FORMAÇÃO DO ÍNDICE DA CESTA BÁSICA EM CAMPOS DOS GOYTACAZES: UMA ANÁLISE DO NÍVEL DE PREÇOS DA CESTA ALIMENTAR EM 2018.


FORMATION OF THE BASIC BASKET INDEX IN CAMPOS DOS GOYTACAZES: AN ANALYSIS OF THE FOOD BASKET PRICE LEVEL IN 2018


PURL: http://purl.oclc.org/r.ml/v7n1/a2


Luiz Felipe Marvila de Vasconcellos*


Ana Beatriz Vasconcelos


Samuel Alex Colho Campos


Patrícia de Melo Abrita Bastos§


Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar o projeto de extensão realizado pela UFF-Campos na formação de uma cesta básica alimentar e analisar as tendências de preços dos produtos que compõem a cesta básica alimentar da região, constituindo-se em importante instrumento de pesquisa de consumo. O trabalho apresenta os valores da cesta básica de janeiro a dezembro de 2018 e descreve a forma de realização da pesquisa nos supermercados da cidade, explicando os procedimentos metodológicos utilizados para os cálculos. O trabalho compara a evolução dos preços com as cestas básicas divulgadas pelo DIEESE, para as quatro capitais do sudeste, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória. A pesquisa utilizou como base metodológica a análise estatística dos dados coletados pelo projeto IPC Campos dos Goytacazes e do DIEESE. O estudo indicou a semelhança entre a cesta básica campista e a cesta básica de Belo Horizonte. Isso pode indicar uma influência econômica maior do estado de Minas Gerais do que o município do Rio de Janeiro sobre os preços em Campos dos Goytacazes. Por meio desses dados foi possível analisar as tendências de consumo e variações de preço no município de Campos dos Goytacazes.

Palavras-chave: Cesta básica. Campos dos Goytacazes. Índice de preços.

Abstract: This study aimed to analyze the extension project carried out by UFF-Campos in the formation of a basic food basket and to analyze the price trends of the products that make up a basic food basket in the region, constituting an important consumer research instrument. The work presents the values ​​of the basic basket of January in December 2018 and results the way of conducting the research in the city's supermarkets, explaining the methodological procedures used for the calculations. The work compares the evolution of prices with the basic baskets published by DIEESE, for the four capitals of the southeast, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte and Vitória. A research used as methodological basis and statistical analysis of the data collected by the IPC Campos dos Goytacazes and DIEESE project. The study indicated the similarity between the basic camper basket and the basic basket in Belo Horizonte. This may cause a greater inflationary influence of the state of Minas Gerais in the municipality of Rio de Janeiro on prices in Campos dos Goytacazes. Through data it was possible to analyze consumption trends and price variations in the municipality of de Campos dos Goytacazes.

Keywords: Basic basket index. Campos dos Goytacazes. Price index.


  1. Introdução

Este artigo é resultado do projeto de extensão universitária intitulado “Índice de Preços ao Consumidor de Campos dos Goytacazes (IPC-Campos)”, do Núcleo de Estudos Econômicos Aplicados (NEEA) do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Federal Fluminense (ESR/UFF). Esse projeto tem como objetivo acompanhar as variações de preço dos itens que compõem a cesta básica alimentar em Campos dos Goytacazes, sendo o acompanhamento divulgados em boletins mensais na página do Núcleo de Estudos Econômicos Aplicados. Além disso, são realizadas análises econômicas a fim de explicar as variações de preço observadas no período.

A equipe do projeto contou em 2018 com discentes de graduação, sendo 7 bolsistas e 10 voluntários, além de professores da instituição, que atuam diretamente no planejamento do projeto, na revisão dos relatórios, análises econômicas e produção de artigos técnico-científicos sobre o tema. Dessa forma, o projeto tem sido um laboratório para os alunos da graduação, gerando conhecimento e oportunidade de desenvolver análises econômicas.

