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XAMANISMO EM FOTOLIVROS DE CLAUDIA ANDUJAR:
YANOMAMI E AMAZÔNIA
Shamanism in photobooks by Claudia Andujar: Yanomami and Amazônia
El chamanismo en fotolibros de Claudia Andujar: Yanomami y Amazônia
Ana Carolina Albuquerque de Moraes [Universidade Estadual de Campinas, Brasil]*
RESUMO Este artigo propõe-se a analisar a abordagem do xamanismo yanomami pela fotógrafa
Claudia Andujar em seus dois primeiros fotolivros, ambos de 1978:
Yanomami
: frente ao eterno (com Darcy
Ribeiro) e
Amazônia
(com George Love). Em cada livro, são analisados o projeto gráfico, os assuntos
dominantes e, sobretudo, o modo como o tema xamanismo é abordado. O viés das análises é sobretudo
antropológico, coerentemente com o foco de Andujar na compreensão cultural dos Yanomami. Enquanto,
em
Yanomami
, a abordagem do xamanismo é discreta, em
Amazônia
, é vigorosa pela quantidade de
imagens dedicadas ao tema e a variedade de recursos visuais utilizados.
PALAVRASCHAVE Claudia Andujar; Xamanismo; Fotolivros;
Yanomami
;
Amazônia
.
* Ana Carolina Albuquerque de Moraes é professora do Departamento de Artes Visuais e Design da Universidade Federal de Sergi-
pe e doutoranda em Artes Visuais na Universidade Estadual de Campinas. E-mail: carolina.moraes@gmail.com. Orcid: https://orcid.
org/0000-0003-1560-2795
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
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ABSTRACT This article aims to analyze the approach on Yanomami shamanism by photographer Clau-
dia Andujar in her first two photobooks, from 1978:
Yanomami
: frente ao eterno (with Darcy Ribeiro) and
Amazônia
(with George Love). The graphic design, the dominant subjects and, especially, the way in which
the theme shamanism is addressed are analyzed in each book. The main bias employed in the analysis
is anthropological, consistent with Andujar’s focus on cultural understanding of the Yanomami. While in
Yanomami
the approach to shamanism is discreet, in
Amazônia
it is vigorous, due to the amount of images
dedicated to the theme and the variety of visual resources employed.
RESUMEN Este artículo se propone a analizar el enfoque del chamanismo yanomami por la fotógrafa
Claudia Andujar en sus dos primeros fotolibros, ambos de 1978:
Yanomami
: frente ao eterno (con Darcy
Ribeiro) y
Amazônia
(con George Love). En cada libro se analizará el proyecto gráfico, los asuntos domi-
nantes y, sobre todo, la forma en que se aborda el tema del chamanismo. El sesgo de análisis es principal-
mente antropológico, consistente con el enfoque de Andujar en la comprensión cultural de los Yanomami.
Mientras que, en
Yanomami
, el enfoque al chamanismo es discreto, en
Amazonia
es vigoroso, por la
cantidad de imágenes dedicadas al tema y la variedad de recursos visuales utilizados.
PALABRAS CLAVE Claudia Andujar; Chamanismo; Fotolibros;
Yanomami
;
Amazônia
.
DE MORAES, Ana
Carolina Albuquerque.
Xamanismo em
fotolivros de Claudia
Andujar: Yanomami e
Amazônia. Revista
Poiésis, Niterói, v. 23, n.
https://doi.
org/10.22409/poiesis.
v23i39.49154]
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cial 4.0 Internacional
(CC-BY-NC) © 2022
Ana Carolina Albuquer-
que de Moraes. Sub-
metido: 12/3/2021;
Aceito: 25/5/2021
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
KEYWORDS Claudia Andujar; Shamanism; Photobooks; Yanomami; Amazônia.
39, p. 224-252,
jan./jun. 2022. [DOI:
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Claudia Andujar [1931-] aproximou-se do
xamanismo e da cosmovisão yanomami aos
poucos, à medida que construía uma relação
de intimidade com as pessoas em suas su-
cessivas estadas na comunidade a partir dos
anos 1970. Decidida a dedicar-se a um único
povo por tempo indeterminado, foi-se inserin-
do entre os Yanomami e observando as rela-
ções interpessoais, as práticas cotidianas, a
visão de mundo ali dominante. Desde o início,
sentia a necessidade de entendê-los enquan-
to povo, mas, aos poucos, foi-se inteirando
da complexidade da empreitada, pois com-
preender a visão de mundo de pessoas com
origem e formação muito diferentes da sua,
sem dominar a língua ali falada, não constituía
tarefa fácil. A observação duradoura, partici-
pante, ao lado de outras estratégias que veio a
conceber com o passar do tempo, como, por
exemplo, a orientação para que algumas pes-
soas elaborassem desenhos representativos
de sua própria realidade material e imaterial,
foram recursos utilizados por Andujar para
aproximar-se de um modo de vida tão marca-
do pela alteridade em relação a si mesma.
Alinhando-se a trabalhos anteriores [MORAES,
2018, 2019, 2020], este artigo propõe-se a ana-
lisar a abordagem do xamanismo yanomami
pela artista em seus dois primeiros fotolivros:
Yanomami
: frente ao eterno, realizado em par-
ceria com o antropólogo Darcy Ribeiro [AN-
DUJAR, 1978a], e
Amazônia
, este em parceria
com o fotógrafo norte-americano George Love
[ANDUJAR; LOVE, 1978]. As duas obras serão
analisadas e comparadas quanto ao projeto
gráfico, aos assuntos dominantes e, sobretudo,
aos modos como o tema xamanismo é aborda-
do em um e outro volume. Neste último ponto, as
análises seguirão viés sobretudo antropológico,
em consonância com o objetivo-mor de Andujar
de compreensão cultural dos Yanomami.
A centralidade do tema xamanismo na obra
da fotógrafa
1
pode ser vislumbrada em
depoimentos seus, dentre os quais um que
escreveu a respeito da série
Sonhos Yanomami
[1974-2003], cujas imagens constituem o foco
da minha pesquisa de doutorado.
