PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África
como uma prática educacional antirracista
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo:
da Pequena África no município do Rio de Janeiro. Tal ação foi elaborada como atividade de estágio
curricular
obrigatório de dois estudantes de licenciatura em História na Universidade Federal
Fluminense em conjunto com a docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro, ambos autores do
artigo. Abordando o passado escravocrata brasileiro e o contexto de permanente
propomos uma reflexão acerca de práticas educacionais comprometidas com a promoção dos
Direitos Humanos. Compreendendo o contexto de ataques à educação democrática e também ao
Ensino de História, optamos por compartilhar a experiência dest
a educação como possibilidade de práticas antirracistas.
Palavras-chave:
Pequena África; educação a
Hacer escuchar canciones de alegría y solucionar el dolor:
práctica educativa antiracista
Resumen:
El artículo analizará una visita técnica con estudiantes de secundaria a la región de Little
Africa en el municipio de Río de Janeiro. Esta acción fue diseñada como una actividad d
curricular obligatoria para dos estudiantes de la licenciatura en Historia de la Universidade Federal
Fluminense junto con la profesora del Instituto Federal de Río de Janeiro, ambos autores del artículo.
Abordando el pasado de la esclavitud bra
proponemos una reflexión sobre las prácticas educativas comprometidas con la promoción de los
1
Pâmella Santos dos Passos. D
outora em História pela U
(UFF).
Professora de História do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de
Janeiro (IFRJ), com estágio de pós
Social/ Museu Nacional/ UFRJ (2014), atualmente pós
em Educação da UFF, Brasil. E-
mail:
6100
2
Pedro Souza. Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
E-
mail: pedroh_souza@outlook.com.br
3
Sandrine Alves Barros da Silva. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi
bolsista de iniciação científica pelo Museu de Astronomia e Ciências Afin
mail: sandrinebsilva@gmail.com
Texto recebido em 15/09/20
20
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África
como uma prática educacional antirracista
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
46209
Pâmella
Sandrine Barros da Silva
O artigo analisará a realização de uma visita técnica com alunos de ensino médio à Região
da Pequena África no município do Rio de Janeiro. Tal ação foi elaborada como atividade de estágio
obrigatório de dois estudantes de licenciatura em História na Universidade Federal
Fluminense em conjunto com a docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro, ambos autores do
artigo. Abordando o passado escravocrata brasileiro e o contexto de permanente
propomos uma reflexão acerca de práticas educacionais comprometidas com a promoção dos
Direitos Humanos. Compreendendo o contexto de ataques à educação democrática e também ao
Ensino de História, optamos por compartilhar a experiência dest
a visita para assim afirmar a escola e
a educação como possibilidade de práticas antirracistas.
Pequena África; educação a
ntirracista; direitos
humanos; experiência; i
Hacer escuchar canciones de alegría y solucionar el dolor:
la visita a la Pequeña África como
El artículo analizará una visita técnica con estudiantes de secundaria a la región de Little
Africa en el municipio de Río de Janeiro. Esta acción fue diseñada como una actividad d
curricular obligatoria para dos estudiantes de la licenciatura en Historia de la Universidade Federal
Fluminense junto con la profesora del Instituto Federal de Río de Janeiro, ambos autores del artículo.
Abordando el pasado de la esclavitud bra
sileña y el contexto de racismo permanente en el país,
proponemos una reflexión sobre las prácticas educativas comprometidas con la promoción de los
outora em História pela U
niversidade Federal F
luminense
Professora de História do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de
Janeiro (IFRJ), com estágio de pós
-doutorado pelo Programa de Pós-
Graduação em Antropologia
Social/ Museu Nacional/ UFRJ (2014), atualmente pós
-
doutoranda do Programa d
mail:
pamella.passos@ifrj.edu.br -
https://orcid.org/0000
Pedro Souza. Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
mail: pedroh_souza@outlook.com.br
- https://orcid.org/0000-0002-7534-1200.
Sandrine Alves Barros da Silva. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi
bolsista de iniciação científica pelo Museu de Astronomia e Ciências Afin
s, Rio de Janeiro, Brasil. E
- https://orcid.org/0000-0002-3978-1081
20
, aceito para publicação em 12/10/2020
e disponibilizado online
em 01/03/2021.
