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coletiva urbana e a proposição artística consti-
tuindo-se como estratégia propositora de outros
sentidos para aquele espaço.
As pedreiras existentes nos perímetros urbanos
das grandes cidades, para as quais poucos aten-
tam, são locais de radicais transformações decor-
rentes de sua exploração e extração de minérios
denominados agregados. Segundo o Dicionário
Houaiss, agregado significa “material pétreo gra-
nuloso, quimicamente inerte e sem poder agluti-
nante, ao qual se juntam água e um ligante para
formar argamassas e concretos” [HOUAISS, 2001].
Na construção civil, pedras brita, cascalho e areia,
entre outros minerais, constroem e reconstroem as
cidades que estão permanentemente em cresci-
mento, com suas transformações e demolições. A
proximidade das pedreiras com os centros urbanos
deve-se ao baixo custo dos minérios e ao decorren-
te barateamento do transporte. Suas implicações
nos meios sociais urbanos e os impactos ambien-
tais são diversos e severos:
Os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às diversas fases de
exploração dos bens minerais, como a abertura da cava [retirada da vegetação,
escavações, movimentação de terra e modificação da paisagem local], ao uso de
explosivos no desmonte de rocha [sobrepressão atmosférica, vibração do terreno,
ultralançamento de fragmentos, fumos, gases, poeira, ruído], ao transporte e bene-
ficiamento do minério [geração de poeira e ruído], afetando os meios como água,
solo e ar, além da população local. [BACCI; ESTON; LANDIM, 2005, p. 47]
Como boa parte das cidades brasileiras, Curitiba
e seus municípios vizinhos contam com pedrei-
ras ativas e também desativadas. Na cidade,
algumas delas foram transformadas em locais
públicos de sociabilidade, passeios e centros cul-
turais, como a Pedreira Paulo Leminski e o Teatro
Ópera de Arame, e também de pesquisa, como
a Universidade Livre do Meio Ambiente. Por fim,
contam-se ainda os locais de extração desati-
vados e abandonados, sem qualquer uso para a
cidade e, muitas vezes, colocando situações de
risco para os moradores das cercanias.
Uma proposição artística anterior à do artista
Júlio Manso ocupou também uma pedreira na
cidade de Curitiba e, com isso, levantara algumas
questões pertinentes para a presente análise.
Trata-se da ação
Costura na paisagem
[Fig. 1],
do artista Marcello Nitsche, realizada no dia 8
de março de 1975. A proposta estava inserida no
evento
Arte na Cidade
promovido pelo Museu de
Arte Contemporânea do Paraná e pela Fundação
Cultural de Curitiba, entre
outras instituições. Também
participaram do evento os
artistas Flávio Motta, Nelson
Leirner, Antonio Arney, Poty
Lazarotto e Alfredo Braga. Em
termos sucintos, o projeto
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 38, p. 247-265, jul./dez. 2021 [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i38.48508]