sível, o fato de ser este o homenageado,
imortalizado em seu país, nomeando esco-
las, hospitais e ruas. O que acontece, no
entanto, é que, personalidades como a do
“sir” Edward Colston recheiam o hall de
homenageados pelas cidades do mundo a
fora. Isto porque o que foi convencionado
como filantropia, doação para fins públicos
de grandes milionários, proprietários e
herdeiros, foi muitas vezes realizada com
capital oriundo da exploração da mão de
obra escrava. A associação entre filantro-
pia e escravidão é recorrente em nossa
história e os monumentos acabam por
descrever mais acerca do tempo em que
foram construídas do que sobre os perso-
nagens que homenageiam. A concepção
de monumento tem sua raiz, segundo
Jacques Le Goff, remetida a memem, pre-
fixo grego que designa a noção de memó-
ria. A memória é constituinte do monu-
mento, mas o monumento também preci-
sa do sujeito “que teça, a partir dele, seus
significados”. (LE GOFF, 1990, p. 485) Se-
gundo o mesmo autor, a ação do tempo
sobre a história precisa ser pensada como
a ação dos agentes de seu tempo, de ma-
neira que a história está para ser relida,
reescrita, desmontada; está para ser de-
molida como construção e disposta, sem
gessos, em participação com o seu tempo
presente, suas narrativas, ações e agentes.
Pensemos no caráter “provisório” das in-
venções formais; esta transitoriedade é
índice das transformações no terreno da
história, no qual os eixos das transforma-
ções históricas se desdobram uns sobre os
outros em um esquema de urgência pelo
novo e pela ruptura, o que aparenta ser
um reflexo da tentativa de reconstrução
de uma representatividade pelos indiví-
duos e pela sociedade vigente. O gesto de
derrubar estátuas acendeu questionamen-
tos variados, opiniões que passavam por
críticas à ação, julgada como apagamento
da história ou simples depredação do es-
paço público, até àquelas que pensam a
persistência de tais estátuas como uma
afronta à sociedade, na qual os ícones re-
presentam um passado genocida que deve
ser criticado, reavaliado e, com isso, mo-
dificados. Derrubar uma estátua é reacen-
der o debate sobre ela. A estátua é revivi-
da, subtraída de sua imobilidade e concre-
tude; onde antes um bloco de cimento fi-
gurativo, muitas vezes invisível ao espaço
público, vai emergir uma história, que se
faz urgente em ser reapropriada e recon-
tada. Esse ressurgimento parte do inda-