Mídia e Cotidiano

Random City: o “infraordinário” que desponta nas paisagens urbanas de Letícia Lampert

Osmar Gonçalves dos Reis Filho — 2024-05-29

O presente artigo se debruça sobre a obra Random City (2017), da fotógrafa e artista visual brasileira Letícia Lampert, criada a partir de fotografias de diversas partes do mundo. Por meio do recorte e da montagem das imagens de cidades como Paris, Fortaleza, São Paulo, Nova York e Sanghai, são criadas paisagens urbanas inéditas. No processo criativo, a fotógrafa seleciona recortes do cotidiano, que muitas vezes passam despercebidos, e juntam para formar uma cidade que contém parte de diversas outras. Buscamos evidenciar a presença do “infraordinário” (PEREC, 1989) que desponta nessa obra, a partir de uma caminhada entre as imagens de Lampert, trazendo também referências de outros artistas, como a fotógrafa Claudia Jaguaribe. Percebemos, então, um paralelo entre a perspectiva do "infraordinário" de Perec (1989), o "punctum" de Barthes (2018) e o "sublime" de Lopes (2007). Como caminho metodológico, construímos pranchas inspiradas no Atlas Mnemosyne, de Aby Warburg, que permitia que lampejos de outras percepções despontassem a partir da união das imagens.

O ato teórico no filme Entre nós talvez estejam multidões: conceito, proposição, programa, série

Bruno Leites — 2024-05-29

Este texto propõe uma análise do filme Entre nós talvez estejam multidões (2020), pela via da Teoria de Cineastas. Após apresentar premissas da abordagem, o artigo considera quatro estratégias de produção de pensamento no filme, quais sejam: a) a introdução do conceito de multidão no título e seu diálogo com as imagens; b) a enunciação de uma proposição no título; c) a existência de um programa que estrutura o filme (os Blocos Autônomos Estruturantes); d) a produção de uma série com o filme Videomemória (2020). Cada estratégia de produção de pensamento observada é definida em uma triangulação que envolve ditos dos cineastas, imagens e sons do filme, e conceitos advindos da teoria do cinema e da arte.

Crianças em contexto de migração familiar: uma análise a partir do filme Bem-vindo a Marly-Gomont

Giovani Giroto — 2024-05-29

O filme Bem-vindo a Marly-Gomont, do diretor Julien Rambaldi, aborda temáticas como o racismo, a adaptação à escola e as situações presentes no contexto migratório. O objetivo geral deste estudo foi examinar a invisibilização das crianças nos processos de migração familiar. Os objetivos específicos foram analisar as teorias clássicas migratórias em contraste com as teorias da sociologia da infância; discutir a representação das crianças migrantes e analisar as relações inter e intrageracionais presentes no filme. Os dados foram analisados a partir de duas categorias que expressam o tratamento dedicado às crianças na situação de migração, sendo elas as relações intergeracionais e as relações intrageracionais. Os resultados expressam os silenciamentos impostos às infâncias nas questões migratórias.

Mulheres trabalhadoras negras e mídia: questões de reconhecimento sob a ótica de Nancy Fraser

Gabriela Schmalfuss Borges — 2024-05-29

O texto apresenta elementos teóricos para uma possível articulação entre classe, raça, gênero e mídia em estudos empíricos de recepção e consumo de mídia: a teoria crítica de Nancy Fraser e sua discussão sobre o capitalismo como ordem social institucionalizada. Exemplificamos a proposta com o estudo empírico da experiência de mulheres quilombolas de comunidades situadas no Rio Grande do Sul de forma a entendermos as relações entre o engajamento delas no movimento Negro, as contradições de classe, de raça e de gênero e os usos da mídia.

Os significados da cor preta postos em circulação pela publicidade no jornal Folha de S.Paulo (2020)

Graziella Andreia Malagó — 2024-05-29

Este artigo apresenta resultados de pesquisa sobre o processo de construção de significados para a cor preta. Com o objetivo de explicitar os significados engendrados para a cor preta, pela publicidade, no jornal Folha de S.Paulo, são apresentadas reflexões sobre o processo de construção social da cor preta; são descritos aspectos da coleta e seleção de dados desse jornal, de 2020; em seguida, peças publicitárias dessa amostra são analisadas por meio da aplicação de estratégias da semiótica peirceana. O artigo é relevante por fornecer subsídios para produtores, em geral, envolvidos com a linguagem visual.

Ocupar as narrativas com palavras de ordem: textualidades das notas de deflagração das ocupações universitárias de 2016 no Ceará

Daniel Macêdo — 2024-05-29

Com a onda de ocupações universitárias ocorridas em 2016, ao serem deflagradas em instituições cearenses, foram lançadas notas públicas realizadas por estudantes ocupantes. Nestes textos, tomados como narrativas sobre si orientadas à comunicação pública, são articuladas perspectivas sobre as pautas defendidas e sobre as ações executadas. Considerando as textualidades que fundamentam cada nota de estopim de ocupações em 26 unidades acadêmicas de 5 instituições no Ceará, realizamos um exercício teórico-metodológico com redes textuais a fim de evidenciarmos as proposições narrativas; e, com elas, discutirmos tanto os usos desta forma textual para relações públicas, quanto os deslocamentos construídos a partir do contexto e da incidência política para tomada de posição sobre o acontecimento.

