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A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A ESTAGNAÇÃO DA ACUMULAÇÃO
CAPITALISTA
*
THE THIRD INDUSTRIAL REVOLUTION AND THE STAGNATION OF CAPITALIST
ACCUMULATION
Sávio Freitas Paulo
https://orcid.org/0000-0001-7038-970X
Resumo: O presente artigo busca avaliar o decrescimento das taxas anuais de produtividade e o consequente
período de estagnação produtiva atual, observando os impactos sobre a classe trabalhadora. Assume-se a
hipótese de que este fenômeno é oriundo das transformões tecnológicas iniciadas a partir da terceira
revolução industrial, na década de 1970. O que se nota é que de fato ocorre uma queda do ritmo de aumento
da taxa de produtividade do trabalho nas principais economias levando diretamente à queda da taxa de lucro,
ocasionando uma observável estagnação secular produtiva e tornando evidente as consequências passíveis
da formulação sobre a lei tendencial da queda da taxa de lucro descrita por Marx. A queda deste fator
decisivo para o sistema produtivo vigente elucida problemas sociais e econômicos recentes que se
manifestam em fuão da necessidade da manutenção das taxas de lucro em uma sociedade inserida sob um
paradigma tecnológico com caráter estagnante.
Palavras-Chave: Terceira Revolução Industrial, estagnação secular, tendência à queda da taxa de lucro.
Abstract: This present paper seeks to evaluate the decrease of the annual rates of productivity and the
consequent current period of productive stagnation, observing the impacts on the working class. It is
hypothesized that this phenomenon stems from the technological transformations that began after the third
industrial revolution in the 1970s. What is noticeable is that the rate of increase in labor productivity in the
main economies actually decreases, leading directly to the fall in the profit rate, causing an observable
secular productive stagnation and making evident the consequences formulated on law of tendency of the
rate of profit to fall described by Marx. The fall of this decisive factor for the current productive system will
be evidenced recent social and economic problems that are manifested in function of the necessity of
maintaining the rates of profit in a society inserted under a technological paradigm in process of stagnation.
Keywords: Third Industrial Revolution, secular Stagnation, tendency of the rate of profit to fall.
1. Introdução
O processo de desenvolvimento da sociedade capitalista moderna simultaneamente ao
avanço tecnológico teve, até a década de 1970, capacidade de não manter, mas aumentar o ritmo
da acumulação do capital. No entanto, características diferentes se apresentam após esse período.
O uso da maquinaria cada vez mais poupadora de mão de obra no setor produtivo/manufatureiro,
*
Artigo recebido em: 24 de agosto de 2019. Aceito em: 10 de dezembro de 2019
Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. Mestrando em economia pela Universidade
Federal Fluminense. Autor correspondente. E-mail: savio.freitas37@gmail.com
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as novas formas de organização industrial, os desdobramentos da financeirização global
3
, a adoção
em maior grau de desregulamentações financeiras e o advento das tecnologias da informação
aparecem como particularidades suficientes para considerar a superação do paradigma Fordista-
Taylorista até o fim da década de 1970. Entretanto, o declínio das taxas anuais do aumento da
produtividade do trabalho aparece como um problema aos setores produtivos das economias
modernas. Assim, considerando o advento da terceira revolução industrial, o que se nota é uma
maior dificuldade à sustentação dos níveis históricos da taxa de lucro, tendendo à ocorrência de
uma estagnação secular desta última, como foi descrito por Marx n’O Capital ao tratar da lei
tendencial da queda da taxa de lucro
4
. Como consequência dessa questão o que se percebe é a
ocorrência de problemas socioeconômicos cada vez mais frequentes para a sociedade moderna.
Com a ascensão da microeletnica notamos uma reestruturação produtiva no emprego da
tecnologia de forma diferenciada que se mostra impactante nas relações sociais atuais, por meio,
principalmente, de um menor emprego da força humana diretamente nos processos produtivos,
sendo esta substituída com facilidade pela robótica. Essa reestruturação produtiva diz respeito à
terceira revolução industrial, caracterizada aqui pela visão convencional de autores brasileiros que
descrevem as novas práticas e técnicas (além dos efeitos gerados com tais alterações) na esfera
produtiva, provenientes dessa nova fase da organização industrial mundial. Para tal será utilizado
o texto de Coutinho (1992) e de outros autores que retratam este período. As essa caracterização
serão discutidas as consequências à classe trabalhadora que o observadas após a consolidação
dessa “nova era industrial”, sendo aqui analisadas pelos dados de Piketty (2014) que nos ajuda a
compreender a questão da desigualdade nos tempos atuais e pelas ideias de Prado (2015) que
corroboram para uma caracterização destas transformações sob a crítica marxista, com respeito às
implicações da tendência à queda da taxa de lucro para a sociedade atual.
Este trabalho conta, além de uma introdução e das considerações finais, com duas seções:
na primeira seção, as mudanças tecnológicas e econômicas ocorridas após a era fordista-taylorista
serão caracterizadas através dos trabalhos de autores brasileiros que escreveram à luz dessas
3
A financeirização aqui discutida diz respeito as formas especulativas e modernas sobre as quais o capital atual
(representando a riqueza) consegue se desdobrar como equivalente geral nas economias globalizadas. Dessa forma, os
efeitos da financeirização discutidos dizem respeito a todo o aparato técnico pelo qual o capital em movimento se
adequa após as difusões tecnológicas da terceira revolução industrial.
4
Esta que está relacionada com a lei de acumulação capitalista, na qual o aumento da composição orgânica do capital
é responsável por um crescimento da riqueza dos detentores dos meios produtivos (acompanhado da reprodução da
pobreza pelos não detentores) com tendências à estagnação devido à redução do mais-valor absorvido, ocasionada pelo
acúmulo de capital.
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mudanças, procurando especificar as transformações estruturais e sociais decorridas; já a segunda
busca observar criticamente como essas mudanças neste novo paradigma se relacionam à queda do
crescimento das taxas anuais de produtividade, e, além disso, as formas como o capital tem se
movimentado para se manter lucrativo no cenário atual em que impera o baixo crescimento, o
aumento do desemprego mundial, o aumento das desigualdades, entre outras implicações à classe
trabalhadora. Notaremos que tais condições deteriorantes são pressupostas na própria lei tendencial
e decorrem da manutenção de uma taxa de lucro socialmente aceita em tempos em que segundo
Prado (2015, p.01) “[d]evem tender a cair, portanto, as taxas de aumento da produtividade, do
emprego e do produto ao longo do tempo”.
