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CUSTOS ASSIMÉTRICOS (STICKY COSTS): UM ESTUDO APLICADO A
OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE DA MODALIDADE MEDICINA DE
GRUPO
1
STICKY COSTS: A STUDY APPLIED TO THE HEALTH PLAN OPERATORS IN THE MODALITY
OF GROUP MEDICINE
Ewerton Alex Avelar
2
https://orcid.org/0000-0003-2374-8954
Ludmila Teixeira Rodrigues
3
https://orcid.org/0000-0002-0705-4111
Mariana Moreira Silva
4
https://orcid.org/0000-0002-3876-4132
Wesley Cirino dos Santos
5
https://orcid.org/0000-0003-3041-9825
Resumo: O estudo objetivou analisar a forma como se comportam, em termos assimétricos, os custos
das operadoras de plano de saúde (OPS) na modalidade de Medicina de Grupo no Brasil. Para isso,
utilizou-se da técnica de regressão com dados em painel aplicada a 253 dessas OPS, de 2010 a 2016.
Os resultados apontaram que, quando as receitas quidas de vendas (RLV) aumentaram em 1%, os
custos totais aumentaram 0,78%, porém, quando a RLV reduziu em 1% esses mesmos custos
reduziram em 0,87%, demostrando um comportamento assimétrico dos custos das OPS. Ao
considerar os custos dos serviços prestados e as despesas totais, os resultados também indicaram
assimetria dos custos. Adicionalmente, a partir da análise das variações anuais ocorridas em ambos
os componentes do resultado (gastos e receitas), constatou-se a existência de um comportamento de
custos assimétricos, em que, as variações dos custos e despesas das OPS foram maiores que as
variações das respectivas RLV.
Palavras-chaves: custos assimétricos, operadoras de planos de saúde, medicina de grupo.
Abstract: This paper presents the results of a study aimed at analyzing the behavior of the health plan
operators’ (OSP) costs in the modality of group medicine in Brazil. We used the panel data regression
applied to 253 of these OPS, from 2010 to 2016. The results held that, when net sales (RLV) increased
by 1%, the total costs increased 0.78%, but when, RLV reduced by 1% these same costs reduced by
0.87%. Therefore, the costs of OPS have sticky cost behavior. When the costs of the services rendered
and the total expenses are considered, the results also indicated costs asymmetry. Additionally, based
on the analysis of annual variations occurred in both components of the result (expenses and revenue),
we verified the existence of asymmetric cost behavior, where the variations in the costs and expenses
of the OPS were higher than the variations of their respective RLV.
Keywords: sticky costs, operators of health plans, group medicine.
1
Artigo recebido em: 15 de setembro de 2019. Aceito em: 10 de dezembro de 2019.
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. Doutor em Administração pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Autor correspondente. E-mail: ewertonalexavelar@gmail.com
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. Mestranda em Contabilidade e
Controladoria pela Universidade Federal de Minas Gerais.
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. Graduanda em Ciências Contábeis pela
Universidade Federal de Minas Gerais.
5
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. Graduando em Ciências Contábeis pela
Universidade Federal de Minas Gerais.
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1. Introdução
Investigar o comportamento dos custos é importante para o controle dos processos,
para a maximização dos lucros, para a melhoria contínua e para o aumento do nível
competitivo das organizações (ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003). Estudos
publicados sobre o comportamento dos custos, até o início do século XXI, detêm como
pressuposições básicas a relação simétrica entre os custos e o volume das atividades
(FAZOLI; REIS; BORGERT; 2018). Por definição, os custos fixos são estáticos e não se
alteram com a alteração no volume dos necios, os custos variáveis acompanham o nível
das transações do negócio (RICHARTZ; BORGET; LUNKES, 2014). Por outro lado,
Anderson, Banker e Janakiraman (2003), em estudo seminal, exploraram empiricamente os
Sticky Costs (também conhecidos como custos gidos ou custos assimétricos), que são custos
que têm comportamento assimétrico, ou seja, custos cujo comportamento o se enquadra
necessariamente em fixos nem em variáveis. Esse femeno ocorre, segundo tais autores,
porque as empresas incorrem em custos de ajuste para remover recursos comprometidos e
também para repor estes custos caso a demanda seja reestabelecida.
Posteriormente, outros estudos foram elaborados sobre o tema a fim de se obter mais
confirmações do femeno, citando-se na literatura internacional Calleja, Steliaros e Thomas
(2006), Weiss (2010), Werbin (2011) e Werbin, Vinuesa e Porporato (2012). No Brasil, os
primeiros estudos sobre os custos assimétricos são recentes. O tema ganhou espaço sobretudo
após a pesquisa pioneira de Medeiros, Costa e Silva (2005), que objetivou verificar se a teoria
levantada por Anderson, Banker e Janakiraman (2003) seria aplicável às empresas
brasileiras. Com base numa amostra de 198 empresas de capital aberto e com dados referentes
a um período de 17 anos, os autores evidenciaram que o comportamento assimétrico dos
custos se aplicava às companhias brasileiras. Mais recentemente, outros estudos nacionais
foram produzidos com o objetivo de se obter mais informações acerca do comportamento
assimétrico dos custos nas empresas brasileiras, dentre os quais se destacam Richartz,
Borgert e Lunkes (2014), Marques et al. (2014) e Pamplona et al. (2016), contudo, limitados
às informações provenientes de companhias abertas.