O Projeto IPC-Campos utiliza os bens e quantidades da cesta básica definidos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) para a cidade do Rio de Janeiro, capital do estado do Rio de Janeiro, por supor que essa cesta de consumo seria próxima à do município de Campos dos Goytacazes (RJ), e seguindo os padrões definidos pelo Decreto Lei 399 de 30 de abril 1938.

A pesquisa de preços do município se fundamenta na importância do acompanhamento local, uma vez que o comportamento dos preços no interior pode ser diferente daquele observado na capital. A coleta dos preços dos 23 produtos é feita nos 3 principais supermercados do município uma vez por mês.

Pesquisa semelhante realizada para as capitais brasileiras é a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), que é realizada mensalmente por meio do DIEESE. A pesquisa coleta os preços dos itens definidos pelo Decreto Lei nº 399 de 1938, que define 13 tipos alimentícios e um total de 23 produtos a serem analisados. A coleta de preços é feita em todas as 27 Unidades da Federação, permitindo a comparação de custos dos principais alimentos básicos consumidos pelos brasileiros. Contudo, a cesta de cada região possui bens e quantidades diferentes.

O conceito de Cesta Básica pode ser definido como um conjunto de produtos essenciais e suficientes para alimentar uma família durante determinado período de tempo. A cultura popular de cada região e suas preferências de demanda, definem diferentes composições de cesta básica padrão para cada região. Para Fernandes (2010), a cesta básica é uma nomenclatura utilizada para relatar o conjunto de bens alimentícios básicos que são suficientes para o sustento de uma família de quatro pessoas durante o período de um mês.

Nesse sentido, o índice de cesta básica é uma importante ferramenta para dimensionar a inflação campista e seu impacto no poder de compra do consumidor ao longo do tempo. Tomando a definição de inflação como o “aumento contínuo e generalizado no nível de preços” (VASCONCELLOS et al., 2004, p. 337) é possível compreender sua relevância no cotidiano da população e na formação de preços da cesta. Além disso, é importante ressaltar que o cálculo da inflação é complexo e diverso, existindo diversas metodologias que resultam em medidas diferentes. Portanto, medir a inflação exige tempo e recursos a fim de gerar estimativas que busquem refletir o real comportamento dos preços.

Sendo assim, esta pesquisa fornece à comunidade campista os valores e as variações nos preços dos produtos que compõem a cesta de consumo familiar, seguindo os critérios metodológicos do DIEESE, e auxilia na compreensão do impacto de tais variações na renda das famílias, principalmente as de menor renda. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é apontar o custo da cesta básica de alimentos do município de Campos dos Goytacazes (RJ) destacando as oscilações dos preços, e comparando com demais índices no período do ano de 2018.


  1. Fundamentação Teórica

O principal objetivo dos índices de preços ao consumidor é medir o quanto a inflação dos produtos de subsistência afeta o poder de compra dos trabalhadores. Para melhor compreensão do estudo em questão é apresentado os conceitos de inflação, a cesta básica do Brasil e como é realizada a construção de um índice de cesta básica.


    1. Inflação

O preço é a variável mais importante do ponto de vista dos agentes econômicos, seja o nível de preço agregado ou mesmo o individual, responsável por ditar o poder de compra das famílias. Dentre as variáveis econômicas fundamentais, os preços estão entre os primeiros, pois somente por meio da relação entre a variação do preço e a variação da quantidade é possível medir a inflação (PINDYCK, 2015).

A inflação é caracterizada por uma elevação constante e generalizada dos níveis de preço de uma economia. Vasconcellos et al. (2004. p.337) afirma que a “inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços. Ou seja, os movimentos inflacionários são dinâmicos e não podem ser confundidos com altas esporádicas de preços.”. Para Rosseti (2016), a inflação é um processo dinâmico de preços em alta e não uma situação estática de preços altos. Portanto, para ser considerado um processo inflacionário, o aumento dos preços deve ocorrer de maneira geral e, também, contínua.

