GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45785
Resumo
: Esse texto é tecido a partir da pesquisa realizada por uma das autoras que,com o auxílio
dos estudos nos/dos/com os cotidianos, através das narrativas dos estudantes, buscou conhecer as
formas com as quais jovens estudantes de uma escola estadual do bair
Duque de Caxias, habitam a cidade, o bairro e os ambientes em que vivem. Essa ideia surgiu nos
afetamentos das conversas cotidianas de sala de aula entre tal professora, que trabalha com ensino
de Ciências, e as e os estudantes, os
sobre suas relações e deslocamentos pelo espaço em que habitam e o quanto são impactados por
ele. Através de rodas de imagens e conversas, com a ideia de potencializar o encontro e de pensar
colet
ivamente, buscamos pensar quais usos esses jovens fazem dos espaços e ambientes em que
vivem. Apresentaremos, ao final, as fotografias produzidas pelos jovens e as reflexões tecidas nas
conversas com tais fotografias.
Palavras-chave
Sobre juventudes y lo vivir la periferia de Duque de Caxias
Resumen:
Este texto es tejido a partir de una investigación realizada por una de las autoras que, con
el auxilio de los estudios en los/ de los/ con los cotidianos, a través de las narrativas de los
estudiantes, buscó conocer las formas con las cuales jóvenes estud
del barrio Jardim Primavera, en Duque de Caxias, habitan la ciudad, el barrio y los ambientes en que
viven. Esa idea surgde las conversaciones en aula entre tal profesora, que trabaja con enseñanza
de ciencias, y los est
udiantes, los
narraban sobre sus relaciones y desplazamientos por el espacio donde habitan y lo cuanto son
impactados por él. A través de ruedas de imágenes y conversaciones, con la idea de potencializar el
encuentro y de pensar col
ectivamente, buscamos pensar cuales usos esos jóvenes hacen de los
espacios y ambientes en que viven. Presentaremos, al final, las fotografías producidas por los
jóvenes y las reflexiones tejidas en las conversaciones con tales fotografías.
1
Ravelly Machado Soares Güntensperger
Educação do Rio de Janeiro.
Mestra
E-mail: ravellyms@gmail.com -
https://
2
Livia Baptista Nicolini.
Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (EBS/Fiocruz
do IFRJ -
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
livia.nicolini@ifrj.edu.br - https://
orcid.org/0000
Texto recebido em 06/09/20
20,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45785
Ravelly Machado Soares Güntensperger
Livia Baptista Nicolini
: Esse texto é tecido a partir da pesquisa realizada por uma das autoras que,com o auxílio
dos estudos nos/dos/com os cotidianos, através das narrativas dos estudantes, buscou conhecer as
formas com as quais jovens estudantes de uma escola estadual do bair
ro Jardim Primavera, em
Duque de Caxias, habitam a cidade, o bairro e os ambientes em que vivem. Essa ideia surgiu nos
afetamentos das conversas cotidianas de sala de aula entre tal professora, que trabalha com ensino
de Ciências, e as e os estudantes, os
praticantespensantes
da cidade e da escola, quando narravam
sobre suas relações e deslocamentos pelo espaço em que habitam e o quanto são impactados por
ele. Através de rodas de imagens e conversas, com a ideia de potencializar o encontro e de pensar
ivamente, buscamos pensar quais usos esses jovens fazem dos espaços e ambientes em que
vivem. Apresentaremos, ao final, as fotografias produzidas pelos jovens e as reflexões tecidas nas
: Estudos com os
cotidianos; juventudes; habitar; cidades;
ensino de ciências.
Sobre juventudes y lo vivir la periferia de Duque de Caxias
Este texto es tejido a partir de una investigación realizada por una de las autoras que, con
el auxilio de los estudios en los/ de los/ con los cotidianos, a través de las narrativas de los
estudiantes, buscó conocer las formas con las cuales jóvenes estud
iantes de una escuela provincial
del barrio Jardim Primavera, en Duque de Caxias, habitan la ciudad, el barrio y los ambientes en que
viven. Esa idea surgde las conversaciones en aula entre tal profesora, que trabaja con enseñanza
udiantes, los
practicantespensantes
de la ciudad y de la escuela, cuando
narraban sobre sus relaciones y desplazamientos por el espacio donde habitan y lo cuanto son
impactados por él. A través de ruedas de imágenes y conversaciones, con la idea de potencializar el
ectivamente, buscamos pensar cuales usos esos jóvenes hacen de los
espacios y ambientes en que viven. Presentaremos, al final, las fotografías producidas por los
jóvenes y las reflexiones tejidas en las conversaciones con tales fotografías.
Ravelly Machado Soares Güntensperger
.
Professora de Ciências na Secretaria Estadual de
Mestra
nda
em Educação, pela Universidade Federal Fluminense
https://
orcid.org/0000-0002-8783-0327
Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (EBS/Fiocruz
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
, Brasil.
orcid.org/0000
-0001-7309-2012
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
194
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Ravelly Machado Soares Güntensperger
1
Livia Baptista Nicolini
2
: Esse texto é tecido a partir da pesquisa realizada por uma das autoras que,com o auxílio
dos estudos nos/dos/com os cotidianos, através das narrativas dos estudantes, buscou conhecer as
ro Jardim Primavera, em
Duque de Caxias, habitam a cidade, o bairro e os ambientes em que vivem. Essa ideia surgiu nos
afetamentos das conversas cotidianas de sala de aula entre tal professora, que trabalha com ensino
da cidade e da escola, quando narravam
sobre suas relações e deslocamentos pelo espaço em que habitam e o quanto são impactados por
ele. Através de rodas de imagens e conversas, com a ideia de potencializar o encontro e de pensar
ivamente, buscamos pensar quais usos esses jovens fazem dos espaços e ambientes em que
vivem. Apresentaremos, ao final, as fotografias produzidas pelos jovens e as reflexões tecidas nas
ensino de ciências.
Este texto es tejido a partir de una investigación realizada por una de las autoras que, con
el auxilio de los estudios en los/ de los/ con los cotidianos, a través de las narrativas de los
iantes de una escuela provincial
del barrio Jardim Primavera, en Duque de Caxias, habitan la ciudad, el barrio y los ambientes en que
viven. Esa idea surgde las conversaciones en aula entre tal profesora, que trabaja con enseñanza
de la ciudad y de la escuela, cuando
narraban sobre sus relaciones y desplazamientos por el espacio donde habitan y lo cuanto son
impactados por él. A través de ruedas de imágenes y conversaciones, con la idea de potencializar el
ectivamente, buscamos pensar cuales usos esos jóvenes hacen de los
espacios y ambientes en que viven. Presentaremos, al final, las fotografías producidas por los
Professora de Ciências na Secretaria Estadual de
em Educação, pela Universidade Federal Fluminense
, Brasil.
Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (EBS/Fiocruz
).Professora
, Brasil.
E-mail:
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
Palabras clave
: Estudios con los cotidianos
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
Abstract
: This text is woven from the research realized by one of the authors who, with the help of
studies in / of / with daily life, through the students' narratives, sought to know the ways in which young
students from a state school in the Jardim Primavera nei
city, the neighborhood and the environments in which they live. This idea arises in the impacts of daily
classroom conversations between such a teacher who works with science teaching and the students,
the thinkerspractitioners
of the city and the school, when they narrate about their relationships and
displacements through the space they live in and how much are impacted by it. Through images and
conversations circles, with the idea of enhancing the encounter and
think about what uses these youth make of the spaces and environments in which they live. At the
end, we will present the photographs produced by the youth and the reflections made in the
conversations with such photograph
Keywords
: Studies with daily life
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Introdução
Os estudos nos/dos/com
cotidianos nos ajudam a estudar
movimentos que brotam no dia a dia
do cotidiano escolar, como, por
exemplo, nas conversas entre
estudantes e sua professora de
C
iências. Nessas conversas, ao nos
permitirmos pensar com nossos
interlocutores, podemos entrar em um
movimento e ampliar nossas redes de
conhecimentos e significações. A
3
Nos estudos com os cotidianos buscamos
aglutinar palavras consideradas antagônicas,
tais como dentrofora,
espaçotempo
aprenderensinar
contra os binarismos e dicotomias que as
entendem como opostas. Esta sobreposição
também
acontece por entender o
en
trelaçamento de tais palavras.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
: Estudios con los cotidianos
; juventudes; habitar; ciudades;
enseñanza de ciencias
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
: This text is woven from the research realized by one of the authors who, with the help of
studies in / of / with daily life, through the students' narratives, sought to know the ways in which young
students from a state school in the Jardim Primavera nei
ghborhood, in Duque de Caxias, inhabit the
city, the neighborhood and the environments in which they live. This idea arises in the impacts of daily
classroom conversations between such a teacher who works with science teaching and the students,
of the city and the school, when they narrate about their relationships and
displacements through the space they live in and how much are impacted by it. Through images and
conversations circles, with the idea of enhancing the encounter and
thinking collectively, we seek to
think about what uses these youth make of the spaces and environments in which they live. At the
end, we will present the photographs produced by the youth and the reflections made in the
conversations with such photograph
s.
: Studies with daily life
; youth; inhabit; cities; science teaching.
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Os estudos nos/dos/com
3
os
cotidianos nos ajudam a estudar
movimentos que brotam no dia a dia
do cotidiano escolar, como, por
exemplo, nas conversas entre
estudantes e sua professora de
iências. Nessas conversas, ao nos
permitirmos pensar com nossos
interlocutores, podemos entrar em um
movimento e ampliar nossas redes de
conhecimentos e significações. A
Nos estudos com os cotidianos buscamos
aglutinar palavras consideradas antagônicas,
espaçotempo
,
, como uma provocação
contra os binarismos e dicotomias que as
entendem como opostas. Esta sobreposição
acontece por entender o
trelaçamento de tais palavras.
pesquisa que deu origem a esse artigo
foi tecida nas conversas cotidianas
que foram, t
ambém, afetadas por
questões relacionadas aos espaços
habitados pela professora e alunas/os.
A pesquisa buscou pensar com
as narrativas das juventudes que nos
contam como são tecidas suas
relações cotidianas com o espaço em
que vivem, pois entendemos com
O
liveira e Sgarbi (2008) que o
cotidiano não é um espaço de mera
repetição do senso-
comum, mas sim é
espaçotempo
de produção de
conhecimento que reflete no
dentrofora
da escola. Desta forma:
O cotidiano é o
complexidade da vida social na qual
se inscreve toda produção de
195
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
enseñanza de ciencias
.
: This text is woven from the research realized by one of the authors who, with the help of
studies in / of / with daily life, through the students' narratives, sought to know the ways in which young
ghborhood, in Duque de Caxias, inhabit the
city, the neighborhood and the environments in which they live. This idea arises in the impacts of daily
classroom conversations between such a teacher who works with science teaching and the students,
of the city and the school, when they narrate about their relationships and
displacements through the space they live in and how much are impacted by it. Through images and
thinking collectively, we seek to
think about what uses these youth make of the spaces and environments in which they live. At the
end, we will present the photographs produced by the youth and the reflections made in the
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
pesquisa que deu origem a esse artigo
foi tecida nas conversas cotidianas
ambém, afetadas por
questões relacionadas aos espaços
habitados pela professora e alunas/os.
A pesquisa buscou pensar com
as narrativas das juventudes que nos
contam como são tecidas suas
relações cotidianas com o espaço em
que vivem, pois entendemos com
liveira e Sgarbi (2008) que o
cotidiano não é um espaço de mera
comum, mas sim é
de produção de
conhecimento que reflete no
da escola. Desta forma:
O cotidiano é o
espaçotempo da
complexidade da vida social na qual
se inscreve toda produção de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
conhecimento e práticas científicas,
sociais, grupais, individuais. Daí a
extrema importância de aprofundar
seu estudo e desenvolver a
compreensão de sua complexidade
intrínseca para pensa
realidade social e as possibilidades
emancipatórias que nela se
inscrevem. (OLIVEIRA
2008, p. 72).
Como metodologia, inspiradas
por Andrade e Guerreiro (2019),
através de uma roda de imagens e
conversas, conversamos com as
juventudes de um
a escola na periferia
do bairro Jardim Primavera, em Duque
de Caxias e com as fotografias
produzidas por elas, como forma de,
com Certeau (2014), pensarmos
formas de habitar tal bairro a partir
usos que fazem do espaço e dos
ambientes em que vivem.
Sobre o habitar
Os estudos nos/dos/com
cotidianos nos ajudam a entender
esses como
espaçotempo
complexo
de produção de
conhecimentos e subjetividades em
rede, e dessa forma, ajudam a pensar
os usos e táticas
que
praticantespensantes
, os usu
cidade, fazem dos espaços em que
vivem.
