Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 267-277, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597)
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Amanda, amauri, Ana Beatriz das Neves Silva,
Ana Silva, beatriz garcía, Caroline Reis,
Clara Edwiges, Bea Cardoso, Bea Machado,
cexe cx, Emilia Estrada, Fernanda Fields,
Gabrielle dos Santos, Gisele Niemeyer,
Henrique Louback, Irene Dorte, Isabella Kopschitz,
Juliana Sutil, Júlio Paris, Lainara, Leo Boy,
Leonardo Carvalho Leone, Letícia Santos Rocha,
loli brito, Lucas Roxo, Marina Vieira,
Michelle Oliveira, Mirna Machado, Renata Mencari,
samara zuza, Taineuraz, Tatiana de Mello Pereira,
Thiago Rodrigues, tuca mello, Vitor Szpiz *
Dicionário Neonormal, 2020.
https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597
Amanda et al., Dicionário Neonormal.
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* Amanda, amauri, Ana Beatriz das Neves Silva, Ana Silva, beatriz garcía,
Caroline Reis, Clara Edwiges, Bea Cardoso, Bea Machado, cexe cx,
Emilia Estrada, Fernanda Fields, Gabrielle dos Santos, Gisele Niemeyer,
Henrique Louback, Irene Dorte, Isabella Kopschitz, Juliana Sutil, Júlio Paris,
Lainara, Leo Boy, Leonardo Carvalho Leone, Letícia Santos Rocha, loli brito,
Lucas Roxo, Marina Vieira, Michelle Oliveira, Mirna Machado, Renata Mencari,
samara zuza, Taineuraz, Tatiana de Mello Pereira,Thiago Rodrigues, tuca mello
e Vitor Szpiz são estudantes do curso de graduação em Artes da Universidade
Federal Fluminense, Niterói.
E-mail: amaurietc@gmail.com
Dicionário Neonormal, 2020.
Dicionário Neonormal é um trabalho coletivo e colaborativo desenvolvido por estu-
dantes do curso de graduação em Artes da Universidade Federal Fluminense, Niterói,
entre novembro e dezembro de 2020 que, em sua versão para a Revista Poiésis, se
apresenta sob a forma de verbetes textuais.
Recebido: 10/12/2020; Aprovado: 10/12/2020; Publicado: 2/1/2021.
Citação recomendada:
AMANDA et al. Dicionário Neonormal, 2020. Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37,
p. 267-277, jan./jun. 2021. [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597]
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Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 267-277, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597)
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Dicionário Neonormal
a-braços
a- : prefixo que expressa afastamento,
privação, negação, insuficiência, carência.
a-braços significam os abraços com os
olhos, mensagens e toque de cotovelos.
Traz consigo a lembrança do quente, do
aperto, do cheiro. Carrega em si o desejo
de estar em um, em dez, em todos os
abraços; é fruto da memória afetiva e
sensorial; ato de amor, por assim ser
afastado, privado, negado, insuficiente,
carente nesses novos tempos.
arte-prece
Ato de fazer do invisível, visível. Arte en-
quanto ritual de cura. Quando criamos a
partir do invisível, a partir de informações
que nos chegam através de sensações, in-
tuição. Perspectiva em que a arte, a vida e
a prece (enquanto fé, confiança) não po-
dem ser concebidas separadamente.
assensibilidade
Subs. multinárie.
União das palavras acessibilidade e sensi-
bilidade.
Qualidade do que é acessível e sensível;
Possibilidade de acesso ao campo sensí-
vel;
Experiência conjunta circular contínua e
compartilhada de acesso sensível;
Encontro e alargamento de e entre inclu-
sividades;
Condição de autonomia espiritual;
Motivação por afetos relacionados à aces-
sibilidade;
Necessidade de liberdade de movimento;
Segurança em ser;
Amanda et al., Dicionário Neonormal.
Facilidade de aproximação de e através de
sensações;
Percepção e consideração de necessidades
coletivas;
Aptidão holística de criação;
Sensação de acesso ou ascensão.
benfaça (as palavras têm poder)
: Há um espaço invisível entre nós.