69
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África
Pâmella
Passos
1
Pedro Souza
2
Sandrine Barros da Silva
3
O artigo analisará a realização de uma visita técnica com alunos de ensino médio à Região
da Pequena África no município do Rio de Janeiro. Tal ação foi elaborada como atividade de estágio
obrigatório de dois estudantes de licenciatura em História na Universidade Federal
Fluminense em conjunto com a docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro, ambos autores do
artigo. Abordando o passado escravocrata brasileiro e o contexto de permanente
racismo no país,
propomos uma reflexão acerca de práticas educacionais comprometidas com a promoção dos
Direitos Humanos. Compreendendo o contexto de ataques à educação democrática e também ao
a visita para assim afirmar a escola e
humanos; experiência; i
dentidade.
la visita a la Pequeña África como
El artículo analizará una visita técnica con estudiantes de secundaria a la región de Little
Africa en el municipio de Río de Janeiro. Esta acción fue diseñada como una actividad d
e pasantía
curricular obligatoria para dos estudiantes de la licenciatura en Historia de la Universidade Federal
Fluminense junto con la profesora del Instituto Federal de Río de Janeiro, ambos autores del artículo.
sileña y el contexto de racismo permanente en el país,
proponemos una reflexión sobre las prácticas educativas comprometidas con la promoción de los
luminense
Professora de História do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de
Graduação em Antropologia
doutoranda do Programa d
e Pós-Graduação
https://orcid.org/0000
-0001-9759-
Pedro Souza. Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
, Brasil.
Sandrine Alves Barros da Silva. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi
s, Rio de Janeiro, Brasil. E
-
e disponibilizado online
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Derechos Humanos. Entendiendo el contexto de los ataques a la educación democrática y también a
la Enseñanz
a de la Historia, optamos por compartir la experiencia de esta visita para afirmar la
escuela y la educación como posibilidad de prácticas antirracistas.
Palabras clave
: Pequeña África; e
M
aking happy chants and hiccupsf pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high
Abstract:
The present article aims to analyze a technical visit to the Little Africa
high-
school students in Rio de Janeiro municipality. This action featured part of the curricular
internship supervised practice by two History undergraduate licentiate students from the Federal
Fluminense University. They co
-
Federal Institute of Rio de Janeiro. Owing to the past Brazilian slavery system and the remaining
racism in the country, we intend to put forward a reflection over the History teaching practice an
relationship with the promotion of Human Rights. Amidst the context of attacks against democratic
education and History teaching, we are going to share this visiting experience in order to make a case
for school and education as a possibility for ant
Keywords: Little Africa; anti-
racist
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita
como uma prática educacional antirracista
1. Contextualizando
a visita
Iniciamos este trabalho
afirmando nosso
compromisso com
uma educação antirracista, nos termos
apresentados por Djamila Ribeiro em
seu Pequeno Manual antirracista
(2019). Como autora aponta, são
necessários alguns passos que podem
parecer simples, mas que a
implementados abalam as estruturas
racistas deste país.
Nesse sentido, privilegiamos
uma prática pedagógica que dialoga
com
a agenda dos movimen
e sociais, bem como se compromete a
cumprir as demandas referendadas
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Derechos Humanos. Entendiendo el contexto de los ataques a la educación democrática y también a
a de la Historia, optamos por compartir la experiencia de esta visita para afirmar la
escuela y la educación como posibilidad de prácticas antirracistas.
: Pequeña África; e
ducación antirracista;
derechos humanos; experiencia; i
aking happy chants and hiccupsf pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high
-
school students
The present article aims to analyze a technical visit to the Little Africa
school students in Rio de Janeiro municipality. This action featured part of the curricular
internship supervised practice by two History undergraduate licentiate students from the Federal
-
author th
is manuscript together with the supervisor teacher from the
Federal Institute of Rio de Janeiro. Owing to the past Brazilian slavery system and the remaining
racism in the country, we intend to put forward a reflection over the History teaching practice an
relationship with the promotion of Human Rights. Amidst the context of attacks against democratic
education and History teaching, we are going to share this visiting experience in order to make a case
for school and education as a possibility for ant
i-racist practices.
racist
education; human rights; experience; identity.
