ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
cronista, um ser oscilante”. Janaína
Oliveira, do Morro Agudo, tinha como
nome artístico Re.Fem, que significa
Revolta Feminina. Descreve
“Mulher, Negra, Femi
Cineasta, Publicitária, Produtora,
Ativista dos Movimentos de Mulheres e
Juventude Negra”, e autora do
primeiro documentário carioca a tratar
do tema Hip Hop Feminino, Rap de
Saia (2006).
Sibilia (2004) ressalta que o “eu”,
uma “entidade
frágil e complexa”, seria
“primorosamente costurada na
linguagem: nas narrativas de si, a
própria experiência adquire forma e
conteúdo, ganha existência e se
alicerça em torno de um determinado
‘eu’” (SIBILIA, 2004, p.
Araújo, da Rocinha, costura
modo o seu “eu”:
Desde pequenininha eu brincava
com uma escova de cabelo na mão,
dizia que seria uma repórter. Lembro
que eu achava Paulo Francis um
chato com aquela vozinha irritante no
final de cada frase, mas mesmo
assim,
sonho que me formei em jornalismo,
trabalhando na faculdade em que
estudava para garantir a bolsa de
estudos. Na Rocinha, tenho amigos
que não gostam de me acompanhar
na descida das vielas, dizem que eu
paro em toda a esquina pra falar com
candidatar. E assim vou... mostrando
que viver em uma comunidade não é
um bicho de sete cabeças e que
todos devem ter seu espaço. Pobre
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
cronista, um ser oscilante”. Janaína
Oliveira, do Morro Agudo, tinha como
nome artístico Re.Fem, que significa
Revolta Feminina. Descreve
-se como
Cineasta, Publicitária, Produtora,
Ativista dos Movimentos de Mulheres e
Juventude Negra”, e autora do
primeiro documentário carioca a tratar
do tema Hip Hop Feminino, Rap de
Sibilia (2004) ressalta que o “eu”,
frágil e complexa”, seria
“primorosamente costurada na
linguagem: nas narrativas de si, a
própria experiência adquire forma e
conteúdo, ganha existência e se
alicerça em torno de um determinado
3). Landa
Araújo, da Rocinha, costura
desse
Desde pequenininha eu brincava
com uma escova de cabelo na mão,
dizia que seria uma repórter. Lembro
que eu achava Paulo Francis um
chato com aquela vozinha irritante no
final de cada frase, mas mesmo
sonho que me formei em jornalismo,
trabalhando na faculdade em que
estudava para garantir a bolsa de
estudos. Na Rocinha, tenho amigos
que não gostam de me acompanhar
na descida das vielas, dizem que eu
paro em toda a esquina pra falar com
everia me
candidatar. E assim vou... mostrando
que viver em uma comunidade não é
um bicho de sete cabeças e que
todos devem ter seu espaço. Pobre
simplesmente humanos tentando
sobreviver no mesmo espaço. Sou
Em
colaborador integra numa mesma
narrativa sua identidade profissional e
a de morador de favela ou periferia.
Em alguns casos, o mesmo texto
apresenta a procedência geográfica e
de classe social do autor. Há ainda os
que incluem refer
familiares, à base educacional, à
religião, entre outras. Bruno Almeida,
de Magé, conta como se tornou
jornalista e insere diversos outros
elementos na sua composição:
No começo da minha adolescência,
meu pai tinha um depósito de
bebidas
oscilava entre um comércio e outro.
Tomava porres escondido e ia
aprender a imprimir livros e jornais.
Nunca aprendi a operar nenhuma
máquina (me lembro agora que
quase perco a mão esquerda em
uma ocasião), mas o gosto pelo
impresso e
rock'n'roll e do violão, ficou (benditas
tardes com Luís, Rui, Edinho e
companhia). (...) Mais tarde, o Novo
Testamento se revelou a mim como
um relato jornalístico fiel,
testemunhal mesmo, fantástico, e
tudo fez mais sentido. Minha mã
incentivou a estudar, e meu pai
também teria feito se a vida lhe
desse mais oportunidade. Pai, esse
diploma de jornalismo é para o
senhor, que tanto sonhou com ele.
Eliane Costa (2017), ao analisar
as relações entre territorialidades
urbanas e a cibe
84
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Sociedade")
simplesmente humanos tentando
sobreviver no mesmo espaço. Sou
colaborador integra numa mesma
narrativa sua identidade profissional e
a de morador de favela ou periferia.
Em alguns casos, o mesmo texto
apresenta a procedência geográfica e
de classe social do autor. Há ainda os
familiares, à base educacional, à
religião, entre outras. Bruno Almeida,
de Magé, conta como se tornou
jornalista e insere diversos outros
elementos na sua composição:
No começo da minha adolescência,
meu pai tinha um depósito de
oscilava entre um comércio e outro.
Tomava porres escondido e ia
aprender a imprimir livros e jornais.
Nunca aprendi a operar nenhuma
máquina (me lembro agora que
quase perco a mão esquerda em
uma ocasião), mas o gosto pelo
rock'n'roll e do violão, ficou (benditas
tardes com Luís, Rui, Edinho e
companhia). (...) Mais tarde, o Novo
Testamento se revelou a mim como
um relato jornalístico fiel,
testemunhal mesmo, fantástico, e
tudo fez mais sentido. Minha mã
e me
incentivou a estudar, e meu pai
também teria feito se a vida lhe
desse mais oportunidade. Pai, esse
diploma de jornalismo é para o
senhor, que tanto sonhou com ele.
Eliane Costa (2017), ao analisar
as relações entre territorialidades