DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
multidão de ‘iguais’” (VALLADARES,
2010, p. 168).
Essa tendência distintiva se
choca, justamente, com o olhar desse
jovem
universitário, morador da
Babilônia, para si. Comumente
celebrado na favela como alguém que
"chegou lá" por ter ingressado no
ensino superior público ele repete,
como uma espécie de mantra
politizado, que ele não é a exceção da
favela, mas a regra. Tal po
embora quantitativamente contraditória
no que diz respeito à ainda minoritária
presença de pretos e pobres nos
bancos universitários, reitera
justamente o que mobiliza e justifica
nossa atuação no sentido de fomentar
o desejo de transformação
O
rapaz, antes parceiro por ser
um morador mobilizado da favela é,
atualmente, integrante do projeto de
extensão na qualidade de aluno da
UFF. Ele continua sendo uma
liderança comunitária, pai e
mototaxista. Não raro é possível
encontrá-
trabalho de translado, lendo um livro
ou equilibrando páginas xerocadas dos
conteúdos das aulas. A vida dele é,
atualmente, mais complexa do que era
antes. Mas ele se tornou alguém que
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
multidão de ‘iguais’” (VALLADARES,
Essa tendência distintiva se
choca, justamente, com o olhar desse
universitário, morador da
Babilônia, para si. Comumente
celebrado na favela como alguém que
"chegou lá" por ter ingressado no
ensino superior público ele repete,
como uma espécie de mantra
politizado, que ele não é a exceção da
favela, mas a regra. Tal po
sição,
embora quantitativamente contraditória
no que diz respeito à ainda minoritária
presença de pretos e pobres nos
bancos universitários, reitera
justamente o que mobiliza e justifica
nossa atuação no sentido de fomentar
rapaz, antes parceiro por ser
um morador mobilizado da favela é,
atualmente, integrante do projeto de
extensão na qualidade de aluno da
UFF. Ele continua sendo uma
liderança comunitária, pai e
mototaxista. Não raro é possível
seu
trabalho de translado, lendo um livro
ou equilibrando páginas xerocadas dos
conteúdos das aulas. A vida dele é,
atualmente, mais complexa do que era
antes. Mas ele se tornou alguém que
pensa a universidade a partir da favela
e não o contrário. E busca
disputar, inclusive, os sentidos do que
é ser um intelectual.
Jailson de Souza e Silva,
professor da UFF nascido na periferia
do Rio de Janeiro, reflete sobre o
desafio posto para jovens das favelas
diante do sonho de acessar e
apresenta uma fábula popular para
refletir sobre as dificuldades de
mobilidade social num país desigual,
racista e classista como o Brasil:
O corvo, insatisfeito com sua
condição, admirava à distância a
pela
elegância, pela cultura e pela
beleza. Até que, certo dia, toma uma
posição radical: pega uma lata de
Com essa nova roupagem, dirige
ao pombal; lá chegando, é
rapidamente identificado pelos
seu ingresso na sociedade.
Decepcionado, decide voltar ao
Lá chegando, todavia, a decepção se
faz mais profunda: seus antigos
irmãos não o reconhecem e
repudiam. Assim, sem ter o que tinha
ficou o pobre corvo só, lamentando
Partimos da ciência de tais
muros invisíveis e eficientes que ainda
restringem o acesso e permanência de
jovens periféricos nas universidades,
133
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
pensa a universidade a partir da favela
e não o contrário. E busca
, assim,
disputar, inclusive, os sentidos do que
Jailson de Souza e Silva,
professor da UFF nascido na periferia
do Rio de Janeiro, reflete sobre o
desafio posto para jovens das favelas
diante do sonho de acessar e
no superior. Ele
apresenta uma fábula popular para
refletir sobre as dificuldades de
mobilidade social num país desigual,
racista e classista como o Brasil:
O corvo, insatisfeito com sua
condição, admirava à distância a
- marcada
elegância, pela cultura e pela
beleza. Até que, certo dia, toma uma
posição radical: pega uma lata de
-se inteiramente.
Com essa nova roupagem, dirige
-se
ao pombal; lá chegando, é
rapidamente identificado pelos
o permitem
seu ingresso na sociedade.
Decepcionado, decide voltar ao
- os corvos.
Lá chegando, todavia, a decepção se
faz mais profunda: seus antigos
irmãos não o reconhecem e
repudiam. Assim, sem ter o que tinha
que desejava,
ficou o pobre corvo só, lamentando
. (SOUZA E
Partimos da ciência de tais
muros invisíveis e eficientes que ainda
restringem o acesso e permanência de
jovens periféricos nas universidades,