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita
à Pequena África
como uma prática educacional antirracista
a visita
Iniciamos este trabalho
compromisso com
uma educação antirracista, nos termos
apresentados por Djamila Ribeiro em
seu Pequeno Manual antirracista
(2019). Como autora aponta, são
necessários alguns passos que podem
parecer simples, mas que a
o serem
implementados abalam as estruturas
Nesse sentido, privilegiamos
uma prática pedagógica que dialoga
a agenda dos movimen
tos negros
e sociais, bem como se compromete a
cumprir as demandas referendadas
pelas leis
10.639 e 11.
sancionadas, respectivamente, em
1996 e 2008, que tornam obrigatório o
ensino de história e cultura
africana/afro-
brasileira e indígena nos
segmentos da educação básica.
Explicitamos assim os vieses de
compromisso e legalidade que
marcam nossa ação, a
importante num contexto de ataques
aos
professores, em especial ao das
áreas das ciências humanas, e suas
práticas de educação democrática em
prol dos direitos humanos (PENNA,
2016).
70
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Derechos Humanos. Entendiendo el contexto de los ataques a la educación democrática y también a
a de la Historia, optamos por compartir la experiencia de esta visita para afirmar la
derechos humanos; experiencia; i
dentidad.
aking happy chants and hiccupsf pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
school students
The present article aims to analyze a technical visit to the Little Africa
region with technical
school students in Rio de Janeiro municipality. This action featured part of the curricular
internship supervised practice by two History undergraduate licentiate students from the Federal
is manuscript together with the supervisor teacher from the
Federal Institute of Rio de Janeiro. Owing to the past Brazilian slavery system and the remaining
racism in the country, we intend to put forward a reflection over the History teaching practice an
d its
relationship with the promotion of Human Rights. Amidst the context of attacks against democratic
education and History teaching, we are going to share this visiting experience in order to make a case
à Pequena África
10.639 e 11.
645,
sancionadas, respectivamente, em
1996 e 2008, que tornam obrigatório o
ensino de história e cultura
brasileira e indígena nos
segmentos da educação básica.
Explicitamos assim os vieses de
compromisso e legalidade que
marcam nossa ação, a
specto
importante num contexto de ataques
professores, em especial ao das
áreas das ciências humanas, e suas
práticas de educação democrática em
prol dos direitos humanos (PENNA,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Dito isto, analisaremos uma
visita técnica à região da Pequena
Áf
rica, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, elaborada pelos
autores deste artigo, dois estudantes
de licenciatura em História sob a
supervisão de uma docente regente da
turma de Ensino Médio Técnico que
realizou tal visita. Os estudantes,
jovens
entre 17 e 20 anos, são alunos
e alunas do Instituto Federal de
Educação, Tecnologia e Ciência do
Rio de Janeiro (IFRJ)
Campus Rio
de Janeiro, situado no bairro
Maracanã. Tal visitação tomou por
base a organização proposta pelo
aplicativo “Passados Pres
idealizado pelas pesquisadoras Hebe
Mattos, Martha Abreu e Keila Grinberg,
adaptada ao tempo disponível e
possibilidades de deslocamento
Cabe destacar que nomeamos
de “visita cnica” o que diversas
instituições chamam de “aula
porém,
para o contexto de uma
instituição de formação técnica
profissional, como o IFRJ, optamos por
fazer uso do termo utilizado na
instituição para registrar as saídas dos
4
Disponível em:
https://play.google.com/store/apps/details?id=c
om.passadospresentes.peqafrica. Acesso em:
18 jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Dito isto, analisaremos uma
visita técnica à região da Pequena
rica, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, elaborada pelos
autores deste artigo, dois estudantes
de licenciatura em História sob a
supervisão de uma docente regente da
turma de Ensino Médio Técnico que
realizou tal visita. Os estudantes,
entre 17 e 20 anos, são alunos
e alunas do Instituto Federal de
Educação, Tecnologia e Ciência do
Campus Rio
de Janeiro, situado no bairro
Maracanã. Tal visitação tomou por
base a organização proposta pelo
aplicativo “Passados Pres
entes”,
idealizado pelas pesquisadoras Hebe
Mattos, Martha Abreu e Keila Grinberg,
adaptada ao tempo disponível e
possibilidades de deslocamento
4
.
