AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42522
Resumo:
Este artigo propõe que três valores assumem um papel importante no estímulo à geração
de novas ideias e ampliação do acesso ao conhecimento
espaços de aprendizagem tecnológica (os espaços de fazer, chamados aqui de labs). São eles:
antidisciplinaridade
, tolerância ao erro e diversidade cognitiva. O trabalho se insere no contexto
marcado pela democratização
de tecnologias que permitem a cidadãos fora de grandes centros de
pesquisa e da indústria materializar suas ideias, expressar sua visão de mundo, sua criatividade e
construir conhecimento a partir da interação com artefatos. E busca contribuir para reflex
sociedade digital e a necessidade de entendermos os fazeres tecnológicos a partir de seus aspectos
culturais.
Palavras-chave
: experimental; design; criatividade; cultura digital; makerspaces.
Espacios de hacer como generadores de una
tolerancia al error y la diversidad cognitiva.
Resumen:
Este artículo propone que tres valores tienen un papel importante en estimular la
generación de nuevas ideas y expandir el acceso al conocimiento, cuand
prácticas de los espacios de aprendizaje tecnológico (los espacios para hacer, aquí llamados
laboratorios). Ellos son: antidisciplinariedad, tolerancia al error y diversidad cognitiva. El trabajo se
inserta en el contexto marcado por
ciudadanos fuera de los principales centros de investigación y la industria materializar sus ideas,
expresar su visión del mundo, su creatividad y generar conocimiento a partir de la interacción con
1
Gabriela da Costa Aguiar Agustini. Mestre em Des
de Artes & Design da PUC Rio. Professora do MBA de Gestão cultural da Universidade Cândido
Mendes, Rio de Janeiro, Brasil. E
1992
2
Jorge Roberto Lopes dos Santos. Doutor em Design Products pelo Royal CollegeofArt, Reino Unido.
P
rofessor Departamento de Artes &
Brasil. E-mail: jorge.lopes@puc-
rio.
Recebido em 04/05/2020,
aceito para publicação em 11
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42522
Gabriela da Costa Aguiar Agustini
Jorge Roberto Lopes dos Santos
Este artigo propõe que três valores assumem um papel importante no estímulo à geração
de novas ideias e ampliação do acesso ao conhecimento
, quando incorporados às práticas dos
espaços de aprendizagem tecnológica (os espaços de fazer, chamados aqui de labs). São eles:
, tolerância ao erro e diversidade cognitiva. O trabalho se insere no contexto
de tecnologias que permitem a cidadãos fora de grandes centros de
pesquisa e da indústria materializar suas ideias, expressar sua visão de mundo, sua criatividade e
construir conhecimento a partir da interação com artefatos. E busca contribuir para reflex
sociedade digital e a necessidade de entendermos os fazeres tecnológicos a partir de seus aspectos
: experimental; design; criatividade; cultura digital; makerspaces.
Espacios de hacer como generadores de una
cultura guiada por la antidisciplinariedad, la
tolerancia al error y la diversidad cognitiva.
Este artículo propone que tres valores tienen un papel importante en estimular la
generación de nuevas ideas y expandir el acceso al conocimiento, cuand
o se incorporan a las
prácticas de los espacios de aprendizaje tecnológico (los espacios para hacer, aquí llamados
laboratorios). Ellos son: antidisciplinariedad, tolerancia al error y diversidad cognitiva. El trabajo se
inserta en el contexto marcado por
la democratización de las tecnologías que permiten a los
ciudadanos fuera de los principales centros de investigación y la industria materializar sus ideas,
expresar su visión del mundo, su creatividad y generar conocimiento a partir de la interacción con
Gabriela da Costa Aguiar Agustini. Mestre em Des
i
gn, Tecnologia e Sociedade pelo Departamento
de Artes & Design da PUC Rio. Professora do MBA de Gestão cultural da Universidade Cândido
Mendes, Rio de Janeiro, Brasil. E
-mail: gabiagustini@gmail.com-
http://orcid.org/0000
Jorge Roberto Lopes dos Santos. Doutor em Design Products pelo Royal CollegeofArt, Reino Unido.
rofessor Departamento de Artes &
Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
rio.
br - https://orcid.org/0000-0002-8162-8291
aceito para publicação em 11
/05/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
30
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
Gabriela da Costa Aguiar Agustini
1
Jorge Roberto Lopes dos Santos
2
Este artigo propõe que três valores assumem um papel importante no estímulo à geração
, quando incorporados às práticas dos
espaços de aprendizagem tecnológica (os espaços de fazer, chamados aqui de labs). São eles:
, tolerância ao erro e diversidade cognitiva. O trabalho se insere no contexto
de tecnologias que permitem a cidadãos fora de grandes centros de
pesquisa e da indústria materializar suas ideias, expressar sua visão de mundo, sua criatividade e
construir conhecimento a partir da interação com artefatos. E busca contribuir para reflex
ões sobre a
sociedade digital e a necessidade de entendermos os fazeres tecnológicos a partir de seus aspectos
cultura guiada por la antidisciplinariedad, la
Este artículo propone que tres valores tienen un papel importante en estimular la
o se incorporan a las
prácticas de los espacios de aprendizaje tecnológico (los espacios para hacer, aquí llamados
laboratorios). Ellos son: antidisciplinariedad, tolerancia al error y diversidad cognitiva. El trabajo se
la democratización de las tecnologías que permiten a los
ciudadanos fuera de los principales centros de investigación y la industria materializar sus ideas,
expresar su visión del mundo, su creatividad y generar conocimiento a partir de la interacción con
los
gn, Tecnologia e Sociedade pelo Departamento
de Artes & Design da PUC Rio. Professora do MBA de Gestão cultural da Universidade Cândido
http://orcid.org/0000
-0002-4170-
Jorge Roberto Lopes dos Santos. Doutor em Design Products pelo Royal CollegeofArt, Reino Unido.
Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
20, disponibilizado online em
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
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9
, p.
30
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2020.
artefactos. Y busca contribuir a reflexiones sobre la sociedad digital y la necesidad de comprender las
prácticas tecnológicas basadas en sus aspectos culturales.
Palabras clave:
experimental; design; creatividad; cultura digital; espacios de hacer.
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
diversity.
Abstract:
This article proposes that three values
generation of new ideas and expanding access to
learning spaces (makerspaces). They are: antidisciplinarity, tolerance for failure and diversity. The
work is inserted in the context marked by the democratization of technologies that allow citizens
outsi
de major research centers and industry to materialize their ideas, express their worldview, their
creativity and build knowledge from the interaction with artifacts. And it seeks to contribute to
reflections on the digital society and the need to understan
cultural aspects.
Keywords
: experimental; design; creativity; digital culture; makerspaces.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cogni
1. Introdução
Este artigo traz uma reflexão a
respeito do fazer como prática de
aprendizagem, ressaltando o seu
potencial de irradiar valores que
contribuem para a geração de novas
ideias e ampliação do acesso ao
conhecimento. O ponto de partida é a
observação do uso qu
e os cidadãos,
neste início do século XXI, fazem das
ferramentas de criação experimental e de
desenvolvimento disponíveis em espaços
de criatividade conhecidos por nomes
diversos, tais como
makerspaces,fablabs,
hackerspaces
laboratórios cidadãos ou simples
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
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Cultura, Tecnologia e Sociedade
artefactos. Y busca contribuir a reflexiones sobre la sociedad digital y la necesidad de comprender las
prácticas tecnológicas basadas en sus aspectos culturales.
experimental; design; creatividad; cultura digital; espacios de hacer.
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
This article proposes that three values
assume an important role in stimulating the
generation of new ideas and expanding access to
knowledge, when guiding practices of technological
learning spaces (makerspaces). They are: antidisciplinarity, tolerance for failure and diversity. The
work is inserted in the context marked by the democratization of technologies that allow citizens
de major research centers and industry to materialize their ideas, express their worldview, their
creativity and build knowledge from the interaction with artifacts. And it seeks to contribute to
reflections on the digital society and the need to understan
d technological practices based on their
: experimental; design; creativity; digital culture; makerspaces.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cogni
tiva
Este artigo traz uma reflexão a
respeito do fazer como prática de
aprendizagem, ressaltando o seu
potencial de irradiar valores que
contribuem para a geração de novas
ideias e ampliação do acesso ao
conhecimento. O ponto de partida é a
e os cidadãos,
neste início do século XXI, fazem das
ferramentas de criação experimental e de
desenvolvimento disponíveis em espaços
de criatividade conhecidos por nomes
diversos, tais como
hackerspaces
,
laboratórios cidadãos ou simples
mente
laboratórios (os chamamos de
artigo).
Busca-
se entender como o ato de
produzir artefatos pode se constituir em
uma ferramenta importante de geração e
de expressão de novos pensamentos,
colaborar para um processo de
aprendizagem e no desen
desejáveis. E, para que isso ocorra,
entende-
se ser necessária a presença de
três valores: antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
explicados neste artigo.
Esta proposição parte dos
repertórios dos autores somados
crítica de trabalhos recentes conceituados
globalmente e busca estimular a reflexão
31
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
artefactos. Y busca contribuir a reflexiones sobre la sociedad digital y la necesidad de comprender las
experimental; design; creatividad; cultura digital; espacios de hacer.
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
assume an important role in stimulating the
knowledge, when guiding practices of technological
learning spaces (makerspaces). They are: antidisciplinarity, tolerance for failure and diversity. The
work is inserted in the context marked by the democratization of technologies that allow citizens
de major research centers and industry to materialize their ideas, express their worldview, their
creativity and build knowledge from the interaction with artifacts. And it seeks to contribute to
d technological practices based on their
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
laboratórios (os chamamos de
labs neste
se entender como o ato de
produzir artefatos pode se constituir em
uma ferramenta importante de geração e
de expressão de novos pensamentos,
colaborar para um processo de
aprendizagem e no desen
ho de futuros
desejáveis. E, para que isso ocorra,
se ser necessária a presença de
três valores: antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
explicados neste artigo.
Esta proposição parte dos
repertórios dos autores somados
à leitura
crítica de trabalhos recentes conceituados
globalmente e busca estimular a reflexão
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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2020.
sobre o importante papel que a
experimentação pode desempenhar na
construção de futuros desejáveis.
2.1 Construindo conhecimento a partir
da produção de artefatos
Os objetos não são mera execução
de um pensamento pré-
concebido, mas
sim o resultado de um diálogo entre
criador e materiais
o que enfatiza o
protagonismo dos cidadãos na construção
de artefatos.
Tim Ingold defende o desenhar
como “um processo
de pensamento, e
não a projeção de um pensamento e
explica que “a tarefa do produtor consiste
em trazer as peças para um engajamento,
de maneira que cheguem a uma
correspondência mútua” (INGOLD, 2013,
p. 128 e 69, respectivamente).
Para Ingold, o process
produção não é fruto da dominação do
produtor sobre os materiais com que
trabalha, mas sim da convergência entre
ambos. Dessa convergência resulta um
processo que o autor chama de
“crescimento”, e não de produção, termo
usualmente atribuído a produtos
assim, compara os artefatos a organismos
vivos e afirma que, tal como estes, os
produtos crescem e são moldados. A
visão do britânico resgata um pensamento
pré-
moderno defendido por gregos
clássicos, que considera o trabalho do
artesão na manipul
ação de materiais não
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
sobre o importante papel que a
experimentação pode desempenhar na
construção de futuros desejáveis.
2.1 Construindo conhecimento a partir
Os objetos não são mera execução
concebido, mas
sim o resultado de um diálogo entre
o que enfatiza o
protagonismo dos cidadãos na construção
Tim Ingold defende o desenhar
de pensamento, e
não a projeção de um pensamento e
explica que “a tarefa do produtor consiste
em trazer as peças para um engajamento,
de maneira que cheguem a uma
correspondência mútua” (INGOLD, 2013,
p. 128 e 69, respectivamente).