Devido aos seus efeitos sobre o poder de compra, investimentos e nível de poupança, por exemplo, a análise e mensuração da inflação são de grande importância. A apuração desse valor é realizada por meio de índices de preços, que são medidas estatísticas obtidas a partir da coleta de preços de diversos bens e serviços que visam fornecer um valor, o mais aproximado possível, da variação dos preços. No Brasil, existem diversos índices elaborados por diferentes instituições e com diversas metodologias.

Dentre os diferentes índices de preços cita-se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE de periodicidade mensal e abrangência nacional, sendo esse o índice oficial de inflação no Brasil. Além do IPCA, existem outros índices de abrangência nacional e local como o IGP, IPC e a Cesta Básica. A apuração da variação dos preços e do valor da cesta básica é obtida por meio da coleta contínua dos preços de produtos que compõem cada índice.


    1. Índice da Cesta Básica

Conforme Pindyck (2015), a satisfação de um consumidor é embasada na premissa de que as pessoas se comportam de forma racional na busca de maximizar seu grau de satisfação na aquisição de um conjunto de bens e serviços. O autor também afirma que os consumidores fazem escolhas por meio da comparação entre cestas de mercado ou pacotes de mercadorias. Ou seja, o consumidor procura aumentar seu grau de satisfação individual conforme adquire uma cesta de mercadorias restrita ao seu nível de renda.

Cesta básica, por sua vez, é conceituada como um conjunto de produtos essenciais e suficientes para subsistência durante determinado período. Fernandes (2010) afirma que a cesta básica é uma nomenclatura utilizada para definir o conjunto de bens alimentícios básicos suficientes para o sustento de uma família de quatro pessoas durante o período de um mês, conforme a cultura e região, uma vez que cada cultura de cada região define composições diferentes de uma cesta básica.

O Decreto Lei nº 399 de 30 de abril de 1938 (BRASIL, 1938) regulamenta o salário mínimo no Brasil, a composição da cesta básica do trabalhador e a parcela do salário mínimo correspondente aos gastos com alimentação, que não pode ser de valor inferior ao custo da Cesta Básica Nacional. Em seu artigo 2º, a lei define o salário mínimo como sendo a “remuneração devida ao trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, às suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte” (BRASIL, 1938, p. 8600).

A Cesta Básica, segundo o decreto, é uma lista composta por 13 tipos alimentícios em quantidade suficiente para o sustento e bem-estar de um trabalhador em idade adulta, com quantidade balanceada de proteínas, calorias, ferro, cálcio e fósforo. As quantidades de cada um dos treze tipos de alimentos foram divididas em 3 regiões mais a Nacional. Sendo os tipos que compõem a cesta, a saber: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão francês, café em pó, banana, açúcar, óleo e manteiga. As quantidades variam de acordo com as 3 regiões em que se calcula seus valores, conforme apresentado por DIEESE (2018).

O valor da cesta básica busca mensurar a evolução dos preços praticados, durante um determinado período, nos produtos que compõem uma dada cesta de alimentos de acordo com a região. Assim, o custo da cesta básica permite acompanhar e avaliar o poder de compra de determinada população ao longo do tempo, sendo que “os níveis de preço no longo prazo, podem apresentar importantes características referentes à Paridade do Poder de Compra da moeda”. (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p.289).


  1. Metodologia

A metodologia desse artigo se baseia na pesquisa bibliográfica e no estudo de caso sobre a variação do custo da cesta básica.

A pesquisa bibliográfica embasou-se em periódicos, pesquisas estatísticas e sites de informações sobre inflação, bem como informações sobre o índice da cesta básica no Brasil, e a relação entre ambos, no intuito de compreender melhor a relação entre estes e a importância de se acompanhar o índice da cesta básica.

O levantamento de preços, análise e divulgação foi feito em etapas. A primeira etapa consistiu no levantamento de preços dos 23 itens que compunham a cesta básica nacional. Esse levantamento foi realizado nos 3 principais supermercados de Campos: Superbom, Walmart e Extra. Os preços foram coletados mensalmente na segunda terça-feira de cada mês.