Calleja, Steliaros e Thomas (2006), Richartz, Borgert, Lunkes (2014) e Fazoli, Reis
e Borget (2018) acrescentam que setores regulados tendem a ter inflncia signitificativa da
assimetria dos custos. Em adição, acentua-se que as entidades sujeitas a regulação dos preços
por agências reguladoras têm uma pressão para manter suas estruturas de custos enxutas
(KREMER, 2015). Nesse ponto de vista, no Brasil, destacam-se as operadoras de planos de
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saúde (OPS), que são estreitamente reguladas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) (VARELLA; CESCHIN, 2014). As OPS são essenciais para o sistema de saúde
brasileiro e atendem dezenas de milhões de pessoas (BRAGANÇA, 2017). Dentre as
diferentes modalidades de OPS reguladas pela ANS, destaca-se a modalidade de Medicina
de Grupo. Segundo a ANS (2000), são empresas ou entidades que operam planos privados
de assistência à saúde, excluindo-se aquelas classificadas nas modalidades de administradora,
cooperativa médica, autogestão ou filantropia. Conforme Avelar (2018), durante o período
de junho de 2010 a março de 2017, as OPS classificadas como Medicina de Grupo
apresentaram o segundo maior número de beneficiários e o maior número de operadoras.
Diante desse contexto, a pesquisa cujos resultados são apresentados neste artigo
visou responder ao seguinte problema de pesquisa: como se comportam, em termos
assimétricos, os custos das operadoras de planos de saúde da modalidade Medicina de
Grupo? Nesse sentido, a pesquisa desenvolvida tem como objetivo geral analisar a forma
como se comportam, em termos assimétricos, os custos das operadoras de planos de saúde
(OPS) da modalidade de Medicina de Grupo no Brasil. Assim, os objetivos específicos
foram: (a) identificar se o comportamento dos custos das operadoras de planos de saúde da
modalidade de Medicina de Grupo é assimétrico no Brasil; e (b) discutir os achados no
contexto dessas OPS.
O estudo desenvolvido se justifica sob várias perspectivas. que se considerar as
consequencias dos custos assimétricos, citando-se o fato de que quanto maiores são tais
custos, menor é a acurácia nas previsões dos ganhos de uma organização (WEISS, 2010). As
pesquisas em comportamento dos custos têm ganhado espaço na literatura nos últimos anos
(Krishnan, 2015), mas ainda um número escasso de pesquisas aplicadas ao tema,
especialmente em países com economias emergentes. Segundo Werbin (2011) e Yükçü e
Özkaya (2011), esses países merecem investigação porque diferem dos países desenvolvidos
em aspectos econômicos e institucionais, afetando, assim, o comportamento dos custos por
meio de diferentes dinâmicas.
Destaca-se, tamm, a incipiência de estudos que analisam isoladamente o
comportamento dos custos para OPS da modalidade Medicina de Grupo, principalmente por
que o ramo de atividade no qual a empresa está inserida tende a ter inflncia significativa
na assimetria dos custos (CALLEJA; STELIAROS; THOMAS, 2006; RICHARTZ;
BORGERT; LUNKES, 2014). Por fim, o foco no comportamento dos custos das OPS da
modalidade Medicina de Grupo com capital fechado do Brasil, até a presente data, não foi
objeto de estudo similar.
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2. Revisão da literatura
2.1 Custos Assimétricos (Sticky Costs)
Tradicionalmente, supõe-se que os custos variáveis têm um valor substancialmente
simétrico de resposta ao nível de produção, ou seja, se o nível de produção é incrementado,
o custo variável aumenta em igual intensidade e, por outro lado, se o vel de produção
diminui o custo variável também reduz proporcionalmente (WERBIN; VINUESA;
PORPORATO, 2012). Noreen e Soderstrom (1997) analisaram a previsão do custo sob a
abordagem tradicional e perceberam que alguns custos têm recebido respostas menores para
a baixa produção se comparados a um aumento de volume. Neste sentido, tais autores
afirmam que os custos variáveis têm uma resposta mais forte quando um aumento na
produção do que quando uma diminuição. Então, quando um aumento no volume de
produção, os custos variáveis aumentam em proporção direta e têm impacto quase imediato
na estrutura de custos. No entanto, quando há um corte na produção, os custos variáveis não
são avaliados imediatamente e pode haver remanescentes dos mesmos em outros períodos.