Ali, pessoas se divertem. Se entediam.
Se deslumbram. Se apavoram.
Se alegram. Se entristecem.
Se amam. Se odeiam.
O que prevalecerá?
O bem ou o mal?
CineAmar
Projetar-se no outro, reprodução de falas,
ideias, gestos, sentimentos, assim como
na tela do cinema. Se encontrar perden-
do-se, até que o resto seja a tela preta, a
mesma que dá início à outras telas. Novas
fases e com elas novos roteiros, novos co-
adjuvantes e talvez um novo protagonista.
Os créditos ficarão guardados em algum
canto após eu sair de cena, esperando um
novo visitante, que talvez modifique tudo,
ou talvez dará significado aos mesmos, os
transformando em palavras que farão par-
te de quem eu sou e da minha história,
que agora, não está mais em cartaz.
corpo de fundo
É a condição do indivíduo na coletividade.
Ele compõe um painel de muitos corpos
(vivos ou mortos). A coletividade desses
corpos é imprescindível para contextuali-
zar a história que a obra conta, mas não
são necessários muitos detalhes. Os indi-
víduos reduzidos a cores, cabelos e roupas
(expressões são opcionais). Suas caracte-
rísticas já limitadas podem ser repetidas a
cada cinco ou seis corpos em ambas as di-
reções sem chamar muita atenção. Às ve-
zes é preciso que se repita para que não
chame atenção. Esse é o objetivo: não
chamar muita atenção.
corpo-itinerante
Corpo-itinerante é a visualização de uma
totalidade de corpos que integram um
mesmo coletivo em que, apesar de uma
multiplicidade cultural, compartilham um
mesmo propósito e condição de existência
que é a habitação itinerante. O corpo iti-
nerante não pode ser capturado pelo lugar
que se encontra, nem se pode relegá-lo ao
abandono, uma vez que ele faz parte, ge-
ograficamente, de todos os lugares.
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 267-277, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597)
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corporografia
cor-po-ro-gra-fi-a
Corpo + poroso + grafia
verbo: corporografar
corpo território poroso
corpo como ato de transcrever-se
carne-osso que se desloca em meio de e
a partir de suas inscrições e registros no
espaço-tempo
corpo-membrana que se deixa permear
e permeia ambientes
inscrição da porosidade de um corpo
corpo portador dos registros da terra
corpo como arquivo, como lugar de ar-
mazenamento
camada fina de troca flutuante
de·com·por
(de-+compor )
- resolução de um corpo ou de um conjun-
to nas suas partes simples;
- alteração profunda; desorganização;
- decomponível hidrolisar biodegradar;
permitir a putrefação das formas, reduzir-
se e incorporar-se é ciclo vital renova,
quebra, deteriora. alterar-se profunda-
mente, quebrar-se e receber a quebra
sem a transformar em coisa ruim. Saber
(do espanhol "Si yo sé a algo, mi sabor
será para la tierra"
1
- tener un determina-
do sabor) em terra-sangue e em água-
movimento. é saber (do português) que o
Tekoha
2
(do guaraní para a visão
cosmogônica e expandida de território -
teko modo de ser) de cada ser está no bi-
oma que nos nutre, pertence e devora.
1
Rimbaud, Umbral Mortal , Esp. 1975.
2
Tício Escobar, 2020, disponível em
https://youtu.be/xwAFbpS4m3Q.
equipatia (as palavras têm poder)
As regras são claras
Cada um conta seus pontos
Sempre foi assim
Pois como dizem:
Cada macaco no seu galho
O outro também participa
Sofreu falta. Foi injusto
Sempre foi assim
Mas é como dizemAntes ele do que eu
E agora? Tenho derrota.
Não há pontos pra mim
Desrespeito
Não quero que seja assim
Mas é como dizem
Pimenta no olho do outro é refresco
Pontos Somados
Pontos divididos
Empatados? Não. Equiparados
Então que assim seja
Pois é como dizem
Gentileza gera gentileza.