² Nessa
série, concebida no início dos anos 2000, a
artista sobrepõe fotografias de seu arquivo
para refotografá-las sob novas projeções de
luz, buscando evocar visões xamânicas. No
depoimento em questão, afirmou a fotógrafa:
Considero a série ‘Sonhos’ um turning point em minha
experiência com os Yanomami. As imagens que
compõem a série revelam os rituais xamanísticos do
Yanomami, ‘sua reunião com os espíritos’. [...] Se o
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
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registro fotográfico de culturas pode ser considerado
uma forma de compreensão do outro, eu acredito que
com a série Sonhos eu consegui entender a essência do
povo Yanomami [ANDUJAR, [2005].
Aquilo que Andujar considera “a essência do
povo Yanomami” está, portanto, relacionado
às visões acessadas pelos xamãs durante o
transe – induzido pela inalação do psicoativo
yãkoana
3
, quando a cosmovisão yanomami
revelar-se-ia do modo mais pungente, em virtude
do contato dos xamãs com imagens ancestrais
provenientes do passado absoluto. A série
Sonhos
é fruto da maturidade no relacionamento de
Andujar com os Yanomami, após mais de trinta
anos de convivência. Antes dela, a artista já
havia abordado o tema xamanismo em outros
trabalhos, como nas séries
O invisível
[1974-76]
e
Reahu
[1974-76], e em sequências imagéticas
em fotolivros, como
Yanomami: frente ao eterno
e
Amazônia
, focos deste artigo. Cada livro aborda
o tema a seu modo, com maior ou menor ênfase,
no âmbito de diferentes estratégias discursivas,
conforme será aqui discutido.
Ambos os volumes foram publicados em 1978, pela
Editora Praxis. Até então, Andujar havia estado
entre os Yanomami em cinco momentos distintos:
em 1971, enquanto fotografava para uma edição
especial da revista
Realidade
sobre a região
amazônica, estabelecendo seu primeiro contato
com a comunidade; em dezembro do mesmo
ano, durante três dias, na companhia de Love,
então seu marido; em 1972, por cerca de um mês,
acompanhando atividades cotidianas, como caça,
pesca e coleta de mantimentos; em 1974, quando
ali permaneceu a maior parte do ano, participando
de modo imersivo das atividades coletivas e
fotografando largamente as cerimônias funerárias
denominadas
reahu
; entre 1976 e 1977, durante
quatorze meses, quando desenvolveu projeto
de pesquisa financiado pela FAPESP [Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo],
em que buscava estimular alguns Yanomami a
desenharem e narrarem aspectos de sua própria
cosmovisão, como forma de apreendê-la em maior
profundidade [NOGUEIRA, 2018, p. 167-203].
Nas duas últimas estadas mencionadas, a fotógrafa
estreitou os laços com o xamanismo yanomami.
Em 1974, fotografando as cerimônias
reahu
,
presenciou, por diversas vezes, a inalação coletiva
de
yãkoana
pelos participantes do sexo masculino
no último dia do evento. As festas
reahu
, que se
estendem por vários dias e acolhem convidados
de diferentes aldeias, são cerimônias funerárias
em que os participantes lamentam os mortos e
ingerem suas cinzas misturadas em mingaus,
de modo a garantir a ascensão de seus espíritos
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
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para as “costas do céu” [KOPENAWA; ALBERT,
2015]. No derradeiro dia de festa, todos os homens
inalam
yãkoana
e praticam xamanismo, buscando
alcançar um outro patamar de consciência em que
seria possível o contato com espíritos florestais.
4
A relação de Andujar com aqueles identificados na
aldeia como “xamãs” foi aprofundada enquanto a
fotógrafa desenvolvia a pesquisa fomentada pela
FAPESP, em 1976-77. Suas imersões anteriores em
território yanomami despertaram-lhe o interesse
em conhecer mais detidamente aspectos da
cosmovisão do grupo. A dificuldade de comunicar-
se oralmente com seus interlocutores foi um dos
fatores que a impulsionaram a solicitar-lhes a
materialização em desenhos de aspectos dessa
cosmovisão. Os conteúdos dos desenhos eram
verbalizados por seus autores, e o material
gravado em Yanomami era posteriormente
traduzido para o português por Carlo Zacquini,
missionário italiano que se tornou fiel parceiro da
fotógrafa na luta pela causa ameríndia [ANDUJAR,
1978b]. Segundo Andujar, no interior do grupo, “os
que mais se interessaram em desenhar foram os
xamãs” [ANDUJAR, 2005, p. 109] – o que talvez
decorresse do fato de serem eles os membros da
aldeia mais acostumados a lidar com “imagens”,
embora de outra natureza, nos sonhos induzidos
pela
yãkoana
.
A pesquisa foi bruscamente interrompida em
1977, com a expulsão da fotógrafa das terras
yanomami pelo governo militar, que a enquadrou
na Lei de Segurança Nacional, provavelmente
por suspeitas de que suas imagens seriam
utilizadas contra o regime. De volta a São Paulo, e
revoltada com a expulsão da Amazônia, Andujar
lançou-se firmemente na militância política,
fundando, juntamente com Carlo Zacquini e
o etnólogo francês Bruce Albert, a Comissão
pela Criação do Parque Yanomami [CCPY],
organização não-governamental que coordenou
por mais de vinte anos. Também se dedicou à
organização de seu amplo arquivo fotográfico
yanomami, selecionando parte desse material
para publicação.
Yanomami
:
frente ao eterno
e
Amazônia
vieram à luz nesse período.
Ambos os livros foram censurados pelo governo
militar e, mesmo após o fim do regime, nunca
chegaram a ser disponibilizados em livrarias,
apenas em sebos. Segundo Andujar, transtornado
com as duas censuras, José Regastein Rocha,
diretor da Praxis, abandonou a empresa e, em
seguida, a própria editora chegou ao fim [ANDUJAR,
2010, n.p.]. A raridade dos livros, sua qualidade
artística e relevância na trajetória de Andujar fazem
com que, atualmente, exemplares cheguem a
atingir preços robustos em sebos virtuais.