A tessitura de conhecimentos e
significações em rede desestabiliza
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
conhecimento e práticas científicas,
sociais, grupais, individuais. Daí a
extrema importância de aprofundar
seu estudo e desenvolver a
compreensão de sua complexidade
intrínseca para pensa
rmos a
realidade social e as possibilidades
emancipatórias que nela se
inscrevem. (OLIVEIRA
; SGARBI,
Como metodologia, inspiradas
por Andrade e Guerreiro (2019),
através de uma roda de imagens e
conversas, conversamos com as
a escola na periferia
do bairro Jardim Primavera, em Duque
de Caxias e com as fotografias
produzidas por elas, como forma de,
com Certeau (2014), pensarmos
formas de habitar tal bairro a partir
dos
usos que fazem do espaço e dos
Os estudos nos/dos/com
cotidianos nos ajudam a entender
espaçotempo
diverso e
de produção de
conhecimentos e subjetividades em
rede, e dessa forma, ajudam a pensar
que
jovens
, os usu
ários da
cidade, fazem dos espaços em que
A tessitura de conhecimentos e
significações em rede desestabiliza
uma ideia de produção de
conhecimento hierarquizada,
fragmentada e hegemônica. Valoriza
os diferentes saberes que acontecem
nas relações so
ciais dessas redes,
uma vez que compreende os
diferentes
praticantespensantes
inseridos no mundo e o entendem de
forma diversa, inclusive os seus
cotidianos. Segundo Oliveira (2008
54):
A tessitura das redes e práticas
sociais reais se dá através de
táticas dos praticantes’ que inserem
na estrutura social criatividade e
pluralidade, modificadores das
regras e das relações entre o poder
da dominação e a vida dos que a ele
estão, su
postamente, submetidos.
Para pensar o habitar nos
aproximamos d
e Certeau (2014) para
elaborar as estratégias e táticas
envolvidas nos usos que fazemos dos
espaços em que vivemos. Assim, os
usos se relacionam com as maneiras
de fazer, as formas com as quais
manipulam-
se produtos e regras
impostas por um poder hegemônic
disciplinador. A essas regras podemos
entender como as estratégias. Já as
táticas acontecem quando os
praticantespensant
es de um espaço
alteram as ordens impostas por um
poder hegemônico, utilizando
manipulando-
as de novas maneiras e,
196
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
uma ideia de produção de
conhecimento hierarquizada,
fragmentada e hegemônica. Valoriza
os diferentes saberes que acontecem
ciais dessas redes,
uma vez que compreende os
praticantespensantes
inseridos no mundo e o entendem de
forma diversa, inclusive os seus
cotidianos. Segundo Oliveira (2008
, p.
A tessitura das redes e práticas
sociais reais se dá através de
‘usos e
táticas dos praticantes’ que inserem
na estrutura social criatividade e
pluralidade, modificadores das
regras e das relações entre o poder
da dominação e a vida dos que a ele
postamente, submetidos.
Para pensar o habitar nos
e Certeau (2014) para
elaborar as estratégias e táticas
envolvidas nos usos que fazemos dos
espaços em que vivemos. Assim, os
usos se relacionam com as maneiras
de fazer, as formas com as quais
se produtos e regras
impostas por um poder hegemônic
o
disciplinador. A essas regras podemos
entender como as estratégias. Já as
táticas acontecem quando os
es de um espaço
alteram as ordens impostas por um
poder hegemônico, utilizando
-as e
as de novas maneiras e,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
com isso, “ins
erem, na estrutura social,
criatividade e pluralidade,
modificadores das regras e das
relações entre o poder da dominação e
a vida dos que a ela estão,
supostamente, submetidos” (BASTOS
BARONI, 2019, p. 5).
Para compreender as maneiras
de os praticantes u
tilizarem a ordem
imposta pelo sistema urbano de uma
cidade, d
a qual não participam
diretamente de sua produção, é
importante compreender as maneiras
de fazer o cotidiano, ou seja, as táticas
daqueles que vivem na cidade, nos
usos que jovens fazem da cidad
Assim, táticas são as formas de
apropriação do espaço vivido. As
táticas acontecem nas práticas
cotidianas como forma de resistência a
estruturas de poder de um lugar.
As maneiras de fazer ou as
artes de fazer são o que os estudos
nos/dos/com os cotidia
nos pretendem
captar, na busca por compreender
como acontecem suas produções,
como são negociadas e seus sistemas
de funcionamento e desenvolvimento
(OLIVEIRA, 2008).
As juventudes estudantes de
uma escola da periferia de Duque de
Caxias, localizada no bai
rro de Jardim
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
erem, na estrutura social,
criatividade e pluralidade,
modificadores das regras e das
relações entre o poder da dominação e
a vida dos que a ela estão,
supostamente, submetidos” (BASTOS
;
Para compreender as maneiras
tilizarem a ordem
imposta pelo sistema urbano de uma
a qual não participam
diretamente de sua produção, é
importante compreender as maneiras
de fazer o cotidiano, ou seja, as táticas
daqueles que vivem na cidade, nos
usos que jovens fazem da cidad
e.
Assim, táticas são as formas de
apropriação do espaço vivido. As
táticas acontecem nas práticas
cotidianas como forma de resistência a
estruturas de poder de um lugar.
As maneiras de fazer ou as
artes de fazer são o que os estudos
nos pretendem
captar, na busca por compreender
como acontecem suas produções,
como são negociadas e seus sistemas
de funcionamento e desenvolvimento
As juventudes estudantes de
uma escola da periferia de Duque de
rro de Jardim
Primavera, são os
praticantespensantes
cotidianos dentro e fora da escola.
Gostaríamos de pensar com elas e
eles sobre as possibilidades de habitar
um bairro, entendendo que os
“habitares” estão relacionados com os
usos que faze
m desse bairro.
Aqui entendemos que a
juventude não é homog
reduzimos a uma fase de transição da
vida. Mas a compreendemos, também,
como uma categoria sociocultural
mente produzida e que com isso não
uma única forma de ser jovem. Por
isso, e
scolhemos aqui, falar sobre as
juventudes de um bairro. Nesse
sentido, Enne e Passos (2018)
afirmam que “em uma mesma
espacialidade físico e social, muitos
sentidos de juventudes podem
conviver, se atravessar, entrar em
conflito, se complementar, revelar
p
ossibilidades diferentes de ser e estar
no mundo” (ENNE;
p.125).
Apesar de haver a tentativa de
homogeneizar a juventude com o
objetivo de produzir estatísticas e
pensar políticas públicas, segundo
Dayrell (2003) as juventudes são
produzidas
de formas particulares por
197
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Primavera, são os
que vivenciam
cotidianos dentro e fora da escola.
Gostaríamos de pensar com elas e
eles sobre as possibilidades de habitar
um bairro, entendendo que os
“habitares” estão relacionados com os
m desse bairro.
Aqui entendemos que a
juventude não é homog
ênea. Não a
reduzimos a uma fase de transição da
vida. Mas a compreendemos, também,
como uma categoria sociocultural
-
mente produzida e que com isso não
uma única forma de ser jovem. Por
scolhemos aqui, falar sobre as
juventudes de um bairro. Nesse
sentido, Enne e Passos (2018)
afirmam que “em uma mesma
espacialidade físico e social, muitos
sentidos de juventudes podem
conviver, se atravessar, entrar em
conflito, se complementar, revelar
ossibilidades diferentes de ser e estar
PASSOS, 2018,
Apesar de haver a tentativa de
homogeneizar a juventude com o
objetivo de produzir estatísticas e
pensar políticas públicas, segundo
Dayrell (2003) as juventudes são
de formas particulares por
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
diferentes sociedades e grupos
sociais. Suas produções envolvem
“classes sociais, etnias, valores,
posições religiosas, espaços
geográficos, gêneros e muitos outros”
(MELO et al.
, 2012, p. 164). Assim, as
juventudes são também re
construções sociais.
Reduzir juventudes a uma fase
da vida que possui determinada
duração, como uma fase de
preparação e de transição para a vida
adulta (com um fim determinado), ou
então a uma fase romantizada
permeada por ações irresponsávei
que busca por prazer e liberdade e
possui práticas consideradas exóticas,
pode proporcionar uma compreensão
limitada das vivências dos jovens.
Como se a juventude fosse única,
homogênea, bem como produz uma
perspectiva rotulada de tal
grupo.Como Dayrell
(2003
destaca:
Entendemos a juventude como parte
de um processo mais amplo de
constituição de sujeitos, mas que
tem especificidades que marcam a
vida de cada um. A juventude
constitui um momento determinado,
mas não se reduz a uma passagem;
ela assum
e uma importância em si
mesma.
A idealização de uma juventude
como uma fase de dedicação aos
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
diferentes sociedades e grupos
sociais. Suas produções envolvem
“classes sociais, etnias, valores,
posições religiosas, espaços
geográficos, gêneros e muitos outros”
, 2012, p. 164). Assim, as
juventudes são também re
sultados de
Reduzir juventudes a uma fase
da vida que possui determinada
duração, como uma fase de
preparação e de transição para a vida
adulta (com um fim determinado), ou
então a uma fase romantizada
permeada por ações irresponsávei
s,
que busca por prazer e liberdade e
possui práticas consideradas exóticas,
pode proporcionar uma compreensão
limitada das vivências dos jovens.
Como se a juventude fosse única,
homogênea, bem como produz uma
perspectiva rotulada de tal
(2003
, p. 42)
Entendemos a juventude como parte
de um processo mais amplo de
constituição de sujeitos, mas que
tem especificidades que marcam a
vida de cada um. A juventude
constitui um momento determinado,
mas não se reduz a uma passagem;
e uma importância em si
A idealização de uma juventude
como uma fase de dedicação aos
estudos e ao lazer, livre das pressões
impostas pelo mundo do trabalho não
é vivenciada pela maioria dos jovens
brasileiros. As juventudes se
constituem a part
ir das vivências dos
sujeitos com as suas realidades sócio
históricas. Sua heterogeneidade é
também influenciada pelas
desigualdades sociais que impactam
nas produções das identidades dos
jovens (MELO et al.
, 2012; CARRANO,
2009). Enne e Passos (2018)
dest
acam que para pensar a juventude
e suas relações, por exemplo, com os
espaços urbanos em que vivem, é
necessário complexificar essa
categoria e, para isso, historicizar os
sujeitos e práticas “levando em
consideração variáveis sociais e
culturais” (ENNE; P
ASSOS, 2018, p.
126).
Ao retratar os jovens pobres é
importante salientar que a condição da
pobreza impacta em suas trajetórias
de vida, nas produções e vivências de
suas juventudes. Por exemplo, é
comum que esses jovens precisem
entrar no mercado de traba
mesmo de concluírem a Educação
Básica ou de ingressarem na
Universidade. Essa realidade acaba
interrompendo a linearidade de uma
198
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
estudos e ao lazer, livre das pressões
impostas pelo mundo do trabalho não
é vivenciada pela maioria dos jovens
brasileiros. As juventudes se
ir das vivências dos
sujeitos com as suas realidades sócio
-
históricas. Sua heterogeneidade é
também influenciada pelas
desigualdades sociais que impactam
nas produções das identidades dos
, 2012; CARRANO,
2009). Enne e Passos (2018)
acam que para pensar a juventude
e suas relações, por exemplo, com os
espaços urbanos em que vivem, é
necessário complexificar essa
categoria e, para isso, historicizar os
sujeitos e práticas “levando em
consideração variáveis sociais e
ASSOS, 2018, p.
Ao retratar os jovens pobres é
importante salientar que a condição da
pobreza impacta em suas trajetórias
de vida, nas produções e vivências de
suas juventudes. Por exemplo, é
comum que esses jovens precisem
entrar no mercado de traba
lho antes
mesmo de concluírem a Educação
Básica ou de ingressarem na
Universidade. Essa realidade acaba
interrompendo a linearidade de uma
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
juventude única e romantizada
(DAYRELL, 2007). No caso de jovens
pobres e negros essa condição não é
incomum. Parte d
eles abandona a
escola para trabalhar como forma de
sobrevivência e mais tarde, não
necessariamente, retornam aos
estudos (CARRANO et al.
, 2015).
