de populações de Vila Bela da SantĂssima
Trindade para o Vale do GuaporĂ©, no perĂ-
odo em que RondĂ´nia ainda era territĂłrio
do Mato Grosso e do Amazonas. À época,
tais deslocamentos populacionais serviam
Ă estratĂ©gia de exploração do ouro e Ă
construção do “Forte PrĂncipe da Beira”
(RO), entendido como área de “defesa”
das fronteiras territoriais.
A partir de 1870, migrações negras passa-
ram a modificar a regiĂŁo amazĂ´nica, prin-
cipalmente com a chegada das populações
vindas do Pará, do Maranhão, Ceará, Ba-
hia e outras localidades — perĂodo marca-
do pelo “Ciclo do Ouro” e “Ciclo da Borra-
cha”. Entre 1907 e 1912, trabalhadores da
“diáspora barbadiana” contribuĂram com
mão de obra qualificada para a construção
da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e
também colaboraram para uma efetiva
institucionalização de serviços relaciona-
dos Ă educação, saĂşde e outras polĂticas
sociais na regiĂŁo.
Atualmente, novas diásporas se instalam
na Amazônia, como a dos recém-chegados
haitianos e venezuelanos. O acesso a estĂł-
rias/histórias das inúmeras populações ne-
gras na AmazĂ´nia trouxe Ă tona a necessi-
dade de ressignificação da própria história
do negro no Brasil, uma vez que nos depa-
ramos com uma série de contribuições e in-
fluĂŞncias ainda nĂŁo (re)conhe-cidas.
Hoje, prosseguir com o desvelamento e a
circulação dessas estórias/histórias é um
modo de nĂŁo deixar de ver como o Corpo
Negro fez/faz o Brasil, tal como ele Ă©. E,
sobretudo, tal como o Brasil poderá ser
quando admitir, reconhecer e valorizar su-
as raĂzes africanas. Há uma AmazĂ´nia Ne-
gra, que são várias. No meu trabalho, te-
nho me encontrado com a AmazĂ´nia indĂ-
gena e negra, cujo afeto-imagem-destino
brota da terra².
Notas
1
Economista, Marcela Bonfim, era outra até os 27
anos. Na capital paulista, acreditava no discurso da
meritocracia. Já em Rondônia, adquiriu uma câmera
fotográfica e, no lugar das ideias, deu espaço a ima-
gens e contextos de uma AmazĂ´nia afastada das men-
tes de fora, mas latentes Ă s vias de dentro. As lentes
foram além, captando, da diversidade e das inúmeras
presenças negras, potências e sentidos antes desco-
nhecidos a seu próprio corpo recém-enegrecido.
² Texto de Marcela Bonfim publicado na Agência Pú-
blica (2019), na SĂ©rie AmazĂ´nia Sem Lei. DisponĂvel
em https://apublica.org/2019/10/encontrei-uma-
amazonia-da-cor-da-minha-pele/. Acesso em
5/10/2020.