas, pois lhes dava a
oportunidade de conhecer costumes, arquiteturas, momentos, religiões e outros aspectos de
várias partes do mundo sem sair de suas casas (Kossoy, 2001). Com isso, pode-se considerar
que “[a] fotografia, por reproduzir as aparências de forma mais rápida que o desenho e a pintura,
sem esconder nada, de forma mecânica tornou-se a ferramenta que a ciência moderna precisava
no final do século XIX” (Santos Thomaz, 2022, p. 535).
A fotografia surge no Brasil no ano de 1832, com Hercules Romuald Florence, que
descobre, de forma isolada, na vila de São Carlos (Campinas), um processo de gravação por
meio da luz, dando-lhe o nome de photografie antes de seus contemporâneos europeus, o que
atribui um “pioneirismo terminológico” da fotografia. No entanto, a expansão da fotografia não
se deu com as invenções de Florence, mas sim com Louis Compte, em 1840, que a mostrou a
Dom Pedro II, no Rio de Janeiro (Santos Thomaz, 2022).
Segundo Marques (2015), D. Pedro II esteve entre os poucos colecionadores
particulares de fotografias no mundo, ao lado da rainha Vitória (1819-1901) e do Príncipe
Albert (1819-1861), do Reino Unido. Além disso, o imperador teria incentivado a fotografia no
Brasil, chegando a instituir o título de Fotógrafo da Casa Imperial. A chegada do aparelho de
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Daguerre
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ao país ocorreu em um momento oportuno, coincidindo com o avanço da litografia,
que possibilitou a reprodução de imagens e ampliou o público consumidor. Nesse contexto, o
Brasil, ao abrir-se para o mundo com a vinda da família real, passou a receber expedições
científicas e artísticas que registraram tanto sua riqueza natural quanto sua diversidade social
em textos e imagens.
Após expor as perspectivas teóricas sobre as técnicas de pesquisa, chegou o momento
de colocar em prática cada uma delas e notar a importância da realização de testagem, pois ela
pode auxiliar as pesquisas futuras, garantindo uma segurança maior em sua aplicabilidade.
Resultados e Discussões
A testagem piloto das técnicas da pesquisa foi realizada na Universidade de São Paulo
(USP), entre os dias 14 a 18 de novembro de 2023, durante o X Simpósio Internacional de Geografia
Agrária (X SINGA), realizado no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH). O SINGA teve sua primeira edição no ano de 1998, como Simpósio
Nacional de Geografia Agrária da USP, a partir da proposta do Professor Ariovaldo Umbelino de
Oliveira, visando trazer visibilidade às pesquisas de caráter crítico sobre a expansão do capitalismo
no campo (X SINGA, 2023).
Esse evento é de grande relevância nas discussões que promovem um espaço crítico de
reflexão e socialização do conhecimento, em temas que envolvem o contexto político, social,
ambiental, do campo e de movimentos sociais. O SINGA se consolidou como um evento de
referência na área, com periodicidade bianual, atraindo um público nacional e internacional. O
evento já teve edições em São Paulo, Presidente Prudente, Niterói, Londrina, Curitiba, Belém, João
Pessoa, Recife e Goiânia.
Dessa forma, foi possível utilizar a técnica do trabalho de campo e da observação para
explorar o local da testagem, realizando a coleta e o registro de dados para a pesquisa (Figura 1). A
observação permitiu uma compreensão mais aprofundada das características do local de pesquisa,
das condições em que a testagem foi conduzida e dos possíveis fatores que podem influenciar os
5
Louis Jacques Mandé Daguerre foi um pintor, cenógrafo, físico e inventor francês conhecido por ter registrado,
em 1835, a primeira patente de um processo fotográfico.
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resultados obtidos. Além disso, o registro fotográfico foi uma ferramenta essencial para documentar
o espaço e o contexto no qual o evento ocorreu. As imagens capturadas possibilitaram não apenas
um detalhamento mais preciso das condições do local, mas também o registro de um momento
importante para os participantes presentes.
Figura 1 – Local de execução da testagem
Fonte: acervo dos autores (2023).
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com um total de 15 participantes, permitindo
a coleta de informações qualitativas sobre suas percepções e experiências durante o período do
evento. A caracterização dos entrevistados pode ser observada nos Gráficos 1 e 2, que apresentam
a distribuição dos perfis dos participantes, como o gênero e também a faixa etária. Entre os
entrevistados, verificou-se que cinco são estudantes de graduação, nove são estudantes de pós-
graduação e apenas um é professor da rede estadual de ensino. Essa diversidade de perfis contribuiu
para uma análise mais abrangente sobre as percepções acadêmicas e profissionais relacionadas à
temática da pesquisa.