A pesquisa conduzida por Anderson, Banker e Janakiraman (2003) trouxe outras
características importantes para a definição de custos assimétricos, como sua relação direta
com a tomada de decisão dos gestores. Evincias desta pesquisa também demonstraram que
o comportamento dos custos está relacionado com a tomada de decisão deliberada dos
gerentes, que pesam as consequências de suas ações.
No que diz respeito às consequências do comportamento assimétrico, Malik (2012)
e Richartz (2016) afirmam que essa é uma categoria pouco explorada nas pesquisas ao
contrário das categorias que abordam as evidências e os fatores expicativos para a assimetria.
Dos estudos que abordam a situação anterior, pode-se destacar Weiss (2010), que constatou
em sua pesquisa o impacto na precisão das previsões de ganhos das empresas realizadas pelos
analistas, pois custos assimétricos maiores implicam em menor precisão da previsão de
ganhos. Outras consequências que podem ser citadas, além dos ganhos futuros, dizem
respeito à reação do mercado e ao gerenciamento de resultados, citando-se que empresas que
possuem comportamentos de custos assimétricos gerenciam menos seus resultados do que as
empresas com maior simetria nos seus custos (MALIK, 2012).
Apesar de ser um femeno previamente estudado, foi a partir da pesquisa de
Anderson, Banker e Janakiraman (2003) que os custos assimétricos desencadearam um
campo de interesse na comunidade acadêmica (WERBIN; VINUESA; PORPORATO,
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2012). Esse interesse possibilitou um processo de desenvolvimento acadêmico internacional
acerca da teoria dos custos assimétricos, com destaque para Balakrishnan, Petersen e
Soderstrom (2004), Calleja, Steliaros e Thomas (2006), Weiss (2010), Werbin (2011) e
Werbin, Vinuesa e Porporato (2012).
Apesar da importância do tema, os estudos sobre custos assimétricos no Brasil têm
enfocado bastante as empresas de capital aberto, tais como Richartz, Borgert e Lunkes
(2014), Marques et al. (2014) e Pamplona et al. (2016). Empresas de capital fechado não têm
sido o foco de tais estudos. Ademais, Kremer (2015) ressalta que o fenômeno dos custos
assimétricos pode ser ainda mais importante em setores regulados. Nesse contexto, destacam-
se as OPS da modalidade Medicina de Grupo.
2.2 Operadoras de planos de saúde da modalidade Medicina de Grupo
A partir do Artigo 199 da Constituição Federal de 1988, que estabelece que “A
assistência à saúde é livre à iniciativa privada” (BRASIL, 1988) e a despeito de uma crise no
sistema público na década de 1990, houve um forte estímulo à saúde suplementar como
alternativa para o atendimento à demanda crescente.
Ugá et al. (2008) apontam que o crescente desenvolvimento da saúde suplementar
no Brasil fez com que o governo regulamentasse o mercado para tentar garantir o equilíbrio
entre os concorrentes e as garantias aos consumidores. Assim, criou-se a Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) em 1999 (FERNANDES; FERREIRA; RODRIGUES, 2014).
Com a regulação, ims-se a essas organizações a otimização de sua atuação nos negócios
originais (saúde) em detrimento da lucratividade no mercado financeiro (VELOSO; MALIK,
2010).
Em adição, de acordo com a RDC 39 de 2000, a ANS definiu os segmentos das
OPS em diferentes modalidades distintas, conforme Quadro 1, uma vez que as mesmas
possuem diferenciações jurídicas, econômicas e atuam de forma singular no mercado de
saúde suplementar.
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Quadro 1 Modalidades de operadoras de planos de saúde
Modalidade
Definição
Administradora
São empresas que administram planos ou serviços de assistência à saúde, que não assumem
o risco da operação desses planos e o possuem rede própria, credenciada dentre outros.
Cooperativa
médica
São sociedades de pessoas sem fins lucrativos, constituídas conforme o disposto na Lei
5.764, de 16 de dezembro de 1971, que operam planos privados de assistência à saúde.
Cooperativa
odontológica
São sociedades de pessoas sem fins lucrativos, constituídas conforme o disposto na Lei
5.764, de 16 de dezembro de 1971, que operam exclusivamente planos odontológicos.
Autogestão
São entidades que operam serviços de assistência à saúde ou empresas que, por intermédio
de seu departamento de recursos humanos ou órgão 209 assemelhado, responsabilizam-se
pelo Plano Privado de Assistência à Saúde destinado, exclusivamente, a oferecer cobertura
aos empregados ativos, aposentados, pensionistas ou ex-empregados, bem como a seus
respectivos grupos familiares definidos, limitado ao terceiro grau de parentesco
consanguíneo ou afim, de uma ou mais empresas, ou ainda a participantes e dependentes de
associações de pessoas físicas ou jurídicas, fundações, sindicatos, entidades de classes
profissionais ou assemelhados.
