68), que Flusser denomina “consciência
pós-histórica emergente”, vai substituir “a
consciência histórica, linear e calculadora”.
Se esta projetava “as regras da escrita
sobre o mundo”, que passava a adquirir
“caráter textual”, texto a ser decifrado, a
nova consciência “‘descobriu’ que não há
nada no mundo que possa ser decifrado,
[...] que ao nascermos fomos projetados
num mundo absurdo” e “que é o homem
quem projeta significado sobre o mundo.”
Assim, se “os textos históricos são espelhos
que captam os signos do mundo para in-
terpretá-los [e, portanto,] o mundo é o seu
significado [,] as imagens técnicas são pro-
jetores que lançam signos sobre o mundo a
fim de dar-lhe sentido”, consequentemen-
te, elas “são o significado do mundo”. Tra-
ta-se, então, de tornar possível “imaginar
(dar sentido a) o abismo absurdo”.
Ocorre aqui uma inversão vetorial na di-
nâmica de produção da significação: na
primeira situação, o significado vem do
mundo, é preciso extraí-lo dele, portanto,
re-presentar o mundo. Na segunda, perce-
be-se que não há significado no mundo a
não ser o que projetamos nele, torna-se
preciso, portanto, por assim dizer, “pro-
presentar” (GONZAGA, 2005) o mundo e,
agora, o pensamento conceitual adquire
nova função, “serve, não mais para expli-
car o mundo, mas para dar-lhe sentido”,
colaborar “com a nova imaginação na sua
tarefa de dar significado ao mundo”. Torna-
se “pré-texto” (FLUSSER, 1985, p. 18).
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As consequências dessa inversão para-
digmática são tremendas e, como aponta
Flusser, “uma nova antropologia começa a
se cristalizar: o homem enquanto doador
de sentido a si próprio e ao mundo”
(FLUSSER, 1996, p. 68).
Ora, paralela à crise do texto como para-
digma cultural, ocorrera outra, em tudo
similar: a do símbolo como signo hegemô-
nico e paradigmático dessa cultura. Simi-
lar por terem ambas uma origem comum,
enraizada no contexto histórico: a desqua-
lificação do texto escrito em sua função de
principal mediador do real, derivada do
processo paralisante da textolatria, apare-
ce como um aspecto particular dessa crise
geral: palavras também são símbolos,
signos que, como vimos, dependem de um
consenso que, uma vez estabelecido, é
preservado por convenções habituais, por
meio das “regras do uso”.
Pois não seria a crise do símbolo decor-
rência direta das transformações políticas,