114
Durante a Guerra, sua família foi
dizimada. Krajcberg foi o único que
sobreviveu, assim como em seus
trabalhos; os galhos e ramos calci-
nados, recolhidos após a queima-
da, são os que sobreviveram sem
tornarem-se cinzas. Parece desse
modo que a conexão dos sobre-
viventes, que assumem para si o
poder denunciativo da violência/tragédia vivenciada,
tornam-se vestígios da sobrevivência, marcados pela
dramaticidade da violência a que foram expostos.
Nesse sentido, a obra e vida de Krajcberg se mistur-
am. E ele faz questão de enfatizar isso, afirmando-se
como um revoltado com as atrocidades do ser hu-
mano. “Minha obra é um manifesto. O fogo é a morte,
o abismo. O fogo me acompanha desde sempre. A
destruição tem formas. Eu procuro imagens para meu
grito de revolta.” [KRAJCBERG, apud BINI, 2011, p. 91]
Com sua vida marcada por grandes perdas, as
biografias sobre o artista relatam que ele chegou
no final da década de 1940 ao Brasil, sozinho e sem
dinheiro. Primeiro, aportando na cidade do Rio de
Janeiro e depois transferindo-se para São Paulo,
posteriormente para o Paraná e de lá retornan-
do para o Rio de Janeiro. Mas também morou em
Itabirito, Minas Gerais e, por fim, entre idas e vindas
da Europa, fixou-se na década de 1970 na cidade de
Nova Viçosa, no sul da Bahia.
Krajcberg encontrou-se com a natureza brasileira e
com ela sentiu sua vitalidade recuperar-se. Assim,
desde os primeiros anos no Brasil, a obra de Kraj-
cberg relacionava-se diretamente com a natureza.
Em 1951, Krajcberg ajudou na montagem da 1
a
Bienal de São Paulo, e também foi escolhido pelo
júri para expor suas pinturas. E em 1957, ganhou o
prêmio de melhor pintor nacional da 4
a
Bienal de
São Paulo. Já em 1977, a edição da Bienal sofre-
ra mudanças. Seu diretor artístico desde o início,
Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccilo, falecera
seis meses antes da exposição. A mostra teve seu
formato alterado, das representações nacionais
passaram a separar os artistas por temas. “Todas
as manifestações visuais que envolviam a ecologia,
o problema da paisagem, do meio natural - integra-
do ou não ao meio urbano e viário -, as reservas, a
destruição e a conservação dessa mesma paisa-
gem, agrupavam-se sob o tema A Recuperação da
Paisagem.” [AMARANTE, 1989, p. 251]
Em 1965, mais uma vez Krajcberg dançou e chorou ao deparar pela primeira
vez com as florestas e os manguezais de Nova Viçosa [BA]. Emocionado pelo
que estava à sua frente, espantado com tanta riqueza e movimento, ele rela-
tou-me que se perguntou novamente: “como captar e expressar a vida dessas
formas, a diversidade das espécies vegetais, as alterações ou vibrações que elas
provocam em mim?”. O mangue o marcou expressivamente. Ele comentou que
em rodas de conversas com colegas artistas e críticos de arte, sempre se falava
e se discutia sobre tachismo, abstracionismo e, de repente, estava tudo ali, num
imenso universo de poesia natural. [OLIVEIRA, 2015, p. 128]
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 38, p. 106-120, jul./dez. 2021 [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i38.45674]