2. A ascensão tecnológica e as mudanças no complexo industrial e na sociedade
O que se observa após o esgotamento do paradigma industrial baseado em sua maior
parte pela eletromecânica é o surgimento de um molde produtivo que tem como característica a
utilização de um complexo eletrônico diretamente na produção. Isso se deu através da automão
flexível que consiste na aplicação de técnicas e utilização de softwares e/ou equipamentos
específicos em uma determinada máquina ou processo industrial com o objetivo de aumentar a sua
eficiência, além da integração via teletica que por meio de avançados sistemas de comunicação
em tempo real permite a operação de uma série de máquinas e equipamentos através de um único
dispositivo, normalmente um computador. Claramente tais alterações impactam diretamente o
trabalho desempenhado pela classe trabalhadora, além de evidenciar novas necessidades de
alianças empresariais como forma de se manter sob a lógica da competição. Essas mudanças se
tornam essenciais às estruturas produtivas em meados da década de 1970 perdurando até os dias
atuais. Percebe-se que é através de um novo paradigma industrial/tecnológico que a estrutura
capitalista produtiva busca manter sua condição de ascensão acumulativa de aumento do nível de
riqueza.
Os processos industriais típicos do paradigma tecnológico dominante no século XX, de
base eletromecânica, através da automação dedicada, repetitiva e não programável, foram
objeto de intensa transformação (desde a segunda metade dos anos 70 e notadamente nos
anos 80) por meio da difusão acelerada de mecanismos digitalizados (ou dirigidos por
computadores) capazes de programar o processo de automação. A eletrônica substituiu a
eletromecânica como base da automação, de tal forma que microprocessadores dedicados
ou computadores dedicados passaram a guiar o sistema de máquinas ou partes deste.
(COUTINHO, 1992, p. 72).
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Sob esses novos moldes produtivos a flexibilização dos processos ganha destaque em
contraposição à utilização de um processo que tratava as demandas específicas de forma
generalizada, um produto massificado. A nova maquinaria utilizada permite um alto grau de
diferenciação do produto, atendendo ao consumo proposto neste cenário contemporâneo. A
competição não se dará necessariamente pela quantidade produzida (em larga escala) de cada
empresa, mas sim pela capacidade que cada uma conseguirá desempenhar em atender as diferentes
nuances do consumo. As empresas que se destacam a partir dessa transição precisam tornar a
produção um processo menos rígido, conduzindo assim seus produtos às demandas específicas de
consumo, previamente estudadas (através de pesquisas de informação e utilização de dados
disponíveis e colhidos por empresas especializadas em tecnologia da informação, se mostrando
peça indispensável para o bom desempenho das vendas dos produtos feitos nas plantas industriais),
desenvolvendo produtos que se diferenciem dos demais e que também propiciem o sentimento de
novidade e alteração constante, em um cenário caracterizado por um consumo cada vez mais
específico.
O novo equipamento, que ao contrário do anterior tem na flexibilidade uma de suas
principais características, apresenta pelo menos duas características marcantes: primeiro,
perde em importância, como fator de competitividade, a economia de escala baseada na
padronização, uma vez que permite a produção programada flexivelmente de lotes de
peças diferenciadas sem aumento do custo unitário variável. Ao contrário, a diversificação
é que passa a ganhar importância como fator de competição e de captura de mercados.
Segundo a difusão da automação flexível nos processos produtivos exige ou, pelo menos,
permite o estreitamento da distânciataylorista”, entre a gerência superior (planejamento,
projeto) e a produção (rés-da-fábrica). No limite, essa distância pode até desaparecer
(SALM, 1992, p. 112).
As a difusão dessas transformações e técnicas na economia, podemos enquadrar esse
período do fim da década de 1970 e início de 1980 como o da terceira revolução industrial ou
Revolução Técnico-Científica. Tal período descreve a frequente interação entre os moldes
eletromecânicos até então utilizados com os avanços da eletrônica digital, contribuindo para o
aprimoramento material das mercadorias produzidas e possibilitando o surgimento de novas
mercadorias através da exploração das técnicas criadas. Somando-se a utilização de computadores,
dispositivos inteligentes e controladores através da intelincia artificial, esse novo caráter da
indústria busca uma máxima produção, com o emprego cada vez maior de robôs nas áreas
produtivas, visando alcançar as esperadas economias de escala. Notadamente, houve um maior
grau de substituição nas plantas industriais que utilizavam de operações manuais diretas
sequenciais, como, por exemplo, as esteiras das linhas de montagens. Todas as empresas que
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lograram sucesso após a década de 1980 precisariam fazer esse tipo de modificação no caráter do
trabalho empregado. Como consequência direta desse movimento percebe-se a substituição de um
grande número da mão-de-obra pouco qualificada para o emprego de uma maquinaria robótica
capaz de executar as mesmas funções, provavelmente, de forma mais “econômica”. O trabalho
complicado, ou seja, aquele que até então era muito específico e difícil para ser executado por
quinas, agora por meio de softwares, começa a reproduzir sequências e moldes produtivos até
então inimagiveis.
A partir desses avaos tecnológicos o que vem se observado após a introdução da
automação flexível é uma mudança no caráter do trabalho utilizado, que agora é muito mais focado
na operação e reprogramação de ajustamentos já programados nos equipamentos. Porém, a
compensação de substituição do trabalho nessas novas plantas produtivas não é totalmente
absorvedora da mão de obra existente nos setores fabris do antigo paradigma, havendo uma menor
necessidade de emprego em contraposição ao uso da tecnologia. Observa-se também que a
qualificação exigida dos trabalhadores é cada vez maior e mais específica, necessitando que estes
invistam cada vez mais tempo e recursos em aprendizados lógicos e matemáticos para que possam
ocupar as funções dessa nova indústria, implicando veis dios de aprendizado e qualificação
muito superiores aos requeridos pelo superado paradigma fordista/taylorista.
[...] Isso requer um nimo de capacitação em raciocínios abstratos, matemática,
interpretação de instruções, programação, capacidade de interpretar informações visuais,
digos etc. e de reagir a estes com presteza. [...] A engenharia (tanto de desenvolvimento
quanto, principalmente, de produção) necessitará adaptar-se e interagir com a força de
trabalho fabril, preparando-se para enfrentar problemas novos e inesperados que
resultarão, inevitavelmente, do aprofundamento das técnicas de automação flevel
(COUTINHO, 1992, p. 75).
Ainda sobre as mudanças inferidas sobre a classe trabalhadora nesse novo paradigma de
flexibilidade da produção de forma geral abrangido pelo Toyotismo
5
Pode-se notar uma maior
pressão com respeito à individualização do trabalho e a exploração deste. As empresas têm
demandado da mão de obra contratada cada vez mais qualificação e “empenho” para a realização
de diversas funções distintas nos postos de trabalho, ampliando a necessidade de um profissional
polivalente, que na realidade se traduz em uma maior sobrecarga e uma maior exploração subjetiva
5
De acordo com Navarro e Padilha (2007), este paradigma difundido pela ascensão da microeletrônica tem como
principal objetivo a obtenção de pequenas séries de produtos variados com custos reduzidos, utilizando das novas
tecnologias para uma produção just in time, ou seja, procurando efetivar a venda rapidamente sem a utilização de uma
produção em massa de bens semelhantes ou a utilização de grandes estoques de mercadorias.
