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AVALIAÇÃO MORFOTECTÔNICA COM BASE EM ASSIMETRIA DE BACIAS DE
DRENAGEM EM UM SETOR DA DEPRESSÃO TOPOGRÁFICA DO RIO POMBA
(Palma/MG RJ)
*
MORPHOTECTONIC EVALUATION BASED ON DRAINAGE BASINS ASYMMETRY IN A
PARTICULAR ZONE OF THE TOPOGRAPHIC DEPRESSION OF THE POMBA RIVER (Palma/MG -
RJ)
Fabrício Leandro Damasceno Ferreira
https://orcid.org/0000-0001-6231-0504
Thiago Pinto da Silva
https://orcid.org/0000-0002-1726-9781
Resumo: O presente artigo tem como objetivo fazer uma investigação morfotectônica de um trecho da bacia
hidrográfica do rio Pomba, contido na carta topográfica 1: 50.000 de Palma, situado no Estado de Minas
Gerais. A metodologia utilizada para obter o Fator de Simetria Topográfica Transversa (FSTT) foram a
partir dos softwares QGis com a utilização do SRTM. Tem como objetivo geral avaliar o quadro
morfotectônico da região, apresentar, mapear e identificar os aspectos morfotectônicos, buscando todos
geomorfológicos específicos para apontar os resultados que serão alcançados no desenvolvimento da
pesquisa de investigação e como objetivo específico, compreender a organização da rede de drenagem e
contribuir para o estudo morfotectônico. Obteve como resultado uma variação do FSTT entre 0,1 na sub-
bacia Ribeirão o João e de 0,92 na sub-bacia Córrego Boa Vista. Os valores apontam uma influência
direta das estruturas na evolução geomorfológica, tendo como princípio que a tectônica influência na
evolução da paisagem.
Palavras-chaves: FSTT, neotectônica, geoprocessamento, tectonismo, SRTM-Nasa
Abstract: The present article aims to make a morphotectonic investigation of a section of the watershed of
the river Pomba, contained in the topographical chart 1: 50,000 of Pomba, situated in the State of Minas
Gerais. The methodology used to obtain the transverse topographic symmetry factor were from the QGis
software using the SRTM/NASA. The objective of this study is to evaluate the morphotectonic profile of
the region, to present, map and identify the morphotectonic aspects, searching for specific geomorphological
methods to indicate the results that will be achieved in the development of research and to understand the
organization of the drainage network and morphotectonic study. It resulted in a FSTT variation between 0.1
in the Ribeirão São João sub-basin and 0.92 in the rrego Boa Vista sub-basin. The values obtained
indicate a direct influence of the structures in the geomorphology evolution, that is, with the principle that
tectonics influences the evolution of the landscape.
Keywords: FSTT, neotectonics, geoprocessing, tectonism, SRTM-NA
*
Artigo recebido em: 20 de novembro de 2018. Aceito em: 23 de agosto de 2019
Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. Mestrando em Geologia/Geofísica Marinha
pela Universidade Federal Fluminense. Autor correspondente. E-mail: fabricioleandro@id.uff.br
Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. Doutor em Geologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
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1. Introdução
Os processos de reativação tectônica no Brasil estão ligados à formação do continente
Gondwana, principalmente em seu período de rompimento, o que provocou fraturamentos e
falhamentos por toda a costa brasileira. Na região Sudeste, a formação do Rift Continental do
Sudeste do Brasil (RCSB) definido por Ricommini (1989 apud Ricommini et al., 2004), que
compreende regiões deprimidas, que se entendem pelas bacias de Taubaté, Resende, Volta
Redonda e Itaboraí, aparece como feição principal que resultou de tais processos. A alternância
entre vales/planícies e serras nessa região, definida por Zalán & Oliveira (2005) como uma
sucessão de horstes e grábens escalonados, aumentou a área de atuação para além das bacias
sedimentares, nomeando assim o Sistema de Rifts Cenozóicos do Sudeste de Brasil (SRCSB). O
presente estudo apresenta uma investigação morfotecnica realizada em um determinado trecho
da bacia hidrográfica do rio Pomba, um dos afluentes do rio Paraíba do Sul, correspondente à área
abrangida pela carta topográfica do IBGE, na escala de 1:50.000, de Palma. Esta investigação será
