Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SOUZA, Yago Evangelista de. Adivinha, doutor, quem tá de volta na praça?: skate, segurança e cidade, uma análise da influência do skate na
Praça XV, Rio de Janeiro. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 12, nº 25, e122518, 2025.
Submissão em: 17/01/2025. Aceito em: 22/07/2025.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
1
SEÇÃO ARTIGOS
Adivinha, doutor, quem tá de volta na praça?:
skate, segurança e cidade, uma análise da influência do skate na Praça XV, Rio de
Janeiro
Guess who’s back in the square?:
skate, security, and city: an analysis of the influence of skateboarding in Praça XV, Rio
de Janeiro
¿Adivina quién está de vuelta en la plaza?:
skate, seguridad y ciudad: un análisis de la influencia del skate en Praça XV, Río de
Janeiro
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v12i25.66278
Yago Evangelista Tavares de Souza1
Universidade Federal Fluminense (UFF),
Rio de Janeiro, Brasil
e-mail: yagoevangelista@id.uff.br
Resumo
Este artigo analisa a influência da instalação de uma pista de skate na Praça XV, no centro da cidade do Rio de
Janeiro, na redução dos índices de criminalidade, especialmente furtos em geral e roubos de rua. A pesquisa
utilizou dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) entre os anos de 2003 e 2016 e aplicou o método de série
temporal interrompida (ITS), com modelo de regressão de Poisson, para avaliar os efeitos da intervenção. Os
resultados revelam uma redução nos índices de furtos e roubos de rua após a instalação da pista de skate na Praça
XV. O estudo destaca a importância de espaços de lazer e recreação na promoção da segurança urbana, além de
enfatizar a necessidade de políticas de segurança integradas e medidas de ordem pública em áreas urbanas.
Palavras-chave
Pista de skate; redução de crimes; segurança urbana; espaços de lazer
1
Graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e doutorando pela UFF em Geografia.
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Abstract
This article examines the influence of installing a skatepark in Praça XV, in the city center of Rio de Janeiro, on
reducing crime rates, especially general thefts and street robberies. The research used data from the Public Security
Institute (ISP) between 2003 and 2016 and applied the interrupted time series (ITS) method, with a Poisson
regression model, to evaluate the effects of the intervention. The results reveal a significant reduction in theft and
street robbery rates after the installation of the skatepark in Praça XV. The study highlights the importance of
leisure and recreational spaces in promoting urban security, as well as emphasizing the need for integrated security
policies and public order measures in urban areas.
Keywords
Skatepark; crime reduction; urban security; leisure spaces
Resumen
Este artículo analiza la influencia de la instalación de una pista de skate en la Praça XV, en el centro de la ciudad
de Río de Janeiro, en la reducción de los índices de criminalidad, especialmente los robos en general y los robos
callejeros. La investigación utilizó datos del Instituto de Seguridad Pública (ISP) entre los años 2003 y 2016 y
aplicó el método de serie temporal interrumpida (ITS), con un modelo de regresión de Poisson, para evaluar los
efectos de la intervención. Los resultados revelan una reducción significativa en los índices de robos y robos
callejeros después de la instalación de la pista de skate en la Praça XV. El estudio destaca la importancia de
espacios de ocio y recreación en la promoción de la seguridad urbana, además de enfatizar la necesidad de políticas
de seguridad integradas y medidas de orden público en áreas urbanas.
Palabras clave
Pista de skate; reducción de crímenes; seguridad urbana; espacios de recreo.
Background
Eu vou começar este artigo de uma maneira não muito comum, contando um pouco do
porquê eu decidi escrevê-lo.
Durante a minha graduação em Geografia, no ano de 2018, eu participei de um trabalho
de campo na Praça XV, no centro da cidade do Rio de Janeiro, como parte da disciplina de
Geografia Urbana. Embora não tenha sido a primeira vez que fomos à Praça XV para um
trabalho de campo, uma observação que o professor fez despertou minha atenção. Ele falou que
a instalação de uma pista de skate na praça contribuiu para a redução dos índices de assaltos na
área.
Hoje, quase sete anos depois, essa pequena observação do professor ainda ronda minha
cabeça como um fantasma. Essa simples pista de skate realmente aumentou a segurança?
Recentemente, tentando finalmente me expurgar desta questão, fui atrás de fontes,
artigos, matérias de jornais, qualquer material que pudesse me livrar dessa dúvida. Ao buscar
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por informações que confirmassem a tal afirmação do professor, não encontrei respostas em
nenhuma fonte.
Parece que eu precisarei enfrentar meus fantasmas sozinho.