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
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YANOMAMI: FRENTE AO ETERNO
Yanomami
:
frente ao eterno
foi o primeiro dos
três livros
5
lançados por Claudia Andujar em
1978. O volume, realizado em parceria com Darcy
Ribeiro, inaugurava a série intitulada
Memória So-
cial
da Editora Praxis, dedicada a tratar de “temas
sociais brasileiros”, segundo a editora [ANDUJAR,
1978a, n.p.]. Nele, há a apresentação de Claudio
e Orlando Villas Boas, além de textos de Andu-
jar e Ribeiro, todos tocando, em maior ou menor
grau, nas ameaças físicas e simbólicas a que
estavam submetidos os Yanomami pelo recente
contato com a sociedade dita civilizada. O livro é
dedicado à memória do pai da fotógrafa – morto
em campo de concentração nazista, assim como
toda a sua família paterna, de origem judia –, e a
experiência traumática da guerra surge pontual-
mente, em texto de sua autoria, relacionada ao
desterro dos Yanomami: “[...] essa procura partiu
de mim, de meu próprio sofrimento e vida, mas
me ultrapassou e abarcou o destino de um povo,
como o dos Yanomami, com o qual me identi-
fiquei e cuja luta virou minha luta” [ANDUJAR,
1978a, n.p.].
O projeto gráfico foi pensado pelo artista Wesley
Duke Lee, com margens amplas e abundância de
fundo branco [NOGUEIRA, 2018, p. 203]. Ao longo
das páginas, trechos curtos sobre o cotidiano e a
cosmovisão yanomami ocupam pequeno espaço
em canto inferior de página majoritariamente
branca, acompanhando e contextualizando uma
imagem que geralmente se encontra na página
ao lado. Cada fotografia situa-se no interior de
um retângulo de linhas pretas muito finas, que
lhe serve de moldura e a faz flutuar no espaço.
Cria-se o ambiente propício para que o olhar se
demore sobre as imagens em si, com rápidas
digressões para as frases adjacentes [Fig.1].
As fotografias, todas em preto-e-branco, mos-
tram partes de corpos yanomami: rostos [frente
e perfil], seios, nuca, barriga grávida, dorso,
torso, mãos, vagina, etc. Em meio aos fragmen-
tos de corpos, alguns artefatos culturais são
enfatizados: colares de miçangas, brincos de
penas, braçadeiras, tangas femininas, cordões
penianos, dentre outros. Ora as figuras aparecem
sozinhas, ora em pares. As imagens são feitas
a uma distância muito pequena dos retratados,
fruto da intimidade que a artista havia desenvolvi-
do com eles ao longo dos anos de convivência: às
vezes, parece que podemos tocar um rosto, uma
mão, uma barriga, uma nuca. Claudia nos deixa a
sós com a intimidade de seus modelos em meio à
imensidão branca da página.
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
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Segundo Thyago Nogueira [2018], as fotografias
foram realizadas entre 1974 e 1976, fazendo uso
apenas da iluminação natural no interior das malo-
cas. Percebe-se, no entanto, que uma imagem foge
a essa regra, denunciando o uso de
flash
, como
veremos adiante. Nogueira ressalta que quase um
filme inteiro era consumido em cada retrato, a fim
de que fotógrafa e modelo pudessem aprofundar a
intimidade ao longo dos cliques.
Em meio às trinta e oito fotografias do livro, apenas
três aludem ao xamanismo. Elas se situam ao final
do volume, como que à espera de que o espectador/
leitor adquirisse maior familiaridade com os Yano-
mami e seus artefatos antes de ser introduzido a um
tema de maior complexidade. Na primeira das três
imagens, um homem cobre a parte inferior do rosto
com uma das mãos [Fig.2]. Os caminhos tremu-
lantes de luz que o ladeiam sugerem que ele inala
Fig. 1 - Página dupla de
:   
.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia.
:   
. São Paulo: Práxis, 1978a.]
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
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o psicoativo
yãkoana
e entra em contato com os
xapiri
6
[entidades que, para os Yanomami, são algo
como espíritos da floresta], cuja presença na ima-
gem justificaria os intensos contrastes claro-escuro
em livro dominado pelas baixas luzes. Trata-se da
única imagem do volume que atesta a presença de
flash
em sua construção. Em várias passagens do
livro
A queda do céu
[2015], o xamã yanomami Davi
Kopenawa e o etnólogo Bruce Albert referem-se à
visão da chegada dos
xapiri
como a aproximação
de frenéticos caminhos de luz, que viriam ao encon-
tro do xamã durante o transe. À medida que Andu-
jar compreendia mais profundamente o universo
xamânico, por meio de longas estadas na comuni-
dade e do contato próximo com xamãs, passava a
criar estratagemas técnicos que fizessem alusão a
esse modo de
conhecimento.
A combinação
de
flash
, longa
exposição e
movimento da
câmera tor-
na-se recurso
largamente
utilizado pela
fotógrafa em
imagens que
abordam o
xamanismo
yanomami,
evocando a
presença e o
deslocamento
dos
xapiri
.
Fig. 2 - Claudia Andujar,
Sem Título
, 1974-1976. Fotografia.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia.
Yanomami: frente ao eterno
. São Paulo: Práxis, 1978a]
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
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Na fotografia seguinte, um rosto masculino,
sutilmente emergido da escuridão, fita carinho-
samente um adorno com plumas, provavelmen-
te uma braçadeira, enquanto sua cabeça está
enfeitada com penugens brancas [Fig.3]. O texto
relacionado a essa imagem diz: “O adorno é mais
que um enfeite, é uma identificação com o mundo
espiritual” [ANDUJAR, 1978a, n.p.]. Os Yanomami
enfeitam-se para receber os
xapiri
durante as
festas
reahu
. Cada enfeite teria um respectivo
correspondente no mundo invisível.
Fig. 3 - Claudia Andujar,
Sem Título
, 1974-1976. Fotografia.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia.
Yanomami: frente ao eterno
. São Paulo: Práxis, 1978a]
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
Fig. 4 - Claudia Andujar,
Sem Título
, 1974-1976. Fotografia.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia.