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Além disso, os entrevistados são de diferentes estados brasileiros, evidenciando a amplitude
geográfica da participação no evento. Foram identificados participantes que vieram do Paraná, Rio
de Janeiro, Acre, Minas Gerais e São Paulo, estado em que o evento foi realizado. Essa diversidade
regional enriqueceu os dados coletados, permitindo uma compreensão mais ampla sobre como as
temáticas abordadas no evento e são percebidas em diferentes contextos territoriais.
Gráfico 1 – Gênero identificado pelo entrevistado
Fonte: elaborado pelos autores (2025).
Gráfico 2 – Faixa etária dos entrevistados
Fonte: elaborado pelos autores (2025).
2
3
4
1
2
1
1
1
19 anos 22 anos 23 anos 25 anos
26 anos 28 anos 32 anos 37 anos
6
9
0
Masculino Feminino Não respondeu
Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AGUIAR, Nicolas Vinicius Cesario de; NABARRO, Sergio Aparecido. Percepções e técnicas de pesquisa: um estudo a partir do X Simpósio
Internacional de Geografia Agrária. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122509, 2025.
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As entrevistas foram compostas por duas questões discursivas, conforme apresentado no
Quadro 1. Essas perguntas foram formuladas de maneira aberta, caracterizando-se pela liberdade
concedida aos entrevistados para que pudessem expressar as suas opiniões, vivências e reflexões
sobre o simpósio. Essa abordagem qualitativa permitiu que os participantes articulassem suas
respostas com base em suas experiências pessoais e acadêmicas, proporcionando espontaneidade
sobre o objeto de estudo.
Quadro 1 – Questões das entrevistas
Questão 1
Quais foram suas expectativas para o evento?
Questão 2
Você acredita que o evento contribuiu para sua formação? Participaria de outra
edição do SINGA?
Fonte: elaborado pelos autores (2024).
Neste tipo de entrevista, o entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem a liberdade de
explorá-lo de maneira mais ampla. As perguntas são respondidas de forma informal, em formato
de conversa (Boni; Quaresma, 2005). Para a análise, foram selecionadas algumas respostas que
refletem a percepção dos entrevistados, identificados por números, seguindo a ordem em que foram
entrevistados, começando pelo número 1. Ao longo das entrevistas, os participantes relataram suas
expectativas iniciais para o evento. Nesse contexto, é importante destacar a percepção de alguns
entrevistados, sem a identificação dos mesmos, conforme a observação do entrevistado 1
6
:
Minhas expectativas para o evento eram centradas em criar redes de contatos e estabelecer
conexões profissionais. Esperava aproveitar a oportunidade para conhecer pessoas da
minha área de atuação, trocar ideias e talvez até identificar possíveis colaborações futuras.
Acreditava que o evento seria um local valioso para expandir minha rede profissional
(Entrevistado 1, 2023).
Já o entrevistado 2 afirmou:
Antes do evento, minhas principais expectativas eram relacionadas ao aprendizado e à
atualização de conhecimentos. Esperava participar de palestras e trabalhos de campo, para
me manter atualizado. Estava ansioso para absorver novas informações e insights que
pudessem agregar valor à minha prática profissional. E observar o ambiente que estava
acontecendo o evento foi muito importante, ver os momentos e pesquisas dos estudantes
de todo Brasil (Entrevistado 2, 2023).
6
Os nomes dos entrevistados não foram identificados no artigo a fim de manter a anonimização que garante a
privacidade dos participantes. Além disso, busca-se assegurar que os dados coletados sejam analisados de forma
imparcial e respeitosa.
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Dessa forma, é possível considerar que, entre as 15 pessoas entrevistadas, existe uma
variação significativa nas respostas, refletindo as diversas percepções e expectativas sobre o evento.
Essa variação nas opiniões sugere que o evento, mesmo possuindo uma área comum para todos os
participantes, oferece aproveitamentos diversos a depender dos objetivos dos participantes.
Além disso, é importante ressaltar que este evento científico celebrou 20 anos desde a sua
primeira edição. Ao longo dessas duas décadas, ele se consolidou como um espaço de relevância
nas discussões referente à realidade da questão agrária no Brasil e na América Latina, com especial
ênfase para os conflitos dela decorrentes e para toda a comunidade acadêmica, que, de modo geral
proporciona oportunidades de compartilhar suas pesquisas e contribuir para a formação de redes de
contato e trocas de experiência entre pesquisadores de diferentes localidades e realidades. O evento
se torna um local que proporciona não somente a interação, mas também agrega pesquisas em
andamento, possibilitando o surgimento de novas ideias que possam contribuir para esses estudos
e colaborando também para futuras pesquisas.
De acordo com os dados coletados, os principais pontos destacados durante a entrevista
foram: troca de experiências, estabelecer contatos e obter ajuda com as pesquisas (Gráfico 3). Esses
três pontos mostram algumas expectativas e motivações que os participantes tiveram ao se
inscreverem no evento, que, dessa forma, reflete a necessidade não apenas de trocas no âmbito
teórico, mas também da construção de rede de contatos e colaboração que contribuem para o
crescimento acadêmico e profissional dos participantes.