Introdução
A hipótese levantada pelo meu professor é muito interessante, mas é preciso abordar
com muita cautela; afinal, segurança pública é um tema complexo. Sei que a relação entre a
presença de uma pista de skate e a redução dos índices de criminalidade pode ser influenciada
por uma série de outros fatores inter-relacionados. Por exemplo, existe uma variedade de
trabalhos, e quase um consenso na academia, sobre como a instalação de espaços de lazer e
recreação em áreas urbanas pode contribuir para aumentar a presença de pessoas no local,
criando uma maior sensação de vigilância, o que, por sua vez, pode dissuadir a ocorrência de
crimes o que acredito ter sido a base da hipótese do meu professor. Ao mesmo tempo em
que o Rio de Janeiro foi influenciado por várias políticas de segurança pública, a cidade foi alvo
de uma intervenção federal em 2018 e o centro da cidade teve novas políticas de segurança,
como o Centro Presente em 2016, junto a um pacote de medidas de segurança pública que foram
adotadas para as Olimpíadas.
um certo consenso na academia sobre a ideia de que o aumento de atividade nas ruas
e o aumento de pedestres influenciam positivamente a segurança (Soni e Soni, 2016). É uma
ideia que nasceu com Jane Jacobs em The Death and Life of Great American Cities, publicado
em 1961, com o “eyes upon the street
2
. Jacobs diz que:
[...] deve haver olhos sobre a rua, olhos pertencentes àqueles que podemos chamar de
os proprietários naturais da rua. Os edifícios em uma rua preparada para lidar com
estranhos e garantir a segurança tanto dos moradores quanto dos visitantes devem
estar voltados para a rua
3
(Jacobs, 1961 p. 35, tradução nossa).
2
“olhos nas ruas”, em tradução livre.
3
No original: “[...] there must be eyes upon the street, eyes belonging to those we might call the natural proprietors
of the street. The buildings on a street equipped to handle strangers and to insure the safety of both residents and
strangers, must be oriented to the street”.
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Isso reflete a crença da autora na importância de uma presença comunitária ativa para
fomentar um ambiente urbano mais seguro, com a implicação de que tais ambientes podem
naturalmente dissuadir a violência e o crime.
Um exemplo prático disso é o estudo conduzido por Schertz et al. (2021), que investigou
a relação entre a atividade nas ruas de um bairro, o uso de áreas verdes e a criminalidade. Os
resultados indicaram que o aumento da movimentação nas ruas e a frequência aos parques
contribuem de forma única e significativa para a redução tanto da criminalidade violenta quanto
da não violenta nas cidades. Esses achados evidenciam que, além das características físicas de
uma cidade, a maneira como os espaços urbanos são utilizados e a presença de áreas
comunitárias dinâmicas desempenham um papel crucial na promoção de comunidades urbanas
mais seguras.
Outro estudo relevante sobre o tema é o de Ngesan et al. (2013), que demonstra que
parques urbanos bem utilizados, com atividades de lazer, especialmente durante a noite,
aumentam naturalmente a vigilância nesses espaços. As interações sociais e a simples presença
de pessoas aproveitando as amenidades do parque funcionam como uma forma de vigilância
informal. Além disso, ambientes projetados com foco no conforto, conveniência e segurança
podem transformar os parques urbanos em espaços atrativos para todos os grupos demográficos,
desencorajando atividades ilícitas. Essa pesquisa reforça a ideia de Jacobs mencionada
anteriormente sobre a dissuasão do crime através da presença da comunidade.
Existem críticas em relação a esse conceito que Jacobs estabeleceu. Por exemplo,
Andrew Kirby questiona o conceito de “eyes upon the streets”. Kirby (2019) argumenta que o
apelo de Jacobs por uma vigilância natural constante pelos moradores, embora destinado a
promover a segurança comunitária e dissuadir o crime, não é escalável como um princípio
universal de planejamento urbano. Ele argumenta que Jacobs tende a valorizar mais as
experiências e perspectivas dos indivíduos, deixando em segundo plano estudos sistemáticos
ou evidências empíricas.
Kirby (2019) também argumenta que a aplicabilidade da abordagem de Jacobs focada
nos bairros é constantemente antigoverno, e que, em contextos urbanos modernos e diversos,
questões de justiça e acesso equitativo aos recursos demandam soluções mais complexas do
que aquelas oferecidas pelo apelo nostálgico da vigilância de bairro como idealizada por Jacobs.