realizada pela análise da reorganização da rede de drenagem da região de estudo, tendo o principal
foco a assimetria das bacias de drenagem. A área de estudo encontra-se no médio-baixo curso do
Paraíba do Sul, o que a coloca dentro do contexto do SRCSB, acarretando trabalhos com o
enquadramento da neotecnica, onde nesta região constam relatos de feições lineares do relevo
que apontam a característica da atuação tectônica na área de estudo
Os estudos de Baiense (2011) tem embasamento prático e teórico na neotectônica e Silva
(2012) na morfotecnica, sendo baseado em padrões de drenagens que englobam a área do
presente trabalho, principalmente, ambos motivaram tal estudo, na busca de identificar feições
tecnicas a partir da análise da drenagem na carta topográfica 1: 50.000, que abrange, parte da
bacia do rio Pomba, e a porção final do lineamento de Além Paraíba, que se estende ao município
de Itaocara/RJ, proposto por Almeida et al.(1975) apud Silva (2006) como um alinhamento
tecnico, com cerca de 260 km de extensão. A partir disto, este trabalho tem como objetivo geral
realizar uma investigação morfotectônica na região da carta topográfica de Palma, com ênfase na
identificação de assimetria de bacias de drenagem.
E como objetivos específicos, compreender a organização da rede de drenagem que
come a área abrangida por parte da bacia hidrográfica do rio Pomba, analisar a geomorfologia
local com a finalidade de indicar áreas potencialmente atingidas por movimentação neotectônica,
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contribuir para os estudos morfotectônico, sendo o quadro que sintetiza a evolução do relevo e criar
mapas hipsométrico e bacias hidrográficas para contribuir com novos estudos.
2. Área de estudo
A área de estudo situa-se no médio-baixo curso do Paraíba do Sul, em uma localização
adjacente ao SRCSB e com o enquadramento da neotecnica. O presente estudo baseia-se na carta
topográfica de Palma na escala de 1:50.000 que está situada em Minas Gerais e um pequeno trecho
do Rio de Janeiro, se localiza a 368 km da capital do Estado- Belo Horizonte. De acordo com Silva
(2012), a bacia de drenagem do rio Pomba, está inserida na bacia do médio-baixo rio Paraíba do
Sul. O rio Pomba tem sua cabeceira na serra da Mantiqueira, atravessa a área ao longo de
aproximadamente 180 km com um desnível topográfico de cerca de 500 m e desemboca no rio
Paraíba do Sul próximo a Itaocara (Figura1).
Figura 1: Riftes Cenozoicos do Sudeste do brasil (Zalán e Oliveira, 2005) e Mapa de localização
da carta topográfica de Palma (RJ/MG) inserida no contexto da bacia Hidrográfica do
rio paraíba do Sul (Agência Nacional de Águas ANA).
Fonte: Zalán e Oliveira, 2005 (a), Agência Nacional de Águas ANA (b) e Autoria própria (c).
2.1 Geologia
A área de estudo, inserida na região Sudeste do Brasil, está geotectonicamente situada na
Província da Mantiqueira, que se estende do sul da Bahia ao Uruguai, totalizando uma área de cerca
de 700.000 km². Este sistema é constitdo pelos orógenos Araçuaí, Ribeira, Dom Feliciano e São
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Gabriel, e pela zona de interferência entre os orógenos Brasília e Ribeira, tal estrutura foi definida
por Almeida et al. (1981), e é classificada como Sistema Orogênico Mantiqueira.
O arcabouço geotectônico do Sudeste é formado pelo Cráton de São Francisco (CFS), uma
estrutura neoproterozóica, estável e circundada por orógenos instalados durante a Orogênese
Brasiliana/Pan-Africana, que foi de grande importância para estabilização dessa região durante o
fechamento do Gondwana. A área estudada neste trabalho está compreendida, principalmente, na
Faixa Ribeira.
A formação do Orógeno da Ribeira se deu, majoritariamente, pelo movimento colisional
entre o Cráton de São Francisco e a placa do Congo, durante o ciclo Brasiliano, que provocou um
empilhamento de leste para oeste-noroeste. Este evento de colisão apresentou um caráter oblíquo
e, em razão deste fato, a deformação principal exibe clara partição entre zonas com predomínio de
encurtamento frontal e zonas com componente transpressivodextral, de acordo com Heilbron et al.
