O quilombo e suas “transgressões” étnico-religiosas: Um estudo de Geografia Social na perspectiva goffmaniana / The quilombo and its ethnic-religious "transgressions": a socio-geographic case study in a goffmanian perspective

Autores

  • Tanize Tomasi Alves Universidade Federal do Paraná
  • Wolf-Dietrich Sahr Universidade Federal do Paraná
  • Cicilian Luiza Löwen Sahr Universidade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.22409/geograficidade2016.61.a12954

Palavras-chave:

Quilombolas, Políticas Públicas, Religiões Afro-brasileiras, Goffman, Ponta Grossa (PR).

Resumo

A concepção científica e a política de Estado para “quilombos” nos despertaram a necessidade de refletir a experiência social cotidiana desses sujeitos diante das novas intervenções que neles se apresentam. Para este fim, se pesquisaram as expressões religiosas da comunidade quilombola de Santa Cruz, localizada na área rural meridional de Ponta Grossa-PR. Essa comunidade pode ser caracterizada como “impura” pela pluralidade étnica e religiosa nela vivenciada. Para compreender sua construção social focou-se num evento “Trabalho de Exu” que reúne indivíduos de dentro e fora da comunidade num ambiente periurbano de religião afro-brasileira. O evento revela a condensação social através de dramatizações integradoras, um fenômeno que se explica com base nos conceitos Goffmanianos como: quadros da experiência social e interações entre indivíduos. Diante disso, a situação atual da vivência quilombola mostra-se desproporcionalizada com a identificação da comunidade simplesmente pela sua “história afrodescendente” ou pela “resistência” ao exterior, as quais poderiam servir como fundamentos para seu reconhecimento legal. Pode-se afirmar que a experiência vivida e as interações atuais, em muitos casos, fogem do enquadramento de elementos socioculturais apontados nas políticas públicas brasileiras de integração social e racial.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Tanize Tomasi Alves, Universidade Federal do Paraná

Graduada em Geografia Bacharelado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR (2010). Mestre em Gestão do Território pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR (2013). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná/PR. Bolsista Capes/DS. Conhecimento na área de Geografia Humana e estudos relativos à populações tradicionais e políticas públicas destinadas a essas. No ano de 2010 participou da realização do Relatório Antropológico da Comunidade Quilombola de São João com vistas à regularização fundiária. Desenvolve pesquisas em comunidades quilombolas do Vale do Ribeira e Campos Gerais Paranaenses, com o intuito de apreender as suas regionalizações.

Wolf-Dietrich Sahr, Universidade Federal do Paraná

Graduação em Geographie (Diplom) - Universitat Tuebingen (1986), Doutorado em Geografia - Universitat Tuebingen (1995). Atualmente professor efetivo no Depto de Geografia da Universidade Federal do Paraná. Em 2003, Prof. visitante no Centro de Estudos Interculturais da Universidade de Mainz (Alemanha). Em 2012, ocupou a Cátedra Leibniz da Universidade de Leipzig (Alemanha). Também é docente convidado do Departamento de Pesquisas Regionais na Universidade de Karslruhe (Alemanha). Áreas de atuação: Geografia social e cultural, Geografia regional, com pesquisas no Paraná (Brasil), México e Canadá, Temas de projetos atuais: Geografia e estética, Globalização e geografia regional, Saiu do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR em 2012 alegando falta de transparência,de isonomia e debate acadêmico no Programa.

Cicilian Luiza Löwen Sahr, Universidade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Federal do Paraná

Possui graduação em Licenciatura em Geografia (1984) e Bacharelado em Geografia (1987) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, mestrado em Geografia (Rio Claro) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1991), doutorado em Geografia Humana - Universität Tübingen (Eberhard-Karls) (1998). Atuou como professora visitante na Universidade de Heidelberg (Ruprech-Karls) (2004), onde realizou também seu primeiro pós-doc. Atualmente é professora associada da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde desde 2006 se vincula ao Mestrado em Gestão do Território e desde 2013 no Doutorado em Geografia. É colaboradora no Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná, onde desde 1999 atua no programa de Mestrado e desde 2006 no programa de Doutorado. Realizou seu segundo pos-doc em 2012/2013 vinculado a duas universidades, a Universidade de Leipzig (Alemanha) e a Universidade de Winnipeg (Canadá). Em 2013/2014, em dois semestres sabáticos, realizou seu terceiro pos-doc vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e à Universidad Autonóma Ciudad Juarez (México). Coordenou o PPGG da UEPG por duas gestões consecutivas 2006/2007 e 2008/2009. Integrou a diretoria da ANPEGE na gestão 2008/2009.Tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional, Planejamento Turístico e em estudos sobre Populações Tradicionais (faxinalenses, quilombolas, etc) e comunidades étnicas (poloneses, alemães, russo-alemães, menonitas, etc). Tem como área de investigação, sobretudo, o Estado do Paraná. Realiza estudos comparativos com Alemanha, Espanha, México e Canadá. È bolsista de produtividade do CNPq.