Na primeira categoria, três entrevistados destacaram a relevância da troca de experiências.
Segundo suas opiniões, é possível perceber o valor de compartilhar vivências e práticas, o que
enriquece estudos e oferece novas perspectivas. Essa troca de experiências contribui, ainda, para a
colaboração em pesquisas futuras. A segunda expectativa, relacionada à criação de contatos,
também teve destaque, sendo mencionada por cinco entrevistados. Eles apontaram que a construção
de uma rede de relacionamentos profissionais é um dos principais atrativos do evento, pois permite
conhecer pessoas que, muitas vezes, podem ser citadas em textos. Além disso, esses contatos
envolvem pessoas que estudam temáticas relacionadas, possibilitando uma troca de informações
valiosas para a pesquisa.
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Por fim, a ajuda com a pesquisa foi o que teve o maior número de apontamentos: foram
sete. Embora tenha sido uma expectativa relevante para os participantes, o simpósio apresentou
uma abordagem que teve o foco maior nas soluções dos desafios enfrentados nas pesquisas atuais,
demonstrando que o evento é visto também como um espaço que possibilita a resolução de
problemas e esclarecimento de questionamentos atuais. Os eventos acadêmicos são capazes
de ampliar, aperfeiçoar e atualizar o conhecimento sobre a temática que está sendo abordada, além
de oferecer um espaço para a troca de conhecimentos e a criação de novas oportunidades de
colaboração e apoio entre os pesquisadores.
Gráfico 3 – Expectativas para o evento
Fonte: elaborado pelos autores (2024).
Em relação à contribuição do evento para sua formação e se participaria de outra edição do
SINGA, o entrevistado 3 afirmou considerar o evento muito importante porque colaborou para a
construção de seu conhecimento sobre o campo da Geografia Agrária a partir de suas diversas
discussões. Além disso, proporcionou a ele acesso aos principais autores da área. O entrevistado 4
concluiu dizendo que certamente participará da próxima edição do evento.
Já outro entrevistado disse que o evento contribuiu muito para a sua formação, mas não
participaria de outra edição do SINGA porque sua área de interesse na Geografia envolve outra
temática (Gráfico 4).
3
5
7
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Troca de experiências Fazer contatos Ajuda com a pesquisa
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Gráfico 4 – Participação em outra edição do SINGA
Fonte: elaborado pelos autores (2024).
A análise das respostas levanta questões importantes sobre a relevância dos eventos
acadêmicos, bem como sua aderência ao tema de pesquisa dos participantes. O SINGA, mesmo
não focalizando a área específica de alguns dos participantes, proporciona a formação de redes de
contatos e pesquisas entre os geógrafos. Essa perspectiva destaca a sua importância para o
desenvolvimento da ciência e a disseminação do conhecimento produzido nas universidades.
Observou-se que os participantes da entrevista possuíam percepções distintas em relação ao
mesmo evento devido à singularidade de cada indivíduo e aos objetivos específicos que tinham ao
participar. Essa diversidade de perspectivas contribui para enriquecer e atualizar os debates,
oferecendo uma variedade de pensamentos e experiências que podem ampliar a compreensão do
tema abordado no evento.
As técnicas de pesquisa apresentadas no artigo foram essenciais para a coleta de dados
qualitativos e quantitativos, evidenciando a importância de cada uma no processo investigativo,
além de contribuir para a interpretação e análise dos dados que foram coletados em cada momento
da pesquisa. O trabalho de campo permite conhecer o ambiente da pesquisa, a observação registra
os detalhes do comportamento no ambiente, a fotografia é um elemento visual de análise, e por fim,
as entrevistas mostram a percepção individual de cada participante do evento.
13
2
Participaria Não participaria
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Considerações Finais
A testagem serviu para fornecer um melhor direcionamento das técnicas a serem
utilizadas em pesquisas futuras, ainda em desenvolvimento. A realização dessa aplicação piloto
é uma prática valiosa, pois auxilia no refinamento e ajuste da metodologia antes de sua
condução empírica.
Essa prática pode economizar tempo, recursos e garantir uma coleta de dados mais
eficaz. É possível também identificar e corrigir eventuais problemas ou desafios práticos que
podem surgir durante a aplicação das técnicas de pesquisa, o que inclui questões de logísticas,
compreensão das perguntas pelos entrevistados e adequação do local de pesquisa.
Ao testar como as técnicas funcionam na prática, torna-se possível aprimorar as
abordagens, garantindo que sejam mais eficazes e adequadas ao objetivo da pesquisa. Além
disso, os testes proporcionam a oportunidade de treinar os pesquisadores envolvidos na coleta
de dados, garantindo que todos estejam familiarizados com os procedimentos e preparados para
a realização da etapa prática.
Agradecimentos
O presente artigo foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
Referências
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