345
COMPARTILHAR A MESA. DESIGN CENTRADO EM PESSOAS
PARA RECURSOS MUSEOGRÁFICOS EDUCATIVOS
Sharing the table. Human centered design as educational museographic resources
Compartir la mesa. Diseño centrado en personas para recursos museográficos educativos
Bruna L. Estevão da Silva [Universidade Anhembi Morumbi, Brasil]*
[Resenha do artigo de Nayeli Zepeda Arias publicado em DAT Journal, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 129-139, 2020]
*Bruna L. Estevão da Silva é mestranda em design pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: estevao.bruna@yahoo.com.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-2400-2284
RESUMO
Resenha do artigo Compartir la mesa. Diseño centrado en personas para recursos museográficos educativos, de
Nayeli Zepeda Arias, historiadora da arte, mestre em museografia interativa e didática e coordenadora do
NodoCultura.
PALAVRAS-CHAVE design centrado nas pessoas, Design Thinking, recursos educacionais, visitantes, usuários,
educação em museus
ABSTRACT
Review of the article Sharing the table. Human centered design as educational museographic resources, written by
Nayeli Zepeda Arias, art historian, interactive and learning museology specialist and coordinator of NodoCultura.
KEYWORDS human-centered design, Design Thinking, educational resources, visitors, users, museum education
RESUMEN
Revisión del artículo Compartir la mesa. Diseño centrado en personas para recursos museográficos educativos, escrito
por Nayeli Zepeda Arias, historiadora del arte, experta en museología interactiva y coordinadora de NodoCultura.
PALABRAS CLAVE diseño centrado en personas, Design Thinking, recursos educativos, visitantes, usuarios,
educación en museos
Citação recomendada:
SILVA, Bruna L. Estevão
da. Compartilhar a
mesa. Design centrado
em pessoas para
recursos museográficos
interativos - Resenha.
Revista Poiésis,
Niterói, v. 22, n. 38,
p. 345-349, jul./dez.
2021. [https://doi.
org/10.22409/poie-
sis.v22i38.48996]
Este documento é
distribuído nos termos
da licença Creative
Commons Atribuição
- NãoComercial 4.0
Internacional [CC-BY-
NC] © 2021 Bruna L.
Estevão da Silva
Bruna L. Estevão da Silva, Compartilhar a mesa. Design centrado em pessoas para recursos museográficos educativos.
(Submetido: 28/1/2021;
Aceito: 13/5/2021;
Publicado: 7/7/2021)
346
Historiadora de Arte pela Universidade Ibero-Ameri-
cana e Mestre em Museografia Interativa e Didática
pela Universidade de Barcelona, Nayeli Zepeda
Arias colabora há mais de dez anos com institui-
ções públicas e privadas no México e nos Estados
Unidos. Além de coordenar o NodoCultura, coletivo
multidisciplinar que explora práticas comuns e dis-
sidentes em museus, integra o Museu Empathetic,
iniciativa dedicada à construção de museus diver-
sos, equitativos, acessíveis e inclusivos.
Neste artigo, a autora se refere ao museu como
uma mesa, um lugar de comunhão, onde cada
participante leva seu prato e todos compartilham a
ceia, de modo que a mesa se torna o espaço onde
se desenvolvem atividades sociais, comunitárias e
também de pertencimento – é preciso enfatizar a
importância do pertencimento, pois o visitante que
não se sente pertencente à uma determinada co-
munidade ou espaço não demonstra interesse na
preservação e participação das atividades ali exer-
cidas. Logo de início, a autora afirma que a mesa
está aberta e todos são bem-vindos e capazes de
contribuir e apreender, de modo que é necessário
reaprender com o visitante para, então, construir
um novo museu. Ela afirma que as desigualdades
socioeconômicas perdem a importância quando se
compartilha a mesa dentro de um contexto cotidia-
no e as diferenças não restringem as formas de in-
teração, mas evidenciam ainda mais tais trocas. O
design centrado em pessoas é apresentado como
uma estratégia para compartilhar a mesa com os
visitantes e estabelecer processos colaborativos na
construção do museu.
