nascimento e a energia que vêm do uni-
verso. Nos (entre)cruzamentos culturais, o
vermelho é a cor dos indígenas, que apre-
senta valores culturais, sociais, ritualísti-
cos, espirituais e, ao ser pintada nos seus
corpos, através dos grafismos, estabele-
cem significados que variam de acordo
com os rituais e valores de cada etnia
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.
Em meio ao “drama social”
(TURNER,
2008) ocorrido na terra indígena e das no-
tícias que traziam sentimentos de ameaça
e (ins)tabilidade, entre dor, medo e misté-
rio, realizei a performance como ritual pa-
ra aproximar a po(é)tica dos acontecimen-
tos e das relações humanas e sociais que
tínhamos construído com os nossos ‘pa-
rentes indígenas’, que vivem e cuidam dos
seus territórios de acordo com os rituais e
tradições pertencentes às suas etnias. Co-
tidianamente, dia após dia, em cada en-
contro, fazia anotações sobre as ações e
sentia o drama que vivíamos de forma di-
nâmica, simbólica, interativa e temporal,
carregados de sentimentos, tensões, emo-
ções e resistências políticas e sociais.
Fatos presentes na minha po(é)tica através
da antropologia da performance, como uma
memória viva que estava além do campo
das ideias, ou seja, que saiu do campo da
memória, se entranhando no meu corpo
como pele da performance, nos objetos e
simbologias utilizados ao longo do processo
performático, criando relações com o lugar e
com os elementos que se ligam à floresta,
às forças que vem do Rio Amazonas e que
se mescla ao vermelho da vida, através da
performance de enfrentamento em suas
águas imaginárias, em busca de força e de
novos tempos para os povos que vivem na
Amazônia.
Considero, enfim, que a performance Minha
cor (é) vermelha foi um “ritual” que articu-
lou de forma simbólica e dramática um mo-
vimento de luta, (re)sistência e de enfren-
tamento contra os (des)mandos sociais e as
ações de violências praticadas contra os po-
vos que vivem e fazem a Amazônia. De
acordo com as experiências e particularida-
des vivenciadas durante as ações do movi-
mento social, percebi que é preciso (re)xistir
para existir nas terras amazônicas e, assim,
continuar lutando por mais direitos à vida e
ao território. Pelo fim da violência, da grila-
gem e da (re)pressão! Por fim, Minha cor
(é) vermelha pela vida e pelos povos que
vivem, (re)inventam-se e lutam pela (so)
brevivência na Amazônia!