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do trabalho. Esse novo paradigma traz consigo uma maior exploração não somente da força sica
(objetiva) do trabalho, mas sim uma forma de expropriação das qualidades intelectuais (subjetivas)
de cada indivíduo como mecanismo gerador de mais-valor.
Contrariamente ao operário do taylorismo/fordismo que desempenhava tarefas altamente
simplificadas, repetitivas, monótonas e embrutecedoras, o trabalhador no Toyotismo,
estaria transformando em um trabalhador "altamente qualificado", "polivalente"
"multiprofissional". Na ptica, várias pesquisas demonstram que estas mudanças, de
forma geral, ao invés de qualificar o trabalhador o sobrecarrega com mais trabalho
(NAVARRO; PADILHA, 2007, p.18).
o que se observa é que o Toyotismo mantém as formas objetivas de exploração do trabalho
e amplia as formas subjetivas de exploração (NAVARRO; PADILHA, 2007, p.18).
Além dos problemas que cerceiam a classe trabalhadora após a consolidação das novas
formas de produção, algumas mudanças nos modos de organização dos produtores, ou seja, dos
detentores dos meios de produção, podem ser discutidas nesse novo paradigma. As mudanças
tecnológicas exigem das empresas investimentos massivos em novos equipamentos e instrumentos
que façam os antigos processos de forma mais produtiva, apontando para a tendência de aumento
das práticas que possuem caráter poupador de mão de obra. Agora, porém, essa nova forma de
produzir tem um caráter que passa a ser essencial para o sucesso das empresas modernas, sendo
este, o investimento em intangíveis. A necessidade de se manter competitivo faz com que haja uma
elevada quantidade de capital investido em pesquisa, marketing, desenvolvimento, desenho,
sustentabilidade, entre outros. O que se nota então, é um custo superior e cada vez mais necessário,
o somente devido a inovação constante das tecnologias aplicadas diretamente no sistema
produtivo, mas inclusive por essa nova necessidade de se investir em capitais intangíveis, para que
o processo de circulação do dinheiro se efetive, para que o ciclo do capital se complete. Estas
alterações o necessariamente aparecem como investimentos produtivos, porém configuram
instrumentos indispensáveis para a sustentação do sistema produtivo na era financeira e comercial
no contexto de globalização.
Com a inevitabilidade da reposição ou renovação do capital fixo, a partir da introdução de
novas tecnologias, tendência observada de forma cada vez mais frequente após a revolução da
microeletrônica, somando-se às necessidades modernas estabelecidas pelo aparato publicitário e a
toda a gama dos investimentos em intangíveis, as formas pelas quais o capital mercadoria busca
sua efetivação em capital dinheiro na esfera da circulão passa a ser cada vez mais dispendiosa e
inerente ao processo acumulativo. Em fuão disso, o que vem se observando empiricamente, a
partir da década de 1980 especialmente, é a tendência de um surgimento cada vez mais recorrente
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de monopólios e oligopólios mundiais, que se dão através da fusão ou cooperação de empresas.
Esse plano produtivo industrial de forma concentradora aparece tanto para o controle de um setor
específico da economia por uma indústria como para conglomerados que controlam toda a extensão
da cadeia produtiva.
Na concretização, no plano produtivo, de oligopólios internacionais, mundiais ou, se se
quiser, globais” em rias indústrias importantes, nas quais a internacionalização
competitiva das grandes empresas americanas, europeias e, depois, japonesas já apontava
desde fins dos anos 70 para a concentração da concorrência mundial em algumas
poucas empresas. O caso mais conspícuo de oligopólio mundial é o da indústria
automobilística, na qual não mais que dez produtores internacionalizados dominam e
competem por fatias de mercado em escala global. Outros exemplos podem ser
mencionados, como o caso da indústria farmacêutica, de alguns setores de material elétrico
pesado, informática, eletrônica de consumo, “cosméticos”, química, metais não ferrosos
(COUTINHO, 1992, p. 82-83).
É possível notar que essas novas necessidades de correlação e união entre os capitais e a
maior interligação entre setores tornam-se condições indispensáveis para a produção. É comum
então que estes se desenvolvam em economias que possuam ambientes macroeconômicos mais
favoráveis, com externalidades benignas e um aparelhamento das decisões econômicas em função
do desenvolvimento das indústrias nos tempos modernos, essas que são símbolo do progresso na
estrutura capitalista. As nações que conseguiram fomentar a formação bruta de capital pelas novas
formas de financeirização e poticas macroeconômicas bem-sucedidas são as que se encontram
atualmente na fronteira do desenvolvimento tecnológico, consistindo nos Estados-Nação mais
desenvolvidos.
Parece ser razoável tentar visualizar a conexão que existe entre as políticas cambial e
financeira as principais políticas de ajuste e coordenação macroeconômica e as
condições internas e internacionais que deram suporte ao processo de reestruturação
industrial. Assim, as flutuações nas taxas de câmbio e de juros, acompanhadas de fortes
movimentos de capitais, modificaram as condições de financiamento do Estado e de
rentabilidade da grande empresa dentro dos pses centrais, forçando a um aumento da
competição internacional que, por sua vez, obrigou a uma rápida transformação industrial
e tecnológica. Esse processo acelerado de reestruturação foi bem-sucedido nos países
onde as condições microeconômicas, de organização industrial e as políticas do Estado
tiveram condições de ser compatibilizadas (TAVARES, 1992, p. 21).
Tal aspecto é notado após o aumento expressivo da “interpenetração patrimonial entre as
grandes burguesias industriais e financeiras das principais economias capitalistas” (COUTINHO,
1992, p. 81), tendência que é observada concomitantemente ao advento das telecomunicações e da
globalização do mercado financeiro, este operando agora em escala mundial com alta
conversibilidade entre tulos e imediato processamento das informações e transações. As grandes
indústrias capitalistas do mundo moderno podem ser caracterizadas pela continuidade e
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predominância da ampliação da acumulação de capital de forma cada vez mais concentradora.
Agora, porém, essas indústrias se apresentam cada vez mais atreladas a um avançado sistema
financeiro, interligado globalmente, engendrando grandes conglomerados industriais e financeiros
que, em consequência de sua grande relevância para a economia de certa nação, passam a ter papel
considerável e, na maioria das vezes, prioritário, no tocante das tomadas de decies
macroeconômicas e políticas públicas adotadas, enviesando as decies da esfera governamental
cada vez mais às benesses capitalistas.
As significativas tendências de mudança e de reorganização tecnológica, empresarial e
financeira das principais economias capitalistas na última década e a projeção do
aprofundamento dessas tendências nos anos 90 (peso crescente do complexo eletrônico,
avanço da automação fabril flexivelmente integrada por computadores, reorganização dos
processos de trabalho, mudanças nas estruturas e nas estragias das grandes empresas,
caráter crescentemente “construídoda competitividade, avanço de formas “globais” de
internacionalização, sourcing tecnológico, e em especial da interpenetração patrimonial
entre as grandes burguesias nacionais, intensificação de alianças tecnológicas inter-
oligopolistas) configuram um cenário de evidente acelerão da inovação econômica,
entendida como uma onda Schumpeteriana endogenamente articulada (COUTINHO,
1992, p. 86).
