Sobre os caminhos do ouro
A lenda do "Eldorado", creio que era o que
seduzia tão fortemente e que também o
que atraía para as profundezas do interior
do continente – essa lenda que se tornou
tão funesta para tantos espanhóis, que
tantos conquistadores perseguiram como
um espectro, que com cada passo pene-
travam mais profundamente no interior e
de cada vez lhes fugia para mais longe,
porque os indígenas, utilizando-se habil-
mente da sede de ouro dos espanhóis,
iam colocando cada vez mais longe deles
a sede do mito, podendo assim subtrair
sua tribo à avidez dos estrangeiros."
(ADALBERTO, 1977, p. 132)
A corrida ao ouro permeia a história hu-
mana ocidental. As viagens marítimas do
“Velho” continente Europeu ao “Novo
Mundo” foi um desses processos e pôs
empenho em viajantes de todos os tipos.
Sob a ótica dos europeus, multiplicam-se
as coordenadas do globo e o número de
mapas que tentavam traduzi-lo. Várias
lendas e monstros tomaram corpo nesse
caminho e nesses papéis para compor um
imaginário desse “Novo” como o El Dora-
do. Este marcou as terras deste continen-
te, América, até os dias atuais. No Peru,
se escuta uma frase: “com o ouro e a pra-
ta que os espanhóis levaram daqui se
construiria uma ponte da América até a
Espanha, e com os ossos dos que mata-
ram uma ponte de ida e outra de volta".
Hoje poderíamos imaginar quantas pontes
de ossos e minérios entre o passado e o
presente seriam construídas?
No presente da Volta Grande do Xingu,
que se localiza no estado do Pará, na fron-
teira dos municípios de Senador José Por-
fírio e Altamira, as visões sobre o ouro se
ressignificam com os conflitos entre dife-
rentes mundos. Esta é a região onde atuei
junto a movimentos sociais locais, que co-
nheci há cerca de 5 anos (2013) quando
nosso grupo tentava registrar os aconte-
cimentos das vidas dos ribeirinhos que fi-
caram neste trecho do rio, onde sua vazão
foi reduzida com a Hidrelétrica de Belo
Monte¹.
Cerca de 30 minutos após o barramento
do Sítio de Pimental, na margem direita
do rio, foram postas placas com o símbolo
da “Belo Sun Mineração”, a mineradora
canadense, que desde 2010 comprou a
antiga Mineradora Verena, com o intuito