Segundo Carrano (2009),
jovens periferizados possuem uma
limitação em seus deslocamentos
estabelecida por
fatores econômicos
e/ou pela imposição da cidade de
“muros invisíveis” aos que a ocupam
(CARRANO, 2009). De modo geral, o
direito à cidade é diferente para os
diferentes grupos sociais que a
habitam,
o que implica em sua
experiê
ncias pela cidade e pelo ba
Ao pensar na periferia, não é
incomum nos depararmos com
narrativas midiáticas que reduzem a
periferia ao lugar da violência, dos
perigos e da pobreza; que marginaliza
determinadas culturas nelas
produzidas, e entende periferia
enquanto longe da pro
dução cultural
de um suposto centro produtor
hegemônico. Esse trabalho pensa a
periferia em diálogo com Kilomba
(2019), a respeito da periferização ou
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
juventude única e romantizada
(DAYRELL, 2007). No caso de jovens
pobres e negros essa condição não é
eles abandona a
escola para trabalhar como forma de
sobrevivência e mais tarde, não
necessariamente, retornam aos
, 2015).
Segundo Carrano (2009),
jovens periferizados possuem uma
limitação em seus deslocamentos
fatores econômicos
e/ou pela imposição da cidade de
“muros invisíveis” aos que a ocupam
(CARRANO, 2009). De modo geral, o
direito à cidade é diferente para os
diferentes grupos sociais que a
o que implica em sua
s
ncias pela cidade e pelo ba
irro.
Ao pensar na periferia, não é
incomum nos depararmos com
narrativas midiáticas que reduzem a
periferia ao lugar da violência, dos
perigos e da pobreza; que marginaliza
determinadas culturas nelas
produzidas, e entende periferia
dução cultural
de um suposto centro produtor
hegemônico. Esse trabalho pensa a
periferia em diálogo com Kilomba
(2019), a respeito da periferização ou
marginalização de determinados
grupos.
Essa autora, em diálogo com
bell hooks
4
reflete que estar à margem
“é ser parte do todo, mas fora do corpo
principal” (KILOMBA, 2019, p. 67). A
ideia baseia-
se na vivência de
enquanto mulher preta moradora da
periferia de uma cidade. A ela era
permitido frequentar o centro da
cidade com
o trabalhadora, para depois
retornar à margem. Entretanto, a
autora chama atenção para que a
margem não seja reduzida a um
espaço periférico em que há apenas
perdas e privações, mas como um
espaço de resistência às opressões,
de possibilidades e criativida
produzem novos discursos que
desestabilizam discursos
hegemônicos
, onde são produzidos
mundos. Kilomba (2019) alerta para a
importância de entender as margens
como um local complexo e diverso, e
por isso, é preciso estar atento para o
perigo da ro
mantização da opressão
quando falamos sobre as margens,
4
O nome da autora bell h
ooks
pseudônimo em homenagem a sua avó e é
grafado em letra minúscula pois desta forma a
autora busca romper com a ideia de
superioridade do autor. Para ela, o
títulos do autor não possuem mai
que as suas ideias.
199
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
marginalização de determinados
Essa autora, em diálogo com
reflete que estar à margem
“é ser parte do todo, mas fora do corpo
principal” (KILOMBA, 2019, p. 67). A
se na vivência de
hooks
enquanto mulher preta moradora da
periferia de uma cidade. A ela era
permitido frequentar o centro da
o trabalhadora, para depois
retornar à margem. Entretanto, a
autora chama atenção para que a
margem não seja reduzida a um
espaço periférico em que há apenas
perdas e privações, mas como um
espaço de resistência às opressões,
de possibilidades e criativida
des onde
produzem novos discursos que
desestabilizam discursos
, onde são produzidos
mundos. Kilomba (2019) alerta para a
importância de entender as margens
como um local complexo e diverso, e
por isso, é preciso estar atento para o
mantização da opressão
quando falamos sobre as margens,
ooks
se trata de um
pseudônimo em homenagem a sua avó e é
grafado em letra minúscula pois desta forma a
autora busca romper com a ideia de
superioridade do autor. Para ela, o
nome e os
títulos do autor não possuem mai
s valor do
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
pois não se pode perder de vista que
ela é local de repressão e de
resistência.
As formações das diferentes
juventudes são também tecidas nas
relações com os espaços em que
vivem. Suas limitações impa
vivências e nos usos que fazem do
espaço, por isso, compreender
também como são tecidas essas
relações e seus impactos, nos ajuda a
refletir sobre as formas de habitar
essas cidades. Nessas relações, não é
incomum que as juventudes
periferizadas t
enham que lidar com as
desigualdades ambientais nas regiões
em que vivem.
Para começo de conversa
Figura1:
Imagem da estação
Fonte: acervo da autora
Como dito anteriormente, es
trabalho narra parte da pesquisa feita
por uma das autoras que é profes
de Ciências na rede Estadual no
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pois não se pode perder de vista que
ela é local de repressão e de
As formações das diferentes
juventudes são também tecidas nas
relações com os espaços em que
vivem. Suas limitações impa
ctam nas
vivências e nos usos que fazem do
espaço, por isso, compreender
também como são tecidas essas
relações e seus impactos, nos ajuda a
refletir sobre as formas de habitar
essas cidades. Nessas relações, não é
incomum que as juventudes
enham que lidar com as
desigualdades ambientais nas regiões
Para começo de conversa
Imagem da estação
Fonte: acervo da autora
Como dito anteriormente, es
te
trabalho narra parte da pesquisa feita
por uma das autoras que é profes
sora
de Ciências na rede Estadual no
município de Duque de Caxias. Narrar
parte dessa pesquisa passa por contar
sobre suas relações com esse
município que não era conhecido por
ela antes de se tornar
acontecem suas práticas docentes.
Sua ch
egada à Duque de
Caxias se deu pelo bairro de Campos
Elísios, que junto ao bairro de Jardim
Primavera (dentre outros), pertence ao
2º distrito do município e é onde se
localiza a REDUC, refinaria de
petróleo que pertence
Impactada pela imagem acima,
registro feito por ela na plataforma da
estação de trem, a professora passou
a pensar em como seria estudar e
morar em um bairro que possui tal
empresa. No seu deslocamento, bem
como na chegada em sua primeira
escola
, ela também pôde perceber
além dos lixos nas ruas, que as
empresas ao redor da escola também
a afetavam com, por exemplo, uma
poeira que ocupava toda a escola. A
partir dessas percepções, uma
pergunta não podia deixar de ser feita:
Qual seria o impacto d
realidades na vida dos estudantes de
tal escola?
Alves (2008), ao tratar dos
movimentos importantes para a
200
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
município de Duque de Caxias. Narrar
parte dessa pesquisa passa por contar
sobre suas relações com esse
município que não era conhecido por
ela antes de se tornar
o local em que
acontecem suas práticas docentes.
egada à Duque de
Caxias se deu pelo bairro de Campos
Elísios, que junto ao bairro de Jardim
Primavera (dentre outros), pertence ao
2º distrito do município e é onde se
localiza a REDUC, refinaria de
petróleo que pertence
à Petrobrás.
Impactada pela imagem acima,
registro feito por ela na plataforma da
estação de trem, a professora passou
a pensar em como seria estudar e
morar em um bairro que possui tal
empresa. No seu deslocamento, bem
como na chegada em sua primeira
, ela também pôde perceber
além dos lixos nas ruas, que as
empresas ao redor da escola também
a afetavam com, por exemplo, uma
poeira que ocupava toda a escola. A
partir dessas percepções, uma
pergunta não podia deixar de ser feita:
Qual seria o impacto d
essas
realidades na vida dos estudantes de
Alves (2008), ao tratar dos
movimentos importantes para a
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
pesquisa nos/dos/com os cotidianos,
cita o “sentimento do mundo”, onde a
(o) pesquisadora (o
), para além de
olhar o mundo, se coloque a senti
na busca por tentar entender as
lógicas e atividades dos cotidianos e
que, a partir disso, consiga pensar nas
condições de
aprenderensinar
quais estudantes e professores estão
imersos.
Entretanto, para isso, é
importante que, enquanto
pesquisado
ras,percebamos que
também estamos imersas no cotidiano
e nele também produzimos
conhecimentos. É, então, mergulhando
na realidade do cotidiano escolar, não
se colocando distante e nem
supostamente com neutralidade, é na
aproximação e no envolvimento com
os
“sujeitos dos cotidianos” que se
consegue entender o que os “usuários”
desses espaçostempos
“fabricam” com
os objetos de consumo a que t
acesso e que redes vão
seu viver cotidiano, que inclui pessoas
e artefatos culturais” (ALVES, 2008, p.
22).
Foi a partir desse movimento
que buscou-
se entender sobre como
são tecidas as relações das/os
alunas/os com os espaços em que
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pesquisa nos/dos/com os cotidianos,
cita o “sentimento do mundo”, onde a
), para além de
olhar o mundo, se coloque a senti
-lo,
na busca por tentar entender as
lógicas e atividades dos cotidianos e
que, a partir disso, consiga pensar nas
aprenderensinar
nas
quais estudantes e professores estão
Entretanto, para isso, é
importante que, enquanto
ras,percebamos que
também estamos imersas no cotidiano
e nele também produzimos
conhecimentos. É, então, mergulhando
na realidade do cotidiano escolar, não
se colocando distante e nem
supostamente com neutralidade, é na
aproximação e no envolvimento com
“sujeitos dos cotidianos” que se
consegue entender o que os “usuários”
“fabricam” com
os objetos de consumo a que t
êm
tecendo no
seu viver cotidiano, que inclui pessoas
e artefatos culturais” (ALVES, 2008, p.
Foi a partir desse movimento
se entender sobre como
são tecidas as relações das/os
alunas/os com os espaços em que
vivem. Para isso, inspiradas em
Andrade e Guerreiro (2018), em um
primeiro momento, um grupo de jovens
estudantes foram convida
produzirem fotografias para
participarem de uma roda de
conversas estabelecida coletivamente
com tais imagens.
Uma conversa com imagens
As conversas estão presentes
em muitos momentos do cotidiano
escolar. Tanto entre as e os
estudantes, quanto
professores. Em uma conversa entre a
professora/pesquisadora desse
trabalho e os jovens estudantes,
perguntaram-
na sobre onde morava.
Para a surpresa da turma, ela morava
no Rio de Janeiro, no bairro da Penha.
A turma reagiu animada com tal
resposta. Em seguida, os alunos
perguntaram se ela
conhecia o famoso
“baile da gaiola” que acontecia na Vila
Cruzeiro, comunidade que pertence ao
conjunto de favelas da Penha. A
professora explicou que não conhecia.
As alunas/os pareciam não acreditar.
Com
o assim ela morava na Penha e
não conhecia o baile da gaiola?
Percebendo as reações de surpresa
dos estudantes, a professora
201
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vivem. Para isso, inspiradas em
Andrade e Guerreiro (2018), em um
primeiro momento, um grupo de jovens
estudantes foram convida
das/os a
produzirem fotografias para
participarem de uma roda de
conversas estabelecida coletivamente
Uma conversa com imagens
As conversas estão presentes
em muitos momentos do cotidiano
escolar. Tanto entre as e os
entre esses e
professores. Em uma conversa entre a
professora/pesquisadora desse
trabalho e os jovens estudantes,
na sobre onde morava.
Para a surpresa da turma, ela morava
no Rio de Janeiro, no bairro da Penha.
A turma reagiu animada com tal
resposta. Em seguida, os alunos
conhecia o famoso
“baile da gaiola” que acontecia na Vila
Cruzeiro, comunidade que pertence ao
conjunto de favelas da Penha. A
professora explicou que não conhecia.
As alunas/os pareciam não acreditar.
o assim ela morava na Penha e
não conhecia o baile da gaiola?
Percebendo as reações de surpresa
dos estudantes, a professora
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
perguntou como faziam para ir de
Campos Elísios para Penha. Com as
quantidades de detalhes contadas,
para a professora parecia uma
aventura esse deslocamento. Naquela
conversa, contaram e apresentaram o
bairro em que moram e os espaços
que frequentavam. Ao contarem sobre
o deslocar, também apresentaram
Campos Elísios e Penha à professora.
É, então, acreditando na
potência dos
encontros provocados
pelas conversas, entendendo que para
acontecer, necessita da
disponibilidade, abertura, escuta do
outro e “à sua palavra, não para acatá
la ou para deixá-
la passivamente, mas
para deixá-
la ressoar, afetar, dar,
pensar indagar” (RIBEIRO
p. 165), que nela a possibilidade de
compartilhar e considerar as
experiências individuais e coletivas de
quem participa da conversa e, com
isso, verdades e ideias podem ser
ressignificadas e ampliadas
de significações dos interl
Serpa (2018) defende a conversa
enquanto um “lugar fundamental e
privilegiado onde os sujeitos se
encontram, se desafiam, se
complementam, se antagonizam, se
movem e se transformam” (SERPA,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
perguntou como faziam para ir de
Campos Elísios para Penha. Com as
quantidades de detalhes contadas,
para a professora parecia uma
grande
aventura esse deslocamento. Naquela
conversa, contaram e apresentaram o
bairro em que moram e os espaços
que frequentavam. Ao contarem sobre
o deslocar, também apresentaram
Campos Elísios e Penha à professora.