Yanomami: frente ao eterno
. São Paulo: Práxis, 1978a]
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
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Descrevendo detalhadamente os
xapiri
, Kope-
nawa e Albert enfatizam todo o seu esmero com a
aparência antes de virem ao encontro dos xamãs:
pintam os corpos e enchem-se de adornos para
causar deslumbre. “Tem um porte muito imponen-
te! Foi
Omama
que os ensinou a se enfeitar assim.
Quis que fossem magníficos para vir nos mostrar
sua dança de apresentação”, comentam os auto-
res, referindo-se ao demiurgo yanomami [KOPE-
NAWA; ALBERT, 2015, p. 112]. Nos braços, os
xapiri
levam “muitos penachos de penas de papagaio e
caudais de arara fincadas em braçadeiras de belas
miçangas lisas e coloridas, com muitas e mui-
tas caudas de tucano e despojos multicolores de
pássaros
wisawisama si
pendurados” [KOPENAWA;
ALBERT, 2015, p. 112]. Bastante exigentes, os
xapiri
demandam que seus anfitriões terrenos estejam
adornados à altura para recebê-los; caso contrário,
podem desistir da visita. Na imagem, o olhar atento
da figura para o adorno parece evocar seu apreço
pelos significados do objeto.
A penúltima imagem do livro mostra a metade
esquerda do rosto de um homem maduro, a outra
metade diluindo-se na escuridão [Fig.4]. Com os
olhos fechados e o semblante sereno, usa brinco
de pena e penugens brancas sobre a cabeça. Os
adornos e a expressão tranquila, os olhos fechados
sugerindo sono profundo, fazem-nos pensar em um
xamã experiente em contato com os
xapiri
durante
seus sonhos.
Apenas a fotografia seguinte, última do livro, faz
referência ao contato com os brancos, como que
a lembrar, após o êxtase xamânico, que aquela
organização social se encontrava ameaçada pela
chegada de invasores e seus signos. Um Yanoma-
mi é retratado do peito para cima com camiseta
listrada e mão sobre o queixo, em pose comum a
modelos ocidentais masculinos. Ao lado da ima-
gem, o pequeno trecho textual constata a mudança
e sutilmente a lamenta: “Um novo mundo abriu-se
aos seus olhos. Ele é um ESTRADATHERI, morador
da estrada” [ANDUJAR, 1978a, n.p.; grifo no origi-
nal], em referência à construção da rodovia Peri-
metral Norte, que atraiu alguns grupos Yanomami
para a vida às margens da estrada, mesmo após o
abandono das obras, em 1976 [NOGUEIRA, 2018].
Em texto na sobrecapa do volume, Andujar expli-
cita sua preocupação: “Nos limites da ética tribal,
há uma margem grande de tolerância para o não
convencional e eles se adaptam com facilidade
ao novo; por isso, são vulneráveis a uma desacul-
turação
7
rápida que pode se tornar extremamente
perigosa” [ANDUJAR, 1978a, n.p.].
Em consonância com o tom de denúncia dos
textos, há, nas últimas páginas, um desenho e um
texto atribuído ao xamã Wárasi Hwayautheri, com
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
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quem Andujar desenvolveu forte amizade [ANDU-
JAR, 2005, p. 119]. No texto, intitulado
Os espíritos
do xamã abandonado
, Wárasi lamenta a perda de
confiança em si mesmo e seus poderes, já que não
teria conseguido livrar seus parentes da morte [em
virtude das epidemias contraídas dos trabalhadores
da estrada]. Atribui sua incapacidade à partida da
maior parte de seus espíritos auxiliares [
xapiri
], que
teriam retornado às suas casas, no topo das mon-
tanhas. O texto termina com a declaração cética e
dolorosa: “Não sou mais xamã” [HWAYAUTHERI, In:
ANDUJAR, 1978a, n.p.].
Apesar desse texto, o xamanismo é abordado com
discrição em
Yanomami: frente ao eterno
. Andujar
introduz sutilmente o espectador/leitor ao tema, em
poucas imagens. Não é tema forte no livro, que ima-
geticamente se foca nos retratos e fragmentos de
corpos e artefatos, enquanto textualmente prioriza
a denúncia das consequências nocivas do contato
entre os Yanomami e a sociedade externa.
AMAZÔNIA
Se
Yanomami
é sóbrio, quanto às imagens e à
diagramação, folhear
Amazônia
[ANDUJAR; LOVE,
1978] é uma experiência de abundância em vários
aspectos: de paisagens, de efeitos fotográficos, de
quantidade e tamanho das imagens reproduzidas.
O projeto gráfico é do mesmo Wesley Duke Lee, que
dessa vez, dado o tema e a natureza das imagens,
enveredou por caminhos diversos: margens exter-
nas, superiores e inferiores estreitas, emoldurando
as fotografias, e ausência de margens internas,
resultando em pouco espaço em branco na quase
totalidade das páginas.
O livro não apresenta texto, apenas fotografias em
cores de Andujar e Love. Em projeto anterior, de
1973, o volume deveria conter quarenta páginas de
texto, além de cento e quarenta e quatro de foto-
grafias. Essa versão não teria vingado em virtude
do alto custo do exemplar e de divergências entre
autores e editor. O livro foi publicado, em diferente
configuração, em 1978, também pela Praxis. A edi-
tora havia planejado a inclusão de um único texto
no volume, encomendado por Regastein Rocha ao
poeta amazonense Thiago de Mello, que acabava
de retornar ao Brasil após exílio político [ANDUJAR,
2010]. Pelo teor das críticas ambientais do poeta,
no entanto, o texto não passou pela censura dos
militares, e o livro acabou por ser publicado apenas
com imagens [NOGUEIRA, 2018, p. 206].