A segunda etapa foi a tabulação dos dados coletados em uma planilha projetada especificamente para calcular os resultados do índice. Após essa tabulação, fez-se a verificação dos dados tabulados a fim de observar a existência de alguma discrepância com os dados recolhidos pelos alunos participantes.

Na terceira etapa foram realizados os cálculos e a análise a partir dos valores médios dos preços coletados. O preço médio de cada item da cesta básica era multiplicado pela quantidade estipulada no Decreto Lei 399, de 1938 e identificada no relatório. Após este procedimento, foram obtidos os gastos mensais com cada item e o gasto total com os 23 itens, que somados representavam o custo total mensal da cesta básica.

A quarta etapa foi a busca pelos fatores econômicos e não econômicos que influenciaram as variações de preço. A partir desse conjunto de etapas, os boletins foram divulgados mensalmente na página do Núcleo de Estudos Econômicos Aplicados.

A partir destes dados, o presente trabalho apresenta uma análise dos dados em relação ao período de janeiro a dezembro de 2018, referentes aos 23 itens que compõem a cesta.


  1. Estudo de Caso

O Quadro 1 identifica a estrutura que compõem a cesta de produtos básicos calculada pelo projeto IPC-Campos, do Núcleo de Estudos Econômicos Aplicado (NEEA) com os produtos, as quantidades mensais analisadas e a unidade de medida dos produtos. Já o Quadro 2 identifica a quais grupos pertencem cada item que compõe a cesta e a quantidade de cada grupo.


Quadro 1 ‒Produtos da Cesta Básica de Campos dos Goytacazes

Fonte: NEEA(2019)


Por meio dessa estrutura pode-se avaliar a variação dos preços da cesta básica no município e quais foram os produtos com maior influência sobre a variação do custo da cesta básica alimentar, bem como indicar comportamentos sazonais dos preços dos bens que compõem a cesta básica.


Quadro 2 ‒ Grupos da Cesta Básica de Campos dos Goytacazes

Fonte: NEEA (2019)


    1. Resultados Obtidos

Os resultados do estudo foram obtidos com base nos boletins publicados pelo NEEA e pelo DIEESE ao longo de 2018. Quanto aos resultados, foi possível observar o comportamento da cesta campista e os principais fatores associados à alteração no seu valor ao longo do tempo.

Na Figura 1 é apresentada a porcentagem média de cada produto no valor da cesta em 2018. Observa-se que no ano de 2018 o pão francês, tomate comum e contrafilé foram os produtos que mais pesaram na cesta básica de Campos dos Goytacazes, sendo, 18%, 13% e 13% respectivamente. Por sua vez, fubá de milho e farinha de trigo representaram menos de 1% da composição da cesta.


Figura 1 ‒ Composição percentual média do preço da cesta básica campista 2018

Fonte: NEEA (2019)


O Quadro 3 apresenta as variações percentuais mensais e o acumulado do ano de 2018 referente a cada produto presente na cesta básica de Campos dos Goytacazes. Nota-se a instabilidade nos preços da batata inglesa e do tomate comum devido a instabilidades no período de safra. Além disso, ocorreu alta no preço do frango inteiro no mês de dezembro, que pode ser explicada por um aumento da quantidade demandada influenciada pelo tradicional consumo do produto em comemorações de fim de ano.

No acumulado os produtos que mais pressionaram a alta da cesta básica campista foram: frango inteiro com 46,7%; farinha de trigo, 44,3%; e tomate comum, 38,6%. Por outro lado, os produtos que mais se desvalorizaram ao longo de 2018 foram: banana prata (32,6%), batata inglesa (15,2%) e pão francês (9,4%). A cesta básica de Campos dos Goytacazes obteve alta de 9,53% ao longo de 2018.