Para Ingold, o process
o de
produção não é fruto da dominação do
produtor sobre os materiais com que
trabalha, mas sim da convergência entre
ambos. Dessa convergência resulta um
processo que o autor chama de
“crescimento”, e não de produção, termo
usualmente atribuído a produtos
. Ingold,
assim, compara os artefatos a organismos
vivos e afirma que, tal como estes, os
produtos crescem e são moldados. A
visão do britânico resgata um pensamento
moderno defendido por gregos
clássicos, que considera o trabalho do
ação de materiais não
como fruto de um pensamento racional e
sim como uma “inscrição na ordem da
natureza”, como percebido por Pedro
Pereira Leite (2002).
Entender esse diálogo entre
materiais e pessoas na construção de
objetos ajuda a explicar a importânc
se explorarem as atividades manuais
enquanto ferramentas de aprendizagem.
E, nesse sentido,
diversos pesquisadores
apontam que usar as mãos para criar,
explorar e comunicar é natural para os
humanos. Como escreve Dale Dougherty
(2016, p. XVI-XVII):
F
azer é um tipo de ‘e se’, explorando
questões sobre como algo funciona e
se ele poderia funcionar de maneira
diferente. [...]
Fazer é uma liberdade criativa que
aprendemos a apreciar através da
prática. Podemos melhorar e, como
resultado, mais ainda que
podemos fazer. Nós não sabemos se
temos algum talento especial para
isso até sujarmos as mãos e
tentarmos. Através da prática de
fazer, desenvolvemos o que
chamamos de mentalidade de ‘poder
fazer’ que nos encoraja a agir,
assumir o controle de nossas vida
desenvolver nossas próprias
capacidades. Fazer nos envolve
plena e profundamente como seres
humanos e satisfaz nossas almas
criativas.
Também valiosa a contribuição de
Trevor H. J. Marchand, para quem
“dominar uma ferramenta modifica e
expande nossas
capacidades cognitivas e
físicas integradas. Ferramentas são
32
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- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
como fruto de um pensamento racional e
sim como uma “inscrição na ordem da
natureza”, como percebido por Pedro
Entender esse diálogo entre
materiais e pessoas na construção de
objetos ajuda a explicar a importânc
ia de
se explorarem as atividades manuais
enquanto ferramentas de aprendizagem.
diversos pesquisadores
apontam que usar as mãos para criar,
explorar e comunicar é natural para os
humanos. Como escreve Dale Dougherty
azer é um tipo de ‘e se’, explorando
questões sobre como algo funciona e
se ele poderia funcionar de maneira
Fazer é uma liberdade criativa que
aprendemos a apreciar através da
prática. Podemos melhorar e, como
resultado, mais ainda que
podemos fazer. Nós não sabemos se
temos algum talento especial para
isso até sujarmos as mãos e
tentarmos. Através da prática de
fazer, desenvolvemos o que
chamamos de mentalidade de ‘poder
fazer’ que nos encoraja a agir,
assumir o controle de nossas vida
s e
desenvolver nossas próprias
capacidades. Fazer nos envolve
plena e profundamente como seres
humanos e satisfaz nossas almas
Também valiosa a contribuição de
Trevor H. J. Marchand, para quem
“dominar uma ferramenta modifica e
capacidades cognitivas e
físicas integradas. Ferramentas são
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
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2020.
artefatos culturais que possuem sua
própria história de uso e significado
compartilhado e, através da prática,
somos, por assim dizer,
socializados na
ferramenta’” (MARCHAND,
2012, p. 209).
E esse fazer não se restringe ao
desenvolvimento de produtos físicos a
partir do zero: ele também se manifesta
no conserto de produtos avariados e até
mesmo na construção de artefatos
digitais. A esse respeito, é essencial a
leitura de Eterna vigilância: c
omo montei e
desvendei o maior sistema de
espionagem do mundo
, de Edward
Snowden.
Na obra, Snowden (2019)
descreve sua trajetória pela
Central de Inteligência (CIA
pela Agência de Segurança Nacional
(SNA
em inglês). Ele começa por
resgatar suas primeiras memórias de
interação com computadores e reforça o
quanto de sua curiosidade sobre o
funcionamento de máquinas foi formada
enquanto manuseava equipamentos
eletrônicos, às vezes até para consertá
los:
Um dia, meu surrado cartucho do
Super Mario Bros. não carregava,
por mais que eu soprasse dentro
dele. Era o que tínhamos de fazer
naquela época
achávamos que tínhamos de fazer:
soprar na parte aberta do cartucho
para tirar a poeira, detritos e pelos
dos animais que tendiam a
acumular ali. [...]
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
artefatos culturais que possuem sua
própria história de uso e significado
compartilhado e, através da prática,
socializados na
2012, p. 209).
E esse fazer não se restringe ao
desenvolvimento de produtos físicos a
partir do zero: ele também se manifesta
no conserto de produtos avariados e até
mesmo na construção de artefatos
digitais. A esse respeito, é essencial a
omo montei e
desvendei o maior sistema de
, de Edward
Na obra, Snowden (2019)
descreve sua trajetória pela
Agência
em inglês) e
pela Agência de Segurança Nacional
em inglês). Ele começa por
resgatar suas primeiras memórias de
interação com computadores e reforça o
quanto de sua curiosidade sobre o
funcionamento de máquinas foi formada
enquanto manuseava equipamentos
eletrônicos, às vezes até para consertá
-
Um dia, meu surrado cartucho do
Super Mario Bros. não carregava,
por mais que eu soprasse dentro
dele. Era o que tínhamos de fazer
ou o que
achávamos que tínhamos de fazer:
soprar na parte aberta do cartucho
para tirar a poeira, detritos e pelos
dos animais que tendiam a
se
E o pior de tudo é que meu pai havia
acabado de viajar [...]. Por isso
resolvi consertar o troço sozinho. Se
eu conseguisse, sabia que meu pai
ficaria impressionado. [...]
Concluí que, para descobrir o que
havia de errado com aquela
eu primeiro teria que desmontá
Basicamente, eu estava copiando
ou tentando copiar
movimentos que meu pai repetia
toda vez que se sentava à mesa da
cozinha para consertar o
videocassete ou o aparelho de som
[...]. Demorei cerca d
desmontar o console. [...] mas, por
fim, não consegui. [...]
Meu pai não ficaria orgulhoso de
mim [...]. Para os seus colegas, meu
pai era um engenheiro de sistemas
eletrônicos especializado em
aviônica. Para mim, ele era um
cientista louco
que tentava consertar
tudo sozinho [...]. Eu era seu
ajudante sempre que ele deixava, e
ia conhecendo tanto os prazeres
físicos do trabalho manual quanto os
prazeres intelectuais da mecânica
básica, além dos princípios
fundamentais da eletrônica [...].
To
dos os trabalhos que realizamos
juntos acabavam em um conserto
bem-
sucedido ou em um palavrão
[...]. Eu nunca o julgava por esses
fracassos; sempre ficava
impressionado demais com o fato de
ele ser ousado e se arriscar a tentar.
Quando ele voltou para casa
descobriu o que eu havia feito com o
NES [...]. Ele me explicou que
entender como e por que não havia
dado certo era tão importante quanto
entender qual componente estava
com defeito; descobrir o como e o
porquê permitiria evitar que
acontecesse o mesmo
futuro. (SNOWDEN, 2019, p. 27
33
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
E o pior de tudo é que meu pai havia
acabado de viajar [...]. Por isso
resolvi consertar o troço sozinho. Se
eu conseguisse, sabia que meu pai
ficaria impressionado. [...]
Concluí que, para descobrir o que
havia de errado com aquela
coisa,
eu primeiro teria que desmontá
-la.
Basicamente, eu estava copiando
ou tentando copiar
os mesmos
movimentos que meu pai repetia
toda vez que se sentava à mesa da
cozinha para consertar o
videocassete ou o aparelho de som
[...]. Demorei cerca d
e uma hora para
desmontar o console. [...] mas, por
fim, não consegui. [...]
Meu pai não ficaria orgulhoso de
mim [...]. Para os seus colegas, meu
pai era um engenheiro de sistemas
eletrônicos especializado em
aviônica. Para mim, ele era um
que tentava consertar
tudo sozinho [...]. Eu era seu
ajudante sempre que ele deixava, e
ia conhecendo tanto os prazeres
físicos do trabalho manual quanto os
prazeres intelectuais da mecânica
básica, além dos princípios
fundamentais da eletrônica [...].
dos os trabalhos que realizamos
juntos acabavam em um conserto
sucedido ou em um palavrão
[...]. Eu nunca o julgava por esses
fracassos; sempre ficava
impressionado demais com o fato de
ele ser ousado e se arriscar a tentar.
Quando ele voltou para casa
e
descobriu o que eu havia feito com o
NES [...]. Ele me explicou que
entender como e por que não havia
dado certo era tão importante quanto
entender qual componente estava
com defeito; descobrir o como e o
porquê permitiria evitar que
acontecesse o mesmo
defeito no
futuro. (SNOWDEN, 2019, p. 27
-29).
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
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50
set.
2020.
O relato de Snowden revela: 1) o
potencial que a curiosidade tem para
mover o aprendizado humano; 2) como é
possível trabalhar com conceitos teóricos
a partir da prática, estimulando conexões
entre ambos; 3)
o quanto as áreas do
conhecimento começam a se dissolver
quando olhamos para o cotidiano; 4) como
a lógica de “tentativa e erro” pode ajudar
na aprendizagem de uma série de
conhecimentos técnicos; e 5) que
entender o próprio erro é uma excelente
forma de g
uiar o processo de
aprendizagem.
A memória de infância de
Snowden também
possui serventia para
que se reflita a respeito de
importante do chamado universo
essencial para se compreender o escopo
3
O anglicismo maker
é o nome dado pelas
comunidades de design, tecnologia e inovação
às pessoas que produzem artefatos, tendo
elas formação técnica para tanto ou o. Está
associado ao crescimento da cultura mão
massa, à possibilidade de criação, ao desi
à inovação (DOUGHERTY, 2012):
Uma marca registrada do movimento
maker
é a mentalidade faça você
mesmo (do inglês
Do It Yourself
reúne indivíduos em torno de atividades
diversas, incluindo artesanato têxtil,
robótica, culinária, artesanato em
madeira, eletrônica, fabricação digital,
reparo mecânico, ou criação e produção
de quase tudo. Apesar de sua
diversidade, o movimento é unificado
por um compromisso
em
atividades diversas, incluindo artesanato
têxtil, robótica, culinária, artesana
madeira, eletrônica, compartilhado de
exploração aberta, interesse intrínseco e
ideias criativas (Bravi;
Santos
2018, p. 1339
)
.
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antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
O relato de Snowden revela: 1) o
potencial que a curiosidade tem para
mover o aprendizado humano; 2) como é
possível trabalhar com conceitos teóricos
a partir da prática, estimulando conexões
o quanto as áreas do
conhecimento começam a se dissolver
quando olhamos para o cotidiano; 4) como
a lógica de “tentativa e erro” pode ajudar
na aprendizagem de uma série de
conhecimentos técnicos; e 5) que
entender o próprio erro é uma excelente
uiar o processo de
A memória de infância de
possui serventia para
que se reflita a respeito de
um aspecto
importante do chamado universo
maker
3
,
essencial para se compreender o escopo
é o nome dado pelas
comunidades de design, tecnologia e inovação
às pessoas que produzem artefatos, tendo
elas formação técnica para tanto ou o. Está
associado ao crescimento da cultura mão
-na-
massa, à possibilidade de criação, ao desi
gn e
à inovação (DOUGHERTY, 2012):
Uma marca registrada do movimento
é a mentalidade faça você
Do It Yourself
), que
reúne indivíduos em torno de atividades
diversas, incluindo artesanato têxtil,
robótica, culinária, artesanato em
madeira, eletrônica, fabricação digital,
reparo mecânico, ou criação e produção
de quase tudo. Apesar de sua
diversidade, o movimento é unificado
em
torno de
atividades diversas, incluindo artesanato
têxtil, robótica, culinária, artesana
to em
madeira, eletrônica, compartilhado de
exploração aberta, interesse intrínseco e
Santos
; Murmura,
do presente artigo: a educação por meio
da “mão na massa”.