É, então, acreditando na
encontros provocados
pelas conversas, entendendo que para
acontecer, necessita da
disponibilidade, abertura, escuta do
outro e “à sua palavra, não para acatá
-
la passivamente, mas
la ressoar, afetar, dar,
et al., 2018,
p. 165), que nela a possibilidade de
compartilhar e considerar as
experiências individuais e coletivas de
quem participa da conversa e, com
isso, verdades e ideias podem ser
ressignificadas e ampliadas
às redes
de significações dos interl
ocutores.
Serpa (2018) defende a conversa
enquanto um “lugar fundamental e
privilegiado onde os sujeitos se
encontram, se desafiam, se
complementam, se antagonizam, se
movem e se transformam” (SERPA,
2018, p. 104).
Escolho pensar com as
conversas, pois n
ão
fechados, e sim interesses:
Conversar
sem o apagamento dos
conflitos e tensões sempre presentes
entre diferentes modos de
pensar(se), de dizer(se), de
escutar(se), de conhecer(se)...um
desafio instigantes e provocativo que
no encontro
com
nos a viver a experiência da
alteridade: pensar(se)
(SAMPAIO et al
.
Entendemos com Sampaio
(2018) a conversa como uma
metodologia menor quando pensamos
nas entrevistas. Não em uma ideia de
oposição à
s en
entendendo est
as como metodologia
maior, sendo mais usada nas
pesquisas em educação. Assim como
Ribeiro et al.
(2018), escolhemos o uso
da palavra metodologia em letra
minúscula, por entendermos ser o
oposto do que é defendida, enquanto
“Met
odologia é a política que zela
pelos procedimentos, técnicas,
instrumentos de pesquisa
reproduzíveis, em prol de um
conhecimento neutro, objetivo e
inconstante, tal qual planteou a
modernidade positivista” (RIBEIRO
al.
, 2018, p. 167). Com as conversas
n
ão buscamos categorizar as falas dos
sujeitos que participam da conversa,
mas sobretudo pensar com tais falas,
202
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Escolho pensar com as
ão
objetivos
fechados, e sim interesses:
sem o apagamento dos
conflitos e tensões sempre presentes
entre diferentes modos de
pensar(se), de dizer(se), de
escutar(se), de conhecer(se)...um
desafio instigantes e provocativo que
com
o outro, provoca-
nos a viver a experiência da
alteridade: pensar(se)
com o outro.
.
, 2018, p. 35)
Entendemos com Sampaio
et al.
(2018) a conversa como uma
metodologia menor quando pensamos
nas entrevistas. Não em uma ideia de
s en
trevistas, mas
as como metodologia
maior, sendo mais usada nas
pesquisas em educação. Assim como
(2018), escolhemos o uso
da palavra metodologia em letra
minúscula, por entendermos ser o
oposto do que é defendida, enquanto
odologia é a política que zela
pelos procedimentos, técnicas,
instrumentos de pesquisa
reproduzíveis, em prol de um
conhecimento neutro, objetivo e
inconstante, tal qual planteou a
modernidade positivista” (RIBEIRO
et
, 2018, p. 167). Com as conversas
ão buscamos categorizar as falas dos
sujeitos que participam da conversa,
mas sobretudo pensar com tais falas,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
a partir delas, com as perguntas que
dela surgem e as imprevisibilidades
que podem acontecer no seu
desenrolar.
No ato da conversa a
circulaçã
o da palavra,
desestabiliza as relações de poder,
proporciona encontros e
distanciamentos, as trocas entre
diferentes pontos de vistas, o pensar
junto do outro. uma
imprevisibilidade, pois não se sabe
ao certo as questões que possam
surgir e quais
discussões serão
tecidas. Nas conversas sobre o bairro,
a professora recordou-
se da fotografia
que havia feito da REDUC e do quanto
aquelas fumaças saindo dos cilindros
a afetaram.
Dessa forma, a pesquisa em
questão, propôs rodas de conversas
com as fotog
rafias dos jovens, pois
pensamos com Samain (2012) que as
imagens sempre oferecem algo que
nos faça pensar, “são poços de
memória e focos de emoções e
sensações, isto é, lugares carregados
de humanidade” (SAMAIN, 2012,
22). Barthes (2018) em sua análise
filosófica da fotografia, propõe alguns
elementos para pensarmos a imagem.
Barthes (2018) chama de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
a partir delas, com as perguntas que
dela surgem e as imprevisibilidades
que podem acontecer no seu
No ato da conversa a
o da palavra,
que
desestabiliza as relações de poder,
proporciona encontros e
distanciamentos, as trocas entre
diferentes pontos de vistas, o pensar
junto do outro. uma
imprevisibilidade, pois não se sabe
m
ao certo as questões que possam
discussões serão
tecidas. Nas conversas sobre o bairro,
se da fotografia
que havia feito da REDUC e do quanto
aquelas fumaças saindo dos cilindros
Dessa forma, a pesquisa em
questão, propôs rodas de conversas
rafias dos jovens, pois
pensamos com Samain (2012) que as
imagens sempre oferecem algo que
nos faça pensar, “são poços de
memória e focos de emoções e
sensações, isto é, lugares carregados
de humanidade” (SAMAIN, 2012,
p.
22). Barthes (2018) em sua análise
filosófica da fotografia, propõe alguns
elementos para pensarmos a imagem.
Barthes (2018) chama de
Studium
aquilo que chama a atenção e tem a
ver com um saber específico. Nele
um interesse afetado pela cultura, pela
política. Para Barthes (2018) é a partir
do Studium
que um interesse pela
fotografia e é partir de algo nosso,
próprio, da cultura que partic
fotografia e do que a compõe.
O autor chama de
aquilo que atravessa o
uma imagem, que é lançado como
uma flecha, é aquele detalhe da
fotografia que não é intencional, que
atrai e muda a leitura do
provoca uma nova
fotografia a partir
de um novo olhar. É, então, aquilo que
punge a partir do detalhe de uma
observação, “um detalhe conquista
toda minha leitura, trata
mutação viva de meu interesse, de
uma fulguração. Pela marca de
alguma coisa
, a foto não é ma
qualquer. Essa
alguma coisa
estalo, provocou em mim um pequeno
abalo” (BARTHES, 2018,
Assim, para pensar sobre os
habitares foi convidada uma turma de
rie do Ensino Médio para
fotografarem espaços em Jardim
Primavera, como forma de di
narrativas que nos ajudassem a refletir
em uma roda de conversa. Como
203
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
aquilo que chama a atenção e tem a
ver com um saber específico. Nele
um interesse afetado pela cultura, pela
política. Para Barthes (2018) é a partir
que um interesse pela
fotografia e é partir de algo nosso,
próprio, da cultura que partic
ipamos da
fotografia e do que a compõe.
O autor chama de
Punctum
aquilo que atravessa o
Spectator em
uma imagem, que é lançado como
uma flecha, é aquele detalhe da
fotografia que não é intencional, que
atrai e muda a leitura do
Spectator e
fotografia a partir
de um novo olhar. É, então, aquilo que
punge a partir do detalhe de uma
observação, “um detalhe conquista
toda minha leitura, trata
-se de uma
mutação viva de meu interesse, de
uma fulguração. Pela marca de
, a foto não é ma
is
alguma coisa
de um
estalo, provocou em mim um pequeno
abalo” (BARTHES, 2018,
p. 46).
Assim, para pensar sobre os
habitares foi convidada uma turma de
rie do Ensino Médio para
fotografarem espaços em Jardim
Primavera, como forma de di
sparar
narrativas que nos ajudassem a refletir
em uma roda de conversa. Como
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
forma de provocar as fotografias,
foram feitas três perguntas a esses
jovens: Qual espaço mais gostavam
em Jardim Primavera? Que espaço
gostariam de apresentar em Jardim
Primavera
? Qual era o espaço que
mais frequentavam em Jardim
Primavera?
Entretanto, o convite feito à
turma foi recusado em um primeiro
momento. As e os alunos expressaram
suas preocupações em fotografarem
espaços em que viviam ou se
deslocavam. Segundo eles, mora
em áreas de risco e não poderiam
fotografar por ser muito
perigoso.Devido à violência na região,
mostraram preocupação com a
atividade para a qual foram
convidados. O medo era de serem
roubados ou sofrerem algum tipo de
repressão devido à produção das
fotografias. Percebendo o desconforto,
a professora suspendeu a atividade
para que ninguém estivesse em
situação de risco. Entretanto, o fato de
não registrarem, não significava que
não se deslocavam ou frequentavam
lugares específicos em Jardim
Primavera
e Duque de Caxias.
Pensando em outros modos de
narrar o espaço, a professora de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
forma de provocar as fotografias,
foram feitas três perguntas a esses
jovens: Qual espaço mais gostavam
em Jardim Primavera? Que espaço
gostariam de apresentar em Jardim
? Qual era o espaço que
mais frequentavam em Jardim
Entretanto, o convite feito à
turma foi recusado em um primeiro
momento. As e os alunos expressaram
suas preocupações em fotografarem
espaços em que viviam ou se
deslocavam. Segundo eles, mora
vam
em áreas de risco e não poderiam
fotografar por ser muito
perigoso.Devido à violência na região,
mostraram preocupação com a
atividade para a qual foram
convidados. O medo era de serem
roubados ou sofrerem algum tipo de
repressão devido à produção das
fotografias. Percebendo o desconforto,
a professora suspendeu a atividade
para que ninguém estivesse em
situação de risco. Entretanto, o fato de
não registrarem, não significava que
não se deslocavam ou frequentavam
lugares específicos em Jardim
e Duque de Caxias.
Pensando em outros modos de
narrar o espaço, a professora de
Português da turma foi procurada para
saber como era a relação dessa turma
com a produção textual. A professora
explicou que o grupo em questão tinha
o costume de reagir
desmotivadamente
propostas e isso também podia ser
percebido durante as aulas de
produção textual. Explicamos a
atividade proposta à turma e,
interessada, a docente pediu uma
chance para insistir com a turma.
Segundo ela, não era possível que
aquel
es jovens frequentassem
lugares que não pudessem ser
fotografados. Como antiga moradora
do bairro e
por acompanhar algum
tempo aquele grupo de alunos, a
professora afirmou que eles
frequentavam diferentes espaços, não
apenas aqueles limitados por um
poder que impedia as imagens. Dessa
forma, ela conversou com a turma e
refez o convite.
Então, preocupada com as falas
dos estudantes, a
professora/pesquisadora foi até a sala
de aula da turma para confirmar a
suspensão da atividade, quando para
a surpresa
, a turma pediu para manter
a atividade, pois gostariam de produzir
as fotografias. O que havia
204
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Português da turma foi procurada para
saber como era a relação dessa turma
com a produção textual. A professora
explicou que o grupo em questão tinha
o costume de reagir
às atividades
propostas e isso também podia ser
percebido durante as aulas de
produção textual. Explicamos a
atividade proposta à turma e,
interessada, a docente pediu uma
chance para insistir com a turma.
Segundo ela, não era possível que
es jovens frequentassem
lugares que não pudessem ser
fotografados. Como antiga moradora
por acompanhar algum
tempo aquele grupo de alunos, a
professora afirmou que eles
frequentavam diferentes espaços, não
apenas aqueles limitados por um
poder que impedia as imagens. Dessa
forma, ela conversou com a turma e
Então, preocupada com as falas
dos estudantes, a
professora/pesquisadora foi até a sala
de aula da turma para confirmar a
suspensão da atividade, quando para
, a turma pediu para manter
a atividade, pois gostariam de produzir
as fotografias. O que havia
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
acontecido? O que teria feito com que
aqueles jovens se sentissem
encorajados ou autorizados a
produzirem suas fotografias? Será o
fato de a professora de portu
assim como eles, pertencer a Jardim
Primavera? Esse fato autorizava
aquela atividade? Sem respostas,
porém provocada por tais perguntas e
considerando que insistiam em dizer
que não havia nada de interessante
para mostrar no bairro em que moram,
afin
al, o que cada um daqueles jovens,
gostaria de contar com suas
fotografias?