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Kirby (2019) afirma que, embora o ativismo de Jacobs contra o planejamento tecnicista de
figuras como Robert Moses fosse louvável, aplicar seus princípios de forma inalterada aos
desafios urbanos atuais implicaria negligenciar as nuances da vida urbana contemporânea e as
necessidades de iniciativas de planejamentos lideradas por especialistas.
Embora eu não considere que o caso descrito por Kirby (2019) seja aplicável ao estudo
deste artigo, uma vez que estamos analisando uma iniciativa comunitária em um local
específico, e não uma estratégia universal destinada a toda a cidade ou a todas as cidades, nosso
objetivo se restringe a intervenção dos skatistas na área em questão contribuiu, ou não, para a
redução da violência em uma região determinada.
Primeiro, coletei dados sobre os índices de criminalidade na área da Praça XV, antes e
depois da instalação da pista de skate. Esses dados incluirão informações sobre assaltos, furtos,
roubos e outros crimes relevantes. Além disso, considerei, para montar a linha do tempo, outros
fatores que possam ter influenciado os níveis de segurança na região, como as políticas públicas
de segurança.
Com base nos dados coletados, realizei uma análise estatística utilizando o método ITS
(Interrupted Time Series), que permitirá investigar se a instalação da pista de skate teve alguma
influência na redução dos índices de criminalidade na área da Praça XV. Vale ressaltar que,
embora se observe uma possível associação entre a instalação da pista de skate e a diminuição
dos crimes, é crucial compreender que a correlação não implica, necessariamente, causalidade.
Ou seja, mesmo que exista uma relação estatística entre os eventos, isso não significa que a
instalação da pista tenha sido a causa direta da redução dos índices de criminalidade. Para
estabelecer uma relação de causa e efeito, será necessário realizar uma análise mais detalhada,
considerando outros fatores que possam ter influenciado os resultados, como políticas públicas
de segurança e variações socioeconômicas na região. O objetivo principal deste estudo é
analisar a relação entre a instalação da pista de skate e os índices de criminalidade, identificando
possíveis correlações.
A pista de skate da Praça XV
A pista de skate da Praça XV é uma marca do lugar. Estudei em Niterói enquanto morei
no Rio de Janeiro de 2016 até 2019. Passava todos os dias pela Praça XV, lugar onde se instala
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um terminal hidroviário que conecta as duas cidades, e não lembro da Praça XV existir de outra
maneira: a pista de skate sempre esteve lá, é parte do lugar. Mas, obviamente, nem sempre foi
assim.
O skate é uma prática consolidada há muito tempo no país e mantém uma relação quase
simbiótica com o estado do Rio de Janeiro. Foi na cidade de Nova Iguaçu, no estado do Rio de
Janeiro, em que foi construída a primeira pista de skate da América Latina, em 1976, e a própria
prática do skate (ou, como era chamado na época, “surfinho”) parece
4
ter começado no Brasil,
no bairro da Urca, na cidade do Rio de Janeiro, em 1964 (Honorato, 2004). Apesar dessa
conexão, por muito tempo a prática foi restrita na cidade do Rio de Janeiro, apenas aos locais
destinados à sua realização. Isso aconteceu entre 1999 e 2011 e se deu por conta do decreto
17746 de 22 de julho de 1999
5
(Rio de Janeiro, 1999).
Três anos antes da restrição, em 1996, a Praça XV passou por uma reforma, mudando o
chão de pedras portuguesas para pedras lisas. Também foram construídas estruturas de
acessibilidade como escadas, corrimões e bancos, ou seja, o paraíso para os skatistas.
Entretanto, três anos depois houve a proibição da prática no local, e um grupo de skatistas se
organizou a partir de um movimento chamado Coletivo XV, que hoje atua até fora da própria
Praça XV, para resistir às ações da Guarda Municipal (Fernandes; Barroso; Belart, 2019; Diniz
e Silva, 2017).
A Praça XV é tratada por muitos skatistas e ativistas como uma base da cultura do skate
na cidade, como um epicentro da resistência no cenário da prática no Rio de Janeiro. O Coletivo
XV desempenhou um papel crucial como mediador entre os praticantes e as autoridades durante
os 11 anos de proibição. Sua influência como facilitador e promotor da cena local perdura até
hoje. No entanto, a importância desse ativismo transcende os limites da Praça XV.
A XV para mim é uma referência e é uma base [...]. É um lugar que me trouxe uma
noção de que você faz parte da cidade e de que você tem o poder de mudar a cidade
[...]. O mais importante é o processo. Você aprende, você erra, como o skate, né? O
processo de lidar com as pessoas, de formar grupos, de formar coletivos, de ser
persistente, de fazer o que acredita, de fazer o que gosta. De você ir atrás de não aceitar
um não como resposta. Então isso daqui para o Brasil inteiro é um centro histórico. E
4
“Parece” porque o autor do texto e a própria fonte dele estão incertos sobre onde teria começado a prática.
