Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 223-225, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47274)
223
Post-scriptum para um dossiê
- A Amazônia em estado virótico!
Luizan Pinheiro (Universidade Federal do Pará, Brasil)
*
https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47274
Este Dossiê foi organizado no período da Pandemia do Novo Coronavírus que se espalhou pe-
lo mundo em 2020. Vimos e sentimos as mudanças bem perto com a extinção de grande
parte da população mundial. Os países ricos mudaram a lógica de suas políticas pra salvar
vidas, quando o Estado de Bem Estar Social na Europa estava à bancarrota por tempo! O de-
semprego no mundo batendo recorde. As políticas sociais cada vez mais seletivas e exclu-
dentes, aumentaram o exército de reserva de trabalhadorxs pelo mundo. O racismo foi
colocado em pauta com suas perversões militarizadas. A ironia veio à tona: grandes conglo-
merados do capital meteram a mão no bolso, em suas reservas e acúmulos para salvar a vi-
da de suas populações ou de seus consumidores, mesmo que tivessem que adotar o discurso
do compromisso social como princípio. Para assegurar a crise econômica gerada pela pan-
demia, as empresas de todas as áreas e serviços ajudaram, como nunca fizeram, aqueles
*
Luizan Pinheiro é pesquisador, escritor, poeta, compositor, carimbozeiro e professor doutor da Faculdade de Artes Visuais do Instituto de
Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará. E-mail: luizan2014@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9199-5327.
Luizan Pinheiro,
Post-scriptum
para um doss- A Amazônia em estado virótico!
224
que ficaram com o ônus/óbito da cena. É impressionante ver os milhões de doações para es-
ta causa mortal. E me vinha a pergunta: por que o fizeram antes? Construíram hospitais.
Estruturaram e colocaram os serviços tecnológicos em benefício da população mundial. Ora,
não é assim que a banda toca na desigualdade social mundial ou na gestão da miséria. Os
países da América Latina com suas vidas estratosféricas e na mão do capital multinacional
e que tem as empresas instaladas em seus territórios doando materiais, equipamentos e
serviços, chega a ser espantoso. É claro que isso tem sempre um preço. A conta vai chegar
depois. Ou melhor, já es sobre as mesas de negociações. No Brasil estamos no de sempre:
o processo dizimador, admitido na imprensa mundial pelo Vice-Presidente, com a destruição
do meio ambiente, da Amazônia com seu maior índice de devastação e queimadas no seu
primeiro ano de governo. Não tem conselho que dê jeito, como popularmente se diz. O Con-
selho da Amazônia não vai ouvir a Amazônia, os estudiosos, os cientistas, a ciência, a arte, a
educação, não. Eles não ouvem nem o que falam. E enquanto o Novo Coronavírus (Covid 19)
devasta a população do planeta, daqui do Norte do Brasil vimos do mesmo modo outras tan-
tas devastações, principalmente com as mudanças climáticas que atingem frontalmente a
floresta amazônica. O vírus entrou em todos os lugares. As comunidades indígenas, quilom-
bolas, ribeirinhas, praianas etc., sofreram e sofrem ainda com a perda de seus entes queri-
dos. Lideranças ancestrais. Homens, mulheres, jovens e crianças. Guerreiros e guerreiras vi-
venciando a vulnerabilidade de suas condições. A dizimação de nossas gentes como no pas-
sado. E ao mesmo tempo o abandono do des-governo brasileiro. O poder público penou para
acertar a lidar com o chamado inimigo invisível, o vírus, que colocou à prova as competên-
cias e as estruturas de cada estado e município. O Sistema de Saúde de cada local viu-se
perdido diante dos distúrbios e desequilíbrios provocados pela pandemia. E em muitos Esta-
dos, lideranças políticas fizeram jus às suas eleições, ao cargo e à responsabilidade social
que os cabia pela própria lógica constitucional; enquanto outros se aproveitaram da situação
para fazer a velha política da corrupção e do balcão. As grandes distâncias na Amazônia
provaram que ainda tem muito o que se avançar, mas o nas balelas virtuais que tentam
ainda fazer-nos engolir enquanto a mata pega fogo, os rios são poluídos e as aves morrem
asfixiadas. Aqui tudo é desafio. E os governos dos países em lives virtuais tentam criar pla-
nos estratégicos com os mesmos argumentos de sempre. Sem convocar aqueles que de fato
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 223-225, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47274)
225
entendem a Amazônia. Eles nunca falam do grande capital instalado aqui, e da riqueza que
vai embora, e do buraco que fica, e da miséria que se aprofunda, e das riquezas dilaceradas,
e do extermínio de tantas vidas. Tentam encontrar palavras novas palavras para tentar fazer
o belo discurso, não adianta. Não sabem falar e não sabem do que falam. E diante de tantos
desafios das políticas ambientais (no sentido mais amplo do termo) a arte grita. Tem que
gritar e mostrar cada vez mais as mazelas, a ignorância, a estupidez, o falso, o abuso, o as-
sédio, a destruição, a idiotice. E os poderes públicos e as organizações têm que ser mais
agressivas ainda porque o que temos em vista é mais um episódio de destruição, pois 2020
está muito mais quente do que imaginam os roteiristas hollywoodianos e seus Armagedons
de programas gráficos superfodas! Por fim...não tem fim! Não tem vacina pra estupidez hu-
mana! E o que foi metaforicamente chamado de o pulmão do mundo mesmo em estadão
virótico, a Amazônia e junto com ela o Pantanal, a Mata Atlântica. Os biomas virando fuma-
ça... É, Marx tinha razão, tudo o que é sólido se desmancha no ar...
Belém, agosto de 2020.