Quadro 3 ‒ Variação percentual dos preços dos produtos da Cesta Básica em Campos dos Goytacazes, 2018

Fonte: NEEA (2019)

Para observa melhor tendências sazonais da cesta básica campista, a Figura 2 apresenta a relação entre o preço mensal da cesta básica e a variação percentual durante os meses do 2018.


Figura 2 ‒Variação percentual e valor em reais por mês da cesta básica campista, Campos dos Goytacazes, RJ, 2018

Fonte: NEEA (2019)


A Figura 2 indica a existência de uma tendência sazonal de alta no último trimestre do ano de 2018, período que coincide com o recebimento do décimo terceiro e com as datas festivas do Natal e Ano Novo. Destacou-se também o movimento de alta nos meses de junho e julho, reflexo da greve dos caminhoneiros iniciada em 21 de maio de 2018.

Para melhor analisar as categorias responsáveis pela volatilidade da cesta campista, a Figura 3 apresenta, mensalmente, o custo da cesta por categoria. Nota-se que o setor de açougue foi o mais dispendioso na cesta básica campista seguido pelo hortifrutigranjeiros, que foi também aquele de maior volatilidade. Observa-se a menor representatividade dos hortifrutigranjeiros no custo da cesta entre junho e setembro do ano analisado. Isso pode ser explicado pela sazonalidade da produção destes produtos, em especial o tomate comum.


Figura 3 ‒ Representação do custo da cesta por categoria por mês de 2018, Campos dos Goytacazes.

Fonte: NEEA (2019)


Em resumo os hortifrutigranjeiros, principalmente o tomate e a batata inglesa, apresentaram forte influência na volatilidade do custo da cesta campista, fato explicado pela tendência sazonal da oferta destes itens. O açougue, por sua vez, possui os itens que mais pesaram na cesta. Notou-se também influência de fatores externos no preço da cesta, em destaque a greve dos caminhoneiros que elevou o preço da cesta durante os meses de junho e julho. Tendências sazonais também foram observadas ao longo do período, como revelou-se uma elevação dos preços no último trimestre do ano.


    1. Cesta Básica de Campos e a Cesta Básica do DIEESE

Nesta seção é comparada a evolução de preços da cesta básica alimentar de Campos dos Goytacazes com o índice da cesta básica do DIEESE para a capital do Estado do Rio de Janeiro, estado onde está localizado o município de Campos dos Goytacazes, além das cestas de São Paulo, Belo Horizonte e Vitória, capitais dos três estados que mais influenciam no fornecimento de bens, ou seja, que mais ofertam produtos ao município.

Na Figura 4 observa-se o preço médio do ano de 2018 das cestas básica de Campos dos Goytacazes, do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória. É possível notar que Belo Horizonte é a capital que apresentou o orçamento médio da cesta básica mais próximo à da cesta campista, sendo a cesta da capital mineira R$ 6,59 mais cara que a cesta estudada neste artigo.


Figura 4 ‒ Comparação em reais do valor média do ano de 2018 entre as cestas básicas das capitais dos estados do sudeste e a cesta campista

Fontes: NEEA(2019) e DIEESE(2019)


A Figura 5 evidencia a evolução mensal, em Reais, dos preços das cestas das capitais mais a cesta campista entre janeiro e dezembro de 2018. Verifica-se nas cestas básicas das quatro capitais a mesma tendência sazonal ocorrido no último trimestre do ano na cesta de Campos dos Goytacazes. É possível observar que na comparação entre a cesta básica campista e a das capitais mais próximas ao município de Campos dos Goytacazes, a cesta de Belo Horizonte, pesquisada pelo DIEESE, é a que possui um custo e uma evolução dos preços mais semelhante a cesta montada pelo NEEA-UFF. Isso pode indicar que os preços do norte fluminense são influenciados aos preços praticados no estado de Minas Gerais.


