silenciamentos e deslocamentos dos regi-
mes históricos. Assim como faz, de modo
distinto, Edgar Calel, em registros de ações
e exposição que dão a ver, em “Memoria
del Movimiento”, uma estética da diáspora
ameríndia. Em “Eixos”, Cruz propõe um
exercício gráfico-arquitetônico das páginas,
reforçando os questionamentos afrodiaspó-
ricos recorrentes em obras que consideram
a história enquanto uma produção ficcional
– de visibilidades e apagamentos – calcada
na construção de monumentos. Por sua
vez, Patrícia Francisco, em “Série Mesa de
Griot”, delineia aspectos politizantes das
práticas religiosas de matriz africana, des-
dobrando vivências advindas da experiência
espiritualizada em terreiros de Umbanda –
através do nome Luanda, apresenta práti-
cas coautorais, decorrentes de suas rela-
ções com entidades afro-brasileiras.
Heterotopias, pontes, desidentificações, des-
territorializações, rotas, fissuras, hibrida-
ções, indigenizações, insurgências, latinoa-
mefricanizações, transviamentos, descen-
tralizações, agenciamentos, rituais, espiri-
tualidade: tudo nos leva a crer, a partir da
constelação de contribuições desta edição
da Revista Poiésis, que uma curadoria des-
colonial pode, e muito – urgentemente.
Notas
1
Utilizamos o termo descolonial aqui por dois motivos.
Em primeiro lugar, por achar que de-colonial se traduz
em um anglicismo. De fato, a tradução em português
para o termo seria descolonial. Além disso, considera-
mos o pensamento descolonial como aquele produzido
sob a perspectiva do Sul Global, tendo em mente o si-
lêncio ou a “obliteração da teoria pós-colonial às con-
tribuições de intelectuais da América Latina”, confor-
mem esclarecem Bernardino-Costa & Grosfoguel (2016,
p. 16). Não se trata, por outro lado, de descartar os
teóricos do pós-colonialismo, a exemplo de Stuart Hall,
referido neste texto. A questão aqui diz mais respeito a
compreender o risco – também partilhado pelos estudos
descoloniais – do pós-colonialismo ser menos um con-
ceito crítico do que cúmplice de uma nova ordem capi-
talista global. Ou seja, o risco de uma “repetição des-
sa episteme colonial na pós-colonialidade”. (SPIVAK,
2019, p. 256)
Referências
28 DE MAIO, Coletivo. O que é uma ação
estético-política? Revista Vazantes, UFC, v.
1, n. 1, 2017. Disponível em http://perio-
dicos.ufc.br/vazantes/article/view/20463.
BERNARDINO-COSTA, Joaze; GROSFO-
GUEL, Ramón. Decolonialidade e perspec-
tiva negra. Revista Sociedade e Estado. v.
31, n. 1, jan./abr. 2016.
BUTLER, Judith. Problemas de gnero: fe-
minismo e subverso de identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.