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Balzac, mencionada no projeto das
Passagens,
o
contraste entre os monumentos da burguesia em
relação as ruínas da Antiguidade. Assim, ao citar o
escritor francês, afirma:
As ruínas da Igreja e da Nobreza, as do Feudalismo, da Idade Média são
sublimes e hoje enchem de admiração os vencedores, que ficam surpresos,
boquiabertos; mas as da Burguesia serão um ignóbil detrito de cartonagem, de
gessos, de coloridos [BALZAC apud BENJAMIN, 2018, p.173].
Neste contexto, as construções arquitetônicas
dentro do sistema capitalista desempenham uma
função utilitarista; quando elas perdem a sua util-
idade, são em geral abandonadas ou demolidas.
Assim, com a visão de Balzac descrita por Benjamin
[2018], podemos constatar que a mesma lógica
capitalista que cria a cidade pode destruí-la. Nesse
sentido, o que as ruínas industriais de Fordlândia
documentadas por Romy Pocztaruk revelam?
Segundo Cecília Santos e Ruth Zein [2011, s/n]: “As
imagens da destruição estampadas nas ruínas
contemporâneas, incluindo aquelas do patrimônio
arquitetônico moderno, são hoje, na sua maioria,
memória de catástrofes ou de fracassos”. Na região
norte do Brasil, observa-se cidades estagnadas
que podem ser comparadas também ao cenário
de entropia que Robert Smithson [2011] descreve
ao caminhar pelo passado industrial de Passaic,
no estado de Nova Jérsei. Na fotografia de Romy
Pocztaruk pela Transamazônica, os espaços e
vazios urbanos se apresentam, a meu ver, como
“os buracos” descritos por Robert Smithson quan-
do analisa a entropia da paisagem urbana de sua
cidade natal, ao dizer que:
Passaic parece cheia de “buracos”,
comparada com a cidade de Nova
York, que parece compacta e sólida, e
esses buracos em certo sentido são os
vazios monumentais que definem, sem tentar, os traços de
memória de uma série de futuros abandonados [SMITH-
SON, p.165].
Por um lado, Romy Pocztaruk realiza uma jornada
por uma estrada faraônica e inacabada que at-
ravessa a imensa floresta amazônica. Por outro
lado, Robert Smithson caminha pelo subúrbio de
Passaic, após pegar um ônibus de New York, da
cidade mais populosa e moderna dos Estados
Unidos. A entropia da paisagem urbana de Passaic
descrita por Robert Smithson em
Um passeio pelos
monumentos em Passaic, 1967
revela a estagnação
de cidades industriais que encolheram. Com efeito,
os monumentos modernos não deixam legado
para a geração posterior. Em contraposição à ruína
romântica, as ruínas da modernidade não simboli-
zam um passado glorioso como nos apresenta as
construções colossais do Império Romano, mas
denotam principalmente a falência dos projetos
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 38, p. 64-81, jul./dez. 2021 [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i38.45679]