Figura 5 ‒ Comparação em reais dos preços das cestas entre janeiro e dezembro de 2018

Fontes: NEEA(2019) e DIEESE(2019)


A volatilidade do preço das cestas mensal, em variação percentual, para as cestas pesquisadas é apresentada na Figura 6. Percebe-se que a cesta básica projetada pelo NEEA possui maior volatilidade que as dos demais municípios, isso se deve ao município de Campos possuir apenas três grandes redes de supermercados, onde são coletados os preços para a elaboração do índice, o que eleva a instabilidade dos preços dos produtos que compões a cesta básica em análise.


Figura 6 ‒ Variação percentual dos preços das cestas entre janeiro e dezembro de 2018

Fonte: NEEA(2019) e DIEESE(2019)

Na comparação a evolução de preços da cesta básica alimentar de Campos dos Goytacazes com as demais cestas básicas analisadas, a cesta campista foi a que possui o menor custo ao trabalhador, com o valor médio de R$ 370,83 reais, entretanto foi a que possui maior volatilidade dentre as cestas comparadas. Observou-se também a proximidade entre as variações de preços da cesta de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, com a cesta de Campos dos Goytacazes o que pode evidenciar influência mineira sobre os preços dos alimentos no norte fluminense.


4.3. Cesta básica e salário mínimo

O principal objetivo de se avaliar a evolução do custo da cesta básica é compreender como sua oscilação afeta o poder de compra do trabalhador assalariado. Portanto, nesse tópico apresentamos as relações entre as cestas básicas de Campos dos Goytacazes e do Rio de Janeiro com o salário mínimo vigente em 2018.

Segundo dados da cesta campista, em média 42% do rendimento líquido e 39% do rendimento bruto do tralhado de recebe um salário mínimo foi consumido com a cesta alimentar em Campos, por sua vez na capital fluminense a cesta representou 50% do rendimento líquido e 46% do bruto.

A Figura 7 apresenta o custo da cesta básica campista e carioca mensal sobre o salário mínimo líquido, em termos percentuais. Verifica-se que o trabalhador carioca com a renda de um salário mínimo, possuiu uma despesa com a cesta básica igual ou superior a 50% de sua renda líquida em 9 meses do ano de 2018. Por sua vez o trabalhador campista com a mesma renda líquida durante 8 meses do mesmo período obteve uma despesa com a cesta básica igual ou inferior a 42%.


Figura 7 ‒ Custo da cesta básica campista e carioca mensal sobre o salário mínimo líquido, em termos percentuais

Fontes: NEEA(2019) e DIEESE(2019)


Na Figura 8 observa-se o quanto sobrou, em reais, mensalmente ao trabalhador campista do salário mínimo liquido após realizar a aquisição dos itens da cesta básica necessários para subsistência do mesmo.


Figura 8 ‒ Custo da cesta básica campista mensal sobre o salário mínimo líquido, em Reais

Fonte: NEEA(2019)

Em média, no ano de 2018 sobrou ao trabalhador campista a quantia de R$ 506,85 reais para outras despesas líquidas enquanto R$ 370,83 foram usados em despesas para a cesta básica alimentar.

A Figura 8 apresenta o excedente do salário ao trabalhador carioca. Comparando as Figuras 7 e 8 evidencia-se que o trabalhador campista possuiu renda líquida excedente maior do que o carioca que recebe um salário mínimo, podendo o trabalhador campista efetuar maiores despesas com outros bens do que ao trabalhador carioca de mesma renda. Em média, no ano de 2018 sobrou ao trabalhador carioca a quantia de R$ 437,42 reais para outras despesas líquidas enquanto R$ 440,26 foram usados em despesas para a cesta básica alimentar.


Figura 9 ‒ Custo da cesta básica carioca mensal sobre o salário mínimo líquido, em Reais

Fonte: DIEESE(2019)


Logo comparado com o trabalhador carioca, o trabalhador campista que recebeu um salário mínimo ao longo de 2018 possuiu um poder de compra superior ao do trabalhador carioca da mesma faixa de renda.