O museu do século XXI transcende as funções
básicas de preservar, conservar, expor e pesquisar,
e torna-se parte da dinâmica cultural das cidades.
Dessa forma, estratégias como a curadoria educa-
cional, a mediação e a integração de outras prá-
ticas, como o design centrado em pessoas, apre-
sentam o museu como um local crítico, consciente,
transparente e inclusivo, oferecendo ao visitante
a oportunidade de experienciar e interagir com o
espaço e os outros visitantes. Segundo a autora,
compartilhar a mesa e criar relações democráticas
dentro do museu é mais do que criar ferramentas
que valorizam a participação do público. O design
centrado em pessoas parte de uma abordagem
empática e está ligado ao design participativo e co-
-design, que se baseia na investigação, no conhe-
cimento profundo dos usuários e em suas formas
de interagir e construir significado; esta abordagem
está ligada ao
design thinking
, um processo crítico
e criativo que possibilita a organização de ideias e
a busca por conhecimento. No artigo, assim como
na abordagem do
design thinking
, a autora divide o
processo em quatro fases: inspiração, idealização,
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 38, p. 345-349, jul./dez. 2021 [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i38.48996]
347
implementação e avaliação. Contudo, a definição
dos problemas também é considerada como uma
fase do
design thinking
.
Em
Inspiração
:
empatia como hábito
, a autora
avalia que o design centrado em pessoas pode
valer-se de estratégias como empatia, observação,
monitoramento. A empatia no âmbito museológico
esclarece os propósitos. Na inspiração, devemos
percorrer os espaços por onde passam os visitan-
tes e ouvi-los, para conhecer e aprender sobre suas
dificuldades e diferenças, para, então, propor um
projeto acessível.
A segunda fase do processo é intitulada como Idea-
lização: o design como investigação, que se encar-
rega de interpretar e explicar as narrativas ante-
riormente encontradas, assim como contextualizar
e estabelecer os caminhos para desenvolver os
recursos museológicos e educativos. A fim de exem-
plificar, a autora discorre sobre um Sprint realizado
no museu de Phoenix em 2016, no qual, em um dia,
foi desenvolvido um guia impresso na tentativa de
desmistificar a visita ao museu; foi perguntado por
que as pessoas visitam os museus e porque tiram
selfies. A resposta era para constar que eles estive-
ram ali. Como resultado, foram impressas duzentas
cópias dos guias com a inscrição “
I’m here
” para
fazer uma avaliação pública.
A terceira fase, Implementação: da ideia ao protóti-
po, a autora afirma que a elaboração e uso de pro-
tótipos é uma proposta de desenvolvimento museo-
gráfico iniciada nos museus de ciência. Os museus
são incubadoras controladas onde se experienciam
elementos museográfico, cujo o propósito é provar
a relevância de ideias e projetos. Para demonstrar
a implementação de protótipos, a autora apresenta
dois exemplos que, através da experiência, basea-
ram-se na participação do público: o Exploratorium
de San Francisco [EUA, 1970] e o Papalote Museu
del Nino [Cidade do México, 1992].
A última fase, Avaliação: Aprender Juntos, determi-
na que avaliar os recursos museográficos educati-
vos requer observação, escuta e, invariavelmente,
empatia e, portanto, ação. A avaliação possibilita
que a aprendizagem seja constante e dinâmica. A
autora cita a reforma da galeria da história da Cali-
fórnia, no museu de Oakland, como um exemplo de
avaliação. Os organizadores do museu convocaram
um grupo formado por profissionais vinculados ao
museu e visitantes assíduos para captar feedback e
comentários – por meio de protótipos, entrevistas,
encontros de grupo e pesquisas – e foi implemen-
tado um programa específico para revisar esses
recursos e diretrizes para seu desenvolvimento.
