importantes, cuidadosas e até mesmo complexas. O ápice do livro é justamente apresentar
debates de alto nível com uma linguagem simples, acessível. Cumpre, assim, o papel anunciado
na apresentação da coleção, quando José D’Assunção Barros destaca que ela é dedicada não
apenas a um múltiplo público acadêmico – que engloba historiadores, teólogos, sociólogos e
antropólogos à medida em que os temas discutidos lhes interessem –, como também ao público
não-acadêmico. No livro, entretanto, não se banaliza a produção do conhecimento histórico,
como em muitos “manuais” presentes no mercado editorial.
O primeiro capítulo do volume, nesse sentido, apresenta uma discussão sobre o
martírio na perspectiva da longa duração. Sob o título “Mártires na Antiguidade e na Idade
Média”, Valtair Afonso Miranda leva a uma leitura multidisciplinar do tema na Antiguidade e
no Medievo. Isso se deve principalmente a vastidão de sua formação, já que sendo teólogo,
historiador e estudioso das Ciências da Religião, ele fornece uma sólida discussão do fenômeno
do martírio a partir de suas práticas e representações milenaristas. Após a sua análise sobre a
história de Bernardo e dos missionários franciscanos, Miranda consegue deixar nítido como a
construção do estereótipo do herói a partir da característica de mártir é um exercício de poder
e, principalmente, como refletir sobre o fenômeno do martírio auxilia a compreender as formas
e dinâmicas de poder dentro da sociedade medieval.
Já no segundo capítulo, intitulado “Monges e literatura hagiográfica no início da Idade
Média”, Leia Rodrigues da Silva faz uma análise da vida e religiosidade monástica durante a
Antiguidade Tardia e Alta Idade Média. A autora divide o texto em duas partes: primeiro,
analisa a trajetória do fenômeno monástico desde as suas raízes eremíticas até os movimentos
que consolidam o monacato na Península Itálica, na Península Ibérica e nas Gálias; em seguida,
aborda o que ela chama de “bem-sucedida relação entre monacato e hagiografia” a partir da
análise das vidas de São Bento, São Frutuoso e Santo Amando. O que Silva conclui após a sua
argumentação é que o monasticismo no Ocidente não constituiu um movimento de contestação
à organização eclesiástica, mas sim que suas características – dentre elas a produção
hagiográfica – inseriam-se no contexto da cristianização dos reinos romano-germânicos.
O capítulo seguinte, de autoria de Paulo Duarte Silva, traz uma reflexão sobre “Santos
e Episcopado na Península Ibérica”. O autor discorre sobre a trajetória da santidade desde a
Alta Idade Média até a Idade Média Central, mostrando como ao longo desse período o
fenômeno da santidade caminhou ao lado e até confundiu-se com a própria estrutura da
instituição eclesiástica. A partir de oito casos (Martinho de Braga, Isidoro de Sevilha, Rosendo
de Celanova, Ato de Oda, Olegário de Tarragona, Bernardo Calvo de Vic, Agno de Saragoça e
Berengário de Peralta), Silva apresenta uma série de elementos comuns e também novidades