Apresenta-se ainda nesse novo contexto o fato de que as políticas salariais que eram
coordenadas por forte articulação sindical se mostram cada vez mais enfraquecidas em um cenário
de “vitória” da vertente ortodoxa (neoliberalismo) consentida entre as economias mais influentes.
Hoje trata-se de forma orgânica os atuais processos de flexibilização do emprego e da jornada de
trabalho, parece haver um consenso entre as economias que naturalizar esse processo é necessário
para essa nova era tecnológica, diretamente conseguimos entender as novas necessidades do capital
moderno afetando as relações que tangem o contexto do trabalho assalariado.
Referimo-nos à menor participação dos sindicatos na definição das políticas salariais e no
controle do processo de trabalho, e à “flexibilização do mercado de trabalho aceita por
quase todo o mundo capitalista com a exceção, até agora, do Japão e de alguns poucos
países da antiga tradição socialdemocrata. Essa mudança ajuda a explicar por que a
“pactuação social”, como alternativa às poticas ortodoxas de estabilização, sofreu tantos
reveses na década que se encerra e por que quase todos os países capitalistas tornaram-se
“monetaristas” (TAVARES, 1992, p. 21).
Pelo que foi explicitado até aqui é possível observar mudanças sobre a continuidade do
processo de acumulação na esteira dos avanços tecnológicos necessários para o desenvolvimento
do capitalismo industrial. Entretanto, as formas como essas indústrias se desenvolvem, a partir das
inovações decorrentes da década de 1970, apresentando, por exemplo, caráter ultra poupador de
o-de-obra, evidenciam algumas mudanças na composição industrial. A instria, porém,
símbolo do avanço e desenvolvimento capitalista a despeito das novas mudanças no contexto
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globalizado se ime perante esta nova forma competitiva. As implicações dessas mudanças
inevitáveis serão vistas no próximo capítulo, o qual analisará como o estado de estagnação
econômica atual tem origem em uma tendência secular da queda da taxa de lucro, ocasionada pela
queda das taxas de crescimento da produtividade do trabalho, esta, por sua vez, estaria levando a
uma reestruturação produtiva que se apresenta cada vez mais degradante à classe trabalhadora,
impondo riscos à manutenção da vida em sociedade de forma sustentável.
3. Implicações das práticas de manutenção da taxa de lucro no século XXI: As
consequências da estagnação prolongada
Agora que os traços gerais sobre como a terceira revolução tecnológica reestruturou os
mecanismos de acumulação do capital, seja por meio do massivo uso das novas tecnologias, seja
pelas novas possibilidades advindas da globalização financeira, foram indicados, analisaremos o
contexto do decrescimento das taxas anuais de produtividade do trabalho, que se inicia com a
ascensão da microeletrônica, e as manifestações diretas deste femeno à sociedade.
Consolidando-se após o fim da década de 1970, essa tendência ao decrescimento ise
manifestar através da queda tendencial da taxa de lucro. Em decorrência desse declínio iminente
são criados novos instrumentos para a manutenção de um sistema em estagnação. As consequências
dessas novas aplicações do capital em prol da manutenção da taxa de lucro se evidenciarão, em um
caráter preliminar, pelo aumento das desigualdades e da concentração de renda, aumento do
desemprego, exploração degradante dos recursos naturais, entre outros.
A partir de uma análise do caráter evolutivo da desigualdade (tanto a da renda do trabalho
como a do capital) e sua ascensão após a estruturação da revolução da década de 1970, buscaremos
evidenciar que as erupções tecnológicas deste período são insuficientes para gerar desenvolvimento
sustentável da sociedade, uma vez que a concentração de renda tem apresentado nos períodos
recentes níveis nunca antes registrados como será constatado mais adiante o que é consequência
de uma estagnação secular ocasionada pela baixa taxa de acréscimo da produtividade, visível a
partir deste período. A tecnologia, por sua vez, absorve nestes tempos a responsabilidade de tornar
o capital investido um fator de produção que possua a característica de agregar ganhos de
produtividade ao processo produtivo. Pode-se assim encontrar alguns usos do emprego da
tecnologia como fomentadora de formas úteis do capital transformado em mercadoria atualmente,
de toda forma não é sempre assim que ela se apresentará. Como veremos mais adiante, os avaos
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tecnológicos, como todo o capital em movimento, não se apresentam pelo caráter útil que este pode
desempenhar para sociedade e, em alguns casos, não conseguirão sequer desempenhar o papel de
aumentar a produtividade, em decorrência de maior volume de capital aplicado.
De fato, as trajetórias históricas observadas sugerem que é possível ao menos até certo
ponto encontrar formas úteis e novas para utilizar o capital: por exemplo, novas
maneiras de construir ou de equipar alojamentos (pode-se pensar nos painéis solares dos
telhados ou mesmo nos controles digitais de iluminação), equipamentos de robótica ou
eletrônicos cada vez mais sofisticados, ou ainda tecnologias mais avançadas da medicina
(PIKETTY, 2014, p. 285-286).
Assim, ao analisarmos as formas úteis de aplicabilidade do capital, notamos que os
desdobramentos mais recentes dos rendimentos deste por vezes o seguem a lógica discutida
acima. Os capitais que mais ganham força após a reestruturação global e financeira, no sentido de
acumulação e valorização, são justamente aqueles que emergem das instituições financeiras e dos
mercados de ações. Os capitais que se apresentam nesse mercado financeiro em nada agregam ao
caráter útil da produção de mercadorias para o atendimento das necessidades humanas, possuem a
característica de valorização, porém irão gerar rendas aos que detiverem as maiores fatias de
patrimônio. Quando tratamos deste tipo de capital, o capital especulativo, além de não estar sendo
aplicado produtivamente, a sua virtualvalorização será tanto maior quanto maior o patrimônio
daqueles que investem nesses mercados. Piketty (2014) faz uma crítica ao capital especulativo no
contexto de “mobilidade perfeita de capitais
6
, proposta pelos teóricos ortodoxos: “Na prática, as
instituições financeiras e os mercados de ações passam longe desse ideal de perfeição e em geral
se caracterizam por instabilidade crônica, ondas de especulação e sucessivas bolhas” (PIKETTY,
2014, p. 280).
O problema da desigualdade pode ser observado através de duas óticas. O primeiro ponto
de vista se refere à desigualdade em relação ao trabalho, o que significa dizer que há remunerações
diferentes a serem recebidas, enquanto salário, de acordo com a função desempenhada por cada
trabalhador no sistema capitalista. Esse tipo de desigualdade, por mais que se apresente de forma
mais branda, nos permite analisar algumas implicações. Além gerar um véu sobre a própria
consciência de classe, ocasionando um certo tipo de apartheid enquanto classe trabalhadora, ao
considerarmos que as melhores remunerações serão auferidas aos trabalhadores com as melhores
qualificações, notaremos, de forma empírica, que os possuidores de algum patrimônio herdado ou
6
“Um mercado de capital é ‘perfeitoquando permite que cada unidade de capital possa ser investida no melhor uso
possível, obtendo a produtividade marginal máxima disponível na economia” (PIKETTY, 2014, p. 280).