Bruna L. Estevão da Silva, Compartilhar a mesa. Design centrado em pessoas para recursos museográficos educativos.
348
Finalmente, a autora encerra o artigo afirman-
do que se queremos que as mudanças sejam
duradoras e que a instituição museológica seja
realmente relevante e social, é preciso partilhar a
autoridade e dar ao visitante um espaço a mais à
mesa, pois é na diversidade que somos capazes
de aprender contribuir, reaprender, construir, e
reconstruir a nós mesmos.
CONSIDERAÇÕES
O ideal de museu do século XXI não se encaixa
mais nos padrões previamente estabelecidos. Os
espaços museológicos vêm se tornando locais de
aprendizagem, participação e convivência das ci-
dades. Dado que os museus são espaços privilegia-
dos de educação não formal e são importantes na
formação de todos no campo da cultura, o espaço
museológico se reafirma como intersecção entre os
elementos de um triangulo – território, patrimônio e
sociedade –, que culmina no diálogo entre diferen-
tes camadas sociais, econômicas e políticas. O mu-
seu participativo se respalda em vínculos cognitivos
e afetivos com o visitante, e sua transformação se
dá a partir da empatia. Convidar o público a contri-
buir com a criação da narrativa do museu, ou como
a autora coloca: dar um lugar à mesa, ratifica o
processo de mudança, tornando-o um espaço mais
inclusivo e plural. Contudo, deve haver intenção na
mediação, é necessário conhecer profundamen-
te o visitante, se colocar em seu lugar e não criar
suposições. O design centrado em pessoas é uma
abordagem que viabiliza a co-criação e a cons-
trução colaborativa da narrativa que, por sua vez,
resulta em ações efetivas por parte do museu para
tirá-lo do espectro de templo de elitismo cultural. Ao
passo que se as necessidades do público mudam,
o mesmo deve acontecer com os próprios museus.
O Museu da Imigração, localizado em São Paulo,
é um exemplo de instituição brasileira que desen-
volve iniciativas de mediação voltadas à empatia,
aplicando a abordagem do design centrado em
pessoas. A exposição permanente conta a história
da imigração em São Paulo, por meio de objetos e
depoimentos de pessoas vindas de todo o mundo.
A exposição virtual “Viagem, sonho e destino” –
derivada de uma exposição itinerante – apresenta
histórias sobre os imigrantes que contribuíram para
formação de São Paulo. A exposição constrói sua
narrativa a partir de registros fotográficos e relatos
da população, apresentando o caminho destes
imigrantes desde o porto de Santos até a Hospeda-
ria de Imigrantes do Brás, com o objetivo de mostrar
sua trajetória e o meio do caminho entre a vida que
ficava para trás e a que estava por vir.
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 38, p. 345-349, jul./dez. 2021 [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i38.48996]
349
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIAS, Nayeli Z. Compartir la mesa. Diseño centrado en personas para recursos museográficos educativos.
Dat Journal
, v. 5, n. 2, p.129-139, 2020.
BIRKETT, Whitney B.
To infinity and beyond: a critique
of the aesthetic white cube
. Submitted in partial ful-
fillment of the requirements for the degree of Master of Arts in Museum Professions. Seton Hall University,
May 2012.
OLIVEIRA, G.,
O museu como um instrumento de reflexão social
, MIDAS [online], 2|2013, posto online no dia
01 abril 2013, consultado dia 10/11/2020 URL: http://midas.revues.org/222; DOI: 10.4000/midas.222 Museu
da Imigração. Disponível em: http://www.museudaimigracao.org.br/exposicoes/virtuais/viagem-son-
ho-e-destino. Acesso em 15/12/2020.
Bruna L. Estevão da Silva, Compartilhar a mesa. Design centrado em pessoas para recursos museográficos educativos.