Amanda et al., Dicionário Neonormal.
escuta espacial
acción respuesta ao estímulo del instante,
do cúmulo do susurro imperceptível de to-
do territorio. Es la recepción de aquello no
dicho por nadie. Es más que la suma de
todos los silencios en cada fragmento de
un aparente vacío. Exige cautela, regula-
ção de porosidade, um protocolo de inicia-
ção com um prelúdio de pedido de licença
para entrar, documentação da sua dispo-
sição para ouvir relativamente en día y
conexión continua con el cuerpo disponible
na roda.
criatividade ancestral
Quando o que nos surge se conecta dire-
tamente com algo vivido ou criado por
quem veio antes de nós. É quando minha
mãe me vê com as ervas e lembra de algo
que minha bisa fazia e eu nunca soube.
São as ideias que nos levam a descobrir
um pouco sobre quem somos através das
gerações. A criatividade ancestral aconte-
ce por sussurros em nosso ser, feitos por
quem no fio da vida plantou intenções
maiores que nós.
essenscrição
Seres humanos, individualidades de carne
e osso.
Cada indivíduo precisa expor sua essência
de alguma maneira e assim eternizar-se,
um instinto. Essas essências inscritas e
gravadas em múltiplas memórias alheias,
que em uma variável de pequenas inscri-
ções geram em um ser uma nova indivi-
dualidade completamente singular.
Isso chamo de Essenscrição.
estar (em 2020)
do dicionário: transitivo indireto
encontrar-se (em certo momento ou lu-
gar, transitoriamente).
Hoje esse significado não cabe mais, estar
migrou para querer. querer estar bem,
querer estar livre, querer estar junto...
São tantos queres. O estar ganhou com-
panhia, não existe sozinho. o estar é pre-
sente ausente, presente na vontade e au-
sente na execução. texto repleto de esta-
res, todos incompletos, querendo se tor-
nar algo maior. seguimos no desejo de re-
alizar seus almejos. só resta que em bre-
ve vai ESTAR voltando à sua origem.
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 267-277, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597)
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estigma
S. m. 1. Cicatriz, marca, sinal. 2. Sinal in-
famante; ferrete. 3. Sinal natural no cor-
po. 4. As marcas das cinco chagas de Cris-
to. 5. Fig. Aquilo que marca, que assinala.
6. Fig. Marca infamante, vergonhosa; la-
béu. 7. Morfol. Veg. Porção terminal do
gineceu, destinada a recolher o pólen, e
sobre a qual ele germina.
O significado de estigma no conhecimento
geral é aquilo que marca negativamente
algo ou alguém, uma crença limitante,
uma cicatriz. Nas plantas o estigma é par-
te constituinte do sistema reprodutor, res-
ponsável em receber o pólen.
No milho o estigma é o que a gente co-
nhece como cabelo do milho, mas também
é a cicatriz deixada na terra pelas colos-
sais monoculturas transgênicas, sinal in-
famante de um alimento sagrado.
Inguiar
verbo
1. transitivo direto, bitransitivo e prono-
minal
conduzir sem rumo, sem direção; ”as in-
certezas que me inguiam são apavoran-
tes”
2. transitivo direto e bitransitivo
tentar ajudar na escolha de uma diretriz
intelectual ou moral e falhar miseravel-
mente; “os governantes nos inguiam a
não votar”
3. transitivo direto
fazer seguir na direção oposta a proposi-
ção inicial; ”se a proposta era melhorar o
Brasil, acho que nos inguiaram”
4. transitivo direto
paralisia causada pelo direcionamento; faz
menção a enguia com seus movimentos
ondulares e ataque através de choque elé-
trico; assistindo essa aula, me senti com-
pletamente inguiade”
5. pronominal
perder-se nos próprios caminhos
“o coração inguiou-me a tomar a decisão
errada”
6. transitivo direto
FIG. Ter ânsia de vômito; “se continuar a
comer assim, você inguiará
ETIM: in- + guiar
Sinônimos: civelar, desgovernar
interlaçar
Interlaçar quanto integrante do meio e o
meio integrante do entorno, entender-se
como peça chave para a evolução e ao
mesmo tempo irrelevante para a progres-
são do meio. O ambiente natural o qual se
afasta como algo fantástico é na verdade
o que está mais intrínseco integralmente,
o fantástico é o aqui, o daqui, o inventa-
Amanda et al., Dicionário Neonormal.