Referências

ARRUTI, J. M. Mocambo. Antropologia e História do processo de formação quilombola. Bauru, SP: Edusc, 2006. 368 p.

______. M. Quilombos. In: PINHO, O.; SANSONE, L. (Org.) Raça: Novas perspectivas antropológicas. 2ª. ed. Salvador: Associação Brasileira de Antropologia/EDUFBA, 2008, p. 315-350.

BASTIDE, R. As reliões africanas no Brasil. Contribuição a uma Sociologia das interpretações de civilizações. São Paulo: Pioneira, 1989.

BENEDICTY-KOKKEN, A. Spirit Possession in French, Haitian, and Vodou Thought: An Intellectual History. Lanham: Lexington Books, 2015. 436 p.

BLUMER, H. Symbolic Interactionism. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1969. 208p.

BRASIL. Decreto Nº. 4.887 de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

CARNEIRO, J. L. Religiões afro-brasileiras: Uma construção teológica. Petrópolis: Vozes, 2014. 151p.

CAROSO, C.; BACELAR, J. (Org.) Faces da Tradição Afro-Brasileira: religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, práticas terapêuticas, etnobotânica e comida. Rio de Janeiro: Pallas, 1999.

CARRIL, L. Quilombo, Favela e Periferia: A longa busca da cidadania. São Paulo: Anna Blume; FAPESP, 2006. 258p.

DANIEL, Y. Dancing Wisdom: Embodied Knowledge in Haitian Vodou, Cuban Yoruba, and Bahian Candomblé. Chicago: University of Illinois, 2005. 327p.

DI MEO, G. La géographie em fêtes. Paris: Ophrys, 2001. 270p.

FERRETTI, S. F. Repensando o sincretismo. São Paulo: Edusp, 1995. 234p.

FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Portaria Nº. 98, de 26 de novembro de 2007.

GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Fontes, 2003. 458p.

GIL Filho, S. F. Espaço sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: Ibpex, 2008. 163p.

GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 2009. 232p.

______. Ritual de interação. Ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2010. 255p.

______. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012. 716p.

HARTUNG, M, F. Muito além do céu: Escravidão e estratégias de liberdade no Paraná do século XIX. Revista TOPOI, Rio de Janeiro, v. 6, n. 10, p. 143-191, jan.-jun. 2005.

HERSKOVITS, M. Life in a Haitian Village. New York: Octogan Books, 1975. 350p.

HURSTON, Z. N. Tell my Horse. Voodoo and Life in Haiti and Jamaica. New York: Harper, 1990. 288p.

IALORIXÁ. Entrevista guiada no Terreiro de Candomblé e Umbanda da Associação Afro-Brasileira Cacique Pena Branca. Ponta Grossa, 2012.

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Instrução Normativa No 57 de 20 de outubro de 2009. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que tratam o Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 e o Decreto nº. 4.887, de 20.11.2003.

JACOBSON, M. H.; KRISTIANSEN S. The social thought of Erving Goffman. Los Angeles: Sage, 2014. 248p.

LIMA, V. da C. A família de santo nos candomblés jejes-nagôs da Bahia: um estudo de relações intragrupais. Salvador: Corrupio, 2003. 216p.

LÖWEN SAHR, C. L. et al. Geograficidades quilombolas: Estudo etnográfico da Comunidade de São João, Adrianópolis – Paraná. Ponta Grossa: UEPG, 2011. 208p.

MEAD, G. H. Mind, Self and Society from the standpoint of a social behaviorist. Chicago: Chicago Press, 1965.

METRAUX, A.; LABADIE J. H. Dramatic Elements in Ritual Possession. Diogenes, v. 3, n. 11, p. 18-36, 1955.