Medicina de grupo
Empresas ou entidades privadas com fins lucrativos que operam e administram planos de
assistência à saúde para empresas ou indivíduos mediante cobrança de contraprestações
pecuniárias, excetuando-se aquelas classificadas nas modalidades de administradora,
cooperativa médica, autogestão e filantropia, cuja estrutura de atendimento apoia-se
fortemente em rede credenciada.
Odontologia de
grupo
Empresas ou entidades que operam exclusivamente planos odontológicos, excetuando-se
aquelas classificadas na modalidade de cooperativa odontológica.
Filantropia
Entidades sem fins lucrativos que operam planos privados de assistência à saúde e tenham
obtido o certificado de entidade beneficente de assistência social emitido pelo ministério
competente, dentro do prazo de validade, bem como da declaração de utilidade pública
federal junto ao Ministério da Justiça ou declaração de utilidade pública estadual ou
municipal junto aos órgãos dos governos estaduais e municipais respectivamente, na forma
da regulamentação normativa específica vigente.
Fonte: Adaptado de BRASIL (2000) e Avelar (2018).
No entanto, dentre as modalidades de OPS definidas, para este estudo, destacam-se
aquelas classificadas como Medicina de Grupo. Segundo Avelar (2018), tratam-se de
empresas ou entidades privadas com fins lucrativos que operam e administram planos de
assistência à saúde para empresas ou indivíduos mediante cobrança de contraprestões
pecuniárias, cuja estrutura de atendimento apoia-se fortemente em rede credenciada. Ainda
de acordo com esse autor, durante o período de junho de 2010 a março de 2017, as OPS
classificadas como Medicina de Grupo apresentaram o segundo maior número de
beneficiários e o maior número de operadoras.
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3. Metodologia
A pesquisa apresentada neste artigo pode ser classificada como quantitativa,
descritiva e documental. A população da pesquisa se refere às OPS da modalidade de
Medicina de Grupo e a amostra foi composta por 253 OPS desta modalidade, cujos dados
foram disponibilizados publicamente no endereço eletnico da ANS no período de 2010
ano de significativa convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade às Normas
Internacionais a 2016 ano mais recente ao qual se teve acesso durante o período da
pesquisa.
Para analisar a presea de custos assimétricos nas OPS da modalidade de Medicina
de Grupo foi utilizada a abordagem estatística de análise de regressão com tratamento e
análise dos dados pelo software Stata 14. Optou-se pela regressão com dados em painel,
conforme já utilizado por Anderson, Banker e Janakiraman (2003).
O modelo utilizado para análise da assimetria está representado na Equação 1, de
acordo com o proposto no estudo seminal de Anderson, Banker e Janakiraman (2003).
Salienta-se que, seguindo o proposto por Richartz (2016), considerou-se como ponto de corte
para os outliers as variações superiores a 50% da receita quida de vendas, uma vez que
variações dessa magnitude, no período de um ano, podem significar reestruturações
produtivas ou até mesmo fusões, cisões ou aquisições.





 




   




 
(1)
Em que:
Custo = Custo da empresa;
RLV = Receita quida de vendas da operadora; e
Red = Equivale a redução, uma variável dummy que recebe o valor 1 quando há redução nas
receitas entre os períodos e 0, caso contrário.
Em todos os modelos estimados, i equivale à operadora, t representa ano, α equivale
ao intercepto e μ, ao termo de erro. Destaca-se que foram estimados três modelos, no qual a
variável dependente “Custoé usada em sentido amplo, segundo Richartz (2016): (a) DGVA
despesas gerais, com vendas e administrativas; (b) CSP custo dos serviços prestados; e
(c) custo total ou CT soma entre DGVA e CSP.
A escolha do melhor modelo com dados em painel foi realizada a partir dos testes
que comparam os modelos Pooled, efeitos fixos e efeitos aleatórios. Foram realizados o Teste
F de Chow para comparação entre Pooled e Efeitos Fixos, o Teste de Breush-Pagan para a
comparação entre Pooled e Efeitos Aleatórios, e o Teste de Hausmann para a comparação
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v.5, n.2, p. 3-20, ago/dez 2019 10
entre Efeitos Aleatórios e Efeitos Fixos (VERO, 2013). Para verificar a adequabilidade
do modelo proposto, foram realizados os testes para validação apresentados no Quadro 2.
Quadro 2 Testes de adequabilidade do modelo.
Tipo de Teste
Teste Aplicado
Normalidade dos resíduos
Teste de Shapiro Francia
Heterocedasticidade
Teste de Wald Modificado
Autocorrelação serial
Teste de Wooldridge
Multicolineariedade entre as variáveis explicativas
Estatística de Fator de Inflação da Variância (VIF)
Teste de Raiz Unitária
Testes Dickey-Fuller Expandido e de Phillips-Perron
Fonte: Elaborado pelos autores.
