Medicalização do corpo da mulher e criminalização do aborto no Brasil

Autores

  • Daniele de Andrade Ferrazza Universidade Estadual de Maringá
  • Wiliam Siqueira Peres Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Palavras-chave:

medicalização, controle biopolítico, aborto

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a medicalização do corpo e a criminalização do aborto no âmbito do gerenciamento de população de caráter biopolítico. A criminalização do aborto no Brasil permitirá que mulheres pobres se submetam as precárias formas de descontinuação da gravidez e sejam brutalmente vítimas dessa opção. A “vida matável” dessas mulheres não está somente desprovida de direitos, mas da própria qualidade do humano. A descriminalização deve romper com discursos médicos morais para promover o atendimento público para mulheres que queiram optar pela prática do aborto, sem discriminação de raça, credo, etnia e classe social.

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Biografia do Autor

Daniele de Andrade Ferrazza, Universidade Estadual de Maringá

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/ Assis) na área de Psicologia e Sociedade (linha de pesquisa: Subjetividade e Saúde Coletiva). Possui mestrado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/ Assis) (2009) e graduação em Psicologia pela mesma Universidade (2005). Foi professora substituta da disciplina Políticas Públicas e Movimentos Sociais, Atenção Psicossocial na Saúde Coletiva e Formação cultural e social brasileira na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/ Assis) (2013 e 2010). Atualmente é docente das Faculdades Integradas de Ourinhos-FIO e da Universidade Paulista-UNIP. Membro do Grupo de Pesquisa: "Figuras e Modos de Subjetivação no Contemporâneo" cadastrado no CNPq. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Medicalização do Social no Contemporâneo da UNESP de Assis e Membro do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. Experiência na área de Psicologia Social, Psicologia da Saúde e Saúde Mental e Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas: Políticas Públicas, Medicalização, Ética e Saúde Mental, Psicologia e Instituições, Processos de subjetivação e exclusão social.

Wiliam Siqueira Peres, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1985), mestrado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2000), doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2005) e Pós Doutorado em Psicologia e Estudos de Gênero pela Universidade de Buenos Aires. Atualmente é professor de graduaçao e pós-graduaçao (mestrado e doutorado) em Psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis/SP. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Esquizoanálise e processos de Subjetivação, atuando principalmente nos seguintes temas: Direitos Sexuais Humanos, cidadania, sexualidades e gêneros em uma perspectiva política queer.

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Publicado

2016-04-16

Como Citar

FERRAZZA, D. DE A.; PERES, W. S. Medicalização do corpo da mulher e criminalização do aborto no Brasil. Fractal: Revista de Psicologia, v. 28, n. 1, p. 17-25, 16 abr. 2016.

Edição

Seção

Artigos