Expediente

Revista Mídia e Cotidiano — 2024-05-29

Em Cuba, as mídias independentes têm ajudado a empoderar os cidadãos

Alexei Padilla Herrera — 2024-05-29

Esta entrevista, concedida pelo jornalista Ismario Rodríguez Pérez, aborda a consolidação da mídia cubana independente no ambiente virtual. A partir de sua experiência como diretor audiovisual da mídia independente Periodismo de Barrio, Rodríguez Pérez refere-se ao conflito gerado pela existência de veículos de comunicação que operam na margem das políticas e normas legais que orientam o funcionamento do sistema de mídia em um regime de partido único. O comunicador destaca as contribuições da mídia independente para o exercício do direito à comunicação, a prática da cidadania comunicativa e a democratização da comunicação em Cuba durante a última década (2014-2023).

Diálogos interdisciplinares vindos do Sul Global: a IA na berlinda

Denise Tavares — 2024-05-29

Inteligência Artificial, Soluções Artificiais - Colocando a emergência climática no centro dos desenvolvimentos de IA

Benedetta Brevini — 2024-05-29

Apesar da crescente atenção aos custos ambientais dos sistemas de tecnologia da informação e comunicação, a Inteligência Artificial é principalmente anunciada como a tecnologia-chave para resolver os desafios contemporâneos, incluindo a crise ambiental, que é um dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Mas quão ecológica é a Inteligência Artificial? Este texto considera a materialidade da IA e tenta ir além dos exageros convencionais ao explorar as maneiras multifacetadas pelas quais a IA está impactando a emergência climática e, assim, impactando o desenvolvimento ambiental sustentável. Ao final, o texto apresenta um conjunto de soluções para limitar os desafios diretos que a IA representa para os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.

Utilização de inteligência artificial generativa no jornalismo - possibilidades e desafios

Marcio Carneiro dos Santos — 2024-05-29

Explora-se a trajetória de apropriações das diversas tecnologias ao longo da história do jornalismo como traço intrínseco desta atividade. A partir dos conceitos de narrativas automatizadas e mais recentemente de inteligência artificial generativa (IAG) traça-se um quadro introdutório de possibilidades de uso nas redações, abordando desde experimentos iniciais com automação simples até aplicações sofisticadas de IA para personalização de conteúdo e análise preditiva. A necessidade de adaptação a essas ferramentas apresenta-se importante, dada a sua influência crescente nos ganhos de produtividade em processos e na reconfiguração de estratégias editoriais. Ressalta-se a necessidade de supervisão humana devido aos riscos de erros e imprecisões incompatíveis com o próprio jornalismo.

Inteligência Artificial e Transparência no Jornalismo

João Canavilhas — 2024-05-29

A crise que afeta o jornalismo desde o início do século levou ao despedimento de milhares de jornalistas em todo o mundo. Para solucionar a falta de recursos humanos, muitos jornais recorreram à inteligência artificial (IA), mas a introdução de sistemas não humanos e pouco escrutináveis levantou novas questões relacionadas com a transparência do processo jornalístico, afetando a já frágil credibilidade dos media. Não havendo legislação relacionada com o uso da IA no jornalismo, os meios de comunicação têm publicado recomendações que orientem os seus profissionais. Neste trabalho analisamos dois documentos pioneiros, um do Estadão (Brasil) e outro da BBC (Reino Unido), que mostram a forma como estes media procuram ganhar a confiança dos consumidores, explicando de que forma usam a IA nas redações.

Regulação da mídia e literacias digitais no combate a fake news: plataformização, inteligência artificial e algoritmos

Regina Rossetti — 2024-05-29

Este artigo propõe uma discussão sobre desinformação, envolvendo engrenagem e métodos que colaboram para a propagação de fake news no ambiente online e de outros fenômenos que surgem na esteira do modelo de negócios das Big Techs. Considera-se que, com o avanço da Inteligência Artificial, tais formatos passam a exercer um domínio cada vez maior sobre as experiências, as narrativas e o conhecimento humano, controle que pode ser considerado uma ameaça à liberdade de expressão e ao direito à informação. Diante desse desafio, do ponto de vista regulatório, avalia-se a revisão de normas que atribuam mais limites às plataformas digitais e do educacional, destaca-se a necessidade de ampliação do letramento digital, midiático e informacional. A metodologia envolve revisão bibliográfica e documental.