Segundo Thyago Nogueira [2018], Love foi o prin-
cipal idealizador do volume. Queria ele que, por
meio das imagens, a publicação abordasse, com
igual nível de importância, o tema “Amazônia” e o
meio fotográfico: a região amazônica sendo mos-
trada em fotografias que eram, em si, construções
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
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da realidade. A ideia da fotografia como artifício
– construção em vez de “espelho” – é fortemente
ressaltada no livro. Embora as imagens descorti-
nem as dimensões gigantescas e certas particu-
laridades paisagísticas e humanas da Amazônia,
os autores não nos deixam imergir simplesmente
no assunto. Somos constantemente lembrados de
que estamos diante de imagens, com elevado grau
de pensamento construtivo. Assim, as pontas de
negativos fotográficos reproduzidas na abertura e
no fechamento da sequência imagética – e que res-
surgem em páginas intermediárias – lembram-nos
continuamente de que, entre nós espectadores e as
realidades mostradas nas imagens encontra-se, in-
variavelmente, o filme fotográfico. O mesmo ocorre
quando nos deparamos com margens de fotogra-
mas impressas nas páginas. Talvez pelo mesmo
motivo, as imagens, embora reproduzidas quase
do tamanho do formato da página, não “sangrem”,
não alcançando as bordas do papel. Emoldurando
as fotografias, há margens que, embora estreitas,
não nos deixam esquecer de que estamos diante de
recortes, artificialmente construídos, da realidade.
Um depoimento de Love é particularmente elucida-
tivo a esse respeito:
Na verdade, o livro surgiu das convicções sobre a
natureza da fotografia e sobre a experiência na região,
numa tentativa de conciliar ideias desses dois universos.
A Amazônia era o tema, mas o objetivo era mostrar que
uma foto não é uma representação fiel do assunto. O livro
foi construído para traduzir esta tese, de que aquilo que a
fotografia mostra é uma impressão da realidade, apenas
a minha impressão. O que você vê é a foto da floresta,
não a própria. Não é o céu que você vê, é o filme. Não
é um livro da Amazônia, é um livro de filmes. O livro nunca
foi entendido. Também, ele foi simplesmente banido, na
época áurea da censura. Nunca chegou ao público.
Tiraram o texto. Achávamos suficiente o leitor ter uma
introdução poética da recriação de atmosfera para estar
preparado a se lançar nas imagens, onde a atmosfera, e
não a fidelidade a um assunto, era o objetivo [LOVE,
apud
NOGUEIRA, 2018, p. 205].
Quanto à materialidade da imagem e aos jogos
visuais envolvidos,
Amazônia
faz uso abundante
de texturas, repetições, espelhamentos e sequ-
ências. Há fartura de texturas diversas, em moti-
vos que muitas vezes não se deixam reconhecer,
mas que certamente nos introduzem a certa “at-
mosfera” amazônica, como Love queria. Por essa
valorização da materialidade dos elementos,
Amazônia
torna-se um livro intensamente tátil,
embora por recursos puramente bidimensionais.
O uso de repetições é também frequente. Muitas
fotografias são reproduzidas mais de uma vez, ou
de maneira idêntica ou, como é mais frequente,
com tratamentos diferenciados – espelhamen-
tos, rotações, novos enquadramentos e interven-
ções de luz, etc. –, de modo a nos lembrar, uma
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
237
vez mais, sobre a materialidade e o caráter de
invenção da imagem fotográfica.
As imagens não são individualmente assinadas,
embora saibamos que as fotografias aéreas são
atribuídas a Love – que, por ser asmático, não
podia ficar longos períodos na umidade da floresta
, e que as fotos de Yanomami foram realizadas por
Andujar. Aproximadamente até a metade, o livro
é dominado por fotografias aéreas, que exploram
variadas texturas – de nuvens, água, rochas, solos,
copas de árvores – e nos dão ideia da magnitude da
região. Uma ponta de filme marca o intervalo e nos
direciona a uma escala terrena, na qual novamente
nos deparamos com águas e plantas, porém a par-
tir de um ponto de vista mais horizontal. Da escala
macro das paisagens vistas de cima, passamos à
escala micro de texturas de folhas, por exemplo. É
nesse momento que somos introduzidos às fotogra-
fias de Yanomami.
Eles surgem sorrindo, brincando e descansando
em redes, descontraídos em sua vida cotidiana.
Em páginas duplas, Claudia explora sequências,
como duas fotografias de uma mesma pessoa ou
dupla em momentos subsequentes, para transmitir
a ideia do fluxo contínuo do tempo na vida tranquila
de Yanomami isolados. Há também paralelismos,
como, numa página dupla, duas fotografias de pes-
soas em redes – uma moça à esquerda, um garoto
à direita –, sem necessariamente nenhuma rela-
ção anterior à justaposição das imagens. Há ainda
muitas pausas, que ajudam a dirigir o olhar para a
imagem da página ao lado. Na imensidão de uma
página dupla, por exemplo, olhamos especifica-
mente para a pequena folha amarela mostrada por
uma moça que brinca de esconder-se atrás dela.
Novamente, como última sequência do livro, depa-
ramo-nos com imagens de
reahu
e xamanismo. São
dezesseis páginas duplas, de um total de setenta
e seis com imagens no volume. Mais uma vez, a
margem impressa de um fotograma indica a pausa
e a passagem para o novo tema. Diferentemente
do restante do livro, predomina nessa sequência
a exposição de uma imagem figurativa por página
dupla, a outra página contendo foto não figurativa,
apenas com manchas de luz, exibindo às vezes a
margem do fotograma. São dez páginas duplas
com essa configuração, contra seis mostrando uma
imagem figurativa em cada página simples. Prova-
velmente pelo caráter, em certa medida, secreto
desses rituais, e pela profunda entrega emocio-
nal das pessoas que deles participam, os autores
optaram por mostrar aos poucos as imagens que os
abordam, intercaladas por longas pausas que, em
alguns momentos, parecem solicitar do espectador
o silêncio e a reverência, e, em outros, parecem evo-
car sensações e visões xamânicas durante o transe.
