Sessão temática “Serviço Social e saúde pública”
Apresentação
A seção temática privilegia pesquisas sobre o trabalho do/a assistente social na área da saúde, visando promover reflexões sobre o contexto da saúde pública e suas demandas à profissão, as respostas institucionais e profissionais a tais demandas e as características desse trabalho, a partir do uso da mediação teórico-prática.
O Sistema Único de Saúde (SUS) constitui-se espaço relevante e majoritário para a intervenção do Serviço Social. Mas a sua implementação interage com contradições advindas do capitalismo sob a égide da financeirização e do neoliberalismo, reduzindo o compromisso público com políticas sociais e ampliando a desigualdade social e a pobreza. Este cenário desafia os/as assistentes sociais mediante limites institucionais, sinalizando para respostas, muitas vezes, restritas diante da dimensão das necessidades sociais e econômicas que se apresentam, condicionando o processo saúde-doença. Desse modo, compreendemos necessário voltarmos nosso olhar sobre as mediações construídas pelo trabalho do/a assistente social na saúde, agregando estudos que possam promover reflexão-reconhecimento e suscitar novas ações.
Diante disso, esta seção temática socializa a produção de sete artigos de autoria de assistentes sociais, egressos recentes da graduação em Serviço Social da Universidade Federal Fluminense/Departamento de Serviço Social de Campos e de docentes orientadores, por ocasião do trabalho de conclusão de curso. Parte dos artigos problematiza temas sociais e de saúde pública, como: a saúde do trabalhador, a dependência química e a situação de rua, o HIV-AIDS e o Diabetes Mellitus. Além de construir mediações destes temas com a produção teórica do Serviço Social brasileiro, os artigos aproximam-se de análises do exercício desta profissão no enfrentamento às demandas e necessidades sociais que particularizam tais temáticas e que são expressões da questão social. Ademais, outros 3 artigos estudam a profissão e, mais particularmente o trabalho profissional no setor de emergência hospitalar; com uma análise do imediatismo permeado pelo pragmatismo das ações em uma unidade de atenção pré-hospitalar; e, por fim, com um estudo referente ao processo de adoecimento do trabalho por parte de assistentes sociais em Campos dos Goytacazes, RJ.
Ao longo destas produções, metodologicamente é possível verificar análises que têm como ponto de partida o real concreto, problematizado a partir do estágio supervisionado em Serviço Social, no sentido de desvelar a sua “pseudoconcreticidade” (KOSIK, 1995)1. Nesta perspectiva teórico-metodológica, as produções ora apresentadas são perpassadas por reflexões e interpretações que se aproximam das mediações e contradições que constituem a totalidade social e imprimem determinantes e condicionantes a particularidade do trabalho de assistentes sociais na área da saúde.
Para esta análise, alguns destes artigos se aproximaram do debate da crise estrutural do capital e de suas estratégias de enfrentamento por meio das metamorfoses do trabalho, da ofensiva neoliberal no Brasil a partir dos anos 1990, da globalização/ mundialização do capital e de seus impactos na produção e reprodução das relações sociais, nas expressões da questão social, na política e nos serviços de saúde e, mais particularmente na construção do trabalho de assistentes sociais na área da saúde.
Outros autores, permeados por estas variáveis, optaram por caminhos metodológicos que aprofundaram a análise da política de saúde, da questão social, de suas expressões e dos condicionantes socioeconômicos do processo saúde-doença.
Por fim, a sessão temática acessada virtualmente pelo/a leitor/a, construída durante a pandemia do Covid-19 e da consequente intensificação da crise social e sanitária, do sofrimento social e de cerca de 170 mil mortes no Brasil2, expressa o histórico compromisso da Universidade Pública com a ciência e a produção do conhecimento, em um contexto de ataques e questionamentos a sua validade e função e, mais particularmente, avança ao demonstrar a relevância do estágio supervisionado na formação profissional em Serviço Social, da dimensão interventiva integrada à dimensão investigativa e da pesquisa na graduação em Serviço Social.
Boa leitura!
Carlos A.S. Moraes,
Maria Clélia P. Coelho
Viviane A.S. Lopes.
1 KOSIK, K. Dialética do concreto. 5 ed.. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
2 Quantitativo verificado no momento de construção desta apresentação, 20 de novembro de 2020.
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Rev. Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v. 6, n.2, p.281-282, jul./dez. 2020 |
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