A usina está instalada a três quilômetros
do centro da cidade, tornando-se a usina
de força hidroelétrica mais próxima de
uma cidade em todo o planeta.
Antes da usina em Rondônia, durante
muitos anos se utilizou a produção de
energia mista hidroelétrica e termoelétrica
a um custo bastante alto em relação aos
outros Estados. Com a construção da UHE
de Santo Antônio, a promessa de consu-
mir energia mais barata não se concreti-
zou, e, após seu funcionamento a partir
de 2012, toda a geração de energia resul-
tante foi direcionada para o sudeste, e,
mais uma vez, a população foi usurpada.
É o velho modus operandi extrativista: o
alienígena chega na região, ganha a confi-
ança da população no grito, ou, no papel
assinado-assassinato, e vai-se embora,
deixando para trás o lixo do luxo. Acha-
mos importante evocar o mito de origem
do velho porto, pois esse nos parece signi-
ficativo na vivência da enchente no ano de
2014. Provavelmente foram vários os fa-
tores que a geraram, e, apesar das adver-
tências e protestos dos ativistas e cientis-
tas de forma contra-hegemônica nos anos
de militância que antecederam o fenôme-
no, assistimos a uma tragédia anunciada.
Na ocasião, à medida em que as águas
subiam, os pertences pessoais da popula-
ção ribeirinha (enquanto havia transporte
proporcionado pela prefeitura) eram reti-
rados, mas muita coisa ficou para trás,
por incompetência do poder público. O si-
lêncio das famílias que já haviam vivido
outros períodos de cheia foi secundado
pela falta de credibilidade na eficiência do
poder púbico em retirar aquela população
de forma a garantir um espaço digno para
que a vida pudesse seguir, ainda que em
suspensão, e mesmo com o retorno poste-
rior, com a promessa de auxílio para re-
construir o que se perdeu.
No silêncio, faltou diálogo. Diálogo para que,
juntos, população e poder público pudessem
realocar os trabalhadores do maior centro
de comércio popular, chamado de shopping
popular, perdendo assim sua condição de
trabalho e sustento das famílias. Na expec-
tativa dessa construção conjunta de cami-
nhos de resolução, a resposta foi o silêncio!
O silêncio da vida improvisada nas escolas,
no incômodo das famílias e diretores que ti-
veram o início do ano escolar adiado e, com
isso, o incômodo conjunto e a desconfiança
mútua no uso dos espaços que se tornaram
comuns em função das circunstâncias, no