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
238
A sequência começa com o rosto de um garoto de
olhos fechados e segue para uma imagem em que
três pessoas agachadas, provavelmente um xamã
em primeiro plano, têm posturas e expressões que
acusam o uso recente da
yãkoana
. Na próxima
página dupla, à direita, dois homens abraçados
parecem cantar e dançar, um deles com penugens
brancas sobre a cabeça [Fig.5, em cima]. Ao redor
do par, vemos timidamente os ondulantes cami-
nhos de luz que Andujar usa para evocar a che-
gada dos
xapiri
, baseada em relatos dos próprios
Yanomami sobre a configuração desse evento em
suas visões xamânicas. Enquanto isso, a página
à esquerda mostra listras verticais em diferentes
tonalidades de amarelo, uma delas misturando-se
ao vermelho. Os amarelos contrastam veemente-
mente com o fundo negro e as baixas luzes predo-
minantes na imagem à direita.
Relatando o processo de iniciação xamânica do
primeiro, Kopenawa e Albert [2015] contam que,
após a inalação da
yãkoana
, a imagem do corpo
do xamã foi levada pelos
xapiri
por alturas e pro-
fundidades longínquas, voando muito acima das
montanhas e abaixo da superfície da terra. Num
dado momento, sua visão de sonho foi domina-
da por uma claridade ofuscante: uma luz intensa
espalhou-se por toda parte, não mais lhe deixan-
do reconhecer qualquer motivo. Tal experiência
luminosa foi-lhe decisiva para compreender que,
naquele momento, tornava-se outro, assumia a
perspectiva de outrem - a dos
xapiri
-, conforme
será discutido mais adiante.
Viveiros de Castro [2006] lembra que, entre os
povos ameríndios da Amazônia, é frequente a
associação da percepção luminosa intensa demais
à aproximação dos espíritos. Ponderando que tal
visão de claridade absoluta pode estar associada à
ingestão de psicoativos, como a
yãkoana
, surgindo
como efeito bioquímico, afirma que tal explicação,
obviamente, não é válida nas cosmovisões ame-
ríndias, para as quais tais substâncias são canais
que permitem a conexão com o mundo invisível,
por onde os xamãs transitam a fim de descobrir a
ampla rede de intencionalidades subjacente ao
mundo visível. De modo poético, o autor relaciona a
invisibilidade dos espíritos para as pessoas comuns
à sua altíssima frequência luminosa, que estaria
situada acima do espectro visível: um “caráter
super-visível” distinguiria esses seres [VIVEIROS DE
CASTRO, 2006, p. 332]. Na imagem em questão, é
possível pensar que os homens abraçados, empo-
derados pela
yãkoana
, tenham acesso, em seus
sonhos, à claridade ofuscante dos
xapiri
.
O ápice desse raciocínio parece surgir na página
dupla seguinte, uma das mais impressionantes
[Fig.5, embaixo]. Na página à esquerda, as linhas
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
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de luz branca assumem tamanhas densidade e
espessura que chegam a tornar-se verdadeiras
massas de luz, riscos concentrados meio amor-
fos cuja gestualidade orgânica talvez lembre
uma
action pain-
ting
, agora inscrita
com luz. Os riscos
invadem e cortam
a composição com
voracidade tal que,
da pessoa retratada,
distinguimos apenas
os olhos, perdidos
em meio à potên-
cia da luz branca. A
página à direita é de
um branco ofuscante
quase total, macula-
do apenas por uma
oscilante linha preta
amarelada que o
corta verticalmente.
Os
xapiri
andujaria-
nos parecem assumir
aqui, quase, o tal “ca-
ráter super-visível”.
Fig. 5 - Páginas duplas de
Amazônia
.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia; LOVE, George.
Amazônia
. São Paulo: Praxis, 1978]
Em algumas páginas duplas, uma das metades é
ocupada por fotografia em que não se reconhece
motivo algum, apenas luzes difusas como que re-
metendo a visões durante intensa vertigem [Fig.6].
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
240
Numa delas, um rapaz sentado sobre os joelhos,
com o corpo molhado de suor e saliva é rodeado
por manchas de luz branca amarelada, evocando
a aproximação do
xapiri
. A página ao lado, coberta
por manchas difusas de luz, parece aludir à sen-
sação de vertigem após a inalação da
yãkoana
.
Em outra dupla de páginas, algumas pessoas, em
escala pequena, são vistas em diagonal próximas
Fig. 6 - Páginas duplas de
Amazônia
.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia; LOVE, George.
Amazônia
. São Paulo: Praxis, 1978]
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
241
à margem direita. Acima delas, impõem-se fre-
néticos caminhos de luz amarela. Esse pequeno
conjunto ocupa menos de um terço da página, en-
quanto o restante é ocupado por massas amorfas
Fig. 7- Páginas duplas de
Amazônia
.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia; LOVE, George.
Amazônia
. São Paulo: Praxis, 1978]
de luz, resultantes do desfoque total dos motivos.
Na página à esquerda, as manchas são ainda
mais difusas, carecendo de qualquer referência a
dados da realidade externa.
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
242
Das páginas duplas que contêm imagens figura-
tivas em ambos os lados, algumas apresentam
fotografias identicamente duplicadas, o que pode
aludir à visão multiplicada dos xamãs durante o
transe [Fig.7]. Numa delas, um rapaz retratado do
tórax para cima volta a cabeça e o olhar para um
lado. Do nariz e da boca, escorrem muco e saliva,
reação que comumente se segue à inalação da
yãkoana
. Por trás da cabeça, distribuem-se os
frenéticos caminhos ondulantes de luz, sobretudo
ao longo de uma linha horizontalizada. Em outra
dupla de páginas, tais caminhos avolumam-se
a tal ponto que se transformam em massa muito
espessa de luz branca, que, em primeiro plano,
corta horizontalmente a imagem, deixando atrás
de si minúsculos elementos humanos. Os corpos,
proporcionalmente pequenos, parecem aludir à
submissão do homem à onipresença desse mun-
do sobre-humano, que pulsa por trás das aparên-
cias a reger e organizar a vida humana.
