significar. Então o trabalho é muito intuiti-
vo também, sabe? Talvez essa rebeldia de
não querer as coisas como elas são.
Apropriar do tecido, do bordado, da roupa
que quanto mais história tiver mais impor-
tante é para mim; as pessoas podem até
não ver aquela história, mas está lá para
mim. Isso é importante. Essa história que
o trabalho carrega, são muitas vidas, são
muitas mãos e, então, é isso.
A escultura que fiz com o vestido de noiva
só existe porque chegou o vestido de noi-
va no meu ateliê, em uma caixa, chegou
do Rio de Janeiro, não conheço e nunca vi
a pessoa, falou que era um vestido de
quase 60 anos, entregou à outra e essa
pessoa que me entregou sei que se chama
Maria dos Anjos, porque perguntei o
nome. Até dei o nome da obra de Maria
dos Anjos, à escultura. Porque ela me
deu, tipo assim “faça o que você quiser”,
não quis saber. Então é isso, tem umas
esculturas que são o que são porque rece-
bi aquele material. Então devo muito às
pessoas que me entregam esse material,
porque tem coisa ali que nem penso em
fazer, só faço porque chegou o material.
Mariana Guimarães: Sonia, como é a es-
colha dos títulos dos seus trabalhos? São
todos esculturas, ou objetos?
Sonia Gomes: Na primeira exposição que
fiz, me deram um espaço em Belo Hori-
zonte. O trabalho saiu quase como uma
catarse, como se eu tivesse muita coisa a
dizer, mas ninguém nunca tinha me dado
voz. Então foi uma overdose, sabe? E co-
mecei a nomear os trabalhos como tor-
ções e panos, que são aqueles mais
planos, mas tudo é escultura, não é? En-
tão tem escultura de teto, pendentes, tem
escultura de chão, escultura de parede e
tenho também uma série que são torções
de parede, são os patuás. Eles têm esse
nome porque minha avó era benzedeira e
parteira. Você vê minha avó, que traba-
lhava com vidas, era parteira, benzedeira,
curava, tinha o poder de cura e alinhava
também.
Vamos falar do fio: lembro dela, eu pe-
quenininha e ela fazendo o ritual da cura.
Era com um novelo de linha, uma agulha e
a linha enfiada, ela ia benzendo a pessoa,
fazendo um gesto como se estivesse reti-
rando o mal da pessoa e levando tudo pa-
ra aquele novelo de linha, com esse gesto