Um dos grandes defensores do
“aprender fazendo”, Seymour Papert,
citado por Dougherty (2016, p. 185),
afirma, inclusive, que as crianças
constroem mais facilmente novos
conhecimentos quando estão, de fato,
construindo algo real. Na análise
Ackermann (2015, p. 8), ele chama
atenção para o que considera meios
poderosos de alcançar compreensão a
respeito de algo: mergulhar” nas
situações em vez de olhar para elas a
distância, estar conectado, e não
separado, do objeto de análise.
Pape
rt, um dos maiores visionários
no uso de tecnologias digitais na
educação, compartilha do mesmo
entusiasmo de Paulo Freire ao entender o
aluno como protagonista em seu processo
de aprendizagem. Tanto o sul
quanto o brasileiro acreditam na
importân
cia de se abrir espaço para que
os interesses e paixões do aluno
prosperem.
E
ntre 1967 e 1968, Papert
desenvolveu uma linguagem de
programação de computadores totalmente
voltada para a educação, a Logo, e suas
teorias embasam boa parte dos estudos
que pens
am os computadores como
instrumento de aprendizagem.
lembra Paulo Blikstein (2018, p. 420
34
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
do presente artigo: a educação por meio
Um dos grandes defensores do
“aprender fazendo”, Seymour Papert,
citado por Dougherty (2016, p. 185),
afirma, inclusive, que as crianças
constroem mais facilmente novos
conhecimentos quando estão, de fato,
construindo algo real. Na análise
de Edith
Ackermann (2015, p. 8), ele chama
atenção para o que considera meios
poderosos de alcançar compreensão a
respeito de algo: mergulhar” nas
situações em vez de olhar para elas a
distância, estar conectado, e não
separado, do objeto de análise.
rt, um dos maiores visionários
no uso de tecnologias digitais na
educação, compartilha do mesmo
entusiasmo de Paulo Freire ao entender o
aluno como protagonista em seu processo
de aprendizagem. Tanto o sul
-africano
quanto o brasileiro acreditam na
cia de se abrir espaço para que
os interesses e paixões do aluno
ntre 1967 e 1968, Papert
desenvolveu uma linguagem de
programação de computadores totalmente
voltada para a educação, a Logo, e suas
teorias embasam boa parte dos estudos
am os computadores como
instrumento de aprendizagem.
Como
lembra Paulo Blikstein (2018, p. 420
-421):
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
D
epois de trabalhar com Jean Piaget
em Genebra por vários anos, Papert
acrescentou à teoria construtivista a
ideia de que as interações e
experiências dos
aconteceriam com mais vigor se os
alunos se engajassem na construção
de artefatos públicos e
compartilháveis, como robôs,
invenções, castelos de areia ou
programas de computador. Papert
elevou o status cognitivo de
construção e fabricação e reavalio
relação hierárquica entre abstrato e
concreto.
Outro entusiasta do “aprender
fazendo”, o filósofo John Dewey enunciou,
no início do século XX, as vantagens
comparativas do fazer para a construção
do conhecimento. Para ele, conforme
relata Nils Gore (2
004, p. 8), essa é uma
forma de estimular o aluno
a pensar sobre
os assuntos de maneiras mais complexas
do que com a “artificialidade peculiar (que)
atribui a muito do que é ensinado nas
escolas”.
Ainda segundo Gore, o
pensamento de Dewey defende que a
exploração com projetos de base material,
criados à mão, promove o
desenvolvimento de um discurso crítico
entre criador e objeto e entre criador e
seus críticos ou colegas.
2.2 Aprender fazendo
As visões de Dewey, Piaget,
Freire, Papert, dentre outros, fo
base conceitual, neste século XXI, a
muitos dos pensamentos por trás de
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
epois de trabalhar com Jean Piaget
em Genebra por vários anos, Papert
acrescentou à teoria construtivista a
ideia de que as interações e
experiências dos
alunos
aconteceriam com mais vigor se os
alunos se engajassem na construção
de artefatos públicos e
compartilháveis, como robôs,
invenções, castelos de areia ou
programas de computador. Papert
elevou o status cognitivo de
construção e fabricação e reavalio
u a
relação hierárquica entre abstrato e
Outro entusiasta do “aprender
fazendo”, o filósofo John Dewey enunciou,
no início do século XX, as vantagens
comparativas do fazer para a construção
do conhecimento. Para ele, conforme
004, p. 8), essa é uma
a pensar sobre
os assuntos de maneiras mais complexas
do que com a “artificialidade peculiar (que)
atribui a muito do que é ensinado nas
Ainda segundo Gore, o
pensamento de Dewey defende que a
exploração com projetos de base material,
criados à mão, promove o
desenvolvimento de um discurso crítico
entre criador e objeto e entre criador e
As visões de Dewey, Piaget,
Freire, Papert, dentre outros, fo
rnecem a
base conceitual, neste século XXI, a
muitos dos pensamentos por trás de
ações ligadas ao ensino de tecnologia nas
escolas, em especial às que se valem de
metodologias ligadas aos fazeres
manuais.
Eles nos lembram que aprender,
especialmente hoje,
adquirir informações ou submeter
a ideias ou valores de outras
pessoas do que colocar as próprias
palavras ao mundo ou encontrar a
própria voz e trocar ideias com
outras pessoas (ACKERMANN,
2015, p. 2).
A primeira e mais óbvia impressão
a respeito desses espaços e políticas
educacionais é a de que eles servem
como suporte para o ensino de
habilidades técnicas conectadas ao
universo digital e computacional,
preparando crianças, adolescentes e
jovens adultos para as profissões e
empregos do
futuro. No entanto, como
defende Papert, a tecnologia nas escolas
pode ter um papel mais importante e
funcionar como ferramenta emancipatória
que coloca os materiais de construção
mais poderosos nas mãos das crianças.
“As máquinas e ferramentas
disponibil
izadas pela revolução
comprovaram permitir aos alunos projetar
e construir objetos e invenções
inimagináveis e atender muitas formas de
trabalhar, expressar e construir”, conforme
aponta Blikstein (2018, p. 434
35
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
ações ligadas ao ensino de tecnologia nas
escolas, em especial às que se valem de
metodologias ligadas aos fazeres
Eles nos lembram que aprender,
especialmente hoje,
é muito menos
adquirir informações ou submeter
-se
a ideias ou valores de outras
pessoas do que colocar as próprias
palavras ao mundo ou encontrar a
própria voz e trocar ideias com
outras pessoas (ACKERMANN,
A primeira e mais óbvia impressão
a respeito desses espaços e políticas
educacionais é a de que eles servem
como suporte para o ensino de
habilidades técnicas conectadas ao
universo digital e computacional,
preparando crianças, adolescentes e
jovens adultos para as profissões e
futuro. No entanto, como
defende Papert, a tecnologia nas escolas
pode ter um papel mais importante e
funcionar como ferramenta emancipatória
que coloca os materiais de construção
mais poderosos nas mãos das crianças.
“As máquinas e ferramentas
izadas pela revolução
maker
comprovaram permitir aos alunos projetar
e construir objetos e invenções
inimagináveis e atender muitas formas de
trabalhar, expressar e construir”, conforme
aponta Blikstein (2018, p. 434
-435).
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
Blikstein continua por destaca
potencialidades do movimento
ambiente escolar:
Existem duas maneiras pelas
quais o movimento maker
pode ser radicalmente
inovador. Primeiro, indo além
das visões estereotipadas da
educação técnica e rompendo
a dicotomia entre trabalho
prático
e intelectual. Segundo,
quando, operando nas
escolas, o movimento maker
puder prestar atenção especial
às ideias da psicologia do
desenvolvimento, do design de
interação, do construcionismo
e da educação progressiva
(BLIKSTEIN, 2018, p. 434).
À luz da re
alidade brasileira, e na
busca por soluções nacionais que
contribuam para equidade e diversidade
na educação maker
, Rodrigo Barbosa e
Silva e Luiz Ernesto Merkle elencam três
aspectos importantes que devem guiar o
trabalho em escolas: “primeiro,
reconhecer
as aspirações e práticas dos
alunos, segundo, pensar e promover
práticas de aprendizado pelo fazer, e
terceiro, o relacionamento entre
estudantes e suas próprias necessidades
enquanto participantes cidadãos da
sociedade” (SOLVA; MERKLE, 2016, p.
7).
O diá
logo dos espaços de fazer
com os problemas sociais que rodeiam as
escolas e permeiam a vida dos estudantes
é defendido por Blikstein, cujo trabalho
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Blikstein continua por destaca
r as
potencialidades do movimento
maker no
Existem duas maneiras pelas
quais o movimento maker
pode ser radicalmente
inovador. Primeiro, indo além
das visões estereotipadas da
educação técnica e rompendo
a dicotomia entre trabalho
e intelectual. Segundo,
quando, operando nas
escolas, o movimento maker
puder prestar atenção especial
às ideias da psicologia do
desenvolvimento, do design de
interação, do construcionismo
e da educação progressiva
(BLIKSTEIN, 2018, p. 434).
alidade brasileira, e na
busca por soluções nacionais que
contribuam para equidade e diversidade
, Rodrigo Barbosa e
Silva e Luiz Ernesto Merkle elencam três
aspectos importantes que devem guiar o
trabalho em escolas: “primeiro,
as aspirações e práticas dos
alunos, segundo, pensar e promover
práticas de aprendizado pelo fazer, e
terceiro, o relacionamento entre
estudantes e suas próprias necessidades
enquanto participantes cidadãos da
sociedade” (SOLVA; MERKLE, 2016, p.
logo dos espaços de fazer
com os problemas sociais que rodeiam as
escolas e permeiam a vida dos estudantes
é defendido por Blikstein, cujo trabalho
teórico promove a aproximação do
pensamento de Papert com o de Paulo
Freire:
Freire defende uma ideia
aparentemente simples: o aluno não
é um receptáculo de informações,
uma cabeça vazia onde
‘depositamos’ conteúdos
Freire chamou de “educação
bancária”. O aluno é um intelectual
ativo que tem suas próprias ideias,
teorias e sonhos; além disso, ele
e
stá imerso em práticas sociais e
culturais muito particulares. Freire
criou uma teoria educacional
baseada na ideia de que, em
primeiro lugar, o currículo escolar
como o conhecemos nasceu
errado; não se pode ensinar uma
criança na Vila Madalena em São
P
aulo e no Sertão nordestino com o
mesmo livro. Em segundo lugar,
educação não deve adestrar a
criança, mas prepará
Freire chama de “emancipação”, ou
seja, usar o conhecimento para
encontrar seu lugar no mundo e
transformá-
lo (BLIKSTEIN, sem d
p. 8).
Citando o trabalho de Edward Deci
e Richard Ryan, Blikstein (s. d., p. 9)
aponta a importância de se repensar os
conteúdos e as ferramentas utilizados em
sala de aula, permitindo que “os alunos
criem modelos e explorem a ciência [tal]
como se
faz ciência hoje em dia”. A dupla
de autores apresenta a noção de como a
motivação dos alunos é fator chave de
sucesso em qualquer projeto educacional
e elenca alguns componentes
fundamentais para que isso ocorra. São
36
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
teórico promove a aproximação do
pensamento de Papert com o de Paulo
Freire defende uma ideia
aparentemente simples: o aluno não
é um receptáculo de informações,
uma cabeça vazia onde
‘depositamos’ conteúdos
o que
Freire chamou de “educação
bancária”. O aluno é um intelectual
ativo que tem suas próprias ideias,
teorias e sonhos; além disso, ele
stá imerso em práticas sociais e
culturais muito particulares. Freire
criou uma teoria educacional
baseada na ideia de que, em
primeiro lugar, o currículo escolar
como o conhecemos nasceu
errado; não se pode ensinar uma
criança na Vila Madalena em São
aulo e no Sertão nordestino com o
mesmo livro. Em segundo lugar,
educação não deve adestrar a
criança, mas prepará
-la para o que
Freire chama de “emancipação”, ou
seja, usar o conhecimento para
encontrar seu lugar no mundo e
lo (BLIKSTEIN, sem d
ata,
Citando o trabalho de Edward Deci
e Richard Ryan, Blikstein (s. d., p. 9)
aponta a importância de se repensar os
conteúdos e as ferramentas utilizados em
sala de aula, permitindo que “os alunos
criem modelos e explorem a ciência [tal]
faz ciência hoje em dia”. A dupla
de autores apresenta a noção de como a
motivação dos alunos é fator chave de
sucesso em qualquer projeto educacional
e elenca alguns componentes
fundamentais para que isso ocorra. São
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
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set.