Inspirada por Andrade e
Guerreiro (2018), as conversas com a
imagens produzidas por jovens
estudantes para acontecerem foram
afetadas, provocadas e movimentadas
por
studiuns e punc
especialmente por esse último. Nessas
conversas percebemos que suas
fotografias também dispararam
studiuns e punctus
. Esses movimentos
ajudaram a contar sobre a tessitura de
conhecimento e significações dos
cotidianos do dentrofora
da escola e
da cidade.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
acontecido? O que teria feito com que
aqueles jovens se sentissem
encorajados ou autorizados a
produzirem suas fotografias? Será o
fato de a professora de portu
guês,
assim como eles, pertencer a Jardim
Primavera? Esse fato autorizava
aquela atividade? Sem respostas,
porém provocada por tais perguntas e
considerando que insistiam em dizer
que não havia nada de interessante
para mostrar no bairro em que moram,
al, o que cada um daqueles jovens,
gostaria de contar com suas
Inspirada por Andrade e
Guerreiro (2018), as conversas com a
imagens produzidas por jovens
estudantes para acontecerem foram
afetadas, provocadas e movimentadas
studiuns e punc
tuns e
especialmente por esse último. Nessas
conversas percebemos que suas
fotografias também dispararam
. Esses movimentos
ajudaram a contar sobre a tessitura de
conhecimento e significações dos
da escola e
Narrando o habitar
Na semana anterior à roda de
imagens e conversas, as/os
estudantes enviaram as fotografias
que produziram via
celular da professora que as organizou
em slides por ordem de envio. No dia
da conversa, a sala foi organizada com
as cadeiras em roda, as imagens
projetadas através de um Datashow e
coletivamente conversamos sobre
cada uma delas. Aqui apresentarem
algumas dessas fotografias.
A imagem a seguir foi a
primeira fotografia a aparecer e a
chamamos de “o mistério do castelo
sem endereço”:
Figura 2: Castelo
Fonte: acervo da autora.
205
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Na semana anterior à roda de
imagens e conversas, as/os
estudantes enviaram as fotografias
que produziram via
bluetooth para o
celular da professora que as organizou
em slides por ordem de envio. No dia
da conversa, a sala foi organizada com
as cadeiras em roda, as imagens
projetadas através de um Datashow e
coletivamente conversamos sobre
cada uma delas. Aqui apresentarem
os
algumas dessas fotografias.
A imagem a seguir foi a
primeira fotografia a aparecer e a
chamamos de “o mistério do castelo
Figura 2: Castelo
Fonte: acervo da autora.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
Quando perguntados sobre o
endereço desse castelo, ninguém
conseguiu responder. Mas, ao mesmo,
tempo não disseram que ele não
existia em Jardim Primavera. Por um
tempo ficaram tentando achar
possibilidades de endereços para essa
construção. Uma aluna comen
ele certamente ficaria em um lugar
longe, mas que não sabia dizer ao
certo onde ficava.
Um estudante afirmou que havia
estado lá. Mas não disse onde era.
Outro aluno arriscou a dizer que
aquela era a casa do Barack Obama.
Uma aluna afirmou que ali
existiriam morcegos. Perguntamos
turma se aquele castelo ficava em
Jardim Primavera. Após se olharem na
esperança de alguém responder,
perguntamos o porquê do envio
daquela foto e alguém respondeu que
provavelmente a pessoa que a havia
enviado, não e
stava na aula naquele
dia.
Por que será que esta foto foi
enviada? Quem será que a enviou?
Seria uma fotografia anônima? A
pessoa que a enviou já visitou esse
castelo? O que essa pessoa gostaria
de contar sobre essa fotografia? Como
esse castelo se relaci
ona com Jardim
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Quando perguntados sobre o
endereço desse castelo, ninguém
conseguiu responder. Mas, ao mesmo,
tempo não disseram que ele não
existia em Jardim Primavera. Por um
tempo ficaram tentando achar
possibilidades de endereços para essa
construção. Uma aluna comen
tou que
ele certamente ficaria em um lugar
longe, mas que não sabia dizer ao
Um estudante afirmou que havia
estado lá. Mas não disse onde era.
Outro aluno arriscou a dizer que
aquela era a casa do Barack Obama.
Uma aluna afirmou que ali
existiriam morcegos. Perguntamos
à
turma se aquele castelo ficava em
Jardim Primavera. Após se olharem na
esperança de alguém responder,
perguntamos o porquê do envio
daquela foto e alguém respondeu que
provavelmente a pessoa que a havia
stava na aula naquele
Por que será que esta foto foi
enviada? Quem será que a enviou?
Seria uma fotografia anônima? A
pessoa que a enviou já visitou esse
castelo? O que essa pessoa gostaria
de contar sobre essa fotografia? Como
ona com Jardim
Primavera? Será que essa fotografia
se tratava de uma brincadeira feita
pelos estudantes? Mas, mesmo
considerando uma brincadeira, o que
ela poderia movimentar em nós, o que
ela poderia provocar nas alunas e
alunos que participavam dessa
con
versa? Aqueles “silêncios”, as
perguntas sem respostas, nos
contavam sobre ausências. Não havia
naquele bairro um castelo como esse,
mas a fotografia estava lá. Não havia a
autoria daquela fotografia, e ainda
assim insistiam em tentar descobrir o
endereço.
Um grupo de alunos sugeriu
que aquele castelo ficaria do outro
lado. Pelo bairro passa a estação de
trem e, com isso, os estudantes
reconhecem dois lados do bairro.
Segundo eles, o lado em que moram é
o lado “pobre” e o outro seria o lado
“rico”. Por iss
o, segundo eles, esse
castelo só poderia estar do lado em
que não moram. Após um tempo em
busca de um endereço, um aluno
finalmente desvenda o mistério. Se
trata do castelo da Cinderela que fica
na Disney, em Orlando.
Nas rodas de imagens e
conversas noss
a atenção não está
voltada para as intenções do autor, e
206
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Primavera? Será que essa fotografia
se tratava de uma brincadeira feita
pelos estudantes? Mas, mesmo
considerando uma brincadeira, o que
ela poderia movimentar em nós, o que
ela poderia provocar nas alunas e
alunos que participavam dessa
versa? Aqueles “silêncios”, as
perguntas sem respostas, nos
contavam sobre ausências. Não havia
naquele bairro um castelo como esse,
mas a fotografia estava lá. Não havia a
autoria daquela fotografia, e ainda
assim insistiam em tentar descobrir o
Um grupo de alunos sugeriu
que aquele castelo ficaria do outro
lado. Pelo bairro passa a estação de
trem e, com isso, os estudantes
reconhecem dois lados do bairro.
Segundo eles, o lado em que moram é
o lado “pobre” e o outro seria o lado
o, segundo eles, esse
castelo só poderia estar do lado em
que não moram. Após um tempo em
busca de um endereço, um aluno
finalmente desvenda o mistério. Se
trata do castelo da Cinderela que fica
na Disney, em Orlando.
Nas rodas de imagens e
a atenção não está
voltada para as intenções do autor, e
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
sim para o que nos provoca aquela
imagem, a própria ausência de uma
autoria que explicasse o motivo
daquela imagem nos permitiu pensar
em narrativas possíveis para aquele
castelo, e consequentemente,
narrativas possíveis para Jardim
Primavera.
Ao insistirem nas narrativas que
criavam possibilidades de endereços
para o Castelo em Jardim Primavera,
os estudantes falaram sobre outras
significações e outras formas de
habitar esse bairro. Pensamos com
Certeau (2014) a diferenciação entre o
ato de descrever e o ato de narrar. O
autor afirma que, diferentemente do
ato de descrever, no narrar há,
também, uma criação de ficção. E, ao
narrarem sobre essa imagem, criaram
possibilidades de existências em suas
realidades para essa construção
(CERTEAU, 2014). O castelo marca
algumas ausências no bairro, ao
menos no lado em que vivem aquelas
alunas/os.
Essa imagem nos convidou a
pensar nas narrativas infanto
exploradas pelos filmes de animação
onde os cast
elos marcam um poder
econômico, fartura de alimentos e
objetos. São lugares das riquezas e do
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
sim para o que nos provoca aquela
imagem, a própria ausência de uma
autoria que explicasse o motivo
daquela imagem nos permitiu pensar
em narrativas possíveis para aquele
castelo, e consequentemente,
em
narrativas possíveis para Jardim
Ao insistirem nas narrativas que
criavam possibilidades de endereços
para o Castelo em Jardim Primavera,
os estudantes falaram sobre outras
significações e outras formas de
habitar esse bairro. Pensamos com
Certeau (2014) a diferenciação entre o
ato de descrever e o ato de narrar. O
autor afirma que, diferentemente do
ato de descrever, no narrar há,
também, uma criação de ficção. E, ao
narrarem sobre essa imagem, criaram
possibilidades de existências em suas
realidades para essa construção
(CERTEAU, 2014). O castelo marca
algumas ausências no bairro, ao
menos no lado em que vivem aquelas
Essa imagem nos convidou a
pensar nas narrativas infanto
-juvenis
exploradas pelos filmes de animação
elos marcam um poder
econômico, fartura de alimentos e
objetos. São lugares das riquezas e do
luxo, lugar em que se é servido, onde
proteção e confraternização.
Conversando com essa fotografia e
com os estudantes e suas narrativas,
percebo que esse cast
ausências de narrativas marcadas pela
fartura, pela proteção, pela riqueza em
relação a parte do bairro em que
moram. No sentido oposto, são
frequentes as narrativas de ausências
nas regiões de periferia e da Baixada
Fluminense. Pensamos nas
da segurança pública, da manutenção
dos espaços públicos de convivência,
de saneamento básico, do direito de ir
e vir que tem maior impacto na
dos jovens negros. Não naquela
região um castelo como o da imagem,
e ainda assim os estudantes
possíveis histórias para essa
construção.
As ausências da periferia estão
presentes nas narrativas juvenis. São
também exploradas, inclusive, pelas
mídias. Entretanto, não de
ausências esse bairro é formado.
Mesmo nessas relações opressoras,
outras produções e relações que
significam o espaço de diversas
formas. A partir de Certeau (2014),
não buscamos, negar tais ausências,
mas buscamos outras significações
207
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
luxo, lugar em que se é servido, onde
proteção e confraternização.
Conversando com essa fotografia e
com os estudantes e suas narrativas,
percebo que esse cast
elo remete às
ausências de narrativas marcadas pela
fartura, pela proteção, pela riqueza em
relação a parte do bairro em que
moram. No sentido oposto, são
frequentes as narrativas de ausências
nas regiões de periferia e da Baixada
Fluminense. Pensamos nas
ausências
da segurança pública, da manutenção
dos espaços públicos de convivência,
de saneamento básico, do direito de ir
e vir que tem maior impacto na
vida
dos jovens negros. Não naquela
região um castelo como o da imagem,
e ainda assim os estudantes
criaram
possíveis histórias para essa
As ausências da periferia estão
presentes nas narrativas juvenis. São
também exploradas, inclusive, pelas
mídias. Entretanto, não de
ausências esse bairro é formado.
Mesmo nessas relações opressoras,
outras produções e relações que
significam o espaço de diversas
formas. A partir de Certeau (2014),
não buscamos, negar tais ausências,
mas buscamos outras significações
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
tecidas a partir das vivências dos
jovens com o bairro e o município em
que moram.
Fi
gura 3: A escola
Fonte: Acervo da autora
Quando chegamos nessa
fotografia, um aluno achou que teria
sido feita pela gestão da escola que,
segundo ele, gosta de fazer muitas
fotografias da faxada da escola.
Perguntamos à
turma o que achavam
dessa escola e, em uníssono,
destacaram questões negativas
envolvendo a instituição.
Quando perguntados se
achavam que haviam marcado de
alguma forma essa escola,
responderam que sim. Quase todos os
alunos estudam juntos desde o Ensi
Fundamental. Anos e anos
vivenciando e construindo o cotidiano
escolar nos faz perceber que o habitar
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
tecidas a partir das vivências dos
jovens com o bairro e o município em
gura 3: A escola
Fonte: Acervo da autora
Quando chegamos nessa
fotografia, um aluno achou que teria
sido feita pela gestão da escola que,
segundo ele, gosta de fazer muitas
fotografias da faxada da escola.
turma o que achavam
dessa escola e, em uníssono,
destacaram questões negativas
Quando perguntados se
achavam que haviam marcado de
alguma forma essa escola,
responderam que sim. Quase todos os
alunos estudam juntos desde o Ensi
no
Fundamental. Anos e anos
vivenciando e construindo o cotidiano
escolar nos faz perceber que o habitar
a cidade também passa por habitar a
escola. Dessa forma, como resposta
disseram que suas marcas estavam na
escola através das pixações. E o que
essas m
arcas representavam? Eram a
pixações feitas por dois alunos que
deixaram registros em diferentes
partes da escola.