4. Apresentação e análise dos resultados
4.1 Análise descritiva
A Tabela 1 apresenta a descrição estatística das variáveis dependentes dos modelos
estimados, quais sejam Receita Líquida de Vendas da Operadora RLV, Custo dos Serviços
Prestados CSP, Despesas Gerais, com Vendas e Administrativas DGVA e Custo Total
CT. Salienta-se que os dados foram padronizados em função da RLV para se obter
comparabilidade entre os diversos itens de custos.
Percebe-se que, em média, 123% da RLV é destinada para cobrir o CSP ao longo
dos 6 anos. No entanto, observa-se que o ano de 2011 apresentou média discrepante em
relação aos demais anos, sendo assim, analisando-se a mediana, que apresenta menor
variabilidade, percebe-se que 75% da RLV é destinada para cobrir o CSP ao longo dos 6
anos. Esse valor é a mediana de todas as OPS da modalidade Medicina de Grupo que
comem o estudo e, portanto, apresenta variação significativa entre as mesmas. O desvio
padrão médio foi de 8,4432 e o número diferente de OPS que fazem parte do estudo é de 253,
sendo 2016 o ano com maior número de OPS e 2012, o menor. Em média, tem-se 125 OPS
presentes por ano, pois nem todas apresentaram dados em todos os anos e, portanto, o
fizeram parte da amostra do ano em que não havia dados disponíveis.
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Tabela 1 - Relação CSP/RLV de 2011 a 2016 Estatística descritiva.
Ano
Média
Mediana
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
Nº de Operadoras
2011
7,9343
0,7573
31,5598
0,0002
216,3953
52
2012
0,7471
0,7577
0,1468
0,2903
1,0268
44
2013
0,7406
0,7528
0,1937
0,0199
2,1309
173
2014
0,7267
0,7540
0,1439
0,2894
0,9987
156
2015
0,7343
0,7573
0,1510
0,2885
1,2075
159
2016
0,7397
0,7542
0,1649
0,0232
1,3677
165
Geral
1,2360
0,7537
8,4432
0,0002
216,3953
125
Fonte: Elaborada pelos autores.
É consistente a tenncia de uniformização do percentual da RLV destinada a cobrir
o CSP, principalmente de 2012 a 2016, período em que essa situação se evidencia ainda mais,
pois a partir de 2012 os valores retomam tenncia de baixa variabilidade. Assim, na média
geral os valores mantiveram o padrão, seja pela estagnação da RLV e CSP ou pelo aumento
proporcional da RLV e do CSP.
Ademais, é importante analisar os outros itens de custo. As estatísticas descritivas
referentes às DGVA são apresentadas na Tabela 2. Percebe-se que a situação é semelhante à
apresentada para o CSP, para as quais não houve ganho de eficiência ao longo do período
observado.
De 2012 a 2016 não houve variações significativas nos dispêndios efetuados para
realizações administrativas. No primeiro ano observado, a média era de 520% do percentual
da RLV destinado para cobrir as DGVA e de 2012 até 2016 esse percentual foi em média de
40%, sendo a média do período total de 74%. Já a mediana foi de, aproximadamente, 24%.
Tabela 2 - Relação DGVA/RLV de 2011 a 2016 Estatística descritiva.
Ano
Média
Mediana
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
Nº de Operadoras
2011
5,1950
0,2384
27,3272
0,0005
196,8025
52
2012
0,3454
0,2384
0,5349
0,1073
3,6069
44
2013
0,4563
0,2363
0,9666
0,0024
8,9069
173
2014
0,4000
0,2354
0,7924
0,0440
6,9974
156
2015
0,3834
0,2355
0,8650
0,0420
9,1283
159
2016
0,4120
0,2367
0,9714
0,0325
10,3529
165
Geral
0,7418
0,2365
7,2887
0,0005
196,8025
125
Fonte: Elaborada pelos autores.
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Por fim, as estatísticas descritivas referentes ao CT são apresentadas na Tabela 3.
Ressalta-se que, quando se analisa em conjunto os principais itens de custo, torna-se possível
compreender a eficiência operacional das OPS durante o período de 2011 a 2016 e traçar
tendências para períodos seguintes. Ao analisar a relação do CT e o RLV, percebe-se que,
em média, 197% da RLV é destinada para cobrir o CT ao longo dos 6 anos. No entanto,
semelhante ao CSP e o DVGA, observa-se que o ano de 2011 apresentou média discrepante
em relação aos demais anos.
Dos itens de custo que comem esta pesquisa, o CSP, entre 2012 e 2016, é o que
mais compromete a RLV (0,74 em média), seguido das DGVA (0,40 da RLV em média).
Ainda, é possível observar que os CT (CSP + DGVA) são superiores a RLV, indicando que
a RLV não é suficiente para honrar com os CT.
Tabela 3 - Relação CT/RLV de 2011 a 2016 Estatística descritiva.