5
Diz o texto: Art. 4º: O exercício de atividades recreativas e esportivas tais como ciclismo, jogos de bola, ‘skate’,
dentre outras, nas praças, parques e jardins da Cidade do Rio de Janeiro, está limitado aos espaços especialmente
destinados e sinalizados pelo Poder Público a tais fins, quando houver”.
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muito importante para o Brasil inteiro. Mas para nós skatistas tem um significado
especial além do histórico, né? No meio da sociedade. Que é um significado de
conquista, é um significado de referência, é um significado de aprendizado, é um
significado de evolução, amizade, diversão, de autoconhecimento, de espalhar o
conhecimento e aprender com as pessoas. E também foi um local de brigas, de
desentendimentos, mas esses desentendimentos foram importantíssimos para a nossa
evolução (Domingues, 2022, p. 47).
Figura 1 Pista de Skate na Praça XV
Fonte: http://www.instagram.com/fmajuniorphoto
Com a restrição em 1999, os skatistas começaram os “jogos de gato e rato”, continuando
com as práticas nos horários de baixa atividade da praça. Entre 2008 e 2011 houve uma série
de protestos dos skatistas que culminaram, em junho de 2011, na liberação do skate na praça,
mesmo que em horários restritos, bem como em uma série de intervenções e adições de
mobiliários pelos próprios skatistas (Diniz; Silva, 2017). Ou seja, houve uma redução da prática
do skate no período entre 1999 e 2008, e apenas a partir de 2011 a praça começou a assumir a
configuração que apresenta atualmente como podemos ver nas Figuras 1 e 2.
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Figura 2 Skate da Praça XV
Fonte: Facebook - Renato Costa Custodio (2016).
A configuração atual da Praça XV é fruto de um processo contínuo de disputas,
resistências e negociações que transformaram o espaço em um marco da cultura do skate no
Rio de Janeiro. Mais do que um local destinado à prática esportiva, a praça consolidou-se como
um símbolo de convivência, autogestão e afirmação do direito à cidade, representando para os
skatistas um espaço de aprendizado coletivo, conquista e pertencimento urbano.
As políticas de segurança pública na cidade do Rio de Janeiro
No início dos anos 2000, no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, foi
instaurado o primeiro Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP)
6
. Nele, pactuou-se uma
série de compromissos do governo federal para com os estados, como pacto pela redução da
violência urbana, inibição de gangues e combate à desordem social, eliminação de chacinas e
execuções sumárias, combate à violência rural, a instituição de um Programa Nacional de
6
Documento disponível em: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais/catalogo/fhc/o-brasil-
diz-nao-a-violencia-2001.pdf.
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Direitos Humanos, capacitação e reaparelhamento das polícias e o aperfeiçoamento do sistema
penitenciário.
Embora o plano tivesse como intuito uma abordagem integrada e global no tratamento
da “delinquência”, o principal foco foi a modernização das instituições do sistema de justiça
criminal. Isso incluiu principalmente a necessidade de investimento e reaparelhamento das
polícias, a capacitação de seus membros e a melhoria dos seus meios de atuação. O PNSP não
foi um plano bem-sucedido, ele não se propôs em nenhum momento a encarar o passado
autoritarista das polícias e do sistema de segurança, mas foi um divisor de águas em relação a
como o governo federal via a questão da segurança, tanto que se manteve durante o começo do
governo Lula (Zavataro; Bordin, 2023).
Em outubro de 2007, durante o governo de Lula, foi lançado o Programa Nacional de
Segurança com Cidadania (PRONASCI) (Brasil, 2007), uma iniciativa inovadora do governo
brasileiro para lidar com questões de segurança pública. Sob a liderança do Ministério da
Justiça, então chefiado por Tarso Genro, o PRONASCI visava combater o crime por meio de
uma abordagem abrangente, que integrava ações de prevenção e repressão qualificada. Por meio
de parcerias entre governos municipais, agências policiais e comunidades locais, o programa
buscava não apenas reduzir as taxas criminais (especialmente os homicídios), mas também
promover uma mudança cultural, fortalecendo o diálogo entre diferentes atores sociais e
valorizando a participação da população na construção de comunidades mais seguras e justas.
Isso foi facilitado pela criação de Conselhos Comunitários de Segurança Urbana.