Uma aluna nos contou que
como forma de marcar uma amizade,
havia registros de seu nome e de um
amigo, nas paredes da quadra, como
forma de e
ternizar aquela relação.
Entretanto, contaram que esses
registos e marcas foram apagados
com o tempo pela escola, e proibidas
de serem feitas novamente por terem
sido consideradas vandalismo.
Entretanto, essas escritas e desenhos
surgem como uma marca, um
desses alunos que modificam o
espaço físico da escola, quando
muitas vezes o sistema burocrático os
trata como números, estatísticas e
notas.
Em um momento dessa
conversa, nos lembramos de alguns
episódios em que as pixações
também são usadas p
comunicarem pensamentos e
emoções quando jovens estudantes a
usam para anunciarem, por exemplo,
208
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
a cidade também passa por habitar a
escola. Dessa forma, como resposta
disseram que suas marcas estavam na
escola através das pixações. E o que
arcas representavam? Eram a
pixações feitas por dois alunos que
deixaram registros em diferentes
Uma aluna nos contou que
como forma de marcar uma amizade,
havia registros de seu nome e de um
amigo, nas paredes da quadra, como
ternizar aquela relação.
Entretanto, contaram que esses
registos e marcas foram apagados
com o tempo pela escola, e proibidas
de serem feitas novamente por terem
sido consideradas vandalismo.
Entretanto, essas escritas e desenhos
surgem como uma marca, um
registro
desses alunos que modificam o
espaço físico da escola, quando
muitas vezes o sistema burocrático os
trata como números, estatísticas e
Em um momento dessa
conversa, nos lembramos de alguns
episódios em que as pixações
também são usadas p
ara
comunicarem pensamentos e
emoções quando jovens estudantes a
usam para anunciarem, por exemplo,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
em um momento de fragilidade
emocional, a necessidade de naquele
momento precisarem de ajuda
psicológica. Foi possível encontrar nas
portas dos banheiros al
gumas dessas
mensagens, o que possibilitou, por
exemplo, ões de intervenção da
escola que buscou trabalhar as
temáticas da depressão, ansiedade e
suícido com alunos e alunas. Alguns
desses estudantes puderam ser
encaminhados para auxílio psicológico
fora da escola.
Nas conversa com essas
fotografias, os estudantes contaram
que ao longo do ano suas pixações
são apagadas para darem lugar a uma
nova cor. Barchi (2007) nos lembra
que elas são tratadas como crime
ambiental pela lei brasileira 9605/98
e tem
como pena dentenção de 3
meses até 1 ano e multa:
No caso da lei, não só a pichação,
mas também o grafite e qualquer
outra conspurcação (como, por
exemplo, colar qualquer tipo de
documento, papel ou adesivo) contra
monumentos e edifícios urbanos é
também
um crime ambiental. Deve
ser combatido como forma de
estabelecer a qualidade de vida
urbana. Assim como devem ser
combatidas a poluição dos rios, a
devastação da Amazônia e da Mata
Atlântica, a emissão de poluentes,
tóxicos na atmosfera, como o dióxido
de
carbono e o monóxido de
carbono, o uso indiscriminado de
produtos tóxicos na agricultura, os
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
em um momento de fragilidade
emocional, a necessidade de naquele
momento precisarem de ajuda
psicológica. Foi possível encontrar nas
gumas dessas
mensagens, o que possibilitou, por
exemplo, ões de intervenção da
escola que buscou trabalhar as
temáticas da depressão, ansiedade e
suícido com alunos e alunas. Alguns
desses estudantes puderam ser
encaminhados para auxílio psicológico
Nas conversa com essas
fotografias, os estudantes contaram
que ao longo do ano suas pixações
são apagadas para darem lugar a uma
nova cor. Barchi (2007) nos lembra
que elas são tratadas como crime
ambiental pela lei brasileira 9605/98
como pena dentenção de 3
No caso da lei, não só a pichação,
mas também o grafite e qualquer
outra conspurcação (como, por
exemplo, colar qualquer tipo de
documento, papel ou adesivo) contra
monumentos e edifícios urbanos é
um crime ambiental. Deve
ser combatido como forma de
estabelecer a qualidade de vida
urbana. Assim como devem ser
combatidas a poluição dos rios, a
devastação da Amazônia e da Mata
Atlântica, a emissão de poluentes,
tóxicos na atmosfera, como o dióxido
carbono e o monóxido de
carbono, o uso indiscriminado de
produtos tóxicos na agricultura, os
maus trat
os aos animais, etc.
(BARCHI, 2007, p. 3).
É comum, na escola, narrativas
que identificam as pixações como
“falta de educação” que tende a sujar e
alteramum padrão de estética, de
limpeza. Aparentemente não
expressariam nada além de sujeira e
crime ambiental (BARCHI, 2007). Mas
o que elas têm a nos
alguns, as pixações são consideradas
arte. Para outros, arte que denuncia a
miséria, a pobreza, a desigualdade, as
opressões.
Na conversa com os jovens,
esses nos mostram que as pixações
são também uma forma de intervir na
escola, deixar seus
registros, protestar
e marcar as estruturas físicas. São
também registros afetivos que fazem
rememorar importantes vivências
coletivas tendo a escola como pano de
fundo. E o que mais essas pixações
podem nos dizer?
No documentário Pixo, dirigido
por João
Wainer (2009), pixadores de
São Paulo nos contam sobre a pixação
ser uma forma de denúncia e
afronta.Segundo o documentário, além
de forma de protesto e denúncia
contra, por exemplo, os abusos dos
governos, as pixações são, também,
209
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
os aos animais, etc.
(BARCHI, 2007, p. 3).
É comum, na escola, narrativas
que identificam as pixações como
“falta de educação” que tende a sujar e
alteramum padrão de estética, de
limpeza. Aparentemente não
expressariam nada além de sujeira e
crime ambiental (BARCHI, 2007). Mas
o que elas têm a nos
dizer? Para
alguns, as pixações são consideradas
arte. Para outros, arte que denuncia a
miséria, a pobreza, a desigualdade, as
Na conversa com os jovens,
esses nos mostram que as pixações
são também uma forma de intervir na
registros, protestar
e marcar as estruturas físicas. São
também registros afetivos que fazem
rememorar importantes vivências
coletivas tendo a escola como pano de
fundo. E o que mais essas pixações
No documentário Pixo, dirigido
Wainer (2009), pixadores de
São Paulo nos contam sobre a pixação
ser uma forma de denúncia e
afronta.Segundo o documentário, além
de forma de protesto e denúncia
contra, por exemplo, os abusos dos
governos, as pixações são, também,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
uma busca por reconhecim
social.O documentário também nos
mostra que, apesar de a pixação ser
conhecida como um lazer, um esporte
da periferia, não jovens pobres,
mas também os de classe média
praticando-o.
Barchi (2007) destaca que,
apesar de serem entendidas como
crim
e ambiental, sujeira, falta de
educação que afeta uma determinada
estética que preza por uma “ecologia
de limpeza” (p.
3), elas também podem
ser vistas por seus potenciais políticos
de “contestação, intervenção e arte”
(p.
3), o que também vimos no
documen
tário “Pixo”. Assim,
compreendemos aqui que as ações
dos pixadores possibilitam outras
formas de pensar “ações e
reivindicações, pelo seu próprio modo
de existência, de não se adequar aos
corpos monolíticos estruturais”
(BARCHI, 2007, p. 4).
Durante nossa
surgiram as imagens a seguir. A
primeira fotografia trata da praça que
fica distante da escola e de onde
moram, pois fica do outro lado da
estação. O aluno que fez essa imagem
disse que a frequenta para fazer
corridas.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
uma busca por reconhecim
ento
social.O documentário também nos
mostra que, apesar de a pixação ser
conhecida como um lazer, um esporte
da periferia, não jovens pobres,
mas também os de classe média
Barchi (2007) destaca que,
apesar de serem entendidas como
e ambiental, sujeira, falta de
educação que afeta uma determinada
estética que preza por uma “ecologia
3), elas também podem
ser vistas por seus potenciais políticos
de “contestação, intervenção e arte”
3), o que também vimos no
tário “Pixo”. Assim,
compreendemos aqui que as ações
dos pixadores possibilitam outras
formas de pensar “ações e
reivindicações, pelo seu próprio modo
de existência, de não se adequar aos
corpos monolíticos estruturais”
Durante nossa
conversa,
surgiram as imagens a seguir. A
primeira fotografia trata da praça que
fica distante da escola e de onde
moram, pois fica do outro lado da
estação. O aluno que fez essa imagem
disse que a frequenta para fazer
Figura 4: Praça
Fonte: A
cervo da autora
Nela, destacaram a
conservação e a sua procura para
fazer atividades físicas. Nessa praça
existe uma escadaria com mais de
cento e poucos
degraus e tem como
o destino o céu
”. Segundo eles, as
pessoas usam a escada para se
exercitarem: “-
Quem não tem dinhero
(pra malhar na academia) vai pra lá,
professora
”, disse a aluna, ou usa os “
brinquedos de ginástica da praça, que
são todos novinhos
”, continuou.
Com essa fotografia
sobre os usos que fazemos dos
espaços em que vivemos, pois como
comentamos anteriormente, as táticas
propostas por Certeau (2014), nos
210
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Figura 4: Praça
cervo da autora
Nela, destacaram a
conservação e a sua procura para
fazer atividades físicas. Nessa praça
existe uma escadaria com mais de
degraus e tem como
”. Segundo eles, as
pessoas usam a escada para se
Quem não tem dinhero
(pra malhar na academia) vai pra lá,
”, disse a aluna, ou usa os “
-
brinquedos de ginástica da praça, que
”, continuou.
Com essa fotografia
refletimos
sobre os usos que fazemos dos
espaços em que vivemos, pois como
comentamos anteriormente, as táticas
propostas por Certeau (2014), nos
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
possibilitam outros usos. Nos
permitem subverter o poder
hegemônico, nesse caso, expresso na
dificuldade finan
ceira para a atividade
física dentro de uma academia e a
opção por fazer atividades ao ar livre.
Para tentar entender a
relação entre o poder e os usos da
cidade, buscaremos o auxílio de
dois autores com pressupostos
diferentes, mas que nos ajudaram a
refl
etir. São eles, a geógrafa Doreen
Massey (2015) e o historiador
Michel de Certeau (2014).
Com Massey (2000),
entendemos que o espaço é parte
integrante e produto de inter
relações e, enquanto um conjunto
de inter-
relações, considera que as
identidades não
estão postas, não
há uma única identidade para um
determinado local e nem para os
que nele vivem. Nele acontecem os
encontros, é onde nos afetamos uns
com os outro. Os espaços estão
“cheios de conflitos internos”
(MASSEY, 2000, p. 185) entre o
que foi o s
eu passado, o que
deveria ser o presente e o seu
futuro. A praça frequentada pelas
alunas e pelos alunos bem como os
espaços cujas imagens
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
possibilitam outros usos. Nos
permitem subverter o poder
hegemônico, nesse caso, expresso na
ceira para a atividade
física dentro de uma academia e a
opção por fazer atividades ao ar livre.
Para tentar entender a
relação entre o poder e os usos da
cidade, buscaremos o auxílio de
dois autores com pressupostos
diferentes, mas que nos ajudaram a
etir. São eles, a geógrafa Doreen
Massey (2015) e o historiador
Michel de Certeau (2014).
Com Massey (2000),
entendemos que o espaço é parte
integrante e produto de inter
-
relações e, enquanto um conjunto
relações, considera que as
estão postas, não
há uma única identidade para um
determinado local e nem para os
que nele vivem. Nele acontecem os
encontros, é onde nos afetamos uns
com os outro. Os espaços estão
“cheios de conflitos internos”
(MASSEY, 2000, p. 185) entre o
eu passado, o que
deveria ser o presente e o seu
futuro. A praça frequentada pelas
alunas e pelos alunos bem como os
espaços cujas imagens
apresentaremos mais à frente é um
desses espaços “cheios de
conflitos” entre o passado, presente
e o futuro de Jardim
Nesse emaranhado, buscamos
compreender algumas formas de
usá-la, habitá-la.
O conceito de espaço tem em
si a ideia de um conjunto de
movimentos que nele acontecem,
“que o orientam, o circunstanciam, o
temporalizam e o levam a funcionar
em unida
de polivalente de programas
conflituais ou de proximidades
contratuais” (CERTEAU, 2014, p.
184). É produzido pelos efeitos das
operações que nele acontecem.