do. Interlaçar quanto pertencer e ser per-
tencido, ser do meio, ser do entorno e ser
humano.
língua ambivalente
Uma que admite contradições, mal-
entendidos e torções com as palavras.
busca insinuar seus sentidos em mais de
uma direção. sua performatividade opera
como um rabisco carregado de afeto no
canto de uma folha. a língua ambivalente
não liquida a linguagem de forma automá-
tica, ao contrário, provoca uma sensibili-
dade aos gestos de fala e escuta.
memória acidental
Uma memória que acontece pelo acaso ou
uma memória de um acaso;
encontro memórias que não são minhas;
eu chamo de acaso memorial.
naturalizar-se
Não a um território qualquer delimitado
por linhas imaginárias, naturalizar-se sem
intenções de visto ou passaporte, enten-
der-se ser humano e, por isso, naturali-
zar-se à sua verdadeira casa, a que com-
partilha com todos os outros seres; perce-
ber-se natureza para ressignificar sua re-
lação com o meio, resistindo ao que é his-
toricamente difundido pelos costumes oci-
dentais, em grande parte responsáveis
pela crise socioambiental existente.
nutricídio
1. Substantivo social
2. Matar de fome o corpo
Ex.: provendo alimentos vazios de nutri-
entes, de vitalidade, ultramortos, sintéti-
cos, refinados, mais acessíveis que o ali-
mento que vem da terra
3. Matar de fome a mente
Ex.: provendo informações falsas sobre
tudo, confundindo, iludindo, alienando,
separando; saturando de trabalho, elimi-
nando o ócio, o tédio, o tempo pra refletir;
tirando recursos da educação, transfor-
mando seres em engrenagens
4. Matar de fome o espírito Ex.: provendo
caos, desespero, pânico, ansiedade, sensa-
ção de impotência, falta de esperança, de
; matando os nossos (principalmente pre-
tos e indígenas); sufocando as resistências
e as dissidências; distribuindo impunidade
aos corruptos, prendendo os justos.
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 267-277, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597)
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observação vibracional
1. Ação de olhar para a energia do tempo.
um enxergar além da escala humana, uma
visão de dentro da água, do sol e das lu-
zes;
2. o ver como movimento de desejo sem
pretensão e traz consigo o peso ideal das
coisas, por exemplo: ar sem fumaça, terra
molhada, corrente de ouro;
3. lugar de percepção que se envolve entre
voos e repousos na aceitação de adaptação.
receita de arte
Comida é arte. Preparar o alimento é um
processo, digamos, artístico, escolhe-se os
utensílios, cores e quando o forno apita,
voilá nossa obra está pronta, coloquemos
à mesa para a exposição e aguardemos a
opinião dos críticos.
re-cromatizar
Agir na mudança, colocar em prática o
resultado das possibilidades e
reflexões. Mudar/trocar as cores já
existentes na nossa vida, dando espaço
para futuros tons.
re-morrer
ato de morrer, física e espiritualmente,
repetidas vezes durante a vida. A
reconstrução de um novo eu, fato que
impede a inércia do ser de viver um eu
único e definitivo, mas sim vários durante
a vida.
re-se
constante repetição do e se?; Avalia-
ção do que poderia ter sido diferente em
determinado cenário ou das possíveis
repercussões de tal ação.
responsetiva (as palavras têm poder)
: Eu escuto essa frase da minha mãe des-
de a infância. A princípio, ela é atribuída a
outro sentido, mas, de fato, as palavras
são tudo isso. O efeito borboleta tem um
aspecto profundo aqui, deixando rastros e
esclarecendo a importância da prática das
ações responsáveis. As relações humanas
são únicas, recíprocas em diferentes níveis
e determinam o futuro de quem participa
delas. Basta um único comentário para
uma construção de uma vida inteira es-
tremecer a ponto de cair sobre si. Enten-
der o muro invisível entre o eu e o outro é
uma prática diária, pular esse muro pode
ser irreversível e traumático. Nós não po-
demos ser os donos do mundo.
