Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 41-62, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47234)
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Ykamyabas: poéticas de um corpo-território
Ykamyabas: Poetics of a Body-Territory
Ykamyabas: poéticas de un cuerpo-territorio
Renata Aguiar (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil)
*
https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47234
RESUMO: O presente artigo percorre o corpo-território de rios e terras de uma
Amazônia vivida e imaginada, lugar de origem e afeto que, contando as histórias
das Ykamyabas tribo de mulheres sem maridos que viviam na região do baixo
amazonas , colhe os vestígios deixados por seu imaginário mítico na relação ar-
quetípica da mulher selvagem em narrativas que chegam principalmente pela ora-
lidade, de modos de vida que subvertem a cisão do mundo operada pelos dualis-
mos cultura/natureza, masculino/feminino, corpo/mente. Para articular cenas e, a
partir da fotografia, reconstruir realidades, num conhecimento revelado pelo fato
mítico do sonho, do fazer-se artista, da subjetividade investida de corpo, plantan-
do pistas para outros mundos possíveis.
PALAVRAS-CHAVE: Ykamyabas; Amazônia; imaginário; feminino; mito
*
Renata Aguiar é Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8422-3065. E-mail: criativarenta@gmail.com.
Renata Aguiar, Ykamyabas: poéticas de um corpo-território.
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ABSTRACT: This article travels through the rivers and lands of a territorial body
in to a lived and imagined Amazon, a place of origin and affection that, telling the
stories of the Ykamyabas a tribe of women without husbands who lived in the
lower Amazon river region , gather the traces left for their mythical imagery in
the archetypal relationship of the wild woman in narratives that come mainly
through orality, from ways of life that subvert the split of the world operated by
the dualisms culture/nature, male/female, body/mind. To articulate scenes and,
through photography, reconstruct realities, in a knowledge revealed by the mythi-
cal fact of the dream, of becoming an artist, of the subjectivity invested with the
body, planting clues to other possible worlds.
KEYWORDS: Ykamyabas; Amazon; imaginary; feminine; myth
RESUMEN: Este artículo viaja a través del territorio corporal de ríos y tierras de
una Amazonía vivida e imaginada, un lugar de origen y afecto que, contando las
historias de los Ykamyabas, una tribu de mujeres sin maridos que vivían en la re-
gión amazónica inferior, cosecha los rastros que quedan por sus imágenes míticas
en la relación arquetípica de la mujer salvaje en narraciones que provienen princi-
palmente de la oralidad, de formas de vida que subvierten la división del mundo
operado por los dualismos cultura / naturaleza, hombre / mujer, cuerpo / mente.
Articular escenas y, desde la fotografía, reconstruir realidades, en un conocimien-
to revelado por el hecho mítico del sueño, de convertirse en artista, de la subjeti-
vidad invertida en el cuerpo, sembrando pistas sobre otros mundos posibles.
PALABRAS CLAVE: Ykamyabas; Amazonas; imaginario; femenino; mito
Citação recomendada:
AGUIAR, Renata. Ykamyabas: poéticas de um corpo-território. Revista Poiésis, Niterói, v. 22,
n. 37, p. 41-62, jan./jun. 2021. [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47234]
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Ykamyabas: poéticas de um corpo-território
Apresentação
Tenho no fundo dos olhos a imensidão do
rio e a imensidão do ar, conheço florestas
com verdes a perder de vista, minha ter-
ra é imensa, de horizontes continentais,
nasci em Uruca, uma cidade ribeirinha
do baixo Amazonas, cresci entre Rondô-
nia e Pará, cercada por águas e florestas
sem fim. Descobri viajando imensidões
com as quais não estava familiarizada,
paisagens tão distantes da minha, tão gi-
gantescas, que não deixavam o olhar re-
pousar sobre o horizonte; foram grande-
zas verticais, que me inspiraram “sonhos
de voo sussurrados por Bachelard. Em
busca desses sonhos, percorri muitas ci-
dades, vivi muitas vidas e usei umas tan-
tas máscaras, no entanto, todos esses
caminhos me levaram de volta para a
Amazônia, profunda e misteriosa origem
que relutante resolvi afinal pesquisar: é
preciso ter de onde partir.