Dessa forma, “o espaço estaria para
o lugar como a palavra quando
falada” (...) “assim, a rua
geome
tricamente definida por um
urbanismo é transformada em espaço
pelo pede
stre” (CERTEAU, 2014, p.
184).
Ao pensar os usos cotidianos
do espaço urbano, é importante
pensar nas maneiras com as quais os
praticantepensantes
do espaço lidam,
manipulam e subvertem
imposta por tal sistema. É importante
pensar as táticas como forma de
apropriação do espaço e que
211
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
apresentaremos mais à frente é um
desses espaços “cheios de
conflitos” entre o passado, presente
e o futuro de Jardim
Primavera.
Nesse emaranhado, buscamos
compreender algumas formas de
O conceito de espaço tem em
si a ideia de um conjunto de
movimentos que nele acontecem,
“que o orientam, o circunstanciam, o
temporalizam e o levam a funcionar
de polivalente de programas
conflituais ou de proximidades
contratuais” (CERTEAU, 2014, p.
184). É produzido pelos efeitos das
operações que nele acontecem.
Dessa forma, “o espaço estaria para
o lugar como a palavra quando
falada” (...) “assim, a rua
tricamente definida por um
urbanismo é transformada em espaço
stre” (CERTEAU, 2014, p.
Ao pensar os usos cotidianos
do espaço urbano, é importante
pensar nas maneiras com as quais os
do espaço lidam,
manipulam e subvertem
uma ordem
imposta por tal sistema. É importante
pensar as táticas como forma de
apropriação do espaço e que
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
acontecem nas práticas cotidianas
como forma de resistência a tal
ordem que não ajudaram a produzir.
Os jovens nas rodas de
imagens e conversas
narraram os
seus percursos, sendo esses um ato
de enunciação. Contaram
como usar a escadaria para fazer
exercícios físicos, usar os aparelhos
de ginástica como bancos para
sentarem-
se para uma conversa
outras tantas táticas para habitar a
cidade.
Além da praça acima as/os
estudantes fotografaram outra praça
localizada na rua da escola em que
estudavam. Ao verem as imagens
abaixo o primeiro movimento foi o de
compararem as duas.
Figura 5: Praça da escola
Fonte: acervo da autora
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
acontecem nas práticas cotidianas
como forma de resistência a tal
ordem que não ajudaram a produzir.
Os jovens nas rodas de
narraram os
seus percursos, sendo esses um ato
de enunciação. Contaram
-nos sobre
como usar a escadaria para fazer
exercícios físicos, usar os aparelhos
de ginástica como bancos para
se para uma conversa
, entre
outras tantas táticas para habitar a
Além da praça acima as/os
estudantes fotografaram outra praça
localizada na rua da escola em que
estudavam. Ao verem as imagens
abaixo o primeiro movimento foi o de
Figura 5: Praça da escola
Fonte: acervo da autora
Figura 6:
Praça com briquedos
Fonte: acervo da autora
Alguns comentaram que
preferem não frequentar essa praça,
pois nela acontecem muitas festas,
inclusive o baile da região. Os
estudantes destacaram as diferenças
entre as praças e focaram em suas
cons
ervações, que, segundo eles,
não cuidavam da segunda praça da
mesma forma que cuidavam da
primeira praça apresentada aqui. O
que percebemos com suas falas é que
os usos que fazem das praças são
diferentes.
Quando perguntados se não
utilizavam a quadra de futebol,
responderam que sim, mas que
quando chove “
dá o maior caô
aos alagamentos na região, resultado
frequente quando chuva forte.
Ressaltaram que maior
movimentação de pessoas por essa
pra
ça, uma vez que ela fica em uma
rua com comércio local, mas seu maior
movimento ainda é nos dias em que
212
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Praça com briquedos
Fonte: acervo da autora
Alguns comentaram que
preferem não frequentar essa praça,
pois nela acontecem muitas festas,
inclusive o baile da região. Os
estudantes destacaram as diferenças
entre as praças e focaram em suas
ervações, que, segundo eles,
não cuidavam da segunda praça da
mesma forma que cuidavam da
primeira praça apresentada aqui. O
que percebemos com suas falas é que
os usos que fazem das praças são
Quando perguntados se não
utilizavam a quadra de futebol,
responderam que sim, mas que
dá o maior caô
”, devido
aos alagamentos na região, resultado
frequente quando chuva forte.
Ressaltaram que maior
movimentação de pessoas por essa
ça, uma vez que ela fica em uma
rua com comércio local, mas seu maior
movimento ainda é nos dias em que
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
nela acontece o baile. Uma aluna nos
contou que, segundo sua mãe, onde
está essa quadra houve em seu
lugar um valão que foi aterrado.
Devido a esse f
ato e o dificultado
escoamento de água, essa região
inunda com as chuvas. Isso faz com
que as pessoas fiquem
impossibilitadas de transitar por essa
praça, bem como as coloca em
situação de exposição a doenças
transmitidas em tais condições.
Segundo Rios e
(2011), o município de Duque de
Caxias era uma região com a
presença de manguezais que com a
falta de planejamento e a
desorganizada ocupação, passou por
intenso assoreamento de rios e canais
e pelas ocupações por indústrias e
moradias para dar lu
gar a habitações.
Como consequência, sua população
sofre mais com os desmatamentos,
com ineficência na drenagem, com a
impermeabilização do solo, com a falta
de saneamen
to básico e de coleta e
destinos adequados para os resíduos
produzidos. Assim, parte de
população está exposta aos problemas
socioambientais produzidos nesses
processos.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
nela acontece o baile. Uma aluna nos
contou que, segundo sua mãe, onde
está essa quadra houve em seu
lugar um valão que foi aterrado.
ato e o dificultado
escoamento de água, essa região
inunda com as chuvas. Isso faz com
que as pessoas fiquem
impossibilitadas de transitar por essa
praça, bem como as coloca em
situação de exposição a doenças
transmitidas em tais condições.
Segundo Rios e
Loureiro
(2011), o município de Duque de
Caxias era uma região com a
presença de manguezais que com a
falta de planejamento e a
desorganizada ocupação, passou por
intenso assoreamento de rios e canais
e pelas ocupações por indústrias e
gar a habitações.
Como consequência, sua população
sofre mais com os desmatamentos,
com ineficência na drenagem, com a
impermeabilização do solo, com a falta
to básico e de coleta e
destinos adequados para os resíduos
produzidos. Assim, parte de
sua
população está exposta aos problemas
socioambientais produzidos nesses
As/Os alunas/os chamaram a
atenção para a conservação da
praça e dos aparelhos devido aos usos
dos moradores. A pergunta que
pudemos tecer através dessas
narrativas d
o habitar a praça diz
respeito ao uso do patrimônio público.
Quais as percepções e significações
do que é público para os
frequentadores dessa praça, que são
os mesmos jovens que reclamam da
sua sujeira?
É preciso cuidar do que é
público-
dizem as campanha
que aquilo que é público traz como
benefícios? Os projetos neoliberais
produzem o discurso de que se é
público, é ruim. Poderes executivos,
historicamente comprometidos com o
capitalprivado, deturpam o papel do
que é público. E os usuários da praç
entre táticas e opressões, ora cuidam,
ora destroem esse bem público que
por vezes não os representa.
O estado em que as quadras se
encontram, a que está mais
conservada e a que nãotem
conservação, podem ser reduzidas
apenas aos usos que os
frequentadores fazem dela? Com
essas imagens pensamos na ausência
do Estado, na não manutenção do
cuidado com os apar
elhos, na falta de
213
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
As/Os alunas/os chamaram a
atenção para a conservação da
praça e dos aparelhos devido aos usos
dos moradores. A pergunta que
pudemos tecer através dessas
o habitar a praça diz
respeito ao uso do patrimônio público.
Quais as percepções e significações
do que é público para os
frequentadores dessa praça, que são
os mesmos jovens que reclamam da
É preciso cuidar do que é
dizem as campanha
s- mas o
que aquilo que é público traz como
benefícios? Os projetos neoliberais
produzem o discurso de que se é
público, é ruim. Poderes executivos,
historicamente comprometidos com o
capitalprivado, deturpam o papel do
que é público. E os usuários da praç
a,
entre táticas e opressões, ora cuidam,
ora destroem esse bem público que
por vezes não os representa.
O estado em que as quadras se
encontram, a que está mais
conservada e a que nãotem
conservação, podem ser reduzidas
apenas aos usos que os
frequentadores fazem dela? Com
essas imagens pensamos na ausência
do Estado, na não manutenção do
elhos, na falta de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
planejamento na construção da praça,
da quadra e do campo de futebol que
estão em condições precárias de uso.
E pensamos, também, nos outros usos
que os frequentadores dão a esse
espaço, seja nos outros usos que o
aos aparelhos, ou na
insistência no
uso da quadra para j
ogar ou para
promover o baile.
Ainda conversando com essas
imagens, elas nos convidaram a
pensar sobre a apropriação dos
espaços públicos e privados. uma
ideia de que os espaços privados são
melhores por que um dono
responsável por sua manutenção e
conservação. os espaços públicos
não possuem um “responsável” e, com
isso, não sofrem apenas com as
ausências da manutenção, como
também com a depredação por
aqueles que não se reconhecem
nesses espaços e/ou reagem
violências produzidas pelo Estado em
suas ausências.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
planejamento na construção da praça,
da quadra e do campo de futebol que
estão em condições precárias de uso.
E pensamos, também, nos outros usos
que os frequentadores dão a esse
espaço, seja nos outros usos que o
insistência no
ogar ou para
Ainda conversando com essas
imagens, elas nos convidaram a
pensar sobre a apropriação dos
espaços públicos e privados. uma
ideia de que os espaços privados são
melhores por que um dono
, um
responsável por sua manutenção e
conservação. os espaços públicos
não possuem um “responsável” e, com
isso, não sofrem apenas com as
ausências da manutenção, como
também com a depredação por
aqueles que não se reconhecem
nesses espaços e/ou reagem
as
violências produzidas pelo Estado em
Figura 7 e 8: quadra da escola
Fonte: acervo da autora
As
fotografias acima o da
quadra da escola que logo foi
reconhecida pela turma. Perguntamos
à
turma se conseguiam ler o que
estava escrito na parede e logo
responderam
favela é lugar de paz
Comentaram que tinha sido feita por
214
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Figura 7 e 8: quadra da escola
Fonte: acervo da autora
fotografias acima o da
quadra da escola que logo foi
reconhecida pela turma. Perguntamos
turma se conseguiam ler o que
estava escrito na parede e logo
favela é lugar de paz
”.
Comentaram que tinha sido feita por
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
algum morador da região. Então
retornamos essa frase em forma de
pergunta: favela é lugar de paz? Como
resposta disseram
que dependia. Para
algumas/uns alunas/os ela era lugar
de paz, para outras/os, não.
Essa fotografia os movimentou.
Por um momento todas/os falavam
juntas/os, inclusive aquelas/os que se
mantiveram caladas durante a roda.
Por um momento estavam discutindo
sobre as regiões em que cada um
morava em Jardim Primavera e se
cada uma delas seria ou não favela.
Um aluno nos contou sobre como a
opressão policial interfere de forma
negativa no cotidiano dos moradores
da região em que mora que sua
presença signifi
ca violência. Nos
contou sobre as leis próprias de
atuação do poder do comércio ilegal
de drogas. Enquanto ele falava, seus
colegas discordavam. o achavam
“tranquilo” as outras formas de
violência impostas por outros poderes,
que também consideravam v
e limitavam suas vivências na região.
Essa fotografia nos levou a uma
conversa intensa.Todas/os
verbalizaram suas opiniões. Alguns de
forma mais tímida para a/o colega
sentado ao lado, outros para o grupo
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
algum morador da região. Então
retornamos essa frase em forma de
pergunta: favela é lugar de paz? Como
que dependia. Para
algumas/uns alunas/os ela era lugar
de paz, para outras/os, não.
Essa fotografia os movimentou.
Por um momento todas/os falavam
juntas/os, inclusive aquelas/os que se
mantiveram caladas durante a roda.
Por um momento estavam discutindo
sobre as regiões em que cada um
morava em Jardim Primavera e se
cada uma delas seria ou não favela.
Um aluno nos contou sobre como a
opressão policial interfere de forma
negativa no cotidiano dos moradores
da região em que mora que sua
ca violência. Nos
contou sobre as leis próprias de
atuação do poder do comércio ilegal
de drogas. Enquanto ele falava, seus
colegas discordavam. o achavam
“tranquilo” as outras formas de
violência impostas por outros poderes,
que também consideravam v
iolência
e limitavam suas vivências na região.