Em duas páginas duplas já mostradas [Figs. 6 e
7, embaixo], a posição da fotógrafa, que capta a
cena de cima, parece sugerir uma troca de ponto
de vista, na acepção do perspectivismo ameríndio
de Viveiros de Castro [1996] e Tânia Stolze Lima
[1996]. Segundo essa teoria, para os ameríndios,
uma ampla gama de seres no universo é dotada
de humanidade e agência: o que é ou não humano
depende do ponto de vista de quem está na posi-
ção de sujeito. No passado absoluto, descrito pela
mitologia, todos os seres eram humanos, cultural
e morfologicamente, e a possibilidade de meta-
morfose entre eles era virtualmente infinita. Com
o passar dos tempos, alguns perderam a forma
humana, transformando-se em animais, vegetais,
etc., preservando, porém, o espírito humano. A
perda da unidade primordial e a diferenciação das
espécies deu origem às múltiplas perspectivas.
Embora o espírito humano permaneça transespe-
cífico, cada corpo carrega consigo uma perspec-
tiva única, um ponto de vista singular, irredutivel-
mente inscrito naquele corpo e apenas possível a
partir dele. O xamã, enquanto diplomata cósmico,
consegue transitar entre as perspectivas, assu-
mindo diferentes pontos de vista sem deixar de
retornar ao seu próprio. Diferentes pontos de vista
não significam diferentes representações sobre
o mundo, mas sim, necessariamente, diferentes
mundos: cada mundo só existe na perspectiva de
quem está na posição de sujeito, não havendo a
coisa em si”. O perspectivismo ameríndio é, as-
sim, amplamente relacional, e as relações preda-
dor-presa constituem campo altamente propício
para as inversões perspectivas. Por exemplo, “os
animais predadores e os espíritos [...] veem os
humanos como animais de presa, ao passo que os
animais de presa veem os humanos como espíri-
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
243
tos ou como animais predadores” [VIVEIROS DE
CASTRO, 2002, p. 350]. Os espíritos, em particular,
jamais viram presa: seu ponto de vista é sempre
dominante. “[...] o que define os espíritos é, entre
outras coisas, o fato de serem supremamente
incomestíveis; isso os transforma em comedores
por excelência, ou seja, em antropófagos” [VIVEI-
ROS DE CASTRO, 2002, p. 392-393].
Nas imagens em questão, a fotógrafa parece as-
sumir o ponto de vista privilegiado dos espíritos: de
cima e de longe, visualiza os seres humanos como
minúsculas criaturas, sem ser vista de volta por
eles. Aliás, como reiteradamente afirmam Kope-
nawa e Albert [2015], os
xapiri
, em sua visão onipo-
tente, veem sempre os humanos, mas apenas os
xamãs são capazes de vê-los em contrapartida– e
sob muitas condições. São os
xapiri
que decidem
para quais xamãs tornar-se-ão visíveis – aqueles
que houverem cumprido todas as suas exigências
de hábitos alimentares e comportamentais. A fotó-
grafa-
xapiri
parece, então, assumir momentanea-
mente a perspectiva daquele que pode ver sem ser
visto, devorar sem ser devorado, detendo sempre
o ponto de vista dominante.
Às vezes, a migração da consciência e o acesso a
visões de outra natureza são associados a níveis
de desconstrução da própria imagem fotográfica,
ressaltando sua materialidade e criando laços
de aparência com a pintura informalista. Numa
sequência, um homem posiciona logo abaixo do
nariz o utensílio pelo qual se sopra e inala
yãkoana
[Fig.8]. Andujar realiza intervenções de luz que se
superpõem à parte de cima da cabeça do modelo,
chegando até a cobri-la como um todo, como que
a sugerir o acesso a outro patamar da consciên-
cia. As manchas de luz, ora brancas, ora rosadas,
muito espessas e com alto grau de opacidade,
chegam a lembrar manchas de tinta numa pintura
abstracionista, aproximando – em termos de re-
sultado, não de processo - a fotografia de Andujar
da visualidade pictórica.
O ápice dessa relação parece surgir na sequência
em que uma urna funerária na floresta, fotografada
com filtro infravermelho de um ponto de vista rebai-
xado, transforma-se, na dupla seguinte de páginas,
em manchas e riscos vermelhos e amarelos so-
bre fundo em que a referência à floresta é apenas
uma evocação distante [Fig.9]. Os vermelhos que,
na fotografia de origem, lembram sangue, fogo e
morte parecem, nas páginas seguintes, levar esses
significados ao paroxismo e, contraditoriamente,
esvaziá-los na materialidade da imagem.
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
Fig. 8 - Páginas duplas de
Amazônia
.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia; LOVE, George.
Amazônia
. São Paulo: Praxis, 1978]
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
Fig. 9 - Páginas duplas de
Amazônia
.
[Fonte: ANDUJAR, Claudia; LOVE, George.
Amazônia
. São Paulo: Praxis, 1978]
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
246
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Yanomami
, preto-e-branco, é sóbrio, sutil, objetivo.
Sua poesia reside justamente na simplicidade plás-
tica e projetual, na singeleza dos motivos, na visu-
alidade franca e sugestiva. A fotógrafa encontra-se
sempre na altura do retratado, dialogando de perto
com seus modelos. Os enquadramentos fecha-
dos e a luz que acaricia delicadamente os corpos
revelam apenas partes: o discurso é metonímico.
O que vemos são fragmentos de corpos emergindo
da escuridão: a negritude do fundo não nos permi-
te a contextualização do espaço. Predominam os
suaves contrastes claro-escuro, a luz viscosa que
avoluma e, sutilmente, revela. Uma única imagem
traz o brilho ofuscante dos
xapiri
, e os contrastes
explodem para dar conta do assunto.
Amazônia
, em cores, é exuberante, tátil, im-
previsível. Sua poética é a do deslumbramento,
da surpresa. “O que é isso?”, perguntamo-nos
inicialmente, apenas para nos darmos conta de
que o “isso” não importa tanto; mais decisivas
são as diversas sensações que nos transmitem
as imagens, a tal “atmosfera” a que Love aludiu.