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os que vierem de famílias com bases sólidas em recursos acumulados (capitais), sem dúvida, terão
oportunidades tão diferentes da maior parcela da população não detentora de patrimônios que se
torna impossível e até inico considerar o conceito de meritocracia como válido, reconhecendo a
existência dessas tamanhas disparidades de quantias de capital nas sociedades modernas.
Assim, ao medir os efeitos da desigualdade de renda nos Estados Unidos, podendo ser
considerada a economia mais desenvolvida do sistema capitalista, Piketty (2014) consegue mostrar
que os efeitos dessa diferença de renda têm se acentuado após o início da década de 1980. De fato:
Se a tendência à concentração crescente da renda do trabalho observada nos Estados Unidos ao
longo das últimas décadas continuar, 50% dos mais mal remunerados poderão receber menos da
metade da massa salarial que ganham os 10% mais bem pagos até 2030” (PIKETTY, 2014, p. 327).
Pela Figura 1 é possível identificar que a parcela dos 10% mais bem remunerados, considerando o
montante da renda nacional, recebe percentuais desta a níveis maiores que os do início do século
XX. Tal comprovação reafirma a ideia de um paradigma atual em esgotamento, incapaz de gerar
algum desenvolvimento social equitativo.
Figura 1 A desigualdade de renda nos Estados Unidos, 1910-2010
Fonte: Extraído de Piketty, 2014, p. 365.
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O que temos então é que a disparidade de renda do trabalho tem causalidade e se agrava
pelo segundo tipo de desigualdade, sendo está a do capital. O capital mencionado aqui por Piketty
(2014) diz respeito ao patrinio acumulado possuidor do caráter de valorização, ou seja, de gerar
alguma taxa de lucro aos seus detentores. Dito isso, podemos analisar os efeitos das disparidades
da acumulação desse capital no contexto do aumento da composição orgânica descrita por Marx
(2013), evidenciando impactos deste acúmulo ao longo do tempo como consequência da tendência
de queda da taxa de crescimento da produtividade observada.
A desigualdade da riqueza (considerando que a riqueza pode ser compreendida como
acúmulo de capital individual) é sempre extrema e possui implicações muito mais onerosas à
sociedade. A forma aparente desse capital “não é muito diferente do que no século XVIII. Somente
a forma mudou: se antes o capital era fundiário, ele tornou-se imobiliário, industrial e financeiro
(PIKETTY, 2014, p. 477). Entretanto, a desigualdade de renda do capital não apresentou nenhuma
tendência significativa de mudança, considerando o período de análise do caráter dominante da
propriedade privada. Mais da metade da populão nunca possuiu nenhum tipo de patrimônio
acumulado. Assim, a heraa que, de uma maneira geral, respalda na quantidade de formação
educacional que pode ser adquirida não apresentou nenhum aspecto de melhora. Pelo contrário, a
quantidade de pessoas que fazem suas heranças servirem como renda atingiu níveis nunca antes
vistos. Em resumo, uma gigantesca desigualdade estrutural herdada da renda de capital interfere
diretamente na possibilidade de mudanças na desigualdade de renda do trabalho, indo em
contrapartida ao conceito tido como difundido de “meritocracia”, ou seja, é tecnicamente
impossível prover condições iguais de desenvolvimento enquanto indivíduos sociais, considerando
as bases patrimoniais desiguais sobre as quais está estabelecida a sociedade capitalista.
A repartição da riqueza e, portanto, da renda do capital é sempre mais concentrada
do que a da renda do trabalho. Em todas as sociedades conhecidas, em todas as épocas, a
metade mais pobre da população em termos patrimoniais o possui quase nada (em torno
de 5% da riqueza total), o décimo superior na hierarquia da riqueza detém a maior parte
da riqueza disponível na sociedade (em geral mais de 60% da riqueza total, por vezes
chegando a 90%), e a população entre esses dois grupos (ou seja, 40% da população)
detém algo entre 5% e 35% do patrimônio total (PIKETTY, 2014, p. 425).
De fato, o que se observa de forma latente é o aumento da porcentagem da população que
recebe como herança no nimo o equivalente à uma vida de remuneração da população menos
paga. Observando a Figura 2, podemos notar que os anos que remetem ao início do capitalismo
industrial mostram cerca de 10% da população possuidora de herança equivalente ao montante que
um trabalhador comum conseguiria acumular durante todo o período explorado de sua vida
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submetida à jornada de trabalho. Esse índice, no entanto, passa a cair durante as décadas que podem
ser consideradas mais produtivas ao desenvolvimento industrial capitalista. Notadamente, no
período que contempla a predominância do paradigma fordista e o de seu posterior esgotamento
essa tenncia à queda se inverte. Após o fim da década de 1970, a proporção de pessoas que
obtinham suas quantias de herança equivalentes a uma “vida salarial” atingiu níveis nunca antes
vistos. Essa tendência se apresenta em atual crescimento. Hoje, cerca de 14% do montante
populacional da atual geração possui ótimas condições, por exemplo, de expandirem seus
patrimônios através de formação de qualidade, desempenhando funções produtivas ao sistema
vigente, por outro lado podem simplesmente usufruir dessa herança através das formas de
valorização que os capitais acumulados atualmente podem proporcionar.
Figura 2 Percentual de cada geração que recebe como herança no nimo a quantia salarial de
uma vida dos 50% menos remunerados, 1790-2030
Fonte: Extraído de Piketty, 2014, p. 533.
Se estamos trabalhando com o fato de que existe cada vez mais pessoas usufruindo de
patrimônios acumulados, significa dizer que a proporção de capital de períodos anteriores vem se
acumulando em maior proporção e de forma mais desigual, o que é observado com mais frequência
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após a inserção frenética da tecnologia nos mais diversos ramos econômicos. o é nenhum
segredo pela lei geral da acumulação capitalista desenvolvida por Marx (2013) que a acumulação
do capital de forma crescente e sua aplicação em maior proporção nos processos produtivos, em
contraposição a utilização do trabalho, único gerador de mais-valor, tende a configurar um aumento
observável da composição orgânica do capital. Esta, por sua vez, explica a queda da taxa de lucro
observada na maioria das economias atuais. Tal fato nos mostra que o acúmulo de capital por si
o permite nem se mostra suficiente para o desenvolvimento social ordenado: “[h]oje, sabe-se que
apenas o crescimento da produtividade permite um crescimento estrutural de longo prazo”
(PIKETTY, 2014, p. 298). Observando então os estoques crescentes do capital atual, podemos
comprovar que as taxas anuais de produtividade do trabalho, em contraposição a este índice, estão
caindo. Posteriormente, pelos estudos de Prado (2015) comprovaremos a queda dessa taxa, que
afeta diretamente a margem de lucro. Os efeitos desta se apresentarão para a sociedade através de
uma série de limitações e a piora dos índices de qualidade de vida, além de agravar a disparidade
de renda, como visto anteriormente, revelando uma série de problemas estruturais criados pelo
próprio método competitivo adotado pelo capitalismo.