2020.
eles: a autonomia (a noção de estar em
controle das próprias ações), a
competência (ser capaz de ter um efeito
socialmente valorizado no ambiente em
que se vive) e o relacionamento
interpessoal (sentir-
se conectado a outras
pessoas).
Blikstein avança na questão da
autonomia, recorrendo aos est
Alfred Bandura e Carol Dweck, nos
seguintes termos:
Quando pais e professores v
aluno desinteressado e desmotivado,
não é mera coincidência ou
vagabundagem. Por que ele está
desmotivado? Em primeiro lugar, o
princípio da autonomia é diariamen
violentado na escola. Os alunos se
sentem parte de um grande rebanho
humano, todos fazendo a mesma
coisa, todos aprendendo o que é
sabido séculos, e todos seguindo
a mesma trajetória,
independentemente de seus
interesses e aspirações pessoais.
Em
segundo lugar, o princípio da
competência é também violentado:
quanto do que se faz na escola tem
alguma importância para o mundo?
(BLIKSTEIN, s. d., p. 9
-
Para ilustrar, Blikstein conta no
mesmo artigo a história de um estudante
da rede pública da Zo
na Leste de São
Paulo que, aos doze anos, participou de
um desafio em sua escola. O objetivo era
estimular os alunos a olhar para o seu
entorno e propor soluções criativas que
fizessem sentido no contexto local.
pesquisavam problemas na cidade que os
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
eles: a autonomia (a noção de estar em
controle das próprias ações), a
competência (ser capaz de ter um efeito
socialmente valorizado no ambiente em
que se vive) e o relacionamento
se conectado a outras
Blikstein avança na questão da
autonomia, recorrendo aos est
udos de
Alfred Bandura e Carol Dweck, nos
Quando pais e professores v
eem um
aluno desinteressado e desmotivado,
não é mera coincidência ou
vagabundagem. Por que ele está
desmotivado? Em primeiro lugar, o
princípio da autonomia é diariamen
te
violentado na escola. Os alunos se
sentem parte de um grande rebanho
humano, todos fazendo a mesma
coisa, todos aprendendo o que é
sabido séculos, e todos seguindo
a mesma trajetória,
independentemente de seus
interesses e aspirações pessoais.
segundo lugar, o princípio da
competência é também violentado:
quanto do que se faz na escola tem
alguma importância para o mundo?
-
10).
Para ilustrar, Blikstein conta no
mesmo artigo a história de um estudante
na Leste de São
Paulo que, aos doze anos, participou de
um desafio em sua escola. O objetivo era
estimular os alunos a olhar para o seu
entorno e propor soluções criativas que
fizessem sentido no contexto local.
“Eles
pesquisavam problemas na cidade que os
preocupavam, como poluição, violência,
qualidade da água, transporte público,
conservação de energia ou saneamento
básico, coletavam dados, refletiam sobre
possíveis alternativas e criavam protótipos
para solucioná-los”,
explica (BLIKSTEIN,
s. d., p. 1).
O aluno descrito por Blikstein
resolveu trabalhar na geração de energia
e propôs o uso de lombadas que
capturassem a energia da rotação dos
pneus e do peso do carro. Em três
semanas, conseguiu fazer um protótipo
com uma placa de robótica programável
conect
ada a diversos componentes
eletrônicos (materiais com os quais ele
entrava em contato pela primeira vez).
Criar o protótipo exigiu que o aluno
aprendesse robótica, programação de
computadores e elementos de engenharia
mecânica e elétrica.
Segundo Blikstein
tarde, uma grande empresa nos Estados
Unidos havia começado a instalar
lombadas que geravam energia, seguindo
exatamente o projeto do aluno
propósito, havia ingressado na faculdade
de engenharia.
O objetivo deste trabalho não é se
aprofundar nos diferentes formatos da
inclusão do movimento
e universidades. No entanto, convém
reconhecer sua existência e algumas de
suas bases teóricas. Com base nisso, é
possível levantar um questionamento feito
37
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
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Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
preocupavam, como poluição, violência,
qualidade da água, transporte público,
conservação de energia ou saneamento
básico, coletavam dados, refletiam sobre
possíveis alternativas e criavam protótipos
explica (BLIKSTEIN,
O aluno descrito por Blikstein
resolveu trabalhar na geração de energia
e propôs o uso de lombadas que
capturassem a energia da rotação dos
pneus e do peso do carro. Em três
semanas, conseguiu fazer um protótipo
com uma placa de robótica programável
ada a diversos componentes
eletrônicos (materiais com os quais ele
entrava em contato pela primeira vez).
Criar o protótipo exigiu que o aluno
aprendesse robótica, programação de
computadores e elementos de engenharia
Segundo Blikstein
, sete anos mais
tarde, uma grande empresa nos Estados
Unidos havia começado a instalar
lombadas que geravam energia, seguindo
exatamente o projeto do aluno
que, a
propósito, havia ingressado na faculdade
O objetivo deste trabalho não é se
aprofundar nos diferentes formatos da
inclusão do movimento
maker em escolas
e universidades. No entanto, convém
reconhecer sua existência e algumas de
suas bases teóricas. Com base nisso, é
possível levantar um questionamento feito
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
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, p.
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set.
2020.
por Blikstein a
respeito da capacidade das
escolas de transformarem suas culturas e,
assim, permitir que o movimento maker
sobreviva em ambientes escolares:
Uma preocupação fundamental é
garantir que esse movimento não se
junte a laptops, tablets e aprendizado
baseado em
vídeo na longa lista de
modismos educacionais exagerados
das últimas décadas. Uma segunda
questão é que, na própria história da
educação tecnológica, é comum as
atividades práticas serem
consideradas tarefas de segunda
classe nas escolas, inferiores ao
tra
balho escolar e associadas
apenas à educação técnica e
profissional (Bennett, 1937).
(BLIKSTEIN, 2018, p. 421).
Apesar de experiências de níveis e
impactos muito diferentes, este estudo
parte da ideia de que um indivíduo
estimulado desde a infância a pôr
na massa”, montando e desmontando
aparatos, terá a possibilidade de
desenvolver ou aprimorar habilidades que
influenciarão sua forma de se relacionar
com os objetos, com as pessoas e
também com o universo ao seu redor.
2.3 Cultura:
antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade
cognitiva como valores
O movimento maker
dos laboratórios tecnológicos
experimentais tensionam a forma
tradicional de transmissão de
conhecimento, baseada em uma
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
respeito da capacidade das
escolas de transformarem suas culturas e,
assim, permitir que o movimento maker
sobreviva em ambientes escolares:
Uma preocupação fundamental é
garantir que esse movimento não se
junte a laptops, tablets e aprendizado
vídeo na longa lista de
modismos educacionais exagerados
das últimas décadas. Uma segunda
questão é que, na própria história da
educação tecnológica, é comum as
atividades práticas serem
consideradas tarefas de segunda
classe nas escolas, inferiores ao
balho escolar e associadas
apenas à educação técnica e
profissional (Bennett, 1937).
(BLIKSTEIN, 2018, p. 421).
Apesar de experiências de níveis e
impactos muito diferentes, este estudo
parte da ideia de que um indivíduo
estimulado desde a infância a pôr
a mão
na massa”, montando e desmontando
aparatos, terá a possibilidade de
desenvolver ou aprimorar habilidades que
influenciarão sua forma de se relacionar
com os objetos, com as pessoas e
também com o universo ao seu redor.
antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade
e a cultura
dos laboratórios tecnológicos
experimentais tensionam a forma
tradicional de transmissão de
conhecimento, baseada em uma
autoridade central (o professor), que
ensina os conteúdos aos alunos a partir
de uma posição hierarquicamente
superior. Em contraposição a isso, esses
espaços, chamados aqui de
apresentam uma forma de educação
guiada pelo interesse dos participantes,
que são ativos nessa construção do
conhecimento e dispõem de um conjunto
amplo de ferramentas e materiais para
trilhar o seu processo de aprendizado.
Como afirmam Ito e Howe,
“educação é o que outras pessoas fazem
por você. Aprender é o que você faz por
v
ocê mesmo” (2016, p. 167). Esses
laboratórios são sobre o aprender. E não
apenas porque atendem
população que extrapolam o público
habitual das instituições de ensino, mas
porque promovem uma nova cultura, que
estimula o cidadão, independente
de sua formação ou contexto cultural, a se
entender como um agente em constante
processo de aprendizagem.
É por isso que Erica Halverson e
Kimberly Sheridan defendem que o
movimento maker
pode “transformar como
entendemos o que conta como
aprendizado
, como aprendiz e como
ambiente de aprendizagem” (2014, p.
496). Citados por Haverson e Sheridan,
Kafai, Fields e Searle, por sua vez,
propõem que os estudantes passem a
ser vistos como solucionadores de
problemas e questionadores e os
38
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
autoridade central (o professor), que
ensina os conteúdos aos alunos a partir
de uma posição hierarquicamente
superior. Em contraposição a isso, esses
espaços, chamados aqui de
labs,
apresentam uma forma de educação
guiada pelo interesse dos participantes,
que são ativos nessa construção do
conhecimento e dispõem de um conjunto
amplo de ferramentas e materiais para
trilhar o seu processo de aprendizado.
Como afirmam Ito e Howe,
“educação é o que outras pessoas fazem
por você. Aprender é o que você faz por
ocê mesmo” (2016, p. 167). Esses
laboratórios são sobre o aprender. E não
apenas porque atendem
a recortes de
população que extrapolam o público
habitual das instituições de ensino, mas
porque promovem uma nova cultura, que
estimula o cidadão, independente
mente
de sua formação ou contexto cultural, a se
entender como um agente em constante
processo de aprendizagem.
É por isso que Erica Halverson e
Kimberly Sheridan defendem que o
pode “transformar como
entendemos o que conta como
, como aprendiz e como
ambiente de aprendizagem” (2014, p.
496). Citados por Haverson e Sheridan,
Kafai, Fields e Searle, por sua vez,
propõem que os estudantes passem a
ser vistos como solucionadores de
problemas e questionadores e os
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
professores como me
ntores, guias,
produtores” (HALVERSON; SHERIDAN,
2014, p. 496).
Elizabeth Garber, Lisa Hochtritt e
Manisha Sharma
resumem bem
laboratórios focados no fazer:
mexer com materiais, compartilhar e
aprender fazendo em um ambiente que
apoia e incenti
va a curiosidade está no
centro do movimento maker
(2019, p. 9).
Os autores reforçam que esses espaços
foram desenhados para serem
colaborativos, flexíveis e terem áreas em
diálogo. Ou seja, é justamente na
capacidade experimental que reside sua
maior potência.
À luz do que foi dito, o presente
artigo entende que esses espaços têm o
potencial de representar impacto na
transformação cultural do seu entorno
(seja ele uma escola, uma empresa, um
museu, um centro de pesquisa, uma
universidade ou mesmo um bairr
estimular reflexão e produção crítica. Para
isso, no entanto, é necessário que eles
sejam pautados por alguns valores, dos
quais ressaltamos aqui:
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e
diversidade cognitiva. Tais valores são
analisados nos subtóp
icos abaixo.