(2004). Nesse sentido, de acordo com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM
(2001), a geologia desses estados e da área de estudo está baseada nos processos de formação da
Faixa Ribeira, ligadas à sua evolução tectono-metamórfica. Esta evolução orogênica foi
responsável pela deformação, metamorfismo, magmatismo e articulação dos diversos terrenos,
dando origem a rochas que datam.
2.2 Geomorfologia
O presente trabalho tem o enfoque no Domínio das Faixas de Dobramentos
Remobilizados, que é onde se encontra a área da carta estudada, área es caracterizada pela
ocorrência de marcas de falha, deslocamentos de blocos e falhamentos transversos, exercendo
controle estrutural sobre a morfologia atual. Este pode ser notado pela ocorrência de linhas de falha,
escarpas de grandes dimensões e relevos alinhados.
De acordo com RADAMBRASIL, Gatto et al. (1983) apontam que esse donio é
composto por oito regiões geomorfológicas, que são: Colinas e Maciços Costeiros, Planalto de
Paranaciacaba, Escarpas e Reversos da Serra do Mar, Vale do Paraíba do Sul, Planalto de Amparo,
Mantiqueira Meridional, Mantiqueira Setrentional e Compartimentos Planálticos do Leste de
Minas. A presente área está inserida na região do Vale do Paraíba, em duas unidades específicas,
o Alinhamento de Cristas do Paraíba do Sul e a Depressão Escalonada dos Rios Pomba-Muriaé.
Essas unidades são caracterizadas como: - Alinhamentos de Cristas do Paraíba do Sul: localizada
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no setor médio da bacia do rio Paraíba do Sul, cujas feições do relevo refletem o forte controle
geológico disposto em um conjunto de falhas e fraturas de orientação NE-SW (RADAMBRASIL,
1983; Corrêa Neto, 1995, apud Silva, 2003) e Depressão Pomba-Muriaé: Está unidade
geomorfológica apresenta um relevo escalonado, com cotas altimétricas que oscilam entre 100 e
700m, à medida em que se aproxima da Serra da Mantiqueira. Na sua porção a oeste, os altos vales
dos rios Pomba e Muriaé dissecam transversalmente os lineamentos das formas de relevo
integrantes das Serranias da Zona da Mata Mineira, formando patamares e gargantas. A rede de
drenagem apresenta cabeceiras na Serra da Mantiqueira, com acelerada erosão remontante, abrindo
extensa depressão em direção ao rio Paraíba do Sul. Os divisores das bacias são representados por
alinhamentos serranos isolados da Unidade Alinhamento de Cristas do Paraíba do Sul.
De acordo com a APAM do Capivara, (2014), o relevo desta região tem as suas
características devido a sua forma fluvial de dissecação que acaba interferindo no resultado nos
cursos de água de diferentes magnitudes. As variedades mais presentes nesta região são: Colinas
com vales encaixados ou de fundo chato e vertentes com presença de Ravinas, o que pode
caracterizar esta região com forma de Mares de Morros (Figura 2).
Figura 2: Visão parcial da unidade geomorfológica da Depressão do Pomba-Muriaé em
São João da Sapucaia. Destaca-se o relevo colinoso de topos aplainados,
característico de mares de morros. Em destaque, as feões de fundo de vale
plano. Bacia do córrego Ribeirão São João, município de Laranjal (MG).
Fonte: Autoria própria.
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3. Metodologia
Os métodos de análises dos padrões de drenagem foram constitdos de acordo com o
conceito e a interpretação de Cox (1994), Gontijo (1999), Cox et al. (2001) e Silva (2012), sendo
possível fazer as análises dos afluentes da bacia hidrográfica do rio Pomba, a partir da extração de
cinco sub-bacias da carta topográfica, hierarquização de bacias de drenagem de ordem,
delimitação dessas bacias de drenagem, e determinação do fator de simetria topográfica transversa
de cada uma e calcular o índice de simetria de cada bacia. A partir dos resultados obtidos, pretende-
se apresentar se alguns trechos resultam de atividades neotectônias e após estes resultados, apontar
se a rede de drenagem desta região está diretamente direcionada a presença de falhas, sendo
utilizado o software de Sistemas de Informações Geográficas Qgis 2.14.0-Essen para realizar todo
o mapeamento da área estudada.
