Aspectos sociológicos da profissionalização do futebol em Belo Horizonte nas décadas de 1920 e 1930
Resumo
O futebol profissional se constituiu em categoria regulamentada nos principais centros
urbanos brasileiros em 1933, ano que alguns clubes se organizaram para fundar novas entidades
privadas de gestão da referida modalidade esportiva. Seguindo as orientações da FIFA, as recémcriadas
Associações, Ligas e Federações definiam em seus Estatutos dois níveis de competições e de
clubes, a saber: a 1ª Divisão, ou Divisão Profissional; e a 2ª Divisão, ou Divisão Amadora. O marco
oficial da regulamentação do futebol profissional acima exposto não pode, contudo, ser
compreendido como momento que a profissão de jogador se originou. Entendemos a categoria
sociológica “profissão” como uma função social especializada que é ofertada frente uma demanda
existente. Nesse sentido, a gênese da profissão de jogador de futebol se insere no conjunto de
transformações do significado social da prática e do consumo dessa modalidade esportiva,
caracterizando-a como uma indústria do espetáculo esportivo e como via de ascensão social para
praticantes das camadas menos favorecidas da sociedade. A investigação da conformação do jogador
de futebol profissional em Belo Horizonte tem sido objeto de pesquisa empírica do Mestrado em
Ciências Sociais, cujos resultados preliminares trazemos para o presente Seminário. A partir da
análise documental de periódicos e de memórias de atores sociais daquele contexto, concluímos que
durante a década de 1920 a Liga local e os principais clubes belo-horizontinos inseriram o futebol
nas engrenagens do sistema capitalista através da oferta de disputas futebolísticas. Frente à crescente
demanda social caracterizada pela conformação da identidade clubística, os dirigentes esportivos
alcançavam prestígio social e conquistas políticas. Para aprimorar o jogo de futebol, passou-se a se
exigir cada vez mais dos jogadores, produtores do espetáculo esportivo em questão. Por isso, antes
mesmo da regulamentação profissional, constatamos a existência de jogadores especializados,
mesmo que de forma incipiente, no campo futebolístico, sendo pagos extraoficialmente para
praticarem o futebol, já que a Liga reconhecia apenas o amadorismo esportivo. A criação da Divisão
Profissional em 1933 rompeu com a indefinição do status do jogador daquele contexto, que era
inscrito como amador e atuava como profissional, garantindo-lhe direitos básicos. Entretanto, as
fontes apresentam o fato como uma iniciativa dos dirigentes esportivos e não como conquista dos
“trabalhadores da bola”.
Palavras-chave: Profissão; Amador; Jogador de Futebol.