Foi Francisco de Orellana, que navegou o
grande Rio de Quito até o Oceano Atlânti-
co entre 1540 e 1542, quem primeiro
descreveu em cartas à Europa (Espanha),
o encontro com “índias” sem maridos que
revidavam o combate, manejando com
destreza o arco e a flecha. (COSTA;
SILVA; ANGÉLICA, 2002).
Os registros escritos que comprovem a
existência dessas guerreiras são escassos,
no entanto, na Amazônia contemporânea
são muitas as referências às mulheres que
viviam sem maridos e guerreavam contra
todos que tentassem invadir seu território.
São pesquisas antropológicas ou artísticas
que se baseiam ou reconstroem narrativas
míticas, histórias passadas oralmente de
geração em geração, raiz ancestral das di-
versas ficções que reconstroem o lugar de
origem; como o romance “Terra de Icami-
aba” de Abguar Bastos (1934), a anima-
ção para a televisão “Icamiabas” (TV Cul-
tura Pará, 2012), a banda “Icamiabas” de
rock feminista, o samba enredo “As Ica-
miabas” da Escola de Samba Arrastão de
Cascadura (1996).
Esses mitos e histórias que falam de mu-
lheres que existiam de forma livre ou di-
versa do constructo de gênero socialmen-
te imposto à mulher na sociedade ociden-
tal, não só, mas principalmente cultura
colonial, branca, patriarcal, judaico-cristã,
binária, heteronormativa, são ecos de sa-
beres ancestrais, que nos entregam hoje
conhecimentos ancestrais que foram invi-
sibilizados e quase destruídos. Histórias
que chegam pela oralidade e estão pre-
sentes em quase todas as culturas, que
podem nos oferecer um vislumbre da for-
ça da mulher selvagem e nos mostram
caminhos para retornarmos a ela, toda
vez que se faça necessário. (ESTER,
2014). Na Amazônia cresci ouvindo e so-
nhando com essas histórias, sentindo seu
chamado voltei ao meu lugar de nasci-
mento – Urucará – para percorrer rios e
terras seguindo as pistas deixadas pelas
Ykamyabas.
Em uma viagem, sobretudo familiar, imer-
gi no cotidiano de uma cidade que tem
como único acesso o rio e sem marcar en-
contro me deparei com mulheres que can-
tam, dançam e amam. Elas surgem nas
matas, nas ruas, e se banham nos rios,
vêm da roça de enxada na mão, com cha-
péu de palha e galocha, elas coletam cu-
puaçu, bacuri e debulham açaí, saem de