Suicida da própria lei, o governo fez isso
quando decidiu, de forma autoritária, bar-
rar o rio Xingu, colocando em risco de ex-
tinção sua fauna e flora, principalmente es-
pécies endêmicas, a exemplo do acari ze-
bra (Hypancistrus zebra), que só existe na
região chamada Volta Grande, no rio Xin-
gu. A atitude do governo foi tão vergonho-
sa e antiética que seus órgãos de fiscaliza-
ção, como o IBAMA, não tiveram coragem
de fiscalizar naqueles dias de defeso.
Autogovernança e autonomia: Os(As)
pescadores(as), ao decidirem sair para
pescar no período do defeso, demostra-
ram que tinham o direito de fazê-la. Para
chegarem a essa decisão, levaram do
mês de fevereiro de 2011 até o dia 11 de
março, reunindo, planejando, analisando
os riscos, decidindo tudo coletivamente.
Para isso acontecer, era preciso fazer
parcerias com outros movimentos sociais
e ONGs. Pois sabíamos que Altamira era
o canteiro de obras da Belo Monte e tam-
bém das Forças Armadas do Estado, pre-
paradas para coibir qualquer ação popu-
lar contra à obra.
A decisão que foi tomada mostrou ao go-
verno, armado até os dentes, a gover-
nança dos(as) pescadores(as) artesanais
sobre o seu território. Pôs à prova a au-
tonomia de quem conhece o rio, ao fazer
3 dias e 3 noites de pesca, incorporando
nesse ato suas sabedorias, criatividades,
seus corpos e sentidos. Toda sua produ-
ção foi doada para centenas de pessoas
da cidade de Altamira, num gesto autô-
nomo e solidário, para que entendessem
o quanto o rio Xingu era generoso com
seus filhos. E que é preciso salvá-lo.
Ao comparar com a governança autoritária
do Estado brasileiro, que decidiu de forma
autoritária a nova função das águas do rio
Xingu, olhando-a como um mero recurso
natural a ser explorado, num modelo ul-
trapassado de extrativismo, de acumula-
ção capitalista, voltado para grupos e em-
presas transnacionais da mineração (Belo
Sun), do agronegócio, dos madeireiros,
percebe-se que o governo enfraquece ca-
da vez mais suas estruturas de governan-
ça hegemônica.
Por outro lado, os povos das águas do
Xingu precisaram de menos de dois meses
para ensinar a todas(os) como exercerem
a autogovernança e a autonomia de forma
coletiva. Sem ferir o curso natural das