Muito mais que registros de uma realidade exte-
rior, as fotografias se pretendem construções de
realidades possíveis. Assim como em
Yanomami
,
o projeto gráfico é marcado pela simplicidade; a
diferença fica por conta da natureza e das dimen-
sões das imagens: a página dupla vista como um
todo, sem margens internas, chega a lembrar
a vastidão da tela de cinema. As posições dos
fotógrafos são múltiplas: ora as vistas aéreas de
Love, ora a relação horizontal de Andujar com os
modelos, ora a vista de baixo que amplifica urna
funerária e floresta. Em contraponto à visualida-
de franca de
Yanomami
, há aqui uma poética de
recursos visuais múltiplos, de modo a evidenciar,
continuamente, o pensamento técnico e constru-
tivo da imagem fotográfica.
Enquanto
Yanomami
apenas de leve toca no
tema do xamanismo,
Amazônia
aborda-o farta-
mente, tanto em relação à quantidade e às di-
mensões
das imagens como quanto à variedade
de efeitos visuais utilizados. Em vários momen-
tos, a câmera parece transformar-se em pincel,
desenhando e pintando com a luz: a reprodutibi-
lidade técnica sugerindo a gestualidade orgânica
da mancha e do traço, a fotografia em diálogo
com a introspecção de um Rothko, a catarse de
um Pollock. Ora se evoca o deslocamento dos
xapiri,
ora a migração da consciência no transe
xamânico, ora outros significados nunca esgo-
táveis. Esse desenhar e pintar com a câmera só
é possível por meio de intensa experimentação
técnica e exímio conhecimento das possibilida-
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 224-252, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.49154]
247
des da fotografia analógica. Como sugeriu Love,
era preciso conhecer bem as duas realidades: a
amazônica e a fotográfica. No caso de Claudia, o
conhecimento da realidade amazônica focava-
-se decisivamente na compreensão cultural dos
Yanomami. O experimentalismo técnico buscava
dar forma a seus conhecimentos etnológicos.
NOTAS
1 Além dos já citados artigos de minha autoria, frutos da
pesquisa de doutorado em andamento, artigos recentes de
outros autores também tecem relações entre obras de Andujar
e o xamanismo yanomami [DUARTE, 2003; CASTANHEIRA,
2016; HATA, 2018; ANDRADE NETO, 2018; GARCEZ, 2020;
CABRAL; MEDEIROS, 2020].
2 A pesquisa está sendo desenvolvida junto ao Programa de
Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Estadual de
Campinas, sob orientação da Profa. Dra. Maria de Fátima Mo-
rethy Couto. Sou grata à Profa. Dra. Ilana Seltzer Goldstein, do
Programa de Pós-Graduação em História da Arte da Universida-
de Federal de São Paulo, pelas valiosas contribuições, referentes
ao campo da Antropologia, durante meu exame de qualifica-
ção. Agradeço também à Galeria Vermelho, nas pessoas de
Jan Fjeld e Marcos Gallon, pelas entrevistas concedidas e os
documentos disponibilizados.
3 A substância a que os Yanomami denominam
yãkoana
origina-se da pulverização da resina obtida, por exsudação,
de tiras da casca da árvore
Virola elongata
[
yãkoana hi
]. Os
xamãs – e demais membros da comunidade do sexo masculi-
no - inalam o pó de
yãkoana
por meio de um tubo de madeira
[
horoma
], posicionando a narina numa extremidade, enquanto
o pó é soprado com força por alguém situado na outra [ALBERT;
MILLIKEN, 2009].
4 Entre o povo Yanomami, o xamanismo é praticado pela
quase totalidade dos homens de uma aldeia, sendo conside-
rado uma etapa importante na formação de um homem adulto
[TAYLOR, 1996; RAMALHO, 2008]. Apesar disso, o prestígio
daqueles identificados pelo grupo como “xamãs” advém do
fato de apenas eles serem considerados capazes de solucionar
DE MORAES, Ana Carolina Albuquerque. Xamanismo em fotolivros de Claudia Andujar: Yanomami e Amazônia.
248
as querelas mais difíceis. O xamã yanomami passou neces-
sariamente por uma iniciação dolorosa, repleta de esforço e
privações, e dedicou/dedica muito mais tempo da sua vida à
aprendizagem de cantos xamânicos, à inalação da substância
psicoativa e ao contato com espíritos auxiliares durante o transe
induzido por essa substância. Quanto mais experiente o xamã,
maior a quantidade e a variedade de espíritos que atendem aos
seus chamados, espíritos dos quais ele pode lançar mão durante
as sessões xamânicas, a fim de solucionar os mais diversos obs-
táculos na comunidade [KOPENAWA; ALBERT, 2015].
5 Em 1978, Andujar lançou, além dos dois livros analisados
neste artigo, a obra que levava a público os resultados da
pesquisa da FAPESP:
Mitopoemas Yãnomam
, publicada pela
Olivetti do Brasil S.A., em edição trilíngue [português-italiano-in-
glês], com introdução de Pietro Maria Bardi [ANDUJAR, 1978b].
6 Termo que, para os Yanomami, designa entidades, normal-
mente invisíveis, que se encontram por toda parte, observando e
regulando a vida terrena. Cada ser florestal possui um respectivo
xapiri
, que lhe corresponde no mundo invisível. Todos os
xapiri
apresentam morfologia humanoide, aludindo a um passado
primordial em que todos os seres eram humanos, não havendo
diferenciação entre espécies [KOPENAWA; ALBERT, 2015].
7 O termo “desaculturação” é aqui utilizado como sinônimo de
aculturação”. Segundo a teoria antropológica da aculturação, o
contato prolongado entre culturas distintas torna-as cada vez mais
semelhantes, numa interinfluência mútua que pode levar à fusão
entre elas [GOW, 2015, p.35-37]. O antropólogo Darcy Ribeiro,
parceiro de Andujar, preferia falar em “transfiguração étnica”: “um
processo natural, cultural [...] através do qual um povo permanece
ele mesmo à medida que muda e se adapta às condições de so-
brevivência. Trata-se de um processo de autoconservação em que
eles vão conservando o que é possível de sua cultura, mas não se
fecham” [RIBEIRO,
apud
GRUPIONI; GRUPIONI, 1997, p.191].
249
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