3.1 Análise Hipsométrica
O mapa hipsotrico, um dos mapas geomorfológicos, permite destacar áreas que
possuem a mesma medida de altura da supercie terrestre com relação a um determinado nível
vertical referencial (dátum), sendo ele, o nível dio do mar.
De acordo com Silva, (2006) a visualização direta da organização espacial dos diferentes
compartimentos geomorfológicos é um bom instrumento para a percepção de indicadores a respeito
do controle do substrato litológico e estrutural na dinâmica evolutiva do relevo, já que as diferentes
altitudes estão intimamente associadas a variações litoestruturais ou tectônicas.
A elaboração do mapa hipsotrico foi necessária para analisar a divisão de classes
altimétricas selecionadas a partir do modelo digital de elevação SRTM/NASA (Shuttle Radar
Topography Mission http//seamless.usgs.gov), com base cartográfica na escala 1:50.000 e com
resolão de 90 metros. As classes altimétricas selecionadas foram destacadas, a partir de cores
distintas, para a visualização espacial das principais unidades do relevo, utilizando o programa
QGIS 2.14.0-Essen.
O mapa hipsométrico tem como objetivo, destacar as áreas elevadas e as deprimidas, que
pode apresentar algum tipo de controle geológico, sendo eles: litológico e/ou estrutural ou até
mesmo controle tecnico na sua formação.
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3.2 Análise da Assimetria das Sub-Bacias
A rede de drenagem de determinada região é influenciada por fatores como o clima e a
constituição litológica, tendo as estruturas geológicas como os fatores condicionantes mais
importantes para a configuração desta rede (Howard, 1967; Summerfield, 1986, 1991). Por este
motivo, a rede de drenagem expressa um grande controle das estruturas geológicas que suas
características são utilizadas como uma base para o reconhecimento e classificação nas análises.
Além dessas feições típicas de processos da reorganização da rede de drenagem, a
assimetria de drenagem, em relação a suas bacias de drenagem, também pode expressar a inflncia
de mecanismos tecnicos ativos para sua formação, mais especificamente para a identificação de
basculamento de blocos crustais (Cox, 1994 e Cox et al., 2001). O todo que foi utilizado para
calcular a assimetria das bacias de drenagem é pautado no que foi aplicado originalmente por Cox
(1994), que é a determinação do índice de assimetria de drenagem, o Fator de Simetria Topográfica
Transversa (FSTT). Neste aspecto, os índices do FSTT podem variar entre simétrico, onde a
coincidência entre o rio principal e a linha média da bacia, e onde o canal encontra-se próximo à
linha divisória da bacia de drenagem, indicando uma drenagem assimétrica. A utilização desta
técnica permite afirmar que se um dado canal está situado exatamente no meio de sua bacia de
drenagem, FSTT será igual a zero e, portanto, T será igual a zero, revelando um trecho simétrico
dentro de uma bacia de drenagem e quanto mais pximo de 1 for T, maior é a assimetria de uma
bacia o que caracteriza por uma inflncia de mecanismos tectônicos na sua formação, Da
corresponde à distância da linha média do eixo da bacia de drenagem até a linha média e Dd = a
distância da linha média da bacia até o divisor da bacia (Figura 3).
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Figura 3: Modelo com o cálculo do Fator de Simetria Topográfica
Transversa com os dados de Da e Dd de uma determinada bacia.
Fonte: Ribeiro, 2010 (Modificado de Cox, (1994)).
4. Resultados e discussões
4.1 Análise do Mapa Hipsométrico
Optou-se por iniciar as análises pela confecção de um mapa hipsométrico, com o intuito
de reconhecer, organizar espacialmente essas grandes diferenças de altitudes e ressaltar as áreas
topograficamente deprimidas.