Com a implementação de políticas de valorização dos profissionais de segurança,
programas de prevenção direcionados aos jovens e o envolvimento ativo da comunidade na
gestão dos conflitos, o PRONASCI tem demonstrado resultados promissores em mais de 150
municípios brasileiros, representando um avanço no campo das políticas de segurança pública
(Azevedo e Santos, 2018; Zavataro e Bordin, 2023).
Em 2008, o Rio de Janeiro testemunhou um ponto de virada na abordagem da segurança
pública com a ocupação militar liderada pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais
(BOPE), seguida pela implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) (Moraes;
Mariano; Franco, 2015). Essa estratégia visava transformar favelas dominadas pelo tráfico de
drogas, substituindo o controle violento por uma presença policial constante e uma série de
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iniciativas sociais. As UPPs representaram, em um primeiro momento, pelo menos idealmente,
uma mudança para uma abordagem mais comunitária e de proximidade, destinada a restaurar a
ordem e estabelecer uma relação de confiança entre a polícia e os moradores locais. Embora
tenham inicialmente registrado sucessos na redução da violência (Brilhante, 2019), as UPPs
também enfrentaram desafios ao longo do tempo, por exemplo: na favela do Borel, os
moradores relataram problemas com abuso de autoridade e violência simbólica por conta dos
policiais. Essa dicotomia entre uma intervenção com impactos significativos no combate ao
tráfico de drogas e à violência, que ao mesmo tempo gera problemas nas favelas, destaca a
complexidade do problema da segurança pública e a necessidade de soluções integradas que
combinem medidas de ordem pública com investimentos sociais para alcançar resultados
duradouros.
Inaugurado em 31 de maio de 2013, o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC)
do Estado do Rio de Janeiro representa uma iniciativa para a integração e coordenação das
ações de segurança pública na região. Localizado na Cidade Nova, próximo ao Sambódromo
no centro da cidade do Rio de Janeiro e ao lado da Prefeitura, o CICC recebeu um investimento
inicial de R$ 108 milhões, sendo 30% proveniente do governo federal e 70% do governo
estadual. Com a participação de diversas agências e serviços relacionados à segurança, como a
Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, as Forças Armadas, a Polícia Civil e a Polícia
Militar, o centro possui capacidade para receber entre 800 e 1.200 pessoas diariamente,
operando ininterruptamente 24 horas por dia, sete dias por semana. Equipado com tecnologia
avançada fornecida pelo Ministério da Justiça, o CICC abriga uma variedade de recursos,
incluindo ônibus que funcionam como centros integrados de controle móvel e equipamentos de
última geração para helicópteros. Além de desempenhar um papel fundamental durante eventos
de grande porte, como a Copa das Confederações de 2013, coordenando as ações de segurança
nas seis cidades-sede do evento esportivo, o centro também serviu como modelo para a
construção de estruturas semelhantes em outras localidades do país, como Brasília, visando
aprimorar ainda mais a segurança pública em eventos futuros (Leite, 2013).
Em 2016, uma das iniciativas que ocorreram em conjunto com os Jogos Olímpicos e
que perdura até hoje é a da segurança presente. Ela foi instaurada como Centro Presente, um
programa que oferecia um incremento na remuneração dos policiais para que se fizesse
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patrulhamento constante no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Centro Presente envolvia
uma parceria entre o setor público e um investidor privado para fornecer serviços de segurança,
policiamento e patrulhamento em áreas específicas da região central da cidade.
O Centro Presente foi a primeira iniciativa que atingiu especificamente a região que se
trata neste texto, portanto, ela representará o limite temporal dos dados. No entanto, é
importante ressaltar que o não isolamento da influência de outras políticas de segurança pode
representar uma limitação deste artigo. Outras políticas e iniciativas em níveis mais amplos
podem estar exercendo efeitos indiretos sobre a região em estudo, o que pode interferir na
interpretação dos resultados apresentados.
Metodologia
Este artigo utiliza uma abordagem de série temporal interrompida (ITS), empregando o
modelo de regressão de Poisson (Agreti, 2018), com o objetivo de investigar os efeitos de uma
intervenção em uma série de dados relacionados a furtos, excluindo furtos de veículos. Todos
os procedimentos foram realizados utilizando o software R, versão 4.3.3.
Para realizar a análise, foram carregadas as bibliotecas necessárias, como ggplot2, para
visualização, e dplyr, para manipulação de dados. Em seguida, os dados da base do ISP foram
importados e ajustados, incluindo uma coluna com os furtos (excluindo furtos de veículos)
registrados antes da intervenção, outra coluna com os mesmos dados após a intervenção e uma
coluna adicional indicando a data da intervenção. Além disso, a variável temporal foi ajustada
para o formato adequado.