Não desejo aqui fazer um autorretrato ou
narrar minha experiência particular, dese-
jo investigar uma raiz profunda e ances-
tral de uma planta banhada pela lua, car-
tografar a geografia dos rios de um lugar
entre o sonho e a memória, desejo nave-
gar, fluir, seja olhando para o que reflete
o espelho d’água ou mergulhando nas su-
as profundezas barrentas, nesse lugar de
afeto onde recolho ou planto pistas de ou-
tros mundos possíveis.
Contaminada pelas narrativas das deusas
Dina, Kali e Yacy que conheci nas andari-
lhagens do sul ao norte, do ocidente ao
oriente, é no arquétipo da mulher selva-
gem que encontro terreno fértil para me
fazer outras perguntas: Que corpo-
território emerge das poéticas do imaginá-
rio amazônico? Como as dimensões do sa-
grado apresentadas pelos mitos podem
Renata Aguiar, Ykamyabas: poéticas de um corpo-território.
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construir práticas e discursos de resistên-
cia? A Amazônia em seu imaginário pró-
prio resiste à homogeneização globalizan-
te e descoloniza corpos e mentes?
Foi pela fotografia que adentrei a Arte, es-
se coexistir de mundos que me permitiu
circular em diversos ambientes. Meus mo-
dos de desvendar e falar sobre a fotogra-
fia enquanto arte e suas particularidades
nunca deixaram de ser um olhar sobre o
mundo vivenciado, um mundo no qual a
Amazônia se faz presente por ser o ponto
de encontro e de partida comum dos tra-
balhos desenvolvidos. Nesta perspectiva
há uma significativa diferenciação entre os
que elegem a região como tema de suas
imagens e essa diferenciação se dá no
como esse tema é apresentado.
Nas décadas finais do século XX e início do
século XXI, muitos outros fotógrafos fo-
ram, retornaram e continuam indo e vindo
à procura de uma visibilidade e de uma vi-
sualidade amazônica conectora dos pro-
cessos de construção da representação do
lugar sem considerar esse lugar da forma
dicotômica natureza x urbanidade. A partir
desse olhar surge um discurso sobre as
especificidades amazônicas e a sua apre-
sentação não estereotipada pela fotogra-
fia, em contraposição à imagem ampla-
mente aceita e benquista pela mídia, que
trata a Amazônia como exótica, lugar so-
bre o qual se fala, mas que não fala de si.
A constância dos dualismos que fazem um
corte entre natureza / cultura, corpo /
mente, sujeito / objeto tem atribulado mi-
nhas formas de viver, pesquisar e fazer
arte. Não foi sem alguma aflição que per-
corri a fronteira que separava (ou sepa-
ra?!) minhas formas de fazer e teorizar ar-
te das práticas culturais e artísticas que
me traziam prazer e vitalidade. Tudo se
tratava então de um jogo de máscaras.
Pelo artifício da pose em justaposição ao
relato oral de mulheres encarceradas,
busquei criar uma noção de identidade no
retrato fotográfico pesquisando o ambien-
te prisional feminino no Estado do Pará
1
,
mas me parece hoje que o que fiz foi de-
mostrar que o outro existe (SONTAG,
2004).
É Clarice (LISPECTOR, 1999) quem me fa-
la, que apesar de anos de verdadeiro su-
cesso com a máscara, de repente essa
máscara de guerra parte-se toda no rosto,
lama seca; o rosto agora nu, maduro,
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sensível se a ver, é o lugar das fragili-
dades, das memórias. A busca por esse
rosto é mergulho e superfície que preten-
do percorrer, sobretudo, como água e co-
mo nau, num desejo de construção mais
fluida de pesquisa-arte-vida. Percorrendo
um acervo constituído por obras de arte,
registros, performances, textos, hipertex-
tos, processos ou vivências cotidianas do
lugar de origem e afeto que podem reve-
lar, narrar e recriar territorialidades, entre
o mito e a fronteira (CASTRO, 2011) de
uma Amazônia vivida e imaginada.
Assim, esse texto é um convite à floresta,
às plantas, às águas e aos mistérios ocul-
tos do inconsciente coletivo de um femini-
no submerso que, no entanto, ressurge
como o corpo sagrado que não pode mor-
rer e se apresenta nas narrativas ances-
trais que em suas múltiplas aparições re-
sistem nas Ykamyabas e seus mitos fun-
dadores.