  1. Conclusão

A proposta desenvolvida ao longo do trabalho de analisar e comparar o custo da cesta básica de Campos dos Goytacazes por meio do projeto IPC Campos com os demais índices no ano de 2018 permitiu observar mais detalhadamente tendências, características de consumo e custo entre as deferentes cestas apresentadas, além dos possíveis impactos que elementos externos ocasionaram no custo da cesta básica do município do norte fluminense em relação a capital do estado fluminense e demais capitais do país.

Entre os pontos observados pode se mencionar: o peso exercido pelo pão francês, tomate e contra filé na composição da cesta campista, sendo a observação da variação dos preços desses produtos importante para determinar possíveis causas de aumento no custo da cesta; a semelhança entre a evolução dos preços das cesta de campos dos Goytacazes e Belo Horizonte e a queda do custo da cesta campista nos meses seguintes à greve dos caminhoneiros, o que pode indicar que o custo da cesta básica do município sofreu efeitos da greve.

Nesse sentido, o projeto têm informado a população quanto aos custos da cesta do município de Campos Goytacazes, e com base neste estudo é possível realizar previsões a respeito dos efeitos do aumento do preço de um determinado produto sobre o custo total da cesta, bem como possibilita ao trabalhador o planejamento prévio dos seus gastos mensais com base nos valores divulgados pelo projeto IPC Campos.


Referências


BRASIL. Decreto-Lei nº 399, de 30 de abril de 1938. Aprova o regulamento para execução da Lei n. 185, de 14 de janeiro de 1936, que institui as Comissões de Salário Mínimo. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 7 maio 1938, p. 8600. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-399-30-abril-1938-348733-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 10 jan. 2019.


DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS – DIEESE. Cesta básica de alimentos. Disponível em: https://www.dieese.org.br/cesta/. Acesso em: 8 jan. 2019


FERNANDES, Leandro M. Fatores determinantes do custo da cesta básica de alimentos no Município de Divinópolis no período de 2009 – 2010. Disponível em: http://www.faced.br/materiais/nupec/fatores 2009-2010.pdf. Acesso em: 21 set. 2019.


FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS – FIPE. IPC - Índice de Preços ao Consumidor. Disponível em: https://www.fipe.org.br/pt-br/indices/ipc/. Acesso em: 08 jan. 2019


INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. INPCA-IPCA. Disponível em: https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaultseriesHist.shtm. Acesso em: 8 jan. 2019


KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia internacional: teoria e política. 6 ed. São Paulo: Pearson, 2005.


NÚCLEO DE ESTUDOS EM ECONOMIA APLICADA – NEEA. IPC – Campos. Disponível em: http://neea.sites.uff.br/ipc-campos/ . Acesso em 19 jan. 2019.


PORTAL CONTABEIS. Veja o valor definido para 2018. Disponível em: https://www.contabeis.com.br/noticias/36253/temer-assina-decreto-definindo-salario-minimo-de-2018/. Acesso em 10 jan. 2019.


PINDYCK, ROBERT. Microeconomia. 8ª edição. São Paulo: Pearson, 2015.


VASCONCELLOS, Antônio S. et al.; Manual de economia. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.


ROSSETTI, J. P; Introdução à economia. 21 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016.

Apêndice

Tabela 1 ‒ Preço (em Reais) dos produtos da Cesta Básica em Campos dos Goytacazes

Fonte: NEEA(2019)

* Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. Tecnólogo em Comércio Exterior pela Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, Brasil Autor correspondente. e-mail: luiz_vasconcellos@id.uff.br

Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. E-mail: ana.b.vasconcelos98@gmail.com

Prof. adjunto do Departamento de Ciências Econômicas de Campos, Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo, Piracicaba, Brasil. E-mail: samuelcampos@id.uff.br

§ Profa. adjunta do Departamento de Ciências Econômicas de Campos, Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. Doutora em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. E-mail: patriciaabrita@gmail.com