Com o intuito de diferenciar os períodos pré e pós-intervenção, os dados foram divididos
em dois conjuntos distintos. Posteriormente, foi ajustado um modelo de regressão de Poisson
para cada conjunto, utilizando a função glm(), dada a natureza de contagem dos dados de furtos.
A escolha desse modelo é considerada apropriada para análises de séries temporais envolvendo
dados de contagem, conforme discutido, por exemplo, em Koppel et al. (2023).
Para os dados pré-intervenção:
𝑚𝑜𝑑𝑒𝑙𝑜_𝑝𝑟𝑒_𝑝𝑜𝑖𝑠𝑠𝑜𝑛: 𝑙𝑜𝑔(𝜇_𝑝𝑟𝑒) = 𝛽 + 𝛽 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜
Para os dados pós-intervenção:
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𝑚𝑜𝑑𝑒𝑙𝑜_𝑝𝑜𝑠_𝑝𝑜𝑖𝑠𝑠𝑜𝑛: 𝑙𝑜𝑔(𝜇_𝑝𝑜𝑠) = 𝛽 + 𝛽 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜
Com base nos modelos ajustados, foram realizadas previsões dos valores estimados para
ambos os períodos (pré e pós-intervenção) utilizando a função predict(). Essa etapa teve como
objetivo visualizar a tendência dos dados antes e após a intervenção. Além disso, foi
identificado o primeiro ponto de intervenção temporal, etapa essencial para a segmentação dos
dados entre os períodos pré e pós-intervenção.
Para os dados pré-intervenção:
𝑝𝑟𝑒_𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠_𝑎𝑗𝑢𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠 = 𝑒𝑥𝑝(𝛽 + 𝛽 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜)
Para os dados pós-intervenção:
𝑝𝑜𝑠_𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠_𝑎𝑗𝑢𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠 = 𝑒𝑥𝑝(𝛽 + 𝛽 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜)
Por fim, foi elaborado um gráfico utilizando o pacote ggplot2, representando
visualmente a tendência dos furtos ao longo do tempo, seguindo os parâmetros de boas práticas
sugeridos por Turner et al. (2021), tanto no período anterior quanto posterior à intervenção. No
gráfico, os pontos representam os dados observados, enquanto as linhas correspondem aos
valores ajustados pelo modelo de Poisson. Para destacar o ponto de intervenção temporal, foi
adicionada uma linha vertical pontilhada.
O mesmo procedimento foi aplicado aos dados de roubos de rua, com a diferença de
que esses dados não incluem roubos a veículos, uma vez que esses não estão associados à
praça analisada. Para avaliar a significância estatística das diferenças nas tendências observadas
entre os períodos pré e pós-intervenção, utilizou-se um teste z. A estatística z foi calculada pela
fórmula:
(𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟_𝑝𝑜𝑠 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟_𝑝𝑟𝑒)
(𝑠𝑒_𝑝𝑟𝑒^2 + 𝑠𝑒_𝑝𝑜𝑠^2
Nessa equação, “valor_pos” e “valor_pre” correspondem aos valores ajustados das
tendências nos períodos pós e pré-intervenção, respectivamente, enquanto “se_pre” e “se_pos”
representam os erros-padrão associados a cada estimativa. Essa abordagem permite incorporar
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a variabilidade dos dados e ajustar a diferença observada entre os períodos pela incerteza das
estimativas.
O valor-z é então utilizado para determinar o valor-p associado. Com base na estatística
z, calculou-se o valor p, uma medida que indica a probabilidade de se observar uma diferença
igual ou maior que a registrada, assumindo que a hipótese nula seja verdadeira. O valor p é
derivado da estatística z com base na distribuição normal padrão.
Especificamente, após calcular o valor de z, a probabilidade cumulativa associada a essa
estatística é obtida, e o valor p é determinado considerando as caudas da distribuição
(dependendo do tipo de teste, unicaudal ou bicaudal). Nesse caso, um teste bicaudal foi
aplicado, refletindo a possibilidade de diferenças em qualquer direção.
Para o teste de hipótese, foram calculados os coeficientes de inclinação das linhas de
tendência nos períodos pré e pós-intervenção, juntamente com os erros-padrão correspondentes.
Em seguida, foi realizado um teste de hipótese para verificar se havia uma diferença
significativa entre as tendências observadas antes e depois da intervenção. Esse procedimento
incluiu o cálculo do valor-z do teste de hipótese e, consequentemente, do valor-p.