Rumo a uma teoria popular de algoritmos

Ignacio Siles — 2024-05-29

Este artigo estabelece diálogos entre as teorias dos estudos populares e os estudos críticos de algoritmos e dataficação. O objetivo é contribuir para reverter a tendência analítica de assumir que os algoritmos possuem efeitos universais e que as conclusões sobre o “poder algorítmico” no Norte Global se aplicam, sem problemas, em todos os outros lugares. Começamos esclarecendo como os estudiosos latino-americanos e outras tradições de pesquisa teorizaram o popular. Em seguida, desenvolvemos quatro dimensões de o popular para implementar tais ideias no caso de algoritmos: práticas culturais lúdicas, imaginação, resistência e in-betweenness (intermediação). Argumentamos que este diálogo pode gerar diferentes maneiras de pensar os problemas inerentes à mediação algorítmica, chamando a atenção para os remixes de práticas culturais, soluções imaginativas para problemas cotidianos, formas de resistência “ciborgues” e formas ambíguas de agência que são atualmente centrais para as operações algorítmicas.

Pesquisa-Ação Participativa em Estudos Críticos de Dados: Analisando IA a partir de uma Abordagem Sul-Norte

Andrea Medrado — 2024-05-29

Inspirados na pesquisa-ação participativa (PAP) e no trabalho de pensadores latino-americanos como Freire e Fals Borda, propomos um fluxo Sul-Norte visando desafiar a forma como a centralidade do Norte é tida como certa em relação às epistemologias, experiências e entendimentos da IA. A partir de oficinas realizadas com um grupo diversificado de estudantes, profissionais da área de tecnologia e ativistas argumentamos que a PAP pode não apenas capacitar comunidades marginalizadas no Sul Global, é importante aprendermos mais sobre sua relevância e utilizações em contextos do Norte Global. Nossa análise se aprofunda em três conceitos específicos em torno da IA e da (in)justiça de dados: autonomia, empatia e diálogo, o que provocou, entre outras reflexões, lembrar que a natureza humana é sentipensante (Borda, 2003).

A base da pirâmide de dados: Big Data e o Sul Global

Payal Arora — 2024-05-29

Até o momento, pouca atenção tem sido dada ao impacto do big data no Sul Global, onde cerca de 60% dos residentes estão abaixo da linha da pobreza. O big data se manifesta de formas novas e sem precedentes nestes contextos negligenciados. Por exemplo, a Índia criou identidades nacionais biométricas para seus 1,2 bilhão de habitantes, vinculando-os a regimes de assistência social e iniciativas de empreendedorismo social, como o projeto Ushahidi, que aproveitou o crowdsourcing para fornecer mapas de crise em tempo real para ajuda humanitária. Embora esses projetos sejam de fato inspiradores, este artigo argumenta que, no contexto do Sul Global há um preconceito no enquadramento do big data como instrumento de fortalecimento. Este artigo propõe avaliar esses novos desenvolvimentos tecnológicos através da lente de democracias, identidades e geografias baseadas em dados para tornar evidentes suposições e perspectivas normativas neste contexto subexaminado.

Interfaces Tangíveis e a Inteligência Artificial: Explorando a Interação Humano-Máquina

Hermes Renato Hildebrand — 2024-05-29

Resumo

Esta investigação propõe observar as interfaces tangíveis (TUIs) por meio das plataformas de Inteligência Artificial (IA) que, hoje, desempenham um papel essencial na interação entre humanos e máquinas. São meios digitais de geração de informação, comunicação e interação que se desevolvem em conjunto com as IAs. Essas interfaces atuam como ponto de conexão entre os usuários e os meios de comunicação, enviando e recebendo dados e informações que possibilitam a visualização dos resultados gerados pelos algoritmos das IAs. Levando em consideração à estética da interação, serão analisadas as características das interfaces tangíveis que constituem as IAs e, ao contemplar questões como o design especulativo, responsivo e adaptativo e as interações ubíquas adaptam-se às preferências e necessidades dos usuários. Pretende-se destacar aspectos estéticos e éticos dessas interfaces que influenciam e modificam as IAs e as interfaces tangíveis. Portanto, aqui, procura-se compreender melhor a interseção entre a criatividade humana e a parceria que as máquinas produzem quando são associadas aos sistemas tangíveis.

Annoying music in everydaylife: estudos de conflitos sônico-musicais na vida cotidiana

Rafael Zincone — 2024-05-29

O livro Annoying Music in Everydaylife, de Felipe Trotta, foi editado em 2020 pela Bloomsbury Academic (Nova York) compondo a coleção Alternate Takes: Critical Responses to Popular Music. As reflexões resultantes de diversas entrevistas realizadas, em sua maior parte, no Rio de Janeiro e em Edimburgo (Escócia) apontam caminhos teóricos e metodológicos para pesquisas engajadas em semelhantes problemas e questões. Desse modo, tais percursos podem servir de pistas para futuras investigações envolvendo diferentes recortes e realidades sociais.