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da tipografia, pois acreditava que esta era muito impessoal, e com isso nos
apresenta uma simbiose perfeita entre desenhos e escrita.
A criação do bordado, com palavras e o mapa invertido de Torres Garcia, se deu a
partir de um encontro com outra colega geógrafa e professora da Universidade de
Buenos Aires, Claudia Pedone. Juntas pensamos a escrita sobre meus bordados
cartográficos para a sessão “Geografia Y Arte” da revista Punto Sur (2023). A ideia
era apresentar com a escrita as conexões entre alguns bordados e sua pesquisa
sobre mulheres migrantes na América do Sul. Na época, Cláudia estava preocupada
com os rumos que as eleições poderiam dar ao povo argentino. Entre conversas
por telefone e trocas de áudio chegamos a Paulo Freire, e a palavra-verbo criada
por ele: “Esperançar”. Para Freire, “esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás,
esperançar é construir, esperançar é não desistir”. Na medida em que o inevitável
se consumava, apresentar essa palavra e bordá-la no tecido junto a outras palavras
tão significativas foi uma forma de manifestar o [nosso] cuidado em linhas.
Conversamos, principalmente sobre os sentidos da palavra “esperançar”, que sem
uma tradução específica nos fez mais próximas a
construção de um sentido entre duas línguas: Esperanzar.
Essas sutilezas das artesianas feitas à mão compõe as qualidades expressivas, ou
matérias de expressão da imagem-bordado. Essas matérias de expressão, talvez
antecedam a própria composição do trabalho. Pois é incitada uma gestualidade
para esse escrever-fazer à mão que passa pela escolha da disposição do desenho,
dos tipos de texturas dos tecidos, das cores e espessura das linhas, do lugar da casa
para se acomodar e iniciar o bordado... Gestualidades que passam pelas mãos, pela
sutiliza em pegar as linhas e fazê-las passar pelo tecido de modo firme, dos volumes
e texturas que esse atravessar de linhas confere ao tecido. Nesse escrever-fazer há
um outro tempo organizado que não cabe no Lattes, nos programas de trabalho da
universidade, ou nos tempos das aulas. São antes, linhas em errância à docência
homogeneizadora. Perfurar o dado para ir ao encontro de outras forças. Atravessar
as tramas do tecido, propor a espaços lisos da cartografia oficial volumes, texturas,
cores e desejos de expressão. Seguir com a proposição de exercícios de atenção
aos possíveis universos de pesquisa que o bordado abre na educação e na educação
geográfica, na preparação para a docência e na construção para si de