Essa fotografia nos levou a uma
conversa intensa.Todas/os
estudantes
verbalizaram suas opiniões. Alguns de
forma mais tímida para a/o colega
sentado ao lado, outros para o grupo
como um todo. O que percebemos
que o contato mais direto com as
várias formas de opressão, interferem
diretamente no deslocar desses jovens
pela cidade e nos usos que fazem da
mesma. Os jovens negros são os
mais afetados pelas violências físicas
e simbólicas cotidianas provocadas
pel
o Estado e por outros poderes no
dentrofora
da escola, em suas
experiências pela cidade e em um
bairro periférico. Essa limitação faz
com que tenham que se expor quando
precisam ir trabalhar, estudar ou
transitar em outras localidades
(CARRANO, 2003).
Entretanto, apesar de termos
conversado sobre as muitas formas de
violências e ausências do Estado,
gostaríamos de destacar que favela é
lugar, também, da arte e da alegria
de outras vivências que também
acontecem como táticas às ausências
conversadas aqui.
Caminhando com a conversa
Com os estudos nos/dos/com
os cotidianos entendemos que
sempre algo a tecer sobre um tema
quando nos propomos a pensar junto a
alguém ou a um grupo. Nesse sentido,
compreendemos que o movimento de
215
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
como um todo. O que percebemos
é
que o contato mais direto com as
várias formas de opressão, interferem
diretamente no deslocar desses jovens
pela cidade e nos usos que fazem da
mesma. Os jovens negros são os
mais afetados pelas violências físicas
e simbólicas cotidianas provocadas
o Estado e por outros poderes no
da escola, em suas
experiências pela cidade e em um
bairro periférico. Essa limitação faz
com que tenham que se expor quando
precisam ir trabalhar, estudar ou
transitar em outras localidades
Entretanto, apesar de termos
conversado sobre as muitas formas de
violências e ausências do Estado,
gostaríamos de destacar que favela é
lugar, também, da arte e da alegria
, e
de outras vivências que também
acontecem como táticas às ausências
Caminhando com a conversa
Com os estudos nos/dos/com
os cotidianos entendemos que
sempre algo a tecer sobre um tema
quando nos propomos a pensar junto a
alguém ou a um grupo. Nesse sentido,
compreendemos que o movimento de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
pensar o habitar junto à
juventudes que habitam uma escola no
bairro de Jardim Primavera não esgota
as muitas possibilidades de habitar e
de ser jovem nesse espaço. O que
tecemos coletivamente nesse trabalho
é que o habitar esse bairro, passa pelo
habitar a escola, pelos
espaços de
convivências do bairro, pelos afetos,
pelas relações com os ambientes
desse espaço, pelas memórias, pelas
sobrevivências e resistências.
As conversas com as imagens
nos movimentaram a pensar com
diferentes realidades vividas por
jovens estudante
s de uma escola
localizada em bairro periférico, bem
como possibilitou o deslocamento de
outras formas de entender o espaço
em que vivemos e nos fez refletir
sobre as táticas diárias de dentro e
fora da escola usadas como forma de
subverter e resistir as o
rdens impostas
pelos espaços em que vivemos,
estudamos e nos deslocamos.
Referências
bibliográficas
ALVES, Nilda. Sobre os movimentos
das pesqui
sas nos/dos/com/os
cotidianos. I
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
Pesquisa nos/dos/com os cotidia
das escolas
sobre redes de
saberes.Petrópolis: DP
et Alii
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pensar o habitar junto à
algumas
juventudes que habitam uma escola no
bairro de Jardim Primavera não esgota
as muitas possibilidades de habitar e
de ser jovem nesse espaço. O que
tecemos coletivamente nesse trabalho
é que o habitar esse bairro, passa pelo
espaços de
convivências do bairro, pelos afetos,
pelas relações com os ambientes
desse espaço, pelas memórias, pelas
sobrevivências e resistências.
As conversas com as imagens
nos movimentaram a pensar com
diferentes realidades vividas por
s de uma escola
localizada em bairro periférico, bem
como possibilitou o deslocamento de
outras formas de entender o espaço
em que vivemos e nos fez refletir
sobre as táticas diárias de dentro e
fora da escola usadas como forma de
rdens impostas
pelos espaços em que vivemos,
estudamos e nos deslocamos.
bibliográficas
ALVES, Nilda. Sobre os movimentos
sas nos/dos/com/os
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
org.).
Pesquisa nos/dos/com os cotidia
nos
sobre redes de
et Alii
, 2008.
ANDRADE,
vea, GUERREIRO,
João. Pensando a democracia com
jovens da baixada fluminense:
algumas rodas de imagens e outras
rodas de conversa.
Políticas Culturais
em Revista
, v. 11, n.
2018.
ANDRADE,
vea, GUERREIRO,
João
. Táticas das juventudes.
Periferia
, v. 11, n. 4, p. 134
set./dez. 2019.
BARCHI, Rodrigo. Pichar, Pixar,
Grafitar, Colar: Os discursos e
Representações sobre as pichações
nas escolas analisado
ambiental e libertária.
Janeiro, ano 8, nº 15
2007.
BARTHES, Roland.
A câmara clara:
notas sobre a fotografia
Janeiro: Nova Fronteira,
BASTOS, Glaucia Soares
Patrícia Raquel. Sobrevivência das
escolas-
pirilampo como modo de
(Re)Exitência.
Revista Educação &
Realidade
, Porto Alegre, v. 44, n. 3,
2019.
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
desafios
à convivência. In:
Maria Manuel
et al.
escola e as suas margens:
plurais em confronto
Instituto Politécnico de Portalegre,
2013. p.99-108.
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens, escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
desafios à convivência I
Luso-
Brasileiro de Sociologia da
Educação,
realizado na cidade Porto
Alegre, 2009.
CERTEAU, Michel de.
cotidiano. Petrópolis:
Vozes, 2014.
216
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vea, GUERREIRO,
João. Pensando a democracia com
jovens da baixada fluminense:
algumas rodas de imagens e outras
Políticas Culturais
, v. 11, n.
2, p. 79–100,
vea, GUERREIRO,
. Táticas das juventudes.
Revista
, v. 11, n. 4, p. 134
-154,
BARCHI, Rodrigo. Pichar, Pixar,
Grafitar, Colar: Os discursos e
Representações sobre as pichações
nas escolas analisado
s na perspectiva
ambiental e libertária.
Teias, Rio de
Janeiro, ano 8, nº 15
–16, jan/dez,
A câmara clara:
notas sobre a fotografia
. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira,
2018.
BASTOS, Glaucia Soares
; BARONI,
Patrícia Raquel. Sobrevivência das
pirilampo como modo de
Revista Educação &
, Porto Alegre, v. 44, n. 3,
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
à convivência. In:
VIEIRA,
et al.
(orgs.) Habitar a
escola e as suas margens:
geografias
plurais em confronto
. Portalegre:
Instituto Politécnico de Portalegre,
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens, escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
desafios à convivência I
n: II Colóquio
Brasileiro de Sociologia da
realizado na cidade Porto
CERTEAU, Michel de.
A invenção do
Vozes, 2014.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
DAYRELL, Juarez. O jovem como
sujeito social.
Revista Brasileira de
Educação
, Rio de Janeiro, n. 24, p.
40-52, dez. 2003.
ENNE, Ana Lucia, PASSOS, Pâmel
Juventudes e apropriações urbanas
em uma leitura polissêmica: reflexões
acerca da categoria “juventu
partir de um estudo de caso sobre
lanhouses em favelas cariocas.
Políticas Culturais em Revista
Salvador, v. 11, n. 2, p. 123
jul./dez, 2018.
KILOMBA, Grada.
Memórias da
Plantação:
episódios de racismo
cotidiano.
Rio de Janeiro: Cobogó,
2019.
MASSEY, Doreen.
Pelo espaço:
nova política da espacialidade
J
aneiro: Bertrand Brasil, 2015.
MASSEY, Doreen. Um sentido global
de lugar. In:
ARANTES
Augusto, (org.).
O espaço da
diferença. Campinas:
Papirus, 2000.
MELO, Luciana Cezário
SOUZA, Gilmara Silva;
Juarez. Escola e juventude: uma
relação possível
? Paidéia revista do
curso de pedagogia da Faculdade de
Ciências Humanas Sociedade e da
Saúde da Universidade Fumec.
Horizonte. Ano 9. n.12. p. 161
jan. /jun. 2012.
OLIVEIRA, Inês Barbosa, SGARBI,
Paulo.
Estudos do cotidiano e
educação
. Belo Horizonte. Autêntica
editora, 2008.
OLIVEIRA, Inês Barbosa.
as artes de fazer: as noções de uso,
tática e trajetória na pesquisa em
educação. I
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
Pesquisa nos/dos/com os cotidianos
das escolas
sobre redes de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
DAYRELL, Juarez. O jovem como
Revista Brasileira de
, Rio de Janeiro, n. 24, p.
ENNE, Ana Lucia, PASSOS, Pâmel
la.
Juventudes e apropriações urbanas
em uma leitura polissêmica: reflexões
acerca da categoria “juventu
de” a
partir de um estudo de caso sobre
lanhouses em favelas cariocas.
Políticas Culturais em Revista
,
Salvador, v. 11, n. 2, p. 123
-145,
Memórias da
episódios de racismo
Rio de Janeiro: Cobogó,
Pelo espaço:
Uma
nova política da espacialidade
. Rio de
aneiro: Bertrand Brasil, 2015.
MASSEY, Doreen. Um sentido global
ARANTES
, Antônio
O espaço da
Papirus, 2000.
MELO, Luciana Cezário
Milagres;
DAYRELL,
Juarez. Escola e juventude: uma
? Paidéia revista do
curso de pedagogia da Faculdade de
Ciências Humanas Sociedade e da
Saúde da Universidade Fumec.
Belo
Horizonte. Ano 9. n.12. p. 161
-186,
OLIVEIRA, Inês Barbosa, SGARBI,
Estudos do cotidiano e
. Belo Horizonte. Autêntica
Certeau e
as artes de fazer: as noções de uso,
tática e trajetória na pesquisa em
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
orgs.).
Pesquisa nos/dos/com os cotidianos
sobre redes de
saberes
. Rio de Janeiro: DP & A,
2001.
PIXO. Direção: João Wainer e
Roberto T. Oliveira. São Paulo:
Sindicato Paralelo Filmes, 2009. (61
min.), widescreen, colo
RIBEIRO, Tiago;
SOUZA Rafael de
SAMPAIO Carmen Sanches. É
possível a conversa como metodologia
de pesquisa? I
n: RIBEIRO, Tiago;
SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
Carmen Sanches (
o
como metodologia de pesquisa por
que não?
Rio de Jan
163-180 p.
SAMAIN, Etienne. As imagens não são
bolas de sinuca. In: SAMAIN,
Etienne.
Como pensam as imagens.
Campinas: Unicamp, 2018. p. 21
SAMPAIO, Carmen S; RIBEIRO,
Tiago; SOUZA, Rafael de. Conversa
como metodologia de pe
metodologia menor? I
Tiago; SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
Carmen Sanches (
o
como metodologia de pesquisa por
que não?
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
21-40 p.
SERPA, Andréa. Conversas:
possibilidades de pesquisa com o
cotidiano. In:
RIBEIRO, Tiago; SOUZA,
Rafael de; SAMPAIO, Carmen
Sanches (orgs.).
Conversa como
metodologia de pesquisa por que
não?
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
217
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
. Rio de Janeiro: DP & A,
PIXO. Direção: João Wainer e
Roberto T. Oliveira. São Paulo:
Sindicato Paralelo Filmes, 2009. (61
min.), widescreen, colo
r., legendado.
SOUZA Rafael de
;
SAMPAIO Carmen Sanches. É
possível a conversa como metodologia
n: RIBEIRO, Tiago;
SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
o
rgs.). Conversa
como metodologia de pesquisa por
Rio de Jan
eiro: Ayvu, 2018.
SAMAIN, Etienne. As imagens não são
bolas de sinuca. In: SAMAIN,
Como pensam as imagens.
Campinas: Unicamp, 2018. p. 21
-40.
SAMPAIO, Carmen S; RIBEIRO,
Tiago; SOUZA, Rafael de. Conversa
como metodologia de pe
squisa uma
metodologia menor? I
n: RIBEIRO,
Tiago; SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
o
rgs.). Conversa
como metodologia de pesquisa por
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
.
SERPA, Andréa. Conversas:
possibilidades de pesquisa com o
RIBEIRO, Tiago; SOUZA,
Rafael de; SAMPAIO, Carmen
Conversa como
metodologia de pesquisa por que
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
.