Cabe destacar que nomeamos
de “visita cnica” o que diversas
instituições chamam de “aula
-passeio”,
para o contexto de uma
instituição de formação técnica
profissional, como o IFRJ, optamos por
fazer uso do termo utilizado na
instituição para registrar as saídas dos
https://play.google.com/store/apps/details?id=c
om.passadospresentes.peqafrica. Acesso em:
estudantes a fim de proporcionar
conhecimentos práticos de campo e no
campo, nas diversas
roteiro elaborado uniu Cais do
Valongo/da Imperatriz, Pedra do Sal, o
Jardim Suspenso do Valongo, e o
Instituto dos Pretos Novos, nesta
ordem de visitação. Tornando possível
ouvir tanto os cantos de alegria,
reverberado ainda hoje na Pedra
Sal, como os soluçares de dor,
cravados nas pedras do Valongo e nas
terras do antigo cemitério de negros e
negras, aludindo à famosa canção de
Clara Nunes
5
.
De forma resumida
escravizados e não escravos,
abordando práticas culturais, festa
alegrias, mas também açoites e
perversidades pretendemos dar
visibilidade à
opressão e resistência
vivida pelos negros e negras que aqui
chegaram após seu sequestro em
suas terras natais.
As salas
céu aberto que visitamos
complementavam e mate
temáticas abordadas na sala
formal.
5
DUARTE, Mauro; PINHEIRO, Paulo César.
Canto das Três Raças. In: NUNES, Clara.
Canto das Três Raças.
Rio de Janeiro: EMI
Odeon, 1976. LP. Faixa 1.
71
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
estudantes a fim de proporcionar
conhecimentos práticos de campo e no
campo, nas diversas
disciplinas. O
roteiro elaborado uniu Cais do
Valongo/da Imperatriz, Pedra do Sal, o
Jardim Suspenso do Valongo, e o
Instituto dos Pretos Novos, nesta
ordem de visitação. Tornando possível
ouvir tanto os cantos de alegria,
reverberado ainda hoje na Pedra
do
Sal, como os soluçares de dor,
cravados nas pedras do Valongo e nas
terras do antigo cemitério de negros e
negras, aludindo à famosa canção de
De forma resumida
ao falar em
escravizados e não escravos,
abordando práticas culturais, festa
s,
alegrias, mas também açoites e
perversidades pretendemos dar
opressão e resistência
vivida pelos negros e negras que aqui
chegaram após seu sequestro em
As salas
de aula a
céu aberto que visitamos
complementavam e mate
rializavam as
temáticas abordadas na sala
de aula
DUARTE, Mauro; PINHEIRO, Paulo César.
Canto das Três Raças. In: NUNES, Clara.
Rio de Janeiro: EMI
-
Odeon, 1976. LP. Faixa 1.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Cabe destacar que a atividade
foi f
ruto de um estágio de Pesquisa e
Prática de Ensino celebrado entre a
Universidade Federal Fluminense
(UFF) e o Instituto Federal do Rio de
Janeiro (IFRJ), e demonstra, também,
a importância deste espaço para a
formação de professores capazes de
ampliar vis
ões de mundo e estimular
sensibilidade frente à
s dificuldades
que surgem durante o magistério.
Trata-
se de um trabalho que gera
trocas e aprendizados, entre alunos
secundaristas, professores e
licenciandos.
2.
A Escola como fábula,
perversidade e possibilida
pensamentos sobre educação
É recorrente em nossa
sociedade uma visão na qual a escola
aparece como a grande salvadora dos
problemas sociais. Seria este o
caminho? Para analisar uma ação
produzida dentro de um contexto
escolar, uma visita técnica à reg
Pequena África, propomos um breve
diálogo com Milton Santos para situar
a concepção educacional de onde
partimos.
Em sua reconhecida obra “Por
uma outra globalização: do
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Cabe destacar que a atividade
ruto de um estágio de Pesquisa e
Prática de Ensino celebrado entre a
Universidade Federal Fluminense
(UFF) e o Instituto Federal do Rio de
Janeiro (IFRJ), e demonstra, também,
a importância deste espaço para a
formação de professores capazes de
ões de mundo e estimular
s dificuldades
que surgem durante o magistério.
se de um trabalho que gera
trocas e aprendizados, entre alunos
secundaristas, professores e
A Escola como fábula,
perversidade e possibilida
de:
pensamentos sobre educação
É recorrente em nossa
sociedade uma visão na qual a escola
aparece como a grande salvadora dos
problemas sociais. Seria este o
caminho? Para analisar uma ação
produzida dentro de um contexto
escolar, uma visita técnica à reg
ião da
Pequena África, propomos um breve
diálogo com Milton Santos para situar
a concepção educacional de onde
Em sua reconhecida obra “Por
uma outra globalização: do
pensamento único à consciência
universal”, Santos (2006) analisa o
processo de
globalização a partir de
três prismas: 1) a globalização como
fábula: como nos fazem ver, 2) a
globalização como perversidade:
assim como ela é, e 3) a globalização
como possibilidade: os usos possíveis
dos avanços gerados por este
processo.