Ano
Média
Mediana
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
Nº de Operadoras
2011
13,1293
0,9864
58,1865
0,0013
413,1978
52
2012
1,0925
0,9867
0,4849
0,8030
4,1308
44
2013
1,1969
0,9846
0,9254
0,6024
8,9268
173
2014
1,1267
0,9839
0,7692
0,6174
7,7141
156
2015
1,1177
0,9849
0,8511
0,6876
9,9361
159
2016
1,1517
0,9846
0,9584
0,6869
11,0586
165
Geral
1,9778
0,9843
15,5184
0,0013
413,1978
125
Fonte: Elaborada pelos autores.
Portanto, as empresas que comem essa pesquisa não apresentaram melhora da
eficiência operacional ao longo dos anos, sendo 2011 um ano atípico na série observada
comprometendo a escala para visualização dos próximos anos.
4.2 Pressupostos do modelo econométrico
Para a análise geral da assimetria, utilizou-se o modelo proposto por Anderson,
Banker e Janakiraman (2003) apresentado nos procedimentos metodológicos na Equação 1.
Primeiramente efetuaram-se os testes para os pressupostos do modelo apresentados no
Quadro 1, a saber, testes de normalidade (teste de Shapiro Francia), de multicolineariedade
(Variance Inflation Factor VIF), de heteroscedasticidade (teste de Wald Modificado) e de
autocorrelação (teste de Wooldridge).
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v.5, n.2, p. 3-20, ago/dez 2019 13
Na sequência, foram desenvolvidos os testes (teste F de Chow, Breusch-Pagan e
Hausman) para identificar o melhor modelo de dados em painel aplicável aos dados da
presente pesquisa: efeito fixo; efeito aleatório ou pooled (POLS). Após o atendimento dos
pressupostos, calculou-se a assimetria dos custos considerando os CT, CSP e DGVA. Assim,
na Tabela 4 é possível observar os resultados dos testes de pressupostos para cada modelo.
Conforme observado na Tabela 4, o pressuposto clássico de heteroscedasticidade
foi violado, assim, para corrigi-lo ou tornar o modelo robusto a esse problema, foi utilizado
o modelo Feasible Generalized Least Squares (FGLS), no contexto de painel. Este método
é considerado factível, pois evita a suposição de que o processo do termo de erro é conhecido,
utilizando para tal uma estimativa. Quanto ao problema da distribuição dos resíduos, a
violação do pressuposto de normalidade o prejudica as distribuões dos testes das
estatísticas, já que assintoticamente a média da amostra se aproxima da média da população.
Tabela 4 - Resumo dos principais testes de pressupostos.
Teste aplicado
Hitese
P-valor
Conclusão
CT
CSP
DG
VA
CT
CSP
DGVA
Teste de Wooldridge
H
0
: Ausência de autocorrelação serial
0.73
0.11
0.11
Não se rejeita H
0
H
1
: Há problema de autocorrelação
Teste de Wald Modificado
H
0
: Ausência de heteroscedasticidade
0.000
0.00
0.00
Rejeita-se H
0
H
1
: Há problema de heteroscedasticidade
Teste de Shapiro Francia
H
0
: Distribuição normal
0.00
0.00
0.00
Rejeita-se H
0
H
1
: Não segue distribuição normal
Teste F de Chow
H
0
: Modelo pooled
0.02
0.24
0.01
EF
Pooled
EF
H
1
: Modelo com efeitos fixos
Teste Breusch-Pagan
H
0
: Modelo pooled
0.10
0.02
0.19
Pooled
EA
Pooled
H
1
: Modelo com efeitos aleatórios
Teste de Hausman
H
0
: Modelo com efeitos fixos
0.95
0.79
0.72
EF
EF
EF
H
1
: Modelo com efeitos aleatórios
Fonte: Elaborada pelos autores.
Além disso, realizou-se o teste VIF (Tabela 5), para a identificação de
multicolinearidade dos dados, ou seja, se as variáveis independentes possuem relações
lineares exatas ou aproximadamente exatas. O indício mais claro da existência da
multicolinearidade é quando o r² é alto, mas nenhum dos coeficientes da regressão é
estatisticamente significativo. Valores de VIF maiores do que 10 indicam que as variáveis
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independentes são altamente colineares. o 1/VIF deve ficar no intervalo entre 0 e 1 e,
quanto mais próximos de 1 forem os valores, menores são as chances de multicolinearidade.
Portanto, ao se analisar o teste de VIF pode-se afirmar que os dados atendem a esse
pressuposto de não colinearidade. Salient-se que a variável “redRLV” se refere à interação
entre a dummy de redução da receita (Red) e a variação da receita quida de vendas,
conforme Equação 1. Acredita-se que a apresentação da variável dessa forma nas tabelas
tornam mais claras as inferências obre a mesma.
Tabela 5: Teste de multicolinearidade.