2.3.1 Antidisciplinaridade
Ito acredita que a forma como a
educação tradicional ainda funciona
nestas primeiras décadas do século XXI
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
ntores, guias,
produtores” (HALVERSON; SHERIDAN,
Elizabeth Garber, Lisa Hochtritt e
resumem bem
laboratórios focados no fazer:
“a ideia de
mexer com materiais, compartilhar e
aprender fazendo em um ambiente que
va a curiosidade está no
(2019, p. 9).
Os autores reforçam que esses espaços
foram desenhados para serem
colaborativos, flexíveis e terem áreas em
diálogo. Ou seja, é justamente na
capacidade experimental que reside sua
À luz do que foi dito, o presente
artigo entende que esses espaços têm o
potencial de representar impacto na
transformação cultural do seu entorno
(seja ele uma escola, uma empresa, um
museu, um centro de pesquisa, uma
universidade ou mesmo um bairr
o) e
estimular reflexão e produção crítica. Para
isso, no entanto, é necessário que eles
sejam pautados por alguns valores, dos
quais ressaltamos aqui:
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e
diversidade cognitiva. Tais valores são
icos abaixo.
Ito acredita que a forma como a
educação tradicional ainda funciona
nestas primeiras décadas do século XXI
contribui “para uma hiperespecialização,
na qual pessoas em diferentes áreas têm
dificuldade em colaborar
comunicar
com pessoas em diferentes
campos” (2016)
4
.
Pensando a integração das áreas
do conhecimento e a aproximação das
artes com as ciências, a pesquisadora
Neri Oxman, do Medialab MIT, propôs em
2016 o Ciclo de Kreb da Criatividade
(KCC),
um modelo conceitual que é uma
tentativa de representar a hipótese
antidisciplinar: que o conhecimento não
pode mais ser atribuído a disciplinas
específicas, ou produzido dentro de limites
disciplinares, mas que está totalmente
enredado.
O objetivo é esta
cartografia experimental, ainda
holística, da inter
domínios, em que um domínio pode
incitar a (r)evolução dentro de outro;
e onde um único indivíduo ou projeto
pode residir em vários domínios
(OXMAN, 2016
).
A proposta de O
como as modalidades da criatividade
humana (definidas por ela como ciência,
engenharia, design e arte) se relacionam,
uma alimentando a outra:
O papel da ciência é explicar e
prever o mundo ao nosso redor;
‘converte’ informações em
conheciment
o. O papel da
engenharia é aplicar o conhecimento
4
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
ence.
39
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
contribui “para uma hiperespecialização,
na qual pessoas em diferentes áreas têm
dificuldade em colaborar
ou mesmo se
com pessoas em diferentes
Pensando a integração das áreas
do conhecimento e a aproximação das
artes com as ciências, a pesquisadora
Neri Oxman, do Medialab MIT, propôs em
2016 o Ciclo de Kreb da Criatividade
um modelo conceitual que é uma
tentativa de representar a hipótese
antidisciplinar: que o conhecimento não
pode mais ser atribuído a disciplinas
específicas, ou produzido dentro de limites
disciplinares, mas que está totalmente
O objetivo é esta
belecer uma
cartografia experimental, ainda
holística, da inter
-relação entre esses
domínios, em que um domínio pode
incitar a (r)evolução dentro de outro;
e onde um único indivíduo ou projeto
pode residir em vários domínios
).
A proposta de O
xman explica
como as modalidades da criatividade
humana (definidas por ela como ciência,
engenharia, design e arte) se relacionam,
uma alimentando a outra:
O papel da ciência é explicar e
prever o mundo ao nosso redor;
‘converte’ informações em
o. O papel da
engenharia é aplicar o conhecimento
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
científico ao desenvolvimento de
soluções para problemas empíricos;
‘converte’ o conhecimento em
utilidade. O papel do design é
produzir modalidades de soluções
que maximizem a função e
aumentem a experiênc
‘converte’ a utilidade em
comportamento. O papel da arte é
questionar o comportamento humano
e criar consciência do mundo à
nossa volta; ‘converte’ o
comportamento em novas
percepções de informações,
apresentando novamente os dados
que iniciaram
o KCC na Ciência
(Oxman, 2016).
A ciência produz conhecimento que
é usado pelos engenheiros. A
engenharia produz utilidade usada
por designers. Os designers
produzem mudanças no
comportamento que são percebidas
pelos artistas. A arte produz novas
percepçõ
es do mundo, concedendo
acesso a novas informações de
dentro, sobre ele e inspirando novas
investigações científicas (OXMAN,
2016).
Ito diferencia o trabalho
interdisciplinar, resultado do trabalho
conjunto de pessoas de diferentes
disciplinas, do antidis
ciplinar, que consiste
em “trabalhar em espaços que
simplesmente não se encaixam em
nenhuma disciplina acadêmica existente
um campo de estudo específico com suas
próprias palavras, estruturas e métodos”
(ITO, 2016
5
).
5
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
ence.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
científico ao desenvolvimento de
soluções para problemas empíricos;
‘converte’ o conhecimento em
utilidade. O papel do design é
produzir modalidades de soluções
que maximizem a função e
aumentem a experiênc
ia humana;
‘converte’ a utilidade em
comportamento. O papel da arte é
questionar o comportamento humano
e criar consciência do mundo à
nossa volta; ‘converte’ o
comportamento em novas
percepções de informações,
apresentando novamente os dados
o KCC na Ciência
A ciência produz conhecimento que
é usado pelos engenheiros. A
engenharia produz utilidade usada
por designers. Os designers
produzem mudanças no
comportamento que são percebidas
pelos artistas. A arte produz novas
es do mundo, concedendo
acesso a novas informações de
dentro, sobre ele e inspirando novas
investigações científicas (OXMAN,
Ito diferencia o trabalho
interdisciplinar, resultado do trabalho
conjunto de pessoas de diferentes
ciplinar, que consiste
em “trabalhar em espaços que
simplesmente não se encaixam em
nenhuma disciplina acadêmica existente
um campo de estudo específico com suas
próprias palavras, estruturas e métodos”
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
A abordagem antidisciplinar é uma
res
posta à dificuldade de se encaixarem
determinados problemas nas disciplinas
tradicionais. Um exemplo citado por Ito no
mesmo artigo é o do corpo humano,
perfeito em desafiar a interdisciplinaridade
porque as diferentes disciplinas parecem
trançar um mosaic
o complexo que
frequentemente dificulta a compreensão
do objeto
porque nossa linguagem é
muito diferente e nossos microscópios são
definidos de maneira tão diferente”. Para
Ito, a melhor chance de desvendar as
c
omplexidades do corpo humano viria por
meio de uma “
One Science
Outro exemplo da
antidisciplinaridade apontado pelo autor
no artigo é o movimento que formou a
cibernética nas décadas de 1940 e 1950,
reunindo engenheiros, designers,
cientistas, matemáticos, sociólogos,
filósofos, lingu
istas, psicólogos e
pensadores de outros campos. Atraídos
pelo entendimento de como os sistemas
biológicos regulavam o movimento e até
as aplicações do controle de mísseis
balísticos, eles se reuniram para investigar
os sistemas e os ciclos de feedback com
uma maneira de compreender e projetar
sistemas complexos.
Ao criar espaços para projetos e
ideias que estejam entre ou além das
disciplinas, os laboratórios experimentais
contribuem para que essa noção de
antidisciplinaridade seja vivenciada e
40
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
A abordagem antidisciplinar é uma
posta à dificuldade de se encaixarem
determinados problemas nas disciplinas
tradicionais. Um exemplo citado por Ito no
mesmo artigo é o do corpo humano,
perfeito em desafiar a interdisciplinaridade
porque as diferentes disciplinas parecem
o complexo que
frequentemente dificulta a compreensão
porque nossa linguagem é
muito diferente e nossos microscópios são
definidos de maneira tão diferente”. Para
Ito, a melhor chance de desvendar as
omplexidades do corpo humano viria por
One Science
” colaborativa.
Outro exemplo da
antidisciplinaridade apontado pelo autor
no artigo é o movimento que formou a
cibernética nas décadas de 1940 e 1950,
reunindo engenheiros, designers,
cientistas, matemáticos, sociólogos,
istas, psicólogos e
pensadores de outros campos. Atraídos
pelo entendimento de como os sistemas
biológicos regulavam o movimento e até
as aplicações do controle de mísseis
balísticos, eles se reuniram para investigar
os sistemas e os ciclos de feedback com
o
uma maneira de compreender e projetar
Ao criar espaços para projetos e
ideias que estejam entre ou além das
disciplinas, os laboratórios experimentais
contribuem para que essa noção de
antidisciplinaridade seja vivenciada e
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
estimula,
assim, tanto um melhor diálogo
entre as disciplinas e áreas do saber
quanto permite que ideias não previsíveis
surjam. Ou seja, o que se verifica é uma
possibilidade de os laboratórios atuarem
como transformadores da cultura que
compartimenta o conheciment
para uma cultura que tem uma linguagem
comum entre as diferentes disciplinas.
2.3.2 Tolerância ao erro
Outro valor importante na cultura
desses espaços é a aceitação do erro
como parte importante na aprendizagem e
na experimentação.
Os
processos ligados a manusear
ferramentas e equipamentos pela primeira
vez, a entender como funcionam novas
tecnologias e plataformas, bem como a
pensar de forma aplicada ao construir
protótipos e artefatos físicos trazem uma
série de novidades e tiram os
p
articipantes da sua zona de conforto.
Naturalmente, erros e tentativas frustradas
são corriqueiros, e ajudam a construir uma
cultura de maior liberdade experimental e
menor necessidade de respostas rápidas
e prontas.
Isso é importante quando se tem
em ment
e que diversos pesquisadores
afirmaram que “algumas das melhores
ideias vêm de nossas falhas”
(STAPPERS; GIACCARDI, s
/d
erro promove outras formas de fazer as
coisas” (Chris Hay, 2016, p. 76). E apesar
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
assim, tanto um melhor diálogo
entre as disciplinas e áreas do saber
quanto permite que ideias não previsíveis
surjam. Ou seja, o que se verifica é uma
possibilidade de os laboratórios atuarem
como transformadores da cultura que
compartimenta o conheciment
o em áreas
para uma cultura que tem uma linguagem
comum entre as diferentes disciplinas.
Outro valor importante na cultura
desses espaços é a aceitação do erro
como parte importante na aprendizagem e
processos ligados a manusear
ferramentas e equipamentos pela primeira
vez, a entender como funcionam novas
tecnologias e plataformas, bem como a
pensar de forma aplicada ao construir
protótipos e artefatos físicos trazem uma
série de novidades e tiram os
articipantes da sua zona de conforto.
Naturalmente, erros e tentativas frustradas
são corriqueiros, e ajudam a construir uma
cultura de maior liberdade experimental e
menor necessidade de respostas rápidas
Isso é importante quando se tem
e que diversos pesquisadores
afirmaram que “algumas das melhores
ideias vêm de nossas falhas”
/d
) ou que o
erro promove outras formas de fazer as
coisas” (Chris Hay, 2016, p. 76). E apesar
dos potenciais ganhos que o erro enseja,
a sua valorização ainda é pouco presente
em nossas organizações (incluindo os
espaços educacionais). Como escreve
Amy C. Edmondson (2011):
Fracassos e culpa são praticamente
inseparáveis
na maioria das famílias,
organizações e culturas. Toda
criança apr
ende em algum momento
que admitir o fracasso significa
assumir a culpa. É por isso que tão
poucas organizações mudaram para
uma cultura de segurança
psicológica na qual as recompensas
do aprendizado do fracasso podem
ser plenamente realizadas.
Em O
presente do erro
analisado por Megan Egbert, Jessica
Lahey descreve por que esses pequenos
erros que acompanham o fazer importam,
e ressalta que o erro é essencial para o
processo de aprendizagem. A autora
explica que, quanto mais fácil é recupe
uma informação, mais o nosso cérebro
tende a esquecê-
la. E ao se promoverem
desafios que o estimula, mais o
aprendizado ficará na nossa parte do
cérebro que lida com o longo prazo
(EGBERT, 2016, p. 29). Elizabeth e
Robert Bjork chamaram esses desafios
“dificuldades desejáveis” e Egbert afirma
que o fazer tem um potencial grande de
promovê-
los, pois “possui resultados
desconhecidos e requer tentativa e erro
de design para criar um produto final”
(2016, p. 29).