A flor e a lua
No início de todas as coisas, Tucriou o
universo, o céu e os seres luminosos; na
terra caminhava carregando as chuvas,
distribuindo raios e ecoando sua voz de
trovão. Quando tudo era escuridão, criou
Yacy, a guardiã da noite, criadora de to-
das as plantas, irmã gêmea e amante de
Guaraci, o senhor do dia, pai de todos os
animais.
Quando Guaracy o sol dormiu pela
primeira vez, Yacy a lua surgiu solitá-
ria num céu sem estrelas. Ao despertar
lentamente, Guaraci pôde vislumbrar sua
irmã que sorria. Em nenhum mundo o sol
havia presenciado tamanha beleza, mas à
medida que se aproximava daquela que
lhe despertou fascínio, ardia e iluminava
tudo que tocava. Yacy, que passara a noi-
te acordada, adormecia e desaparecia. A
lua, que também desejava o sol e enten-
dia do amor e do tempo, escolheu se de-
morar um pouco mais, apenas quando es-
tivesse plena e cheia, assim uma vez a
cada ciclo eles poderiam se encontrar no
alvorecer. Desse encontro de Yacy com
Guaraci nasceu Rudá, o mensageiro,
aquele que não conhece a luz ou a escuri-
dão e desperta o amor nos seres viventes.
A senhora da madrugada era protetora
dos amantes e a ela eram consagradas as
Ykamyabas, guerreiras que habitavam o
Renata Aguiar, Ykamyabas: poéticas de um corpo-território.
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vale do lago do espelho da lua, o Yacy-
Uaruá. A pálida rainha do céu tinha por
costume eleger entre as guerreiras a mais
valente de cada geração para se tornar
sua irmã-amante e brilhar com ela. A es-
colhida se tornava estrela para também
iluminar as noites da floresta. Naiá era
uma jovem guerreira que habitava o vale
da lua; Rudá, sem avisar, surgiu no peito
da pequena, que nas caçadas noturnas se
distraía contemplando o luar. Yacy, por
sua vez, não olhava para ela. Nas artes da
guerra a pequena Naiá não se fazia, ainda
assim todas as noites de lua cheia a jo-
vem cantava:
A contradição que Naiá carregava era se
apaixonar mais intensamente à medida
que Yacy a ignorava. Nem sempre é fácil
respirar na floresta e o rio barrento que
eram os olhos de Naiá não parava de
trasbordar; enquanto a água corria, ela
não comia nem bebia nada, fraca e confu-
sa era fácil se perder mesmo em mata co-
nhecida. Naiá estava perdida.
Yacy, que era deusa, não reparava no so-
frimento da jovem e sem ainda lhe prestar
demorada atenção, percebeu Naiá deitada
à beira de um lago obscuro, profundo e in-
tocado. Não havia vento nem bicho algum
que turbasse a água e a lua resolveu dar-
se a ver na superfície espelhada do lago.
Naiá, vendo o espelho da lua, em delírio
de paixão pensou que enfim sua amada
Yacy havia atendido aos seus apelos e es-
tava ali para levá-la. Retirou do corpo to-
dos os adornos feitos de sementes, cipós e
penas e enquanto seus olhos percorriam a
lua do céu até a água, lentamente entrou
no lago, perturbando o reflexo indiscerní-
vel da deusa de luz. Ao perceber que se
tratava de um reflexo e que a amada deu-
sa ainda não a correspondia, Naiá can-
sada preferiu se afogar nas profundezas
do espelho da lua a viver desejando aque-
la que jamais poderia tocar.
Yacy reconheceu o sacrifício da jovem e
desgostosa de sua morte resolveu trans-
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formá-la em estrela. Naiá pesou sobre o
fundo do lago por um momento e logo seu
corpo pequeno e sem vida flutuou en-
quanto seus cabelos muito longos e gros-
sos dançavam sob a superfície. Foi assim
que a lua, observando pela primeira vez a
beleza triste de sua amante intocada e
morta, decidiu transformá-la na estrela
das águas calmas, planta enorme, com fo-
lhas redondas e uma flor estrelada que se
abre durante a noite quando tocada pela
luz de Yacy, pendendo suas raízes aquáti-
cas, enquanto seu corpo flutua sobre a
superfície espelhada.
