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artistas como Brígida Campbell, Paulo Nazareth e
Éder Oliveira
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. Esse mergulho na experiência e as
reflexões daí decorrentes nos convidam a pensar os
fazeres no dia a dia e suas possibilidades potencia-
lizadas pelas intervenções no campo da arte e da
educação, tentando reaproximar o chão do cotidia-
no do fazer artístico e do fazer político, percepções
muitas vezes negadas, mas que podem ser poten-
cializadas pelo sensível:
O inteligível e o sensível vieram, pois, sendo progressivamente apartados entre
si e mesmo considerados setores incomunicáveis da vida, com toda a ênfase
recaindo sobre os modos lógico-conceituais de se conceber as significações. No
entanto, em larga medida a nossa atuação cotidiana se dá com base nos saberes
sensíveis de que dispomos, na maioria das vezes sem nos darmos conta de sua
importância e utilidade. [DUARTE JR, 2000, p. 112]
O movimento de ‘reabilitação’ do cotidiano no cam-
po da arte e da educação é pautado pela urgência
de recuperar o cotidiano como espaço do conhe-
cimento. Nesse sentido, é “preciso compreender o
saber que surge do uso, com sua forma e inventivi-
dade próprias” [ALVES, 2008, p. 98], pela percep-
ção e reconhecimentos dos “atos desses pratican-
tes” em sua lida diária com as coisas da vida e suas
formas diárias de realizar as ações. Acreditamos
nessa luta coletiva e em novas formas de conheci-
mento que a alimentam; pois, como afirma Alves
[2008], novos caminhos exigem novas organiza-
ções em rede, nesse cotidiano, que potencializem o
aprendizado de um novo sensível, desencadeando
várias outras mudanças nesse aparente “caos”.
Nessa perspectiva, a arte deixa de ser uma mera
atividade de entretenimento e torna-se forma de
conhecimento, considerada como prática que vai
muito além de pinturas elaboradas sem uma finali-
dade estabelecida. Ela tem um espaço fundamen-
tal na sociedade, tornando-se visível em diversas
formas e linguagens: dança, música, teatro, pintu-
ra; o fazer artístico ganha, assim,
novos espaços para além de mu-
seus e galerias, ocupando tam-
bém ruas, praças, bares e perife-
rias. Dessa forma, a arte, como
área de conhecimento, seja na
educação básica ou na superior,
possibilita o desenvolvimento da criatividade e a
sensibilidade humana, expandindo-se para abran-
ger as manifestações culturais e políticas.
Para Campbell [2015], obras de arte realizadas no
espaço público dão ênfase ao lugar, incorporando-
-o em todas as suas dimensões – físicas, sociais,
culturais, ambientais. Praças, ruas, túneis, prédios,
parques são espaços onde a arte se faz presente,
embora muitas vezes fique imperceptível aos olhos
da sociedade, devido à correria do cotidiano. Ao
adotarem esses espaços, os artistas se aproximam
do mundo real e diminuem a distância que se criou
Leonardo Zenha e Raquel Lopes, Deslocamentos arte-educativos na Transamazônica- Xingu como experiências do sensível em direção a uma outra partilha do comum.