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NOTAS
1 Não pretendo dar conta de toda a produção da artista.
Para tal, um único artigo não daria conta, já que a artista produz
em diversas linguagens, há muitos anos, e o conjunto de sua
produção impossibilita uma totalidade.
2 Diante dos mapas das eleições – que marcavam discussões
sobre políticas públicas – em 2011, o artista levou a questão: “a
nordeste de que?”. Justamente pela região demonstrar a impor-
tância sócio-política para o desenvolvimento do país mesmo
diante de uma exclusão xenofóbica sudestina.
3 Ao todo são mais de 300 trabalhos – que transitam da
produção pictórica ao meme – cerca de 160 artistas. Dentre es
artistas que participaram, destaco: Pêdra Costa, Jota Mombaça,
Michelle Muza Matiuzzi, Tertuliana Lustosa, Ayrson Heráclito,
Arthur Bispo do Rosário, Glauber Rocha, Jayme Figura, dentre
outres.
4 Observo ainda que sobre essa questão do território político,
o projeto curatorial e expográfico, que ocupou durante 3 meses
os espaços do Sesc, construía um labirinto, onde se perder era
uma das ações políticas que o público poderia realizar ao visitar
a ocupação. Assim, em vez de falar em espaço expositivo – ou
enunciar qualquer outra expressão utilizada pelos estudos cura-
toriais – digo que “À Nordeste” foi uma ocupação, por tensionar
e deslocar esse espaço da exposição. A ocupação presume,
no sentido da exposição, que o espaço se manifeste também
como uma performance. Para isso, sobre as noções ampliadas
de espaço e performance sugiro a leitura do livro, “Espaço e
Performance”, organizado por Maria Beatriz de Medeiros.
5 Apesar da construção gramatical, semântica, lexical e
política da expressão “À Nordeste” negar qualquer análise lin-
guística, faço uso de um linguista – John Langshaw Austin –, por
acreditar que o autor é um dos precursores nas pesquisas que
tangem o debate sobre palavra, ação e performance. Portanto,
não se trata de uma análise linguística por meio de um linguista,
mas um olhar da performance por meio da ação de pesquisa de
um linguista.
6 O “falar” em Austin não está ligado apenas ao ato de ver-
balizar a palavra, ele pode estar associado à ação da escrita,
ou a visualidade da palavra. Isso também poderia nos levar ao
que os vanguardistas paulistas da poesia concreta denominaram
Projeto Verbivocovisual. Para um aprofundamento desse debate
sugiro a leitura de: “Poesia concreta: O projeto verbivocovisual”
[2008] organizado por Pedro Bandeira e Leonora de Barros; e,
“A máquina performática” [2017] de Gonzalo Aguilar e Mário
Câmara.
7 Idiossincrasia pode ter algumas leituras dentro dos campos
da performance. No caso de Renato Cohen, por exemplo quer
dizer as habilidades pessoais [individuais] que cada performer
tem – neste primeiro sentido ela está ligada também ao estranha-
mento, as coisas que deslocam o olhar, pelo distanciamento da
construção aristotélica de narrativa das artes da cena, quando
acionada a performance –, e por outro lado, a idiossincrasia
no coletivo pode ser a definição de um campo de investigação
e linguagem própria. Utilizo dessas duas definições, e digo que
a idiossincrasia também tem um caráter de afetação, que faz
com o coletivo coloque as suas linguagens e crie a partir de
uma colagem um campo de ação a partir da performance e das
narrativas/fazeres pessoais.
8 Entendo que a dissidência estética não é uma característica
da imagem, a estética visual. Penso a dissidência estética desde
uma ação da performance. Dito isso, há algumas outras questões
Revista Poiésis, Niterói, v. 22, n. 38, p. 279-292, jul./dez. 2021 [https://doi.org/10.22409/poiesis.v22i38.49077]