construção colonizadora de gênero e raça,
nos foi negada.
Pensando, então, um recorte na pesquisa
decolonial: para se revelar o escondido é
necessário olhar para trás, é necessário
resgatar memórias e vivências que no
processo de colonização foram subjuga-
das, silenciadas e oprimidas, de muitas
formas e em muitas camadas. Através
desse movimento, experimentar na cria-
ção artística simbologias, elementos e sa-
beres que resistem há muitas gerações,
atravessando nossas ancestralidades.
Feminismos decoloniais são nomeclaturas
para a crescente lista de feminismos pós-
colonialistas desde 1980 que, buscando
frentes práticas e teóricas, foram impul-
sionados a criticar duramente as ondas
do feminismo hegemônico apoiado em
um recorte branco, localizado no norte do
globo, ocidental, elitista e heterossexual
como sendo pautado universal. Logo de
cara deve-se colocar a importância da
enunciação de si mesma como sujeito, li-
gando diretamente a vivência diária com
a escrita e a produção de conhecimento
acadêmico. É necessário sair da redoma
sufocante de uma universalidade eu-
rocêntrica para cair no abismo das fratu-
ras coloniais que recaem sobre cada
uma, costurando nossas próprias suturas
entre cotidiano e pensamento.
Um dos motores centrais para autoras ne-
gras, latino-americanas, LGBTQAI+, indí-
genas, asiáticas, queer; mulheres subal-
ternizadas pela hierarquia geopolítica é a
questão: qual sujeito mulher? As condici-
onalidades e consequentes pautas apre-
sentadas pelo feminismo branco permiti-
am a manutenção do status quo construí-
do pela dominação e imposição da visão
de mundo sustentada pela colonialidade
do poder (QUIJANO, 2005). Um imaginário
e um real estreitos em imagens que só re-
fletiam uma pequena parcela de mulheres,
corroborando em apagamentos e silenci-
amentos violentos de existências, histórias
e pautas urgentes. Assim, é possível per-
ceber como é necessária a valorização de
saberes e vivências outras, fora da hierar-
quia dicotômica produzida pela coloniza-
ção e, consequentemente, da situação co-
lonial gerada pelos ramos de controle da
colonialidade, quanto à economia; autori-
dade, natureza e recursos, gênero e sexu-
alidade; subjetividade e conhecimento.
(GROSFOGUEL, 2007)