As Ykamyabas e o nascimento dos
Muyrakytãs
Contam as mais velhas histórias que no
vale da lua, escondidas dos homens para
além da serra Yacy-taperê, viviam guer-
reiras que não desejavam ou permitiam
entre si a presença masculina. Elas eram
conhecidas como Ykamyabas, as filhas da
lua, caçadoras noturnas, hábeis com o ar-
co e a flecha, versadas nos mistérios das
plantas, irmãs e amantes de Yacy, as
mães dos Muyrakytãs.
Uma vez por ano as guerreiras realizavam
uma grande festa em nome de Yacy pró-
xima a nascente do rio Yamundá (Nha-
mundá ou Jamundá), que corria para um
vale onde se formava o lago do espelho da
lua, o Yacy-uaruá. Elas dançavam, canta-
vam e tocavam seus instrumentos de pau
e corda, riam e se divertiam umas com as
outras. Pouco antes da meia-noite, quan-
do a lua estava quase a pino, iam em pro-
cissão ao lago do espelho da lua, carre-
gando nos ombros potes cheios de perfu-
me feito com todas as ervas cheirosas do
mato, que eram despejados nas águas es-
curas do lago espelhado onde se atiravam
para um banho purificador.
À meia-noite, quando a lua se refletia na
face lisa do lago, chegavam os Guaçaris,
filhos do sol, guerreiros de lança, pescado-
res diurnos que sabiam os segredos dos
animais. Eles eram especialmente convi-
dados para a festividade, quando então
lhes era permitido atravessar as fronteiras
do território das mulheres. À luz do luar,
tomados por Rudá, a festa continuava
com músicas e danças que se intensifica-
vam até o orgasmo geral. Após fazer amor
com os Guaçaris, as Ykamyabas mergu-
lhavam e traziam do fundo do lago um bar-
Fig. 1 - Renata Aguiar, Ykamyabas, 2019. Fotografia.
(Fonte: Acervo pessoal da autora.)
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ro mole e verde, ao qual davam formas
batraquianas: os Muyrakytãs, que endure-
ciam ao ser retirados da água. Com esses
objetos presenteavam seus amantes, que
deveriam trazer o amuleto pendurado ao
pescoço.
Hoje, em uma Amazônia múltipla, atingida
por invasões e dominações, fragmentada
por processos coloniais, projetos de ‘de-
senvolvimento’, baseados num modelo de
exploração patriarcal monoteísta branco,
de moral monogâmica em monoculturas
de gênero, que vem devorando a terra e
os seres, a Ykamyaba (r)existe na mulher
que reaprendeu a lidar com a noite e com
as ervas; ela é a bruxa, a guerreira, a
mãe, a amante, é a filha da lua, irmã e
amante do sol, irmã e amante das estre-
las, é parente de todo ser vivente, é mãe
das plantas, caçadora, ela canta, dança e
ri alto, ela sabe girar e entende do tempo
e dos ciclos, ela vive entre as mulheres, e
os homens se aproximam quando convi-
dados.
Cair sem colapsar
A busca pela representação do lugar
desse que não é qualquer outro senão o
que se me apresentou na cotidianidade,
íntimo, particular e imenso, dilatado pela
contiguidade das águas, ruas, becos e es-
tradas , se deu a partir dos caminhos
que percorri “manipulando o aparelho,
apalpando-o, olhando para dentro e atra-
vés dele, a fim de descobrir sempre novas
potencialidades” (FLUSSER, p.42, 1985),
procurando perceber os cantos obscuros e
pouco visitados do universo fotográfico,
espaço debilmente iluminado pela chama
midiática, tentando construir, para além
do lugar comum do mercado e das padro-
nizações das identidades e discursos ho-
mogeneizantes, uma fotografia que realize
um universo fotográfico diverso e consti-
tutivo de subjetivações não programadas
(PAIM, 2012).
Assim, me lancei à experimentação entre
o sonho e a memória presente nas histó-
rias das Ykamyabas e seus mitos fundado-
res, que viviam na região do Rio Yamun-
dá, afluente do Rio Amazonas, que desta
forma foi denominado em referência às-
mulheres guerreiras da mitologia grega.