Variável
VIF
1/VIF
RLV
3.29
0.303735
redRLV
3.29
0.303735
Média VIF
3.29
Fonte: Elaborada pelos autores.
Por fim, verificou-se a estacionaridade das séries aplicando o teste de raiz unitária
nas variáveis, apresentado na Tabela 6. Foram calculadas estatísticas qui-quadrado por dois
testes: Dickey-Fuller Expandido (ADF) e de Phillips-Perron (PP). Assim, tanto no caso do
teste ADF quanto PP, a hitese nula de raiz unitária foi rejeitada para todas as variáveis
independentes, demonstrando séries estacionárias.
Tabela 6 - Testes de Raiz Unitária das Variáveis
Variáveis
Dickey-Fuller Expandido
PhillipsPerron
Estatística
Qui-Quadrada
Valor-p
Estatística
Qui-Quadrada
Valor-p
RLV
283.14
0.0238
1256.28
0.0000
CSP
727.28
0.0000
2124.19
0.0000
DGVA
467.90
0.0000
1604.66
0.0000
CT
768.31
0.0000
1807.95
0.0000
Fonte: Elaborada pelos autores.
4.3 Análise da assimetria dos custos
Primeiramente realizaram-se os lculos da assimetria geral para os CT, na
sequência para o CSP e, por fim, para as DGVA. A análise da assimetria para os CT considera
a junção do CSP e das DGVA como variáveis dependentes e a RLV como independente. A
Tabela 6 apresenta os resultados do modelo de Anderson, Banker e Janakiraman (2003),
empregando o CT como variável dependente.
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v.5, n.2, p. 3-20, ago/dez 2019 15
Tabela 6 Assimetria para os Custos Totais.
CT
Coef.
Std. Err.
z
P>|z|
[95% Conf. Interval]
RLV
0,785
0,016
49,590
0,000
0,754
0,816
redRLV
0,091
0,016
5,750
0,000
0,060
0,121
_cons
0,014
0,000
89,490
0,000
0,014
0,015
Wald chi2(2) = 911947,43
Prob > chi2 = 0,0000
Fonte: Elaborada pelos autores.
Os resultados da presente pesquisa evidenciados na Tabela 6 apontam que, quando
a RLV aumenta 1% os custos totais aumentam 0,7853%, porém, quando a RLV reduz 1%
esses mesmos custos reduzem em 0,87% (0,78 + 0,09), ou seja, os CT das OPS da modalidade
medicina de grupo possuem comportamento sticky. Salienta-se que o procedimento de se
somar os coeficientes é necessário para a análise de acordo com Anderson, Banker e
Janakiraman (2003), pois, evidencia variações significantes do valor do custos quando
quedas no nível de atividade. Nesse caso, se o comportamento dos custos fosse simétrico,
o deveria existir diferenças estatisticamente significantes nos custos ao se considerar
quedas em relação a aumentos nos níveis de atividade. Tal situação é citada na literatura
como Custos Anti-Sticky, conforme mencionam Weiss (2010) e Banker et al. (2014).
Essa diferença de comportamento evidenciada no CT pode ser explicada pela rigidez
dos CSP (RICHARTZ, 2016) pois os custos operacionais são mais difíceis de serem
reduzidos, enquanto as despesas não. Ou seja, em momento de redução de volume é mais
fácil eliminar despesas com publicidade, por exemplo, do que desligar colaboradores ou
desativar uma linha de produção.
Por sua vez, a Tabela 7 apresenta os resultados para a variável dependente CSP. Os
resultados apontam que, quando a RLV aumenta 1% o CSP aumenta 1,04%, porém, quando
a RLV reduz 1% esses mesmos custos reduzem apenas 0,54% (1,04 0,50), ou seja, os CSP
das OPS da modalidade Medicina de Grupo possuem comportamento sticky.
Tabela 7 Assimetria para os Custos dos Serviços Prestados.
CSP
Coef.
Std. Err.
z
P>|z|
[95% Conf. Interval]
RLV
1.044
0.048
21.940
0.000
0.951
1.137
dlogrls
-0.502
0.043
-11.570
0.000
-0.586
-0.417
_cons
-0.011
0.002
-6.840
0.000
-0.014
-0.008
Wald chi2(2) = 795.20
Prob > chi2 = 0.0000
Fonte: Elaborada pelos autores.
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Por fim, apresentam-se, na Tabela 8, os resultados para as DGVA, as quais são
objeto de estudo da maioria das pesquisas sobre o tema (RICHARTZ, 2016). Os resultados
da presente pesquisa apontam que, quando a RLV aumenta 1% as despesas aumentam 0,91%,
porém, quando a RLV reduz 1% esses mesmos custos reduzem apenas 0,30% (0,91 0,61),
ou seja, os custos das OPS da modalidade Medicina de Grupo possuem comportamento
sticky.