Logo, a acumulação incessante de capital e a perpetuação desse processo em escala global
e centralizada ocasionará a queda da taxa de lucro média. Essa tendência de queda da taxa de lucro
pode ser confirmada pelos gráficos vistos de concentração de renda crescente, o que demonstra
acúmulos de capitais em maior escala e de forma mais concentradora, além do percentual de
pessoas que possuem heranças relativamente comparáveis aos salários da grande massa terem
aumentado em quantidades históricas. Considerando ainda o rendimento puro do capital, que seria
uma forma de média dos rendimentos gerados pelos capitais no decorrer do processo histórico
perceberemos a tendência de queda. Essa queda nas taxas de rentabilidade das diferentes formas
do capital está diretamente relacionada à perspectiva sobre a taxa de lucro, que parece não
conseguir manter seu patamar gestado historicamente, evidenciando graves problemas decorrentes
da manutenção artificial desta taxa.
De acordo com as pesquisas de Piketty (2014), ao considerar o rendimento puro do capital,
o que se nota é uma queda aparente no nível desta remuneração. Para o autor, nos séculos XVIII e
XIX, este nível médio chegou a ultrapassar a margem de 5% de valorização anual, entretanto, agora
no século XXI, esse índice se aproxima de um teto de 3-4%, tendo como principal justificativa o
aumento da razão capital/renda, esta que mostra um acúmulo de capital maior em relação aos
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aumentos de renda do trabalho, não observados principalmente após o esgotamento do paradigma
fordista, como foi anteriormente mencionado.
É possível que o rendimento puro do capital tenha, todavia, sofrido uma leve redução no
longuíssimo prazo: ele muitas vezes ultrapassou os 4-5% nos culos XVIII e XIX, e no
início do século XXI parece se aproximar de 3-4%, à medida que a razão capital/renda
retorna aos níveis elevados do passado (PIKETTY, 2014, p. 272).
Uma série de dados nos mostraram até aqui que parece haver certa dificuldade para o
capital recente se manter produtivo, gerar acúmulos crescentes de riqueza, prover desenvolvimento
e crescimento no longo prazo de forma estável e superar as mazelas sociais criadas, estas por sinal
se mostram em ascensão. Esse fato pode ser altamente correlacionado com a queda das taxas anuais
de produtividade do trabalho. A próxima Figura exposta por Baily e Montalbano (2016), retirada
do banco de dados da OCDE, nos mostra este índice medido para os países do G-7.
Figura 3 Taxa de crescimento anual da produtividade do trabalho para os países do G-
7, 1973-2013
Fonte: Extraído de Baily e Montalbano, 2016, p. 04.
Para os autores Baily e Montalbano (2016) essa tendência de queda das taxas de acréscimo
da produtividade do trabalho é observada recentemente em todos os países mais desenvolvidos.
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s estamos todos no mesmo barco”
7
(BAILY e MONTALBANO, 2016, p. 05). Segundo este
estudo, é muito provável que essa tenncia se apresente também nas economias mais pobres.
Observada a partir da década 1970, a queda das taxas anuais de crescimento da produtividade nunca
se apresentou tão forte após a implementação de um novo paradigma tecnológico e, apesar de não
ser um tema tratado com a relevância necessária pelas autoridades políticas das maiorias das
nações, nos mostra uma realidade de estagnação iminente com efeitos diretos para toda sociedade,
porém em maior magnitude sobre as classes miseráveis.
Sob esse contexto, Prado (2015) discute que o sistema social baseado na propriedade
privada dos meios produtivos, do capital vinculado a uma produção pela própria produção,
atendendo uma necessidade de valorização e não as necessidades humanas. Sobre este último
caráter, por mais que tenha se apresentado um aumento nas possibilidades de supri-las (as
necessidades humanas) em decorrência dos avanços da ciência e da tecnologia como um todo, a
desigualdade nos escancara a realidade em que apenas uma parcela da população tem acesso a
esses avanços” de bem-estar. A história desse modo produtivo se apresenta de forma
concentradora. A concentração de renda leva a extremos de posses materiais entre as classes muito
distintos. Uma pequena parcela da população terá gigante controle sobre a natureza e os meios para
transformá-la (incluindo-se assim o controle estrutural sobre a classe não detentora de capital),
ocasionando em acesso exorbitante e em sua maioria supérfluo a uma gigante fatia das
mercadorias produzidas, obtido através da abundância de seu equivalente geral (dinheiro)
expropriado nessa separação, enquanto a maior parte populacional, encontrada marginalizada a
este acesso, cumprindo o caráter de produtora desses bens, agoniza sem acesso às mais básicas
condições de vida como moradia, saneamento sico, segurança e saúde. Não se trata de uma
disparidade de acesso às mercadorias supérfluas, criadas para o atendimento de uma necessidade
de valorização do capital: a disparidade estrutural observada priva um montante populacional de
recursos necessários à vida de forma digna em sociedade, que se melhor distribuídos poderiam
engendrar em um sistema menos díspar.
Ora, no alvorecer do século XXI, sabe-se que a capacidade de suprir as carências materiais
do gênero humano se tornou enorme. Sabe-se também, porém, que essa capacidade tem
sido empregada de maneira assimétrica, distorcida e mesmo muito perversa: se uma
parcela pequena da população mundial, isto é, aquela parte que vive principalmente nos
países de capitalismo desenvolvido, tem sido atendida exagerada e superfluamente, uma
grande porção, isto é, aquela parte formada pelos “pobres” do mundo em geral, ainda vive
em condições precárias, senão miseráveis. Ademais, também se sabe que as forças
7
Tradução livre do autor. No original “We are all in the same boat” (BAILY e MONTALBANO, 2016, p. 05).
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produtivas já desenvolvidas têm sido empregadas de um modo extremamente predatório,
com enormes devastações da natureza humana e do ambiente natural humanizado; e que,
em consequência da louca corrida por um crescimento sempre mais descontrolado, a
própria existência do ser humano no planeta Terra está se tornando crescentemente
ameaçada (PRADO, 2015, p. 02-03).