Fig. 2 - Renata Aguiar, O nascimento do Muyrakytã, 2019. Fotografia.
(Fonte: Acervo pessoal da autora.)
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Foi Francisco de Orellana, que navegou o
grande Rio de Quito até o Oceano Atlânti-
co entre 1540 e 1542, quem primeiro
descreveu em cartas à Europa (Espanha),
o encontro com “índias” sem maridos que
revidavam o combate, manejando com
destreza o arco e a flecha. (COSTA;
SILVA; ANGÉLICA, 2002).
Os registros escritos que comprovem a
existência dessas guerreiras são escassos,
no entanto, na Amazônia contemporânea
são muitas as referências às mulheres que
viviam sem maridos e guerreavam contra
todos que tentassem invadir seu território.
São pesquisas antropológicas ou artísticas
que se baseiam ou reconstroem narrativas
míticas, histórias passadas oralmente de
geração em geração, raiz ancestral das di-
versas ficções que reconstroem o lugar de
origem; como o romance “Terra de Icami-
aba” de Abguar Bastos (1934), a anima-
ção para a televisão “Icamiabas” (TV Cul-
tura Pará, 2012), a banda “Icamiabas” de
rock feminista, o samba enredo “As Ica-
miabas” da Escola de Samba Arrastão de
Cascadura (1996).
Esses mitos e histórias que falam de mu-
lheres que existiam de forma livre ou di-
versa do constructo de gênero socialmen-
te imposto à mulher na sociedade ociden-
tal, não só, mas principalmente cultura
colonial, branca, patriarcal, judaico-cristã,
binária, heteronormativa, são ecos de sa-
beres ancestrais, que nos entregam hoje
conhecimentos ancestrais que foram invi-
sibilizados e quase destruídos. Histórias
que chegam pela oralidade e estão pre-
sentes em quase todas as culturas, que
podem nos oferecer um vislumbre da for-
ça da mulher selvagem e nos mostram
caminhos para retornarmos a ela, toda
vez que se faça necessário. (ESTER,
2014). Na Amazônia cresci ouvindo e so-
nhando com essas histórias, sentindo seu
chamado voltei ao meu lugar de nasci-
mento Urucará para percorrer rios e
terras seguindo as pistas deixadas pelas
Ykamyabas.
Em uma viagem, sobretudo familiar, imer-
gi no cotidiano de uma cidade que tem
como único acesso o rio e sem marcar en-
contro me deparei com mulheres que can-
tam, dançam e amam. Elas surgem nas
matas, nas ruas, e se banham nos rios,
vêm da roça de enxada na o, com cha-
péu de palha e galocha, elas coletam cu-
puaçu, bacuri e debulham açaí, saem de
Fig. 3 - Google Maps. Localização do município de Urucará/AM, 2020. PrintScreen
(Fonte: https://www.google.com.br/maps/ok)
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suas casas e levam os filhos à escola, an-
dam de rabeta, remam o casco ou pilotam
motos, são muitas e diversas, elas surgem
nos sonhos e se apresentam na cotidiani-
dade.
Sonhar é para mim um processo de olhar
para trás e para frente ao mesmo tempo,
reconhecendo e honrando minhas ances-
trais enquanto vislumbro o que ainda não
existe, as que virão depois de mim. Assim
foi que com a ajuda da minha mãe aden-
trei a floresta e os igarapés para deixar
fluir o arquétipo da mulher selvagem:
As ciências modernas, desde muito encar-
ceraram o feminino pelo pensamento dua-
lista que o fundamenta. Foi assim que vi-
mos o ser mulher e a feminilidade serem
construídas e perspectivadas “como uma
metade dos seres livres” (ARISTÓTELES,
2004, cap. IV, p. 17), sendo concebido
como uma forma de vida humana inferior
por sua matéria corpórea associada à
animalidade tanto na cultura ocidental
como nas disciplinas humanistas.
