Da série Pulsantes
As imagens foram provocadas pelo retorno
ao meu lugar de origem, pelo meu reen-
contro com as mulheres das Ilhas do Par,
e no reencontro com valores ancestrais
(da natureza), territorialidades, fronteiras
e um certo processo de fortalecimento de
mim mesma no presente, sendo cruzada
por tudo isto. O Resultado se deu em uma
performance orientada para fotografia, em
um modo quase meditativo, inserida no
som da floresta que me cerca. Um espaço
alucinatório foi criado para o espectador
de forma a refletir e vivenciar a história da
identidade amazônica e seus povos tradi-
cionais (indígena, negra e cabocla) e a
violenta tentativa do seu silenciamento
(situação que se confunde com a própria
história de formação da América Latina).
Como um espaço de pulsação e vibração
que enfatiza esse imaginário da ancestra-
lidade, foi estabelecida uma rede compo-
sitiva na imagem que alia materialidade e
sonho, vigília e dor, que convida o espec-
tador a olhar a posição hegemônica das
diversas ambivalências em jogo: a identi-
dade, a invasão de territórios e o feminicí-
dio presente – e que fazem parte do cerne
da composição deste trabalho – em uma
visualidade de “miragem”, uma temporali-
dade suspensa. Traz assim o cruzamento
do imaginrio amaznico ou das relaes
do novo com o velho imaginário, cuja
trama coloca para pensar e ver, o que em
uma mesma frequncia tambm interroga.
Alm do campo das sensações que ema-
nam da visualidade destas imagens –
compostas aqui como imagem-elemento –
o trabalho aciona um espao em vrias
instncias, ora atravs de elementos que
simbolizam o prprio espaço, ora com a
participação do prprio sentir do especta-
dor em uma espcie de coberturas simila-
res e pulsantes. Explorando estes espaços
de vivncias, me absorvo para a compre-
enso da produção imagética da pesquisa
e as potencialidades presentes em cone-
xões com relações que se estabelecem por
meio da intervenção intencional da narra-
tiva. Compreende então seus modos de
subjetivação relacionados a narrativas de
cultura e de identidade do seu passado,
na construção de seu presente: “transfor-
mando histórias em natureza”, como citou
Roland Barthes. Delimita-se então alguns
princpios dessa prtica contempornea re-
ferentes a questes da esttica relacional.