Considerando os dados da variação do emprego e da produtividade do trabalho nos setores
produtivos para a economia norte-americana a partir de 1950 podemos apontar algumas conclusões
a respeito dessa trajetória. A partir do percurso temporal disposto na Figura 4 notamos que há uma
clara tenncia à queda do emprego neste últimos anos, é possível enxergar evidentemente os
surtos produtivos influenciando o aumento do emprego no período fordista (até o fim da década de
1960), posteriormente, com o fim do esgotamento desse paradigma, as taxas anuais do crescimento
da produtividade e do emprego apontam para o decrescimento. Durante a década de 1990 colhemos
rapidamente os frutos da expansão proporcionada pela revolução da microeletnica, mas como já
suposto anteriormente, o aumento produtivo passou longe de ser suficiente para manter a
estabilidade do crescimento produtivo aos níveis medidos pelas expansões das revoluções
anteriores. O que notamos a partir do início do século XXI é a insuficiência do paradigma atual em
sustentar as taxas de aumento da produtividade e do emprego.
Figura 4 Taxa de variação anual do emprego e da produtividade nos Estados Unidos,
1950 - 2008
Fonte: Extraído de Prado, 2015, p. 05.
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71
A partir dessas evidências o autor
8
considera que o capitalismo atual perdeu seu caráter
que ainda hoje é bastante difundido de progressividade. O que se observa é uma tenncia secular
de queda das taxas anuais de crescimento da produtividade, que se apresenta de forma concretizada
sobre a produção recente através da queda da taxa de lucro. A busca pela manutenção desta taxa
de valorização, que garante a renda das classes abastadas, solapa o conceito de desenvolvimento:
o crescimento e a manutenção dos ganhos da classe dominante se tornam prioridade. Como
consequências claras notamos a degradação ambiental em escala crescente e a pressão cada vez
maior no que diz respeito à flexibilização das leis trabalhistas, retirando direitos conquistados em
uma luta histórica de classes. A degradação da natureza e da humanidade não podem ser encaradas
como meros objetos suscetíveis a qualquer exploração em função da manutenção dos interesses e
dos ganhos exorbitantes dos mais poderosos.
Sabe-se bem o que o capitalismo propiciou ao longo de sua história por vários culos:
um aprofundamento da dominação da natureza, uma elevação muito acentuada da
produtividade do trabalho e uma enorme concentração da riqueza e da renda. Sabe-se,
também, que esse processo entrou no caminho de seu próprio esgotamento, tendo
passado de progressivo à regressivo. Eis que trouxe consigo uma crise ecológica que
ameaça a própria existência da humanidade, uma precarização das condições de trabalho
para enormes contingentes populacionais e, finalmente, um contraste gritante entre uma
superabundância para alguns e uma pobreza para muitos outros. Logo, para que o futuro
reserve aos seres humanos mais civilização e não mais barbárie é preciso que o
processo de produção se transforme e se volte para o atendimento das necessidades sociais,
coletivas e pessoais, de uma forma ao mesmo tempo serena, equitativa e sustentável
(PRADO, 2015, p. 03).
É sabido pelos estudos desenvolvidos por Marx (2013) que essa tendência da queda da
taxa de lucro se apresentaria recorrentemente pelas crises de superprodução. O mecanismo que
exe essa tenncia diz respeito à forma de oferta das mercadorias desempenhada. Como a
competitividade entre os capitais individuais é o “motor” para a produção das mercadorias é normal
que cada um busque a redução dos custos unitários individuais das mercadorias produzidas através
dos meios produtivos detidos e da mão de obra abundante facilmente contratada, pela abunncia
desta estar submetida a esse processo em função de não deter nenhum quantum de riqueza
acumulada. Dessa forma, ao buscar incessantemente a redução dos custos do trabalho, estão
8
Com respeito aos dados arranjados na Figura 4: “A informação usada na construção desse gráfico foi colhida num
artigo escrito por dois autores marxistas, Deepankar Basu e Duncan Foley (2011, p. 16), que trata do desempenho da
economia norte-americana no pós-guerra. Os dados de produto, de emprego de força de trabalho e de produtividade
do trabalho usados referem-se a um conjunto restrito de setores da economia privada norte-americana. Nesse conjunto
foram incluídos apenas os setores geradores de valor real, ou seja, os setores de mineração, de agricultura, de
construção civil e de manufatura; foram incluídos também alguns setores produtores de serviços; porém, foram
excluídos os subsetores de finanças, de seguros e de administração imobiliária” (PRADO, 2015, p. 05).
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gerando reduções da quantia de mais-valor gerado, em contraposição ao uso cada vez maior de
capital acumulado na produção, ocasionando queda clara da taxa de lucro.
A competição de capitais gera inexoravelmente, com desprezo pela natureza das relações
sociais capitalistas, o desenvolvimento das forças produtivas, o que reduz a quantidade
necessária de trabalho para produzir um dado volume de valores de uso; por outro lado,
dada a própria natureza dessas relações, o processo de produção se orienta pela
conservação do valor acumulado como capital e por sua máxima valorização possível.
A redução relativa da massa de valor gerado e, assim, do mais-valor gerado em relação
ao capital acumulado gera a crise. Pois, a queda da taxa de lucro produz a contração
sistêmica do investimento e, assim, da demanda efetiva (PRADO, 2015, p. 09).
Comprovando essa tendência da estagnação secular a partir de um crescimento cada vez
mais lento em torno dovel zero, podemos analisar a série histórica do crescimento anual do PIB
nas economias de alta renda. É tido pela Figura 5 a possibilidade cada vez mais remota de se
atingir crescimentos anuais na esfera da produção parecidos aos de 50 anos atrás. A produção total
tem declinado no horizonte de longo prazo, evidenciando uma dificuldade a este processo,
justificado pelo aumento expressivo do setor de serviços e financeiro: a partir da última revolução
tecnológica, estes dois últimos setores que ganham destaque frente ao setor direto da produção nos
tempos recentes. Assim, essa tendência de queda do crescimento evidencia uma mudança estrutural
nas formas de organização socioeconômicas da atualidade. O crescimento do setor de serviços, ou
seja, aquele que engloba os aspectos de marketing, divulgação, aperfeiçoamento de técnicas,
publicidade, vendas, teleatendimento, etc. e do setor financeiro, tendo em sua maioria a ocorrência
de atividades com caráter improdutivo, acompanhado de uma maior terceirização dessas atividades
(exteriorização de atividades antes realizadas internamente) pelas plantas industriais
verdadeiramente produtoras das mercadorias, se mostra como causa direta para a ocorrência desse
processo.
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Figura 5 Crescimento anual do PIB nas economias de alta renda, 1961-2009
Fonte: Extraído de Durand e Lé, 2014, p. 02.
Com respeito a esta tendência de queda, Prado (2015) conclui sobre os dados
apresentados:
Aqui é importante mencionar a terceira hipótese considerada por Durand e Légé, a qual
adiciona um elemento importante na análise feita. Nesse ponto, eles mencionam que no
capitalismo contemporâneo tem ocorrido um crescimento mais do que proporcional, muito
expressivo, das atividades improdutivas, ou seja, daquela que não produzem mais-valor
para o capital, mas, ao contrário, capturam partes do valor já produzido. Ora, isto tem sido
constatado também por outros autores, inclusive por meio de estudos empíricos que
reexaminaram certas estatísticas nacionais do ponto de vista da economia clássica, tais
como os de Paitaridis e Tsouldifis (2012) e de Mohun (2013). Esses estudos mostraram
que o trabalho improdutivo tem crescido em função de uma inclinação à expansão do setor
governo, das atividades produtoras de bens coletivos (educação, saúde etc.), assim como
das atividades de circulação (finanças, seguros etc.) no conjunto das atividades
econômicas, ao longo das últimas cadas. Como se indiciou na introdução, o aumento
relativo do trabalho produtivo reduz o mais-valor disponível para a acumulação (PRADO,
2015, p. 17-18).