Pensar a edu
especial a escola dialogando com esta
imagem trazida por Milton Santos nos
permite refletir sobre a instituição
escolar a partir de suas práticas e não
de forma estática. Nesse sentido,
cientes das dificuldades das escolas
básicas brasileiras e
profissionais, sobretudo da rede
pública, temos o cuidado de
compreender que a possibilidade de
realização de visitas-
técnicas ou aulas
passeio é algo bastante restrito, quase
uma fábula para diversas realidades.
Identificamos que, em especial
no qu
e tange a área de História, a
prevalência ainda é de uma escola
dividida em disciplinas,com ênfase nos
conteúdos históricos e não em práticas
que possibilitassem a compreensão
histórica no espaço
estudantes. Nesse sentido, a escola
72
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
pensamento único à consciência
universal”, Santos (2006) analisa o
globalização a partir de
três prismas: 1) a globalização como
fábula: como nos fazem ver, 2) a
globalização como perversidade:
assim como ela é, e 3) a globalização
como possibilidade: os usos possíveis
dos avanços gerados por este
Pensar a edu
cação e em
especial a escola dialogando com esta
imagem trazida por Milton Santos nos
permite refletir sobre a instituição
escolar a partir de suas práticas e não
de forma estática. Nesse sentido,
cientes das dificuldades das escolas
básicas brasileiras e
seus
profissionais, sobretudo da rede
pública, temos o cuidado de
compreender que a possibilidade de
técnicas ou aulas
-
passeio é algo bastante restrito, quase
uma fábula para diversas realidades.
Identificamos que, em especial
e tange a área de História, a
prevalência ainda é de uma escola
dividida em disciplinas,com ênfase nos
conteúdos históricos e não em práticas
que possibilitassem a compreensão
histórica no espaço
-tempo com os
estudantes. Nesse sentido, a escola
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
apresenta-s
e como perversidade,
reduzindo, e por vezes anulando, as
experiências históricas dos sujeitos de
aprendizagem.
No entanto, compreendemos
que a experiência que trazemos neste
artigo é um exemplo da escola como
possibilidade. Uma escola que
caminha pela cid
ade, que se faz entre
a educação básica e o ensino superior,
no encontro de estudantes de
licenciatura em história com
estudantes do Ensino dio Técnico
na área de química mediados por uma
professora
que, o apenas ensina,
mas que constantemente aprende.
Nesse contexto de encontro, é
importante destacar a compreensão
compartilhada pelos autores deste
artigo, e que também foram fazedores
da experiência da visita técnica aqui
analisada, acerca do papel da
educação na promoção dos Direitos
Humanos, em espe
cial no contexto
brasileiro. Na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, documento
produzido pela Organização das
Nações Unidas e aceito
universalmente, encontramos que tais
direitos devem se apresentar “como o
ideal comum a ser atingido por todos
os pov
os e todas as nações, com o
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
e como perversidade,
reduzindo, e por vezes anulando, as
experiências históricas dos sujeitos de
No entanto, compreendemos
que a experiência que trazemos neste
artigo é um exemplo da escola como
possibilidade. Uma escola que
ade, que se faz entre
a educação básica e o ensino superior,
no encontro de estudantes de
licenciatura em história com
estudantes do Ensino dio Técnico
na área de química mediados por uma
que, o apenas ensina,
mas que constantemente aprende.
Nesse contexto de encontro, é
importante destacar a compreensão
compartilhada pelos autores deste
artigo, e que também foram fazedores
da experiência da visita técnica aqui
analisada, acerca do papel da
educação na promoção dos Direitos
cial no contexto
brasileiro. Na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, documento
produzido pela Organização das
Nações Unidas e aceito
universalmente, encontramos que tais
direitos devem se apresentar “como o
ideal comum a ser atingido por todos
os e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce,
através do ensino e da educação
por promover o respeito a esses
direitos e liberdades” (ONU, p.
dos autores).
