Denizart Fortuna
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Juliana Cristina Araújo do Nascimento Cock
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Do belo campus niteroiense da Praia Vermelha, a Revista Ensaios de Geografia, vinculada ao
Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense, brinda-nos com uma
seleção de artigos instigantes acerca da formação profissional de docentes, com especial destaque à
educação geográfica. Isso significa positivas respostas de colegas das mais diferentes instituições de
ensino distribuídas pelo território nacional em compartilhar as suas pesquisas e reflexões sobre esse
movimento contínuo do aprender a fazer e do aprender a ensinar situado em espaço e tempo precisos,
pois a busca é a sua reflexão crítica para uma prática futura ainda melhor (FREIRE, 1996).
Bom salientar que não é novidade alguma esse tema e tantos outros que envolvem as ciências
da educação e o ensino de geografia entre os volumes anteriores deste periódico. Todavia, a
importância do dossiê intitulado “Formação Inicial e Contínua de Professores: oportunidades e
desafios do cotidiano profissional” está na decisão política de seus editores em oferecer um número
exclusivo dedicado às questões da nossa formação, principalmente quando diretrizes e reformas estão
sendo implementadas mesmo que sob sucessivos questionamentos por parte de quem forma e por
quem é formado.
As produções textuais ora publicadas estão de alguma maneira correlacionadas aos embates
sobre o significado da educação em diferentes níveis de ensino e modalidade. Digamos que para o
bem da democratização brasileira, a disputa pelo direcionamento e valores da formação devem tomar
não é em si o problema. Porém, as reflexões engendradas por pesquisas ou por análises críticas aqui
reunidas demonstram as persistentes limitações de longa data assim como novos constrangimentos
ao pleno exercício da profissão dos professores, nesses casos, não os que lecionam geografia. Isso
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Professor Associado da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).
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Professora Adjunta do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
porque as políticas educacionais recentes parecem ainda não respondê-las ou até mesmo agravá-las.
Um dos exemplos é a configuração e a implementação dos itinerários formativos para o Novo Ensino
Médio (NEM). Nesse sentido, não é exagero supor que as expressões “qualidade do ensino” e
“inovação educacional” empregados por prestidigitadores venais, pelos negacionistas do
conhecimento acadêmico/científico e por aqueles pouco afeitos aos ideais de igualdade e liberdade
em seu intuito de projetar um significado à formação escolar e, claro, profissional podem ser
enganadores, se tivermos em vista a plena democratização do ensino.
Outros enfoques da profissionalização docente também são apresentados diante do escopo do
dossiê. Na seara da mediação do conhecimento, textos narram a construção de experiências
pedagógicas baseadas em conceitos disciplinares e sob a referência de outros saberes como o
filosófico e o sociológico. As limitações e as potencialidades de recursos pedagógicos bem como a
arte por meio da sensibilidade musical também se fazem presentes diante de determinados contextos
socioeducacionais.
Por fim, cientes da variedade de concepções teóricas, dos desafios cotidianos da
profissionalização docente, bem como de experiências possíveis na formação inicial e contínua de
professores, o presente dossiê divulga profícuas produções que versam tanto sobre questionamentos
da política educacional e do currículo da geografia como também as operacionalidades inventivas dos
percursos individuais e coletivos. Não se pode deixar de cumprimentar a coragem dos seus editores.
E não por menos um agradecimento aos autores desses textos pela generosidade em compartilhar os
saberes produzidos, com destaque as questões do nosso tempo. Este é um volume imperioso.
Boa leitura (e bom estudo).
Referência bibliográfica:
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e
Terra, 1996.