Amanda et al., Dicionário Neonormal.
semearte
A terra produz as cores que nutrem a vi-
da. Que energizam a alma e o espírito.
Revitalizando o potencial das sementes,
na exposição das informações matriciais
armazenada de tempos longínquos de ou-
tras vidas. Arte alimentar de recuperar o
elo ancestral de conexão direta com o ori-
gem. Trazendo para si a mais sutil dinâmi-
ca da biodiversidade interna e externa dos
movimentos sensoriais, sem o peso da dor
para nutrir o corpo.
ser bug / corpo-inseto
Faz referência à expressão utilizada na lin-
guagem da informática para indicar uma
falha na lógica, no sistema, um conflito no
programa que impede sua execução. Ser
Bug / Corpo-Inseto é aquele, aquela que
pousa delicadamente nas rachaduras. Se
instala temporariamente nas fendas. Sabe
despertar sua magnetorecepção. Não acre-
dita que suas antenas são o seu principal
órgão sensor, porque sabe que há partícu-
las de magnetita, células sensíveis, em to-
do seu corpo e que basta conectá-las aos
seus circuitos neurais.
Ser Bug é ter olhos com visão panorâmi-
ca. É ser erro, errante. Corpo-Inseto voa-
dor, migrante. Passeia pelas bordas. Ater-
rissa no centro. Passeia pelo centro. Ater-
rissa na margem. Desorienta. Se instala e
reinstala. Causa ruídos, ora agradáveis,
ora perturbadores.
É agente de encontros entre diferentes
corpos-insetos. Forma enxames. Enxames
que dançam, dançam no ar e depois se
vão.
Ser Bug / Corpo-Inseto é residir nas fissu-
ras, é provocar falha na lógica, defeito no
sistema. Mas, sobretudo, é gerar Po-li-ni-
za-ção.
ser-parte
Ser referente a algo em específico - rela-
ção por pertinência;
identificação subjetiva com o meio - pro-
jeção do eu em coisa, lugar ou pessoa;
entender partes de si no todo e partes do
todo em si;
superação da individualidade e transcen-
dência da matéria em sentido.
Sobretudo,
um sentimento;
previsto como direito humano e defesa su-
ficiente em caso de ameaça de desloca-
mento da comunidade aquela a que se
refere para integridade do ser e do seu
desenvolvimento.
Ao contrário,
o ser-perde-parte.
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 37, p. 267-277, jan./jun. 2021. (https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i37.47597)
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tear-se
Ato de fiar-se, unir partes que formam um
todo e também desfazê-las, recriando algo
completamente diferente do anterior po-
rém com a mesma matéria, matéria flui-
da, que conhece seus limites podendo
moldá-los, contando com o acaso e com
as tecercções, se mistura mas nunca uni-
formemente, se aprofunda mas não se di-
gere, se complementa em partes, se co-
necta em teia.
trinchível
trincheira + visível
ação de escavar as camadas históricas;
passível de criar brechas nos regimes de
visibilidade - e nos regimes discursivos -
da arte contemporânea; novas formas de
autonomia e legitimação; zona de confli-
tos; apropriação de uma linguagem de
guerra; a visibilidade no campo da arte é
um território em disputa.
vermelho
Minha frigideira tem mais cores do que um
quadro de Dalí. Laranja, verde, roxo. Co-
lorido que nutre a vida, entra pela boca e
sai pelos poros.
Nos nutrimos desde a barriga, sugamos o
leite, mastigamos o sangue até de outro
animal. Vermelho. Dois hambúrgueres, al-
face, queijo e vermelho.
Faço uma pintura com meu ketchup, sou
artista.