41
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
dos potenciais ganhos que o erro enseja,
a sua valorização ainda é pouco presente
em nossas organizações (incluindo os
espaços educacionais). Como escreve
Amy C. Edmondson (2011):
Fracassos e culpa são praticamente
na maioria das famílias,
organizações e culturas. Toda
ende em algum momento
que admitir o fracasso significa
assumir a culpa. É por isso que tão
poucas organizações mudaram para
uma cultura de segurança
psicológica na qual as recompensas
do aprendizado do fracasso podem
ser plenamente realizadas.
presente do erro
(de 2015),
analisado por Megan Egbert, Jessica
Lahey descreve por que esses pequenos
erros que acompanham o fazer importam,
e ressalta que o erro é essencial para o
processo de aprendizagem. A autora
explica que, quanto mais fácil é recupe
rar
uma informação, mais o nosso cérebro
la. E ao se promoverem
desafios que o estimula, mais o
aprendizado ficará na nossa parte do
cérebro que lida com o longo prazo
(EGBERT, 2016, p. 29). Elizabeth e
Robert Bjork chamaram esses desafios
de
“dificuldades desejáveis” e Egbert afirma
que o fazer tem um potencial grande de
los, pois “possui resultados
desconhecidos e requer tentativa e erro
de design para criar um produto final”
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
Matthew Sanders, em
Learner (2
012), aponta a diferença entre
um estudante e um aprendiz e reforça que
é justamente o medo de errar do primeiro
que o distancia do segundo.
Egbert propõe que o aprendiz de
Sanders seja substituído pela figura do
maker
. O autor constata como os
frequentad
ores dos espaços de fazer
entendem o aprendizado
isto é, de uma
maneira mais ativa e auto direcionada
associa isso diretamente à cultura do erro
que existe nesses espaços:
No processo de fazer, porque o
produto geralmente é funcional
se destina
a existir
espaço para falhas. Os robôs não se
movem, a solda não fica presa, o
trabalho de impressão é
interrompido, as estruturas quebram,
os circuitos não são concluídos e o
gravador de vídeo nunca é ligado
para começar. Tudo oferece uma
ampla
oportunidade de comprometer
o aprendizado à memória de longo
prazo. O fazer é feito de dificuldade
desejável em cima da dificuldade
desejável. Seu desafio é encontrar
uma maneira de manter os alunos
em movimento, pensando neles,
para que possam obter os b
duradouros de criar (EGBERT, 2016,
p. 30).
No vídeo
Por que você deveria
fazer coisas inúteis
6
,
feito para a
plataforma TED e visualizado mais de
6
Disponível em:
https://www.ted.com/talks/simone_giertz_why_
you_should_make_useless_t
hings. Acesso: 10
fev. 2020.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Matthew Sanders, em
Becoming a
012), aponta a diferença entre
um estudante e um aprendiz e reforça que
é justamente o medo de errar do primeiro
Egbert propõe que o aprendiz de
Sanders seja substituído pela figura do
. O autor constata como os
ores dos espaços de fazer
isto é, de uma
maneira mais ativa e auto direcionada
e
associa isso diretamente à cultura do erro
No processo de fazer, porque o
produto geralmente é funcional
ou
a existir
muito
espaço para falhas. Os robôs não se
movem, a solda não fica presa, o
trabalho de impressão é
interrompido, as estruturas quebram,
os circuitos não são concluídos e o
gravador de vídeo nunca é ligado
para começar. Tudo oferece uma
oportunidade de comprometer
o aprendizado à memória de longo
prazo. O fazer é feito de dificuldade
desejável em cima da dificuldade
desejável. Seu desafio é encontrar
uma maneira de manter os alunos
em movimento, pensando neles,
para que possam obter os b
enefícios
duradouros de criar (EGBERT, 2016,
Por que você deveria
feito para a
plataforma TED e visualizado mais de
https://www.ted.com/talks/simone_giertz_why_
hings. Acesso: 10
3,48 milhões de vezes, Simone Giertz
conta como construir robôs
propositalmente inúteis substituiu
pressões e expectativas por entusiasmo e
lhe permitiu experimentar mais e, assim,
aprender uma série de conteúdos.
A verdadeira beleza de fazer coisas
inúteis é esse reconhecimento de
que nem sempre você sabe qual é a
melhor resposta. (...) Isso desliga
voz em sua mente que diz que você
sabe exatamente como o mundo
funciona. Talvez um capacete de
escova de dentes não seja a
resposta, mas pelo menos você está
fazendo a pergunta (GIERTZ, 2018).
Além de “robôs inúteis”, Giertz
também produz objetos que f
como a Truckla
7
, uma versão caminhonete
de um carro Tesla feita por ela mesma. O
processo de transformação do carro foi
assistido mais de 11 milhões de vezes em
um ano e foi matéria de capa da revista
Wired. Na entrevista, Gierzt conta como
const
ruir pequenos objetos criativos e sem
sentido, ou seja, com permissão para
errar, a levou ao estágio de buscar
desenvolver ambiciosos projetos de
design e engenharia (GOODE, 2019).
Em conversa entre Giertz e Kevin
Kelly
8
, fundador da Revista Wired
7
https://www.youtube.com/watch?v=jKv_N0ID
S2A&feature=youtu.be.
8
Disponível em:
https://www.yo
utube.com/watch?v=zzF3n
crn_w
. Acesso: 10 fev. 2020.
9
https://www.wired.com/.
42
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
3,48 milhões de vezes, Simone Giertz
conta como construir robôs
propositalmente inúteis substituiu
as
pressões e expectativas por entusiasmo e
lhe permitiu experimentar mais e, assim,
aprender uma série de conteúdos.
A verdadeira beleza de fazer coisas
inúteis é esse reconhecimento de
que nem sempre você sabe qual é a
melhor resposta. (...) Isso desliga
a
voz em sua mente que diz que você
sabe exatamente como o mundo
funciona. Talvez um capacete de
escova de dentes não seja a
resposta, mas pelo menos você está
fazendo a pergunta (GIERTZ, 2018).
Além de “robôs inúteis”, Giertz
também produz objetos que f
uncionam,
, uma versão caminhonete
de um carro Tesla feita por ela mesma. O
processo de transformação do carro foi
assistido mais de 11 milhões de vezes em
um ano e foi matéria de capa da revista
Wired. Na entrevista, Gierzt conta como
ruir pequenos objetos criativos e sem
sentido, ou seja, com permissão para
errar, a levou ao estágio de buscar
desenvolver ambiciosos projetos de
design e engenharia (GOODE, 2019).
Em conversa entre Giertz e Kevin
, fundador da Revista Wired
9
, Kelly
https://www.youtube.com/watch?v=jKv_N0ID
utube.com/watch?v=zzF3n
-
. Acesso: 10 fev. 2020.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
afirma que o erro precisa ser aceito e
bem-
vindo. “Faça coisas que falhem”,
recomenda.
Podemos aprender quase tanto com
um experimento que não funciona
quanto com um que funciona. O
fracasso não é algo a ser evitado,
mas algo a ser cultivado. Essa é uma
li
ção da ciência que beneficia não
apenas a pesquisa de laboratório,
mas o design, o esporte, a
engenharia, a arte, o
empreendedorismo e até a própria
vida cotidiana. Todas as vias
criativas produzem o máximo quando
as falhas são adotadas. Um ótimo
designer
gráfico gerará muitas
ideias, sabendo que a maioria será
abortada. Um grande dançarino
percebe que a maioria dos novos
movimentos não terá sucesso. O
mesmo vale para qualquer arquiteto,
engenheiro elétrico, escultor,
maratonista, amador ou
microbiologista.
Afinal, o que é
ciência, senão uma maneira de
aprender com as coisas que não
funcionam e não apenas com as que
funcionam? O que esta ferramenta
sugere é que você busque o sucesso
enquanto está preparado para
aprender com uma série de
fracassos. Além disso
com cuidado, mas deliberadamente,
pressionar suas investigações ou
realizações bem-
sucedidas a ponto
de quebrar, fracassar, parar, travar
ou falhar (KELLY, 2011).
Promover uma maior abertura para
o erro, entendendo os resultados
negativos com
o parte importante do
processo de aprendizagem, é um dos
maiores valores dos laboratórios. E esse
valor se incorpora não apenas no
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
afirma que o erro precisa ser aceito e
vindo. “Faça coisas que falhem”,
Podemos aprender quase tanto com
um experimento que não funciona
quanto com um que funciona. O
fracasso não é algo a ser evitado,
mas algo a ser cultivado. Essa é uma
ção da ciência que beneficia não
apenas a pesquisa de laboratório,
mas o design, o esporte, a
engenharia, a arte, o
empreendedorismo e até a própria
vida cotidiana. Todas as vias
criativas produzem o máximo quando
as falhas são adotadas. Um ótimo
gráfico gerará muitas
ideias, sabendo que a maioria será
abortada. Um grande dançarino
percebe que a maioria dos novos
movimentos não terá sucesso. O
mesmo vale para qualquer arquiteto,
engenheiro elétrico, escultor,
maratonista, amador ou
Afinal, o que é
ciência, senão uma maneira de
aprender com as coisas que não
funcionam e não apenas com as que
funcionam? O que esta ferramenta
sugere é que você busque o sucesso
enquanto está preparado para
aprender com uma série de
fracassos. Além disso
, você deve,
com cuidado, mas deliberadamente,
pressionar suas investigações ou
sucedidas a ponto
de quebrar, fracassar, parar, travar
ou falhar (KELLY, 2011).
Promover uma maior abertura para
o erro, entendendo os resultados
o parte importante do
processo de aprendizagem, é um dos
maiores valores dos laboratórios. E esse
valor se incorpora não apenas no
processo de tentativa e erro, próprio das
construções de artefatos, mas também no
estímulo a quebrar sistemas em
funcionament
o, como forma de entender
os seus limites e impulsioná
direção a melhorias.
2.3.3 Diversidade cognitiva
Outro ponto importante para
garantir que os espaços experimentais
contribuam para a transformação cultural
do seu entorno e estimulem reflexão e
produção crítica é a capacidade de gerar
diversidade de pensamentos, que
diversidade de “raça, gênero, situação
socioeconômica, área do conhecimento
são importantes, mas somente na medida
em que são elementos para os tipos de
experiências que produzem
cognitiva”
(ITO, 2016, p. 184).
Diversidade cognitiva, por sua vez,
é definida como a extensão em que o
grupo reflete diferenças de conhecimento,
incluindo crenças, preferências e
perspectivas (MILLER
et al
cada vez mais sendo
apontada como fator
importante para a construção de
conhecimento nas organizações, como
escrevem Rebecca Mitchell e Stephen
Nicholas (2006, p. 67-
74).
Ito afirma que, como é impossível
saber antecipadamente quais dos
diversos fatores, experiências
educacionais ou tendências intelectuais
podem produzir grandes avanços,
43
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
processo de tentativa e erro, próprio das
construções de artefatos, mas também no
estímulo a quebrar sistemas em
o, como forma de entender
os seus limites e impulsioná
-los em
2.3.3 Diversidade cognitiva
Outro ponto importante para
garantir que os espaços experimentais
contribuam para a transformação cultural
do seu entorno e estimulem reflexão e
produção crítica é a capacidade de gerar
diversidade de pensamentos, que
diversidade de “raça, gênero, situação
socioeconômica, área do conhecimento
são importantes, mas somente na medida
em que são elementos para os tipos de
experiências que produzem
diversidade
(ITO, 2016, p. 184).
Diversidade cognitiva, por sua vez,
é definida como a extensão em que o
grupo reflete diferenças de conhecimento,
incluindo crenças, preferências e
et al
, 1998) e vem
apontada como fator
importante para a construção de
conhecimento nas organizações, como
escrevem Rebecca Mitchell e Stephen
74).