Tabela 8 Assimetria para as Despesas Gerais, com Vendas e Administrativas.
DVGA
Coef.
Std. Err.
z
P>|z|
[95% Conf. Interval]
RLV
0,911
0,068
13,430
0,000
0,778
1,044
dlogrls
-0,610
0,070
-8,740
0,000
-0,747
-0,473
_cons
-0,012
0,002
-7,590
0,000
-0,015
-0,009
Wald chi2(2) = 1376,98
Prob > chi2 = 0,0000
Fonte: Elaborada pelos autores.
Na Tabela 9 apresenta-se um resumo do comportamento dos itens de custo
analisados nessa pesquisa. Conforme observado, os resultados dessas pesquisas seguem a
lógica dos Sticky Costs proposto por Anderson, Banker e Janakiraman (2003). A principal
assimetria foi verificada no que tange à variável DGVA, que apresenta comportamento
similar ao modelo proposto por esses autores.
Tabela 9 - Resumo do impacto nos itens de custo para variações de 1% na RLS.
Item de Custo
Variação de 1% na RLV
Assimetria
Aumento
Redução
CT
0,785
0,876
0,091
Anti-Sticky Costs
CSP
1,044
0,543
-0,502
Sticky Costs
DGVA
0,911
0,301
-0,610
Sticky Costs
Fonte: Elaborada pelos autores.
A análise dos Sticky Costs para os CT já foi alvo de estudo de Calleja, Steliaros e
Thomas (2006), Yükçü e Özkaya (2011), Werbin, Vinuesa e Porporato (2012) e Richartz,
Borgert e Lunkes (2014) os quais comprovaram a existência de assimetria para esses custos.
Conforme Richartz (2016), o CT é a junção do CSP e as DGVA, portanto, é esperado
comportamento sticky também para o CSP, uma vez que, conforme o referido autor, para o
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primeiro essa situação foi constatada. Richartz (2016) ainda acrescenta que, dos itens de
custo analisados pelos autores sobre custos assimétricos, o CSP é o menos estudado. Isto
porque a teoria teve início com a análise das Despesas Gerais, com Vendas e Administrativas
(DGVA), disseminando-se nesse eixo (RICHARTZ, 2016).
Em relação às análises da assimetria, somente para o CPV cita-se os estudos de
Ibrahim (2015) e de Richartz (2016). Para o primeiro autor o CPV aumenta 1,02% e reduz
0,57% para 1% de variação na RLV, enquanto nos achados do segundo autor o CPV aumenta
0,95% e reduz de 0,80% para 1% de variação na RLV. Na presente pesquisa, conforme
Tabela 7, o comportamento é similar aos achados de Ibrahim (2015) e Richartz (2016), ou
seja, presença de Sticky Costs para o CSP, de acordo com a teoria proposta por Anderson,
Banker e Janakiraman (2003).
5. Conclusões
Com base nos resultados apresentados, é importante destacar que os custos das OPS
brasileiras da modalidade de Medicina de Grupo apresentaram comportamento assimétrico
no período analisado. Tais constatações ratificam as conclusões identificadas na literatura
internacional e nacional, que analisaram empresas (normalmente, companhias abertas) de
diferentes setores.
Salienta-se que o comportamento assimétrico foi observado independentemente da
variável utilizada como proxy do custo da empresa: CT, CSP ou DGVA. No caso destas duas
últimas variáveis, o comportamento assimétrico dos custos seguiu a lógica esperada com base
no modelo original de sticky costs proposto por Anderson Banker e Janakiraman (2003).
no caso da variável CT, o comportamento observado, apesar de assimétrico, foi de anti-sticky.
Os resultados apresentados neste artigo contribuem para a gestão e a regulação das
OPS da modalidade Medicina de Grupo em diversos sentidos. Primeiramente, demonstra o
comportamento assimétrico dos custos em tais organizações, evidenciando o papel ativo dos
administradores para aprimorar a gestão de custos nessas organizações. Ademais, demonstra
à ANS a importância da consideração desse fenômeno ao regular aspectos da dimensão
econômico-financeira dessas organizações. Por fim, abre-se espaço para novas pesquisas
sobre o comportamento de custos das diferentes modalidades no mercado de saúde
suplementar.
Todavia, apesar das contribuições do estudo aqui apresentado, é relevante destacar
as limitações da pesquisa. Primeiramente, as conclusões são válidas apenas para a amostra
estudada. Ademais, não foram consideradas outras variáveis explicativas dos custos
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v.5, n.2, p. 3-20, ago/dez 2019 18
assimétricos. Para futuras pesquisas, sugere-se a análise dos Sticky Costs com a inclusão de
outras modalidades de OPS, para poder confrontar se as demais modalidades apresentam o
mesmo comportamento assimétrico. Ademais, sugere-se também a inclusão de variáveis que
busquem explicar o comportamento stick dos custos, como por exemplo: a regulação setorial.
6. Referências
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