Os indicadores e índices utilizados para este artigo estão disponíveis no Instituto de
Segurança Pública (ISP), uma instituição que atua na produção, análise e divulgação de dados
estatísticos relacionados à segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Os dados incluem
informações sobre crimes, violência, apreensões, dentre outros aspectos relevantes para o
entendimento e o desenvolvimento de políticas de segurança.
Os dados disponibilizados no portal são de 2003 até 2023. Para este artigo, foram
utilizados dados entre 2003 e 2016 (ano de implementação da operação do programa Centro
Presente). A divisão dos dados se de maneira territorial, eles se organizam da seguinte
maneira, da maior para a menor escala.
As Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP) representam a maior escala de
organização territorial. Elas têm o objetivo de articular a atuação regional da Secretaria de
Estado de Polícia Civil (SEPOL) com a Secretaria de Estado de Polícia Militar (SEPM). Cada
RISP abrange um conjunto de Departamentos de Polícia de Área (DPA) da SEPOL e Comandos
de Policiamento de Área (CPA) da SEPM. Os diretores dos DPA e os comandantes dos CPA
são responsáveis por estabelecer estratégias de integração e cooperação, além de coordenar
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ações conjuntas, compartilhar informações e avaliar o desempenho operacional e
administrativo
7
.
As Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP) correspondem às áreas de atuação de
um batalhão da SEPM e às circunscrições das delegacias da SEPOL contidas na área de cada
batalhão. Elas foram estabelecidas como parte de uma estratégia para promover uma relação
mais estreita entre as polícias e as comunidades locais, buscando identificar e resolver os
problemas de segurança pública de forma participativa. No estado do Rio de Janeiro, existem
39 AISP, que foram delineadas para se adequarem aos objetivos da gestão territorial da
segurança pública.
As Circunscrições Integradas de Segurança Pública (CISP) representam a menor
instância de operação e apuração dos indicadores de criminalidade. Elas correspondem às áreas
territoriais de atuação conjunta das delegacias distritais da SEPOL e das companhias integradas
da SEPM. O conceito por trás das CISP é que a responsabilidade pelo policiamento de uma
subárea da companhia de Polícia Militar coincide com a circunscrição de uma delegacia de
Polícia Civil. Isso promove uma integração operacional entre as duas instituições, facilitando a
cooperação e o compartilhamento de recursos para combater a criminalidade em nível local.
7
As delimitações foram estabelecidas pela Resolução SSP N. 263 de 27 de julho de 1999 e depois adequadas pela
Resolução SESEG nº 478 de 31/05/2011.
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Figura 3 Divisão das RISP
Fonte: Governo do Estado do Rio de Janeiro (2021). Disponível em:
http://arquivos.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/RelacaoAISP.pdf
Quanto à Praça XV, está localizada na CISP. Para os fins deste artigo, utilizaremos
os dados desta circunscrição. É importante observar que os dados fornecidos pela 1ª CISP não
estão restritos à área da Praça XV e que essa também é uma limitação deste estudo, uma vez
que generaliza os efeitos que podem ser particulares à praça a toda a circunscrição.
Para esta pesquisa, as variáveis de roubo de rua, que consiste na soma das variáveis de
roubo a transeunte, roubo de celular e roubo em coletivo, e os dados de total de furtos menos
os furtos de veículo, que é uma soma de furto a transeunte, furto em coletivo, furto de telefone
celular, furto de bicicleta e outros furtos que não os listados acima.
Resultados
Existe uma separação entre furto e roubo pois o furto envolve a subtração de bens sem
o uso de violência ou ameaça, enquanto o roubo se caracteriza pela subtração de bens mediante
violência ou grave ameaça à vítima. Essa distinção é importante, pois os dados geralmente são
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divulgados por categoria de crime, refletindo essas diferenças e permitindo uma análise mais
precisa dos padrões e contextos em que ocorrem esses delitos. Ao separar essas categorias,
busca-se uma compreensão mais clara e específica das dinâmicas de cada tipo de crime.
Furtos
Na Figura 4, é possível perceber uma interrupção na tendência da linha azul,
possibilitando entendimento de que a instalação da pista de skate resultou em uma redução
imediata no número de furtos, provocando uma mudança na direção descendente da tendência.
No entanto, para obter um resultado mais confiável, é necessário realizar o teste de hipótese.
Figura 4 Tendência de furtos (exceto veículos) antes e depois da intervenção
Fonte: SSP (2023), produção do autor (2024).