Ito afirma que, como é impossível
saber antecipadamente quais dos
diversos fatores, experiências
educacionais ou tendências intelectuais
podem produzir grandes avanços,
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
set.
2020.
“devemos pensar em nossas diferenças
como forma de talento”.
Para Mitchell e Nicholas,
integração de diversas perspectivas e
conhecimentos previamente
desconectados sustenta a geração de
novos conhecimentos”. Eles explicam que
os grupos se comportam de modo mais
eficaz na criação de conhecimento
“quando [seus] membros individuais
acredita
m na liberdade de expressão e
valorizam a compreensão e a utilização de
pontos de vista divergentes” (MITCHELL;
NICHOLAS, 2006, p. 71)
10
.
A democratização da internet
permitiu que organizações pudessem
aderir a novas formas de trabalho,
ampliando assim a di
versidade de suas
equipes (e, por consequência, a geração
de conhecimento organizacional).
Cite-
se o exemplo de Matt
Mullenweg, analisado em artigo de
Romain
Dilliet. O empresário da indústria
de tecnologia fundou, no início dos anos
2000, uma empresa de s
oftware que, em
2019, valia mais de US$ 3 bilhões. Ela
opera em um modelo descentralizado, ou
seja, não possui uma sede central e
contrata colaboradores em vários países
do mundo (DILLIET, 2019). Mullenweg é o
CEO da Auttomatic, empresa por trás do
WordPre
ss.com, Jetpack e Woo
10
Embora alertem para o fato de que essa
mesma diferença de pensamentos é, muitas
vezes, geradora de conflitos interpessoais.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
“devemos pensar em nossas diferenças
Para Mitchell e Nicholas,
“a
integração de diversas perspectivas e
conhecimentos previamente
desconectados sustenta a geração de
novos conhecimentos”. Eles explicam que
os grupos se comportam de modo mais
eficaz na criação de conhecimento
“quando [seus] membros individuais
m na liberdade de expressão e
valorizam a compreensão e a utilização de
pontos de vista divergentes” (MITCHELL;
A democratização da internet
permitiu que organizações pudessem
aderir a novas formas de trabalho,
versidade de suas
equipes (e, por consequência, a geração
de conhecimento organizacional).
se o exemplo de Matt
Mullenweg, analisado em artigo de
Dilliet. O empresário da indústria
de tecnologia fundou, no início dos anos
oftware que, em
2019, valia mais de US$ 3 bilhões. Ela
opera em um modelo descentralizado, ou
seja, não possui uma sede central e
contrata colaboradores em vários países
do mundo (DILLIET, 2019). Mullenweg é o
CEO da Auttomatic, empresa por trás do
ss.com, Jetpack e Woo
Embora alertem para o fato de que essa
mesma diferença de pensamentos é, muitas
vezes, geradora de conflitos interpessoais.
Commerce, que juntas somam
novecentos funcionários. Para ele, a
distribuição geográfica dos funcionários
gera uma grande força para a empresa,
que acredita, conforme relata para a
plataforma TED, que:
Talento e inteligência estão
i
gualmente distribuídos pelo mundo.
Mas a oportunidade não está. No
Vale do Silício, as grandes empresas
de tecnologia basicamente pescam
na mesma pequena lagoa ou baía.
Uma empresa distribuída pode
pescar em todo o oceano. Em vez de
contratar alguém no Jap
mora na Califórnia, você pode
contratar alguém que acorda e vai
dormir onde quer que esteja no
mundo. Eles trazem uma
compreensão diferente dessa cultura
e experiência de vida diferente
Essa noção de inteligência
distribuída cooperando com as
or
ganizações sustenta as ações de
crowdsourcing
, “um modelo on
distribuído de solução de problemas e
produção que aproveita a inteligência
coletiva das comunidades on
atender a objetivos organizacionais
específicos”, conforme explica Daren C.
Brabham (2013, p. XIX).
Por meio do
pessoas com experiências muito variadas,
11
https://www.ted.com/talks/matt_mullenweg_w
hy_working_from_home_is_good_for_busines
s?language=pt-br#t-
94932
12
Exemplos comuns: o apli
Waze, que se baseia na informação coletada
do celular de cada usuário; desafios lançados
44
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Commerce, que juntas somam
novecentos funcionários. Para ele, a
distribuição geográfica dos funcionários
gera uma grande força para a empresa,
que acredita, conforme relata para a
Talento e inteligência estão
gualmente distribuídos pelo mundo.
Mas a oportunidade não está. No
Vale do Silício, as grandes empresas
de tecnologia basicamente pescam
na mesma pequena lagoa ou baía.
Uma empresa distribuída pode
pescar em todo o oceano. Em vez de
contratar alguém no Jap
ão, que
mora na Califórnia, você pode
contratar alguém que acorda e vai
dormir onde quer que esteja no
mundo. Eles trazem uma
compreensão diferente dessa cultura
e experiência de vida diferente
11
.
Essa noção de inteligência
distribuída cooperando com as
ganizações sustenta as ações de
, “um modelo on
-line
distribuído de solução de problemas e
produção que aproveita a inteligência
coletiva das comunidades on
-line para
atender a objetivos organizacionais
específicos”, conforme explica Daren C.
Brabham (2013, p. XIX).
Por meio do
crowdsourcing
12
,
pessoas com experiências muito variadas,
https://www.ted.com/talks/matt_mullenweg_w
hy_working_from_home_is_good_for_busines
94932
.
Exemplos comuns: o apli
cativo de trânsito
Waze, que se baseia na informação coletada
do celular de cada usuário; desafios lançados
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
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-
50
set.
2020.
de contextos distintos, podem trazer um
olhar diferente para um determinado
problema e ajudar a resolvê
ainda mais complexos os
questionamentos
propostos pelo
problema. Ito cita um estudo
de administração de Harvard, que
constata uma relação entre soluções bem
sucedidas e o que o pesquisador Karim
Lakhani chamou de distância do campo”:
“numa linguagem simples, quanto menos
um determina
do solucionador estiver
exposto à disciplina em que o problema
reside, mais propenso ele está de resolvê
lo” (ITO, 2016, p. 182, citando Lakhani,
Jeppesen, Lohse &
Panetta, 2006).
Nesse sentido, criar uma cultura
convidativa à diversidade de
pensamentos, a
traindo pessoas com
perfis variados em relação a gênero, raça,
idade, orientação sexual, condição social,
naturalidade, grau de instrução, área de
conhecimento, religião, gostos, interesses,
entre outros, é uma forma de garantir que
os laboratórios sejam b
erços de novas
ideias e questionamentos, abraçando,
inclusive, pontos de vista não óbvios
por empresas para fazer pesquisa e
desenvolvimento ou melhorar algum outro
processo interno, como os realizados pela
marca Adidas nos últimos anos (
2018).
13
https://www.hbs.edu/faculty/Publication%20Fi
les/07-050_1b57659d-78f0-
4686
925531f05a7b.pdf.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
de contextos distintos, podem trazer um
olhar diferente para um determinado
problema e ajudar a resolvê
-lo ou tornar
ainda mais complexos os
propostos pelo
problema. Ito cita um estudo
13
da escola
de administração de Harvard, que
constata uma relação entre soluções bem
-
sucedidas e o que o pesquisador Karim
Lakhani chamou de distância do campo”:
“numa linguagem simples, quanto menos
do solucionador estiver
exposto à disciplina em que o problema
reside, mais propenso ele está de resolvê
-
lo” (ITO, 2016, p. 182, citando Lakhani,
Panetta, 2006).
Nesse sentido, criar uma cultura
convidativa à diversidade de
traindo pessoas com
perfis variados em relação a gênero, raça,
idade, orientação sexual, condição social,
naturalidade, grau de instrução, área de
conhecimento, religião, gostos, interesses,
entre outros, é uma forma de garantir que
erços de novas
ideias e questionamentos, abraçando,
inclusive, pontos de vista não óbvios
.
por empresas para fazer pesquisa e
desenvolvimento ou melhorar algum outro
processo interno, como os realizados pela
marca Adidas nos últimos anos (
PERRY,
https://www.hbs.edu/faculty/Publication%20Fi
4686
-a764-
3. Conclusão
A noção de que os artefatos
resultam do diálogo entre os materiais e
os seus criadores, e não necessariamente
da materialização de ideias pré
planejadas, mostra como as atividades
manuais podem estimular o surgimento de
novas questões e formas de pensamento.
E, por isso, essa noção embasa
atividades e metodologias focadas no
desenvolvimento da criatividade, inclusive
dentro de instituições forma
Com a evolução da computação,
criar e testar sistemas tecnológicos
avançados de forma simples e acessível
não está mais restrito ao desenvolvimento
de códigos na camada do software, e
pode ocorrer, por exemplo, na junção dos
códigos com circuitos eletr
design da estrutura física feita por meio de
técnicas muito variadas (incluindo uso de
impressoras 3D ou até mesmo sucata).
Essas junções e linguagens têm
guiado o trabalho em escolas e
universidades, misturando inclusive
atividades manuais
sistemas computacionais. Isso tem sido
feito tanto para estimular o aprendizado
de habilidades técnicas (em conceitos
ligados a ciências, tecnologia, engenharia,
artes e matemática, o assim chamado
STEAM, do acrônimo em inglês), quanto
par
a estimular habilidades
socioemocionais, tais como trabalho em
equipe, criatividade, solução de problemas
45
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Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
A noção de que os artefatos
resultam do diálogo entre os materiais e
os seus criadores, e não necessariamente
da materialização de ideias pré
-
planejadas, mostra como as atividades
manuais podem estimular o surgimento de
novas questões e formas de pensamento.
E, por isso, essa noção embasa
atividades e metodologias focadas no
desenvolvimento da criatividade, inclusive
dentro de instituições forma
is.
Com a evolução da computação,
criar e testar sistemas tecnológicos
avançados de forma simples e acessível
não está mais restrito ao desenvolvimento
de códigos na camada do software, e
pode ocorrer, por exemplo, na junção dos
códigos com circuitos eletr
ônicos e com o
design da estrutura física feita por meio de
técnicas muito variadas (incluindo uso de
impressoras 3D ou até mesmo sucata).
Essas junções e linguagens têm
guiado o trabalho em escolas e
universidades, misturando inclusive
atividades manuais
tradicionais com
sistemas computacionais. Isso tem sido
feito tanto para estimular o aprendizado
de habilidades técnicas (em conceitos
ligados a ciências, tecnologia, engenharia,
artes e matemática, o assim chamado
STEAM, do acrônimo em inglês), quanto
a estimular habilidades
socioemocionais, tais como trabalho em
equipe, criatividade, solução de problemas
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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2020.
e pensamento crítico. As políticas de
incentivo ao ensino de STEAM
impulsionaram a criação de laboratórios,
usualmente chamado de
makerspaces
em esco
las, universidades e museus em
diversos países.
Este trabalho mostra que os
sejam independentes ou
institucionalizados, podem atuar para: (1)
estimular a conexão entre as diversas
áreas do saber; (2) conectar questões
teóricas com as questões prática
colaborando para soluções ligadas a
problemas macro e do cotidiano; (3) dar
visibilidade à diversidade de
pensamentos, ideias e visões de mundo; e
(4) permitir que ideias, aparatos, produtos
e processos novos surjam como resultado
da exploração guiada p
or tentativa e erro.
Ou seja, é justamente o caráter de
experimentação que deve estar no cerne
desses espaços para que eles consigam
estimular a curiosidade e promover
reflexão crítica
evitando se converter em
um mero ambiente de infraestrutura nova,
mas
que segue velhas práticas
um espaço vazio, sem engajamento de
participantes.