O mapa hipsométrico apresentou-se ser muito adequado para demarcar a segmentação
topográfica local, evidenciando os limites deprimidos onde está encaixado o rio Pomba,
representado pela faixa alongada com a predominância de cotas altimétricas de 128 metros,
obtendo uma orientação geral Nordeste - Sudoeste. Destacam-se, além disso, áreas com altitudes
elevadas, normalmente a 594 metros, na região superior.
As localidades que possuem as maiores altitudes da área de estudo são as regiões
superiores da carta topográfica de Palma apresentando uma variação topográfica de maior
representatividade nos trechos a montante do rio Pomba, sendo um relevo acentuado (Figura 4) e
apresenta uma modificação da altitude de cerca de 128 metros nas proximidades da depressão
hidrográfica.
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O mapa hipsotrico (Figura 4) mostrou as diferenças entre as classes de altitudes
presente na área de estudo. As menores altitudes são representadas pelos intervalos altimétricos de
128m a 240m, observados na área de depressão, próximo à região fluvial do rio Pomba. As cotas
que variam entre 240m e 400m correspondem aos vales do rio Pomba e seus afluentes. As maiores
altitudes topográficas chegam a cerca de 594 metros na região da Serras da Castilha e da Serra dos
Dias.
Figura 4: Mapa hipsométrico da carta topográfica de Palma na escala 1.50:000 com as cinco
sub-bacias de 4ºordem.
Fonte: Autoria própria.
4.2 Análise da Assimetria das Bacias de Drenagem
A análise do FSTT se fundamentou na composição das bacias de ordem dos afluentes
do rio Pomba, sendo elas: Córrego Braúna, Córrego Alegre, Córrego Boa Vista, Ribeirão São João
e Ribeirão Capivara (Figura 5).
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A resposta direta e evidente da rede de drenagem a uma possível estruturação tectônica
regional torna este elemento geomorfológico uma ferramenta confiável (Summerfield, 1987), e a
partir deste conceito, a análise da rede de drenagem é o elemento fundamental para este estudo.
Diante da análise do FSTT de bacia de drenagem, foram realizadas as análises da bacia
dos afluentes do Rio Pomba, entre seus cursos e seus divisores para cada dos diferentes setores das
sub-bacias. Ao todo foram criados 43 vetores de assimetria (FSTT), a partir da distância do canal
principal até a linha média da bacia (Da) e da distância do divisor da bacia até a linha média da
bacia (Dd), obtendo uma variação de 0,92 na sub-bacia Córrego Boa Vista e 0,1 na sub-bacia
Ribeirão São João, o que pode afirmar a variação entre simétrico e assimétrico em determinado
trecho do curso. É importante ressaltar que, quanto mais próximo de 1 for o Fator de Simetria
Topográfica Transversa (FSTT), maior é a assimetria de uma bacia e, pode-se dizer, que maior é a
influência tectônica na sua formação.
Os Valores do Fator de Simetria Topográfica Transversa da sub-bacia do Córrego Braúna
variam entre 0,80 a 0,64 (nascente), 0,38 á 0,21 na região do médio curso e 0,62 no limite inferior
da bacia (exutório) é importante ressaltar a direção do curso desta sub-bacia que tem a sua direção
no lado oeste da bacia (Montante) e tem o seu ponto de sda no lado leste (Jusante). na sub-
bacia do rrego Alegre, obteve uma variação de 0,29 e 0,38 no ponto de saída, 0,42 e 0,53 no
dio curso e 0,75 e 0,77 na região das nascentes. No Córrego Boa Vista, o FSTT variou entre
0,18 a 0,29 no limite inferior da sub-bacia, de 0,25 até 0,08 no médio curso, chegando a 0,92 na
região da nascente, tendo a sua direção do seu curso na direita e a nascente do lado esquerdo. No
Ribeirão São João, o índice foi de 0,24 á 0,30 no exutório da sub-bacia, 0,75 á 0,83 no médio curso
e chegando a 0,87 na nascente e no Ribeirão o João, o índice foi de 0,24 á 0,30 no exutório da
sub-bacia, 0,75 á 0,83 no médio curso e chegando á 0,87 na nascente.
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Figura 5: Análise das sub-bacias com os valores de Da e Dd e o fator de Simetria Topográfica
Transversa.
Fonte: Autoria própria.