Com o surgimento do “homem da razão”
vemos a produção do dualismo cultu-
ra/natureza nas relações sexualizadas
homem/mulher com uma patente domina-
ção masculina sobre o ser “menos huma-
no”, uma categoria entre o humano e o
não humano que definiu o constructo do
ser mulher, surgido de uma racionalização
do mimetismo biológico que pretendia
comprovar como “natural” a relação do
corpo feminino com a natureza. Assim o
cogito cartesiano “penso, logo existo” jo-
gou definitivamente o corpo para fora das
questões filosóficas, pois inserido na or-
dem de leis da natureza, pertencente ao
mundo do sensível e, portanto fonte de
confusão da razão e obscurecimento do
pensamento.
Renata Aguiar, Ykamyabas: poéticas de um corpo-território.
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O pensamento cartesiano, método filosófi-
co fundamental do saber moderno, legiti-
mou a cisão corpo/mente, dando a partir
da objetividade e racionalidade contribui-
ção basal para o homem se pensar como
sujeito soberano, subjetividade autônoma
e racional diante do mundo objetificado de
uma natureza que existe para fora dele e
que em geral tem o estatuto do feminino.
Assim também o empirismo prático de
Francis Bacon, que em certa medida é ali-
ado da teoria cartesiana, define a nature-
za a partir de uma correlação do feminino
como um modelo mecânico uniforme que
pode ser compreendido e controlado. A
metáfora que Bacon (2012) constrói em
seu texto “O nascimento do tempo mascu-
lino” é de um estupro, assim “o poder da
natureza é tomado à força para que seus
mistérios sejam devassados pelo cientis-
ta”, como afirma Rita Therezinha
(SCHMIDT, 2012, p. 236).
Desta forma, empirismo científico e racio-
nalismo filosófico corroboram e mutua-
mente constroem a ideia dos dualismos
cultura/natureza, mente/corpo e sujei-
to/objeto, hierarquizados pelo ideal de
uma mente que transcende o corpo sexu-
ado, mas que é objetivamente masculino,
pois seu lugar de diferença se no femi-
nino, constituído por sua corporeidade
material, comumente relacionada aos
animais e reduzidas a máquinas reprodu-
tivas.
Apesar das variáveis que incidem sobre o
percurso histórico na construção do pen-
samento ocidental, os dualismos que
apartam corpo/mente, cultura/natureza e
se reproduzem no paradigma binário ho-
mem/mulher, perpetuam uma metáfora
que exclui da razão a natureza e, portanto
o feminino como sua representação, das
práticas hegemônicas do saber/poder oci-
dental, e desvalorizam a natureza e todas
as formas de existência “não humana”,
que o humano racional objetivo é abaliza-
do pelo masculino. Assim este mascara-
mento falocentrista fabrica uma verdade
única, como demonstrado por Judith Bu-
tler ao examinar a manipulação epistêmi-
co-discursiva na construção do ser mulher
como “fato natural” pelo sistema ontológi-
co que produz o natural como se fosse o
efeito de um real original e inevitável
(BUTLER, 2003).
Numa leitura crítica dessa história percebo
as similaridades entre os fenômenos que
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conectam o desenvolvimento do raciona-
lismo e conhecimento científico da nature-
za, pautado na dominação do femini-
no/natureza, com os processos de expan-
são colonialista da Europa que levaram à
exploração e conquista de outras gentes
consideradas incivilizadas, selvagens: os
“quase humanos”. Um modelo explorató-
rio que nos colocou em uma crise ecológi-
ca de proporções planetárias, numa lógica
de produção e consumo que exaure os re-
cursos terrestres.
Essa queda que me interessa. A vertigem
do giro epistemológico dos eixos até então
estabelecidos na minha prática de pesqui-
sa em artes, o abismo que se apresenta
como possibilidade de deslocamento. É
assim que volto minha atenção aos mitos
amazônicos e suas apresentações do fe-
minino e dos seres que são entidades mui-
tas vezes quase humanas, onde a frontei-
ra dual que separa humanos e não huma-
nos, natureza e cultura, não foram com-
pletamente estabelecidas. Apesar das in-
vestidas colonizadoras e colonizantes dos
corpos-mentes, a Amazônia em seu ima-
ginário próprio resiste à homogeneização
das identidades e entrega no hoje histó-
rias e mitos que estabelecem uma outra
forma de ser e estar em relação com o
mundo.