É fácil constatar a hitese de que o setor improdutivo tem crescido muito mais que o
produtivo. Em uma análise sobre as firmas que operam na fronteira tecnológica a partir dos anos
2000, Baily e Montalbano (2016) demonstram pela Figura 6 como as taxas anuais de produtividade
tem evoluído diferentemente para o setor manufatureiro e para o setor de serviços, considerando
as empresas que estão na fronteira tecnológica de desenvolvimento (traçado mais forte) e as demais
(traçado mais claro). A tendência de crescimento do último setor é claramente percebida, em
contraposição parece haver uma estagnação no aumento da taxa anual de produtividade das plantas
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manufatureiras, ou seja, sobre o setor que realmente efetiva a produção das mercadorias através da
utilização de equipamentos (capital), insumos e mão de obra em favor da produção de bens que
possuem caráter útil. Evidencia-se assim um teto produtivo sobre o qual não é possível ultrapassar
utilizando as tecnologias disponíveis.
Figura 6 Nível de crescimento da produtividade registrado para as firmas inseridas na fronteira
tecnológica e as demais, nos setores manufatureiros e de serviços, 2000-2015
Fonte: Extraído de Andrews, Criscuolo e Gal (2016) apud Baily e Montalbano, 2016, p. 11.
Essa mudança estrutural reflete diretamente no nível de crescimento do emprego
proporcionada pelo sistema atual. Atualmente, as novas profissões exigem cada vez mais
capacitação, qualificação e desempenho dos trabalhadores, além da capacidade cognitiva de lidar
com diferentes aspectos na esfera da subjetividade e da criatividade. Dessa forma, a expansão da
sociedade moderna está atrelada à perpetuação de profissões que não necessariamente gerarão
ganhos crescentes de produtividade, como as grandes massas empregadas nas indústrias do século
passado foram capazes de gerar. A expansão de um setor não produtivo está relacionada à tentativa
de manutenção de um sistema que ainda é sustentado pela valorização proporcionada na produção
de mercadorias em função de uma taxa de lucro mundialmente aceita. Contrariamente à ideia de
produção de mercadorias com o aumento produtivo como peça-chave requerida para a manutenção
de uma taxa de lucro historicamente construída, notamos que o é necessário que uma atividade
tenha ganhos produtivos ou gere uma taxa de lucro para que as reais necessidades humanas sejam
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v.5, n.2, p. 54-77, ago/dez 2019
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atendidas com os recursos desenvolvidos. Como exemplo disto, podemos citar a área médica.
Atualmente a produtividade nesse setor se mostra em declínio, à medida que se observa cada vez
mais a utilização de um maior número de profissionais qualificados para a realização de um
procedimento com máxima eficiência e segurança. Assim, a qualidade do serviço aumenta e não
necessariamente a produtividade, ou a taxa de lucro. Isso mostra o quão danoso e alienante a
sustentação do sistema de valorização pode se mostrar em relação à verdadeira realização do
atendimento das necessidades humanas.
O emprego de máquinas “inteligentes” nas atividades produtivas em geral, por um lado,
requer a requalificação de antigas ocupações e o aparecimento de novas profissões
tecnicamente sofisticadas. A redução do trabalho rotineiro faz crescer, ao mesmo tempo e
em certa medida, um trabalho mais qualificado que requer o apenas mais educação
formal e informal como também o emprego de inteligência estética, emocional e/ou
criativa, ou seja, de qualidades tipicamente humanas (PRADO, 2015, p. 16).
Tais consequências modernas da ascensão industrial e tecnológica nos mostram o caráter
destrutivo da continuidade desse processo para o esperado bem-estar social. “Em resumo, o
capitalismo é incapaz de encontrar a justa medida entre as necessidades humanas e a apropriação
da natureza; é incapaz, por isso, de gerar a realização humana e o desenvolvimento sustentável da
humanidade como um todo(PRADO, 2015, p. 11). A sustentação indiscriminada desse sistema
em desaceleração se apresenta de forma ameaçadora para as relações de desenvolvimento pelas
quais anseiam à sociedade atual. Dessa forma, precisa-se pensar formas alternativas para a
aplicabilidade das tecnologias em função do bem-estar global, não cabendo a esta ter como
necessidade o atendimento a um padrão de lucratividade implementado: o atender as metas de
rendimentos esperados, mas sim metas que possam proporcionar uma vida mais digna à totalidade
da sociedade humana.
4. Considerações Finais
Através deste trabalho procurou-se evidenciar à queda das taxas anuais de crescimento da
produtividade e as consequentes mudanças advindas das transformações tecnológicas para a
sociedade inserida sob o capitalismo moderno. Neste contexto, analisamos os problemas estruturais
que se apresentam recentemente, alimentando não a continuidade de uma realidade de centro-
periferia no contexto global, mas o aumento das desigualdades sociais como um todo. Os
problemas apresentados (aumento do desemprego, aumento da disparidade de renda, diminuição
de direitos sociais conquistados, entre outros) foram evidenciados em função da tendência secular
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de queda da taxa de lucro ocasionada por um decréscimo das taxas de produtividade após a inserção
tecnológica, iniciada no fim da década de 1970. Essa tendência nos mostra que o acúmulo de capital
de períodos anteriores e maior mecanização das áreas tidas como produtivas contribuíram para a
dificuldade do processo cumulativo da expropriação da mais-valor. Assim, atualmente o que
observamos é um contexto de crescimento estagnado nas principais nações do planeta, mostrando
uma piora em vários indicadores econômicos e sociais em comparação com as épocas anteriores
ao advento das telecomunicações e da microeletrônica.
Dessa forma, a realidade que se apresenta nesse contexto de desaceleração e de dificuldade
em manter o vel esperado de desenvolvimento é a piora das condições trabalhistas, a perda de
direitos conquistados e a insuficiência do modelo atual em prover uma divisão eficiente dos
recursos existentes entre a sociedade. Essas mazelas se manifestam em prol da manutenção de um
sistema que busca gerar valor e o atender as necessidades humanas, muitas vezes criando uma
série de mecanismos que tem como único intuito a continuidade deste processo. Enquanto as
decisões dos indivíduos e o tocante das políticas públicas tiverem a manuteão da obtenção de
uma taxa de lucro historicamente construída como objetivo principal, talvez nunca consigamos
alcançar uma sociedade eficiente em atender as demandas humanas e suprir as carências do gênero
humano.
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