Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 105-114, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47238).
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Uma identidade amazônica em deslocamento:
o trabalho com as redes
An Amazonian Identity on the Move:
Work with Hammocks
Una identidad amazónica en movimiento:
el trabajo com las hamacas
Ueliton Santana (Instituto Federal do Acre, Brasil)
*
https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47238
RESUMO: Em Uma identidade amazônica em deslocamento: o trabalho com as
redes, a rede de dormir ou descansar foi objeto de interesse. Desde a chegada
dos europeus no Brasil, tanto pela novidade quanto pela utilidade, essa invenção
indígena foi tema de muitos textos por parte de escritores e personalidades. Pero
Vaz de Caminha, em carta a Portugal, a cita com entusiasmo. Daí, as mulheres
dos colonos portugueses a adaptaram, acrescentando varandas ornamentais, to-
mando para si o costume local.
PALAVRAS-CHAVE: artes plásticas; instalações; objetos; redes
*
Ueliton Santana dos Santos é doutor em Arte Contemporânea pela Universidade de Coimbra, em Portugal (2017), mestre em Ciências
pela UFRRJ (2014), especialista em Metodologia do Ensino da Arte (2010) e licenciado em Artes Visuais - FAO (2009). Orcid: https://
orcid.org/0000-0001-5538-7909. E-mail: ueliton.santos@ifac.edu.br.
Ueliton Santana, Uma identidade amazônica em deslocamento: o trabalho com as redes.
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ABSTRACT: In An Amazonian Identity on the Move: The Work With Hammocks,
the hammock was an object of interest. Since the arrival of Europeans in Brazil,
both because of novelty and usefulness, this indigenous invention has been for
writers and personalities, a theme of many texts. In a letter to Portugal, Pero Vaz
de Caminha mentioned its presence with enthusiasm. Since then, the Portuguese
settlers’ wives started to adapt it, adding ornamental balconies, taking for them-
selves the local custom.
KEYWORDS: fine arts; installation; objects; hammocks
RESUMEN: En Una identidad amazónica en movimiento: el trabajo con las hama-
cas, la hamaca fue un objeto de interés. Desde la llegada de los europeos al Bra-
sil, tanto por su novedad como por su utilidad, este invento indígena ha sido el
tema de numerosos textos de escritores y personalidades. Pero Vaz de Caminha,
en una carta a Portugal, la cita con entusiasmo. De ahí en adelante, las mujeres
de los colonos portugueses lo adaptaron, añadiendo balcones ornamentales y
adueñándose de la costumbre local.
PALABRAS-CLAVE: artes plásticas; instalaciones; objetos; hamacas
Citação recomendada:
SANTANA, Ueliton. Uma identidade amazônica em deslocamento: o trabalho com as redes.
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 105-114, jan./jun. 2021.
[https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47238]
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Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 105-114, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47238).
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Uma identidade amazônica em deslocamento:
o trabalho com as redes
A rede de dormir ou descansar foi objeto
de interesse desde a chegada dos euro-
peus no Brasil, tanto pela novidade quanto
pela utilidade. Essa invenção indígena
foi tema de muitos textos por parte de es-
critores e personalidades. Pero Vaz de
Caminha, em carta a Portugal, a cita com
entusiasmo. Daí, as mulheres dos colonos
portugueses a adaptaram, acrescentando
varandas ornamentais, tomando para si o
costume local.
A rede, para mim, sempre foi um objeto
de contemplação e estranhamento, tanto
pelas suas múltiplas utilidades como pela
variação das suas formas. Ainda mais
porque cresci vendo meus avós dormindo
nelas. Perguntava-me por que eles não
dormiam juntos em uma cama e, nessa
dúvida, me vinham outras, como por
exemplo com relação a intimidade do ca-
sal. Sempre imaginei que, quando iam pa-
ra as suas intimidades, deviam combinar
algum outro lugar, porque a rede, via de
regra, imaginava não ser o espaço mais
ideal, principalmente naquela época em
que na casa dos dois não havia TV; um
agravante para a família numerosa, de
mais de dez filhos. Portanto, se acontece
tudo na rede, mesmo que eu não queira
acreditar, ela é um objeto de muito mais
importância do que calculamos.
A partir dessas inquietações com relação ao
uso, comecei a observar as redes também
no seu aspecto estico. E quando criança,
sempre via meu pai a utilizar para esperar
na mata. Quando um caçador encontra
uma fruta que determinado animal come,
se põe a esperar com uma arma dentro de
uma rede, geralmente à noite, para quando
o animal vier comer, matá-lo. Eu sempre
Ueliton Santana, Uma identidade amazônica em deslocamento: o trabalho com as redes.
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ficava imaginando meu pai indo, armando
a rede na mata, e aquilo me parecia muito
estranho. Assim fui crescendo, dando cer-
ta atenção às redes.
Na cidade, sempre que passava em pon-
tos de vendas de redes, principalmente na
rua onde as mesmas ficam atadas, eu as
admirava pela sua estética e múltiplas co-
res. As redes, principalmente no Nordeste
e no Norte, têm uma importância cultural
ampla, sendo o seu uso diverso: dormir,
descansar, esperar, carregar pessoas em
passeios, carregar pessoas doentes pelos
varadouros das matas, enterrar mortos e
outras utilidades. Ao pensar no termo re-
de, essa palavra atualmente dispõe de um
arsenal de variações com relação ao seu
significado, dependendo da área do co-
nhecimento. No seu sentido mais amplo,
temos redes sociais, rede de lojas, de pes-
ca, de esgoto, de vôlei... enfim.
A partir dessas observações, comecei a
comprar redes em diversos locais do Brasil
e, por último, dei preferência por adquiri-
las em algodão cru, mais ou menos o
mesmo tecido utilizado para a fabricação
de pinturas em tela.
Legendas das imagens em sequência
(todas de autoria de Ueliton Santana e
parte do acervo do autor):
Fig. 1 Território amazônico I, 2012. acrílica sobre
rede de algodão, 80 x 120 cm.
Fig. 2 Esperando a caça, 2012. acrílica sobre rede
de algodão, 250 x 150 cm.
Fig. 3 - Território Amazônico II.
Fig. 4 Soldados da borracha. Meu pai, 2015. carvão
sobre rede de algodão, 250 cm x 150.
Fig. 5 Corpos vulneráveis em tempos de crise.
Fig. 6 - Corpos vulneráveis em tempos de crise.
Fig. 7 - Corpos vulneráveis em tempos de crise.
Fig. 8 Peles.
Fig. 9 Carne de sol.
Fig. 10 A terceira margem do território.