Até então, como mulher branca e artista
acadêmica, estive imersa na investigação
da fotografia a partir de seu entendimento
como imagem técnica, que é a imagem
produzida por um aparelho e este por sua
vez é texto científico aplicado. Flusser
(1985) diz que as imagens técnicas pre-
tendiam ser janelas para o mundo, mas
ao interporem-se entre as pessoas e o
mundo passaram a ser biombos; no en-
tanto, e mora a contradição, essa pers-
pectiva é um subproduto cartesiano, da
noção de interno e externo o suposto
representacionismo da imagem se baseia
na ideia de que é possível observar exteri-
ormente os fenômenos . No entanto:
Renata Aguiar, Ykamyabas: poéticas de um corpo-território.
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Fotografar é fazer surgir outro mundo, ar-
ticulando cenas e reconstruindo realida-
des, mas é o conhecimento permeado pela
realidade do mito, das narrativas orais e
das histórias que nos quiseram fazer es-
quecer, “do lugar onde são possíveis as
visões e os sonhos. Um outro lugar onde a
gente pode habitar além dessa terra dura:
o lugar do sonho” (KRENAK, p.65, 2019)
que intuo ser o lugar da arte, do fazer-se
artista, um lugar onde tenho cada vez
mais me interessado em empenhar de
forma expressa e performativa a materia-
lidade mesma da minha existência, uma
existência em tudo marcada pelas rela-
ções dadas não só pela subjetividade, mas
investida de corpo, imbricadas em uma
“dupla sensação”. Assim:
Para a construção de um mundo ampliado
nas possibilidades de uma realidade cons-
tituída em rede aberta e constante movi-
mento, onde para além de sujeito isolado
ou preso a dicotomia corpo/mente, cultu-
ra/natureza, me percebo imbricada em
um coletivo que se auto-organiza na cole-
tividade. Assim, vontades, desejos, de-
cepções e lutas expressas em ações e ati-
tude não são configurações puramente in-
dividuais, mas da abrangência política,
ecológica e social que me compõe. Aqui
construí um mapa, que se assemelha à
cartografia de rio, disparo efetuado pelo
espinho da pupunheira, frágil unidade de
proteção de uma árvore de igapó, que te-
nho usado durante anos como agulha na
construção de câmaras obscuras e câme-
ras pinhole, aparatos técnicos, próteses
que modificam o mundo a minha volta.
Esse pequeno pedaço de madeira perspec-
tivado por um coletivo de pesquisadores,
meus colegas do Programa de Pós-
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 41-62, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47234)
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Graduação em Artes Visuais da Escola de
Belas Artes da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, me deu a ver as múltiplas re-
lações das diversas práticas de arte e vida
nas quais tenho me engajado.
O mapa trouxe para a superfície do plano
os múltiplos fazeres e seus desdobramen-
tos psíquicos com os quais tenho me em-
penhado e me deu a ver possíveis cone-
xões, despertando a vontade de integrar
essas esferas da existência que permeiam
minhas formas de fazer e pensar arte. Foi
assim que decidi que na exposição “Con-
tingências”, na Galeria Apis na cidade do
Rio de Janeiro, em novembro de 2019,
apresentaria junto ao trabalho “As
Ykamyabas” e “O nascimento dos
Muyrakytãs”; faria também uma perfor-
mance de carimbó, o som que rege a
Amazônia e embala minhas noites de so-
nhos e festas de floresta e rio. Assim con-
videi o carimbozeiro e pernalta paraense,
produtor do bloco carnavalesco de carim-
“Vai Tomar na Cuia”, Andrey Alves, e o
do carimbozeiro do grupo “Tamaruteua:
carimbó é vida” e Prof. Dr. Luizan Pinhei-
ro, que então realizava estágio pós-
doutoral na Universidade Federal Flumi-
nense e que foi meu professor de Metodo-
logia da Pesquisa no Mestrado do Progra-
ma de Pós Graduação em Artes da UFPA
em 2011, para tocarmos juntos, dando
um salve às Ykamyabas, à sua memória e
resistência.