O presente artigo parte da
perspectiva de que esses espaços podem
ter um impacto efetivo
na cultura
entorno (seja ele uma escola, uma
empresa, um museu, um cent
pesquisa, uma universidade ou mesmo
um bairro) quando são
convertidos em
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
e pensamento crítico. As políticas de
incentivo ao ensino de STEAM
impulsionaram a criação de laboratórios,
makerspaces
,
las, universidades e museus em
Este trabalho mostra que os
labs,
sejam independentes ou
institucionalizados, podem atuar para: (1)
estimular a conexão entre as diversas
áreas do saber; (2) conectar questões
teóricas com as questões prática
s,
colaborando para soluções ligadas a
problemas macro e do cotidiano; (3) dar
visibilidade à diversidade de
pensamentos, ideias e visões de mundo; e
(4) permitir que ideias, aparatos, produtos
e processos novos surjam como resultado
or tentativa e erro.
Ou seja, é justamente o caráter de
experimentação que deve estar no cerne
desses espaços para que eles consigam
estimular a curiosidade e promover
evitando se converter em
um mero ambiente de infraestrutura nova,
que segue velhas práticas
ou ainda
um espaço vazio, sem engajamento de
O presente artigo parte da
perspectiva de que esses espaços podem
na cultura
do seu
entorno (seja ele uma escola, uma
empresa, um museu, um cent
ro de
pesquisa, uma universidade ou mesmo
convertidos em
lugar real
de experimentação e
vazão à
investigação proveniente da
aguçada curiosidade humana
então, os labs
estimulem questionamentos
e produção crítica, c
onvido a reflexão a
respeito de um grupo de valores que
acredito serem importantes nesse tipo de
experiência:
Antidisciplinaridad
e:
é fundamental que esses
espaços permitam pensamentos
não óbvios e que não se encaixem
facilmente nas disciplinas
consolidada
s, entendendo
relação entre o conhecimento e o
exercício do aprendizado como
uma troca fluida. Nesse sentido,
vale resgatar o conceito de
antidisciplinaridade apresentado
por Neri Oxman, que
ideia de que existem projetos e
pensamentos que não se
encaixam em nenhuma disciplina
acadêmica tradicional,
trabalham no espaço em branco
que está entre
além
das disciplinas”, como
resume Ito. Em
criado por ela, a hipótese
antidisciplinar indica que o
conhecimento
não pode mais ser
atribuído a, ou produzido dentro de
limites disciplinares, pois está
totalmente enredado.
integrador é importante não para
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- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
de experimentação e
assim dão
investigação proveniente da
aguçada curiosidade humana
. Para que,
estimulem questionamentos
onvido a reflexão a
respeito de um grupo de valores que
acredito serem importantes nesse tipo de
Antidisciplinaridad
é fundamental que esses
espaços permitam pensamentos
não óbvios e que não se encaixem
facilmente nas disciplinas
s, entendendo
a
relação entre o conhecimento e o
exercício do aprendizado como
uma troca fluida. Nesse sentido,
vale resgatar o conceito de
antidisciplinaridade apresentado
por Neri Oxman, que
remete à
ideia de que existem projetos e
pensamentos que não se
encaixam em nenhuma disciplina
acadêmica tradicional,
porque
trabalham no espaço em branco
ou simplesmente
das disciplinas”, como
modelo conceitual
criado por ela, a hipótese
antidisciplinar indica que o
não pode mais ser
atribuído a, ou produzido dentro de
limites disciplinares, pois está
totalmente enredado.
Esse olhar
integrador é importante não para
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
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set.
2020.
eliminar as disciplinas
existentes, mas para que os
espaços colaborem no necessário
diálogo entre es
pecialistas das
diversas áreas do conhecimento
com foco na construção conjunta,
e não apenas na colaboração
entre as disciplinas (a qual remete
ao conceito de
interdisciplinaridade).
Tolerância ao erro:
encarar os insucessos como parte
de uma jornada de ap
é fundamental para a geração de
ideias e a exploração de novas
linguagens. Na manipulação de
materiais e tecnologias que
ocorrem nos
labs,
tentativas frustradas são comuns e
criam uma cultura de mais
liberdade experimental e menor
necess
idade de produzir respostas
prontas. E é justamente esse o
papel dos labs
: estimular o
“aprender a aprender”, de uma
maneira ativa e auto direcionada; e
não mais o aprender como uma
capacidade de absorção de
conteúdos para a sua reprodução
ou imediata apli
cação. Aceitar
erro é indispensável para que os
espaços de fazer não virem um
lugar de reprodução e “cópia” de
conteúdos previamente elaborados
e, com isso, percam a sua
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
eliminar as disciplinas
existentes, mas para que os
espaços colaborem no necessário
pecialistas das
diversas áreas do conhecimento
com foco na construção conjunta,
e não apenas na colaboração
entre as disciplinas (a qual remete
ao conceito de
Tolerância ao erro:
encarar os insucessos como parte
de uma jornada de ap
rendizagem
é fundamental para a geração de
ideias e a exploração de novas
linguagens. Na manipulação de
materiais e tecnologias que
labs,
erros e
tentativas frustradas são comuns e
criam uma cultura de mais
liberdade experimental e menor
idade de produzir respostas
prontas. E é justamente esse o
: estimular o
“aprender a aprender”, de uma
maneira ativa e auto direcionada; e
não mais o aprender como uma
capacidade de absorção de
conteúdos para a sua reprodução
cação. Aceitar
o
erro é indispensável para que os
espaços de fazer não virem um
lugar de reprodução e “cópia” de
conteúdos previamente elaborados
e, com isso, percam a sua
capacidade de estimular
pensamento crítico.
Diversidade
cognitiva:
estimular que os
labs
sejam frequentados por
grupos heterogêneos e
diversos, do ponto de vista de
gênero, raça, situação
socioeconômica, área de
atuação, idade e religião,
permite uma ampliação de
visões tanto no processo de
aprendizagem quanto no
desenvolvimento de artefatos.
Entender nossas diferenças
como talentos é uma forma
importante para estimular uma
cultura que convida olhares
diferentes e, a partir delas, gera
questionamentos e ideias.
espaço que reúne artistas e
engenheiros tende a estar mais
próximo de atender os
objetivos listados acima do que
um que reúne apenas
estudantes de engenharia, por
exemplo.
Esses valores, longe de
representar uma conclusão pronta e
acabada, são apenas um ponto de partida
para que outros olhares sejam somados
na busca de entender como esses
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Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
capacidade de estimular
pensamento crítico.
Diversidade
estimular que os
sejam frequentados por
grupos heterogêneos e
diversos, do ponto de vista de
gênero, raça, situação
socioeconômica, área de
atuação, idade e religião,
permite uma ampliação de
visões tanto no processo de
aprendizagem quanto no
desenvolvimento de artefatos.
Entender nossas diferenças
como talentos é uma forma
importante para estimular uma
cultura que convida olhares
diferentes e, a partir delas, gera
questionamentos e ideias.
Um
espaço que reúne artistas e
engenheiros tende a estar mais
próximo de atender os
quatro
objetivos listados acima do que
um que reúne apenas
estudantes de engenharia, por
Esses valores, longe de
representar uma conclusão pronta e
acabada, são apenas um ponto de partida
para que outros olhares sejam somados
na busca de entender como esses
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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ambientes podem ser mais bem
aproveitados para estimular que as
inovações do século XXI
preocupações de um conjunto mais amplo
de agentes da sociedade.
Nesse sentido, cabe lembrar que
as tecnologias e novas ferramentas
podem contribuir de imediato com
questões sociais urgentes (como a
erradicação da pobreza, a justa
distribuição
de alimentos pela população
mundial, a mitigação das mudanças
climáticas, a redução das desigualdades
sociais), ao escalar soluções, otimizar
fluxos e processos, por exemplo. E elas
podem também contribuir para
materializar ideias que especulem sobre
futur
os desejáveis, permitindo, inclusive,
maior entendimento dos desafios que
moldam o presente.
Imaginar como o futuro pode ser
passa por redefinir a nossa relação com a
realidade. E levanta possibilidades que
podem ser discutidas, debatidas e usadas
para def
inir coletivamente um futuro
preferível ou desejável. Nesse sentido, os
espaços de fazer podem ser uma
infraestrutura que traga à tona os sonhos
coletivos e nos inspire
“a imaginar que as
coisas podem ser radicalmente diferentes
do que são hoje, e acredita
r que podemos
progredir em direção a esse mundo
imaginário”, tal como descrevem Dunne e
Raby.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
ambientes podem ser mais bem
aproveitados para estimular que as
reflitam as
preocupações de um conjunto mais amplo
Nesse sentido, cabe lembrar que
as tecnologias e novas ferramentas
podem contribuir de imediato com
questões sociais urgentes (como a
erradicação da pobreza, a justa
de alimentos pela população
mundial, a mitigação das mudanças
climáticas, a redução das desigualdades
sociais), ao escalar soluções, otimizar
fluxos e processos, por exemplo. E elas
podem também contribuir para
materializar ideias que especulem sobre
os desejáveis, permitindo, inclusive,
maior entendimento dos desafios que
Imaginar como o futuro pode ser
passa por redefinir a nossa relação com a
realidade. E levanta possibilidades que
podem ser discutidas, debatidas e usadas
inir coletivamente um futuro
preferível ou desejável. Nesse sentido, os
espaços de fazer podem ser uma
infraestrutura que traga à tona os sonhos
“a imaginar que as
coisas podem ser radicalmente diferentes
r que podemos
progredir em direção a esse mundo
imaginário”, tal como descrevem Dunne e
Dessa forma, os espaços de fazer
podem desempenhar papel similar ao
papel do design/designer defendido por
Dunne e Raby no processo de construção
de futuros:
Desi
gners não devem definir futuros
para todos os outros, mas trabalhar
com especialistas, incluindo
especialistas em ética, cientistas
políticos, economistas e outros,
gerando futuros que atuam como
catalisadores para o debate público e
a discussão sobre os t
que as pessoas realmente desejam.
O design pode dar aos especialistas
permissão para deixar a imaginação
fluir livremente, dar expressão
material aos insights gerados,
fundamentar essas imaginações nas
situações cotidianas e fornecer
plataf
ormas para mais especulações
colaborativas.
Acreditamos que, especulando mais,
em todos os níveis da sociedade, e
explorando cenários alternativos, a
realidade se tornará mais maleável
e, embora o futuro não possa ser
previsto, podemos ajudar a
estabelecer
hoje fatores que
aumentarão a probabilidade de
futuros mais desejáveis
acontecerem. E, igualmente, fatores
que podem levar a futuros
indesejáveis podem ser identificados
desde o início e ser abordados ou
pelo menos limitados (
RABY, 2013, p. 6
É
a partir desta abordagem que o
presente artigo buscou evidenciar a
importância da existência de espaços de
experimentação tecnológica como
fomentadores de uma cultura em que os
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- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Dessa forma, os espaços de fazer
podem desempenhar papel similar ao
papel do design/designer defendido por
Dunne e Raby no processo de construção
gners não devem definir futuros
para todos os outros, mas trabalhar
com especialistas, incluindo
especialistas em ética, cientistas
políticos, economistas e outros,
gerando futuros que atuam como
catalisadores para o debate público e
a discussão sobre os t
ipos de futuros
que as pessoas realmente desejam.
O design pode dar aos especialistas
permissão para deixar a imaginação
fluir livremente, dar expressão
material aos insights gerados,
fundamentar essas imaginações nas
situações cotidianas e fornecer
ormas para mais especulações
Acreditamos que, especulando mais,
em todos os níveis da sociedade, e
explorando cenários alternativos, a
realidade se tornará mais maleável
e, embora o futuro não possa ser
previsto, podemos ajudar a
hoje fatores que
aumentarão a probabilidade de
futuros mais desejáveis
acontecerem. E, igualmente, fatores
que podem levar a futuros
indesejáveis podem ser identificados
desde o início e ser abordados ou
pelo menos limitados (
DUNNE;
RABY, 2013, p. 6
).
a partir desta abordagem que o
presente artigo buscou evidenciar a
importância da existência de espaços de
experimentação tecnológica como
fomentadores de uma cultura em que os
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
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2020.
cidadãos possam assumir o protagonismo
e construir juntos outros futuros possív
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to stand and I will move the world! Life
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Cultura, Tecnologia e Sociedade
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to stand and I will move the world! Life
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