4.3 Discussões
As condições que foram identificadas no decorrer desta pesquisa apontam uma assimetria
das bacias por basculamento de blocos sobre influência da atividade tecnica com a aplicação do
Fator de Simetria Topográfica Transversa. Os dados obtidos pela análise de cada bacia indicam
uma possibilidade de ter havido basculamento denominado basculamento intermediário e com
ocorrência de valores mais elevados no decorrer do fluxo de cada bacia, sendo identificado nas
partes montantes das bacias São João e do Córrego Alegre (Figura 6).
Porém, não se pode desprezar a forte detração do curso do rio para a direita, na parte mais
baixa (Jusante) de algumas bacias, sentido ao rio Pomba, que mostra de forma mais clara a
atividade tectônica que modificou o trecho do curso em dois sentidos, sendo a leste no baixo e
dio curso e a oeste no alto curso, totalmente diferentes em termos de direção.
É importante ressaltar a direção do relevo da sub-bacia do Ribeirão São João e do Córrego
Capivara, que apresenta interflúvios com encostas suaves para NW e encostas muito abruptas com
sentido SE e destaca-se o quando as duas sub-bacias são íngremes nas margens indo em direção do
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rio Pomba. Constata-se que os valores obtidos do Fator de Simetria Topográfica Transversa que
são mais altos, estão deslocados para a margem direita de todas as bacias no baixo e médio curso,
porém que apenas no alto curso é que o canal está situado para a margem esquerda das bacias.
Figura 6: Modelos com interpretações indicando o basculamento de bloco com o relevo associado,
destacando a direção da Escapa de Falha ou Escapa de Linha de Falha e a orientação do
relevo. BR- 116 Município de Laranjal (MG).
Fonte: Autoria própria.
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5. Considerações finais
A área de estudo se encontra num contexto de falhas no sentido Nordeste Sudoeste, que
atua um forte controle sobre a drenagem local, evidente na direção de parte do canal do rio Pomba.
Esta discussão é fundamentada pelos estudos de Silva (2012), Baiense (2011) e Zalán & Oliveira
(2005), que afirmam a existência de falhas com mesmo sentido nesta região, atuando sobre a rede
de drenagem. A pesquisa geomorfológica realizada ao longo da carta topográfica de Palma, aponta
a importância do escalonamento topográfico interno à área deprimida do Rio Pomba, segundo a
um sentido NE-SW.
Os resultados obtidos com a pesquisa auxiliaram analisar a influência dos condicionantes
tecnicos na formação do relevo nesta região. A análise das orientações principais, sendo elas:
Nordeste Sudoeste, com a atuação neotectônica no Sudeste do Brasil, reconhecida por Ricommini
(2004) entre outros, ou seja, as falhas reconhecidas mostram a presença morfotecnica na área
estudada. Neste contexto, Ignácio, (2017) relata que essas falhas que controlam a drenagem e atuam
na área são de difícil visualização, por isso as conclusões tiradas sobre as mesmas são em hiteses
baseadas na reorganização da rede de drenagem. Este estudo, baseado em outros trabalhos com
intuito de identificação e localização das falhas, pode ocorrer para uma melhor compreensão da
área, o trabalho de Baiense (2011) encontrou várias falhas em regiões próximas e também em
Palma, sendo mais uma evidência neotecnica que pode ocorrer na região desta pesquisa.
A partir da análise de assimetria de drenagem, pode-se permitir a demonstração da
expressão das reativações morfotecnicas na configuração da rede de drenagem, presente no local
citado, portanto, o Fator de Simetria Topográfica Transversa pode contribuir para este debate.
Os valores obtidos apontam uma influência direta das estruturas na evolução geomorfologia, ou
seja, tendo como princípio que a tecnica influencia na evolução da paisagem e mostram que esta
área ocorre feições que indicam ocorrência de anomalias, sendo uma delas a captura de drenagem.
Por este motivo, pode-se concluir que a tectônica atuante no Sudeste brasileiro a partir do
início da Era Cenozoica, constitui o mecanismo de origem e deformação do SRCSB e se estende
até a área do presente estudo, portanto, esse controle parece ter influenciado na formação do relevo
local.
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6. Referências Bibliográficas
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