Os resultados da análise de tendências antes e depois da intervenção evidenciaram
diferenças significativas nos coeficientes de inclinação das linhas de tendência. No modelo pré-
intervenção, o coeficiente de inclinação foi estimado em 0,078 (erro padrão = 0,002), enquanto
no modelo pós-intervenção, o coeficiente de inclinação foi estimado em -0,167 (erro padrão =
0,007). Para avaliar a significância estatística dessa diferença, foi calculado o “valor-z”, que
representa a diferença entre os coeficientes de inclinação, normalizada pelos erros padrão. O
valor-z obtido foi de -33,65.
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Valor-p
Com um valor-z de aproximadamente -33,65, o valor-p resultante foi extremamente
baixo (próximo de zero), inferior a 0,001. Esse resultado indica uma diferença estatisticamente
significativa entre as inclinações observadas nos períodos pré e pós-intervenção. A
interpretação dos resultados está adequada: uma diferença significativa nas tendências de
furtos antes e após a intervenção, o que leva à rejeição da hipótese nula.
Roubos
Na Figura 5, podemos observar uma pequena tendência de queda antes da linha
vermelha, o que pode sugerir uma diminuição no número de roubos de rua mesmo antes da
instalação da pista de skate. Embora não seja possível identificar claramente a causa dessa
redução, uma hipótese é que ela esteja relacionada ao início das obras da Praça. No entanto,
para uma análise mais precisa, é importante realizar o teste de hipótese.
Figura 5 Tendência de Roubo de rua antes e depois da intervenção
Fonte: SSP (2023), produção do autor (2024).
Os resultados da análise de tendências antes e depois da intervenção revelaram
diferenças significativas nos coeficientes de inclinação das linhas de tendência (Figura 1 e 2).
No modelo pré-intervenção, o coeficiente de inclinação foi estimado em 0,1028 (erro padrão =
0,004), enquanto no modelo pós-intervenção, o coeficiente de inclinação foi estimado em -
0,167 (erro padrão = 0,014). Para avaliar se essa diferença é estatisticamente significativa,
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calculamos o valor-z, que representa a diferença entre os coeficientes de inclinação normalizada
pelos erros padrão. O valor-z foi calculado como aproximadamente -18,52. Com esse valor-z,
calculamos o valor-p associado, utilizando a distribuição normal padrão.
Valor-p
O valor-p resultante foi extremamente baixo, significativamente inferior a 0,001,
indicando uma diferença estatisticamente significativa entre as tendências pré e pós-
intervenção. Consequentemente, rejeitamos a hipótese nula em favor da hipótese alternativa,
sugerindo que uma diferença significativa entre as tendências de roubos de rua antes e depois
da intervenção.
Considerações finais
A análise da instalação da pista de skate e outros mobiliários na Praça XV mostrou não
apenas a relação entre espaços de lazer e a redução da criminalidade, mas também destacou o
papel crucial das intervenções urbanas na promoção da segurança pública.
O texto destaca como a criação de espaços de lazer, como a pista de skate na Praça XV,
melhora a qualidade de vida e ajuda na prevenção do crime. A área se tornou um ponto de
encontro comunitário, promovendo a interação entre os moradores e desestimulando atividades
criminosas, o que contribuiu para a redução de furtos e roubos de rua. A iniciativa de instalar a
pista de skate na Praça XV não apenas proporcionou uma opção de lazer saudável, como
também gerou impactos positivos em termos de segurança urbana. Esses resultados destacam a
importância de abordagens integradas na formulação de políticas públicas, que combinem
investimentos em infraestrutura urbana voltada para o lazer com estratégias de policiamento
comunitário e medidas de ordem pública. Ao fazer isso, podemos criar ambientes urbanos mais
seguros, inclusivos e dinâmicos para todos os cidadãos.
É importante ressaltar que a correlação identificada entre a presença da pista de skate e
a diminuição de roubos e furtos não implica necessariamente em uma relação causal direta.
Outros fatores podem “estar em jogo”, e o texto acima indica limitações impostas pelos dados,
como dados pouco localizados, e é essencial realizar uma análise mais aprofundada para
compreender completamente os mecanismos subjacentes a essa associação aparente.
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Embora os resultados desta pesquisa sugerem que intervenções urbanas como a
instalação de uma pista de skate podem ter efeitos positivos sobre a segurança pública em certos
contextos, é crucial reconhecer que essas soluções podem não ser replicáveis em todas as áreas
urbanas. Cada comunidade possui suas próprias características e desafios únicos, e políticas
públicas eficazes devem ser adaptadas às circunstâncias específicas de cada localidade.
Referências
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