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rumando para o trabalho nas efervescentes metró-
poles modernas. O cinema transforma-se, assim,
na expressão do futuro, desbancando a pintura e a
escultura, que deixariam de ser meios privilegiados
de informação e de representação visual. Tornou,
ainda, os artistas conscientes da impossibilidade
de criar obras em movimento se não recorressem a
artifícios eletromecânicos, o que lhes impôs inevitá-
veis desafios técnicos para desenvolverem expe-
riências nesse âmbito. Isso não impediria, porém,
que um número significativo de signatários de-
senvolvesse, individualmente ou em parceria com
técnicos e engenheiros, ainda no início do século
XX, experiências no campo artístico e cinemato-
gráfico, recorrendo a inusitadas engenhocas me-
cânicas com tal finalidade, que levariam à criação
dos primeiros objetos cinéticos, palavra derivada
do inglês
Kinetic
[ou do grego
Kinetiké
=cinemático].
Vale citar, entre outras, as pesquisas experimentais
realizadas por Léger, Picabia e Duchamp, respecti-
vamente em
Ballet Mécanique
,
Entr´acte
e
Anémic
Cinéma
, entre 1924 e 1926. Léger já havia realizado,
em conjunto com Abel Gance, o filme
La Roue
[
A
Roda
, 1922] e publicado textos reveladores de seu
fascínio pela máquina e pela vida moderna.
O aumento da produção de materiais industriais e
de novas tecnologias, a partir dessa mesma déca-
da, possibilitou o desenvolvimento de engenhocas
artísticas pioneiras, dotadas de luz e movimento.
Consistiam em objetos movidos por pequenos
motores, como os de autoria de Naum Gabo, Mar-
cel Duchamp e Moholy-Nagy. Quando acionados,
alguns componentes desses objetos esculturais se
movimentavam, produzindo algum tipo de ação,
efeito visual, luminoso ou sonoro.
Em colaboração com um engenheiro, Marcel Du-
champ construiu seu primeiro mecanismo ótico, as
Placas de vidro
rotativas [1923], seguido de outra
proposta mais sofisticada, a
Semi-esfera Rotativa
[
Ótica de Precisão
, 1925]. Trata-se de objeto-máqui-
na de pequenas dimensões, dotado de uma forma
circular de madeira, pintada de branco, contendo
uma incisão no centro, sobre a qual o artista dese-
nhou círculos concêntricos pretos. Essa peça foi
montada “sobre um disco de cobre, e escondida
em uma redoma de vidro coberta de veludo preto”.
Impulsionado por pequeno motor, o disco girava,
fazendo com que as linhas das circunferências
concêntricas pintadas em sua superfície “pareces-
sem mover-se para frente e para trás no espaço”
[TOMKINS, 2004, p. 284].
O húngaro Lászlo Moholy-Nagy [1895-1946] desen-
volveu, nessa época, pesquisas em diferentes linhas
de investigação: pintura, escultura, fotografia, cine-
ma,
design
. Os conhecidos fotogramas criados pelo
artista, resultantes do posicionamento de objetos so-
Revista Poiésis, Niterói, v. 23, n. 39, p. 170-186, jan./jun. 2022. [DOI: https://doi.org/10.22409/poiesis.v23i39.50822]