______. Voodoo in Haiti. New York: Oxford University Press, 1959. 400p.

MINTZ, S.; PRICE, R. O nascimento da cultura afro-americana. Rio de Janeiro: Pallas, Universidade Cândido Mendes, 2003. 127p.

MONTES, M. L. As figuras do sagrado entre o público e o privado. In: SCHWARZC, L. M. (Org.) História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 63-172.

ORTIZ, R. A morte branca do feiticeiro negro. Petrópolis: Vozes, 1991. 205p.

PEREIRA, C. J. Geografia da Religião e a teoria do espaço Sagrado. A construção de uma categoria de análise e o desvelar de espacialidades do protestantismo batista. Curitiba: Ed. CRV, 2014. 311p.

PINHEIRO, Z. C. da S. O Imaginário nas espacialidades: quilombolas do Vale do Guaporé/Rondônia. 2014. 301f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014.

POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade. Seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: EDUNESP, 1998. 259p.

PRANDI, R. Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo: HUCITEC, 1991. 261p.

______. As religiões negras do Brasil: para uma sociologia dos cultos afro-brasileiros. Revista USP, São Paulo, v. 28, p. 64-83, 1996a.

______. Herdeiras do Axé: Sociologia das religiões afro-brasileiras. São Paulo: Hucitec, 1996b. 200p.

______. O Brasil com Axé: candomblé e umbanda no mercado religioso. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 52, s/p., set./dez. 2004. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142004000300015> Acesso em: 01 dez. 2014.

RIVAS NETO, F. Umbanda, o elo perdido. São Paulo: Ícone, 1999. 736p.

______. Escolas das religiões afro-brasileiras: tradição oral e diversidade. São Paulo: Arché, 2012. 168p.

RODERJAN, R. V. Os curitibanos e a formação de comunidades campeiras no Brasil Meridional (séculos XVI-XIX). Curitiba: IHGEP, 1992. 326p.

ROSENDAHL, Z. Hierópolis: o sagrado e o urbano. Rio de Janeiro: EdUERJ. 1999. 110p.

______. Primeiro a obrigação, depois a devoção. Estratégias espaciais da Igreja Católica no Brasil de 1500 a 2005. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012. 194p.

SABCPB. Site Sociedade Afro-Brasileira Cacique Pena Branca. Disponível em: <http://www.sabcpb.org.br/>. Acesso em: 15 jul. 2012.

SAHR, W.-D. Trois mondes entre l’ici-bas e l’au-delá. Réflexions postmodernes sur la géographie de la religion. Géographie et cultures, Paris, n. 47, p. 45-66, 2003.

SAHR, W.-D.; GODOY, M. Contato com o Espaço do Além: Proposta para uma Geografia do Espiritismo. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, n. 9, jun. 2009, p. 1-20. Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv2_2009/t_sahr.htm>. Acesso em: 09 jan. 2015.

SESMARIAS, velhas fazendas e quilombolas. Campos de Castro. Sem local, sem data.

SILVA, C. de H. Quilombolas paranaenses contemporâneos: uma identidade territorial agenciada? Uma análise a partir do exemplo de Adrianópolis no Vale Ribeira paranaense. 2013. 268f, Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013.

TOMASI, T. A. Espacialidades, interações e redes sociais: uma análise a partir da Comunidade Quilombola de Santa Cruz - Ponta Grossa/PR. 2013. 205f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2013.

TOMASI, T. A.; LÖWEN SAHR, C. L. Espacialidades e interações sociais: a agência de redes na “Festa do Padroeiro Bom Jesus” da comunidade quilombola de Santa Cruz (Ponta Grossa/PR). GEOgraphia, Niterói, v. 14, n. 28, 2012, p. 110-137. Disponível em: http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/555. Acesso em: 6 fev. 2015.

VERGER. P. F. Dieux d’Afrique. Paris: Paul Hartmann, 1954. 400p.

WACH, J. Sociologia da Religião. São Paulo: Paulinas, 1990. 495p.

Downloads

Publicado

2015-08-18

Como Citar

Tomasi Alves, T., Sahr, W.-D., & Löwen Sahr, C. L. (2015). O quilombo e suas “transgressões” étnico-religiosas: Um estudo de Geografia Social na perspectiva goffmaniana / The quilombo and its ethnic-religious "transgressions": a socio-geographic case study in a goffmanian perspective. Geograficidade, 6(1), 59-78. https://doi.org/10.22409/geograficidade2016.61.a12954

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)