Entretanto, como afirma Susan Sontag, a
resistência sozinha não tem valor, “é o
‘conteúdo’ da resistência que determina o
seu mérito, a sua necessidade moral”
(2008, p. 184). Essas poéticas políticas,
quando instauram no campo imaginalima-
ginário? a existência que muito tempo
estava oculta ou suprimida da selvagem
uma força feminina, marginal, indomada,
livre podem “resselvagizar” as relações
entre humanos e não humanos, cindidas
pelas dualidades e conseguinte subjuga-
ção da “natureza” e nos reintegrar ao
mundo, antes que este se desintegre, pois
mesmo que sejamos ainda geneticamente
selvagens, nossos corpos/mentes são
muito domesticados:
Fig. 4 - Renata Aguiar. Mapa espinho, 2019. Técnica mista. Acervo pessoal.
Fig. 5 - Autor desconhecido. Registro da performance de Carimbó, 2019. Acervo pessoal.
Renata Aguiar, Ykamyabas: poéticas de um corpo-território.
60
Assim, ao contar e recontar as histórias
das Ykamyabas e seus modos de vida,
percebo a presença da mulher selvagem,
que desconstrói as diversas lógicas disci-
plinadoras dos corpos femininos e das
práticas de exploração da “natureza” se-
ja nas relações não monogâmicas, afetos
e sexualidades fluídas, forças masculinas e
femininas não hierarquizada, parentesco
com corpos celestes e todos os seres vi-
ventes e relações de territorialidade sa-
grada e reafirmam a potência descoloni-
zadora do imaginário amazônico.
Inconclusões
Entendo que arte constrói discursos que
são difundidos, valorados e apropriados
pela sociedade, principalmente pelas mu-
danças que a revolução industrial e a re-
produtibilidade técnica do início do século
XX trouxeram para forma como artistas,
fotógrafas e os meios de comunicação li-
dam com obras e imagens fotográficas.
Percebo mais recentemente que para além
dos discursos, a arte instaura realidades e
funda mundos, performando práticas e
ações que agenciam relações. Como as
fronteiras entre essas áreas tem se torna-
do cada vez mais imprecisas e fugidias, o
método cartográfico se torna importante
referente para abordar nesta pesquisa as
relações, enfrentamentos e cruzamentos
entre forças, agenciamentos, jogos de
verdades, objetivação e subjetivação, pro-
duções e estetizações de si mesmo e do
outro, práticas de resistência e liberdade,
a pesquisa em arte a partir da perspectiva
arte-vida-pesquisadora.
Dessa forma, construo caminhos e mapas
do imaginário amazônico contemporâneo
em sonho, pista, vestígio e devir, num
acervo constituído por obras de arte, regis-
tros, performances, imagens, textos, hiper-
textos, processos ou vivências cotidianas
que instauram, narram e recriam a realida-
de das pessoas e dos lugares onde nos in-
serimos, agenciando territorialidades a par-
tir de corpos em constante movimento. Um
percurso sobre saber cair sem colapsar,
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 41-62, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47234)
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61
experienciar as mudanças radicais que o
pensamento feminista, queer e decolonial
têm proposto. Vivenciar os ciclos de morte
e vida, noite e dia, que dizem respeito às
constantes transformações que permeiam
tudo o que há, é uma trilha no desejo de as
pistas ancestrais que resistiram à devora-
ção e gradual desencantamento do mundo,
pois se vamos cair, que seja uma queda
linda, uma queda potente e que estejamos
de olhos bem abertos, conscientes da ver-
tigem que é o mergulho no ar.
Notas
1
Conceito desenvolvido na minha dissertação de mes-
trado Identidades Submersas: mulheres presas para a
Universidade Federal do Pará, onde pesquisei as rela-
ções presentes entre fotografia e identidade a partir
das histórias de vida e relatos orais das internas do
Centro de Reeducação Feminino CRF, então único
presídio feminino do estado do Pará. Trabalho dispo-
nível em https://docplayer.com.br/110019859-
Universidade-federal-do-para-intituto-de-ciencias-da-
arte-programa-de-pos-graduacao-em-artes-renata-
aguiar-rodrigues.html.
2
Esse trecho da música é controverso, já que há ou-
tras versões nas quais se fala “Ela vai acompanhando
o namorado, que é o Sol”.
3
Lucindo Rebelo da Costa, ou Mestre Lucindo, do
município de Marapanim, no litoral paraense. Nature-
za e romantismo eram duas constantes na obra do
pescador e Mestre de Carimbó, que em 2008 comple-
taria seu centenário.
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