Dialogando com a Declaração
das Nações Unidas de 1948 e com o
contexto político brasileiro de ataques
aos direitos humanos, trazemos um
material elaborado também pelo IFRJ,
e que foi um desdobramento da visita
técnica feita com os estudantes à
região da
Pequena África. Trata
uma História em Quadrinhos (HQ),
produzida no âmbito do projeto de
extensão “Educação e Direitos
Humanos: o IFRJ em tempos de
conservadorismo”, ação que foi
agraciada com o Prêmio Paulo Freire
da Assembleia Legislativa do Estad
do Rio de Janeiro em 2019 e que foi
traduzida para inglês e espanhol.
(PASSOS; MULICO; MORGAN,
73
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce,
através do ensino e da educação
,
por promover o respeito a esses
direitos e liberdades” (ONU, p.
4, grifo
Dialogando com a Declaração
das Nações Unidas de 1948 e com o
contexto político brasileiro de ataques
aos direitos humanos, trazemos um
material elaborado também pelo IFRJ,
e que foi um desdobramento da visita
técnica feita com os estudantes à
Pequena África. Trata
-se de
uma História em Quadrinhos (HQ),
produzida no âmbito do projeto de
extensão “Educação e Direitos
Humanos: o IFRJ em tempos de
conservadorismo”, ação que foi
agraciada com o Prêmio Paulo Freire
da Assembleia Legislativa do Estad
o
do Rio de Janeiro em 2019 e que foi
traduzida para inglês e espanhol.
(PASSOS; MULICO; MORGAN,
2019).
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
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Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Imagem 1
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https://www.facebook.com/ensino.dh/photos/a.249895322041700/816170482080845.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Imagem 1
- História em Quadrinhos produzida pelo IFRJ
https://www.facebook.com/ensino.dh/photos/a.249895322041700/816170482080845.
Acesso em: 15/07/2020.
74
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
https://www.facebook.com/ensino.dh/photos/a.249895322041700/816170482080845.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Como informado no primeiro
quadrinho da HQ, o Cais do Valongo,
local pertencente à região da Pequena
África, foi reconhecido como
Patrimônio Cultural pela
reforçando a importância de sua
preservação e divulgação. A ilustração
reproduz cenas de uma
visita técnica
como a que analisaremos aqui, onde
foi possível tecer importantes
discussões sobre passados e
presente.
Retomando a ideia da escola
como possibilidade, ressaltamos a
importância da abertura para o
encontro, para a produção em diálogo
com o
s saberes e experiências
produzidos fora e para além da
instituição escolar. Nesse movimento,
os muros da escola vão ruindo e
durante este processo ela torna
“mais permeável ao contexto social e
suas influências” (DAYRELL, 2007, p.
1115). Com o progress
fortalecimento dos movimentos sociais
das minorias, as problemáticas
levantadas por estes passam a
permear as pautas das salas de aula,
em diversas ocasiões, inclusive, sendo
temáticas levantadas pelos e pelas
estudantes.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Como informado no primeiro
quadrinho da HQ, o Cais do Valongo,
local pertencente à região da Pequena
África, foi reconhecido como
Patrimônio Cultural pela
UNESCO,
reforçando a importância de sua
preservação e divulgação. A ilustração
visita técnica
como a que analisaremos aqui, onde
foi possível tecer importantes
discussões sobre passados e
Retomando a ideia da escola
como possibilidade, ressaltamos a
importância da abertura para o
encontro, para a produção em diálogo
s saberes e experiências
produzidos fora e para além da
instituição escolar. Nesse movimento,
os muros da escola vão ruindo e
durante este processo ela torna
-se
“mais permeável ao contexto social e
suas influências” (DAYRELL, 2007, p.
1115). Com o progress
ivo
fortalecimento dos movimentos sociais
das minorias, as problemáticas
levantadas por estes passam a
permear as pautas das salas de aula,
em diversas ocasiões, inclusive, sendo
temáticas levantadas pelos e pelas
É neste contexto, no qual os
muros das escolas vão ruindo, que a
lei 10.639/96 pode ser analisada. Após
intensas lutas, uma vitória dos
movimentos negros. A lei estabelece a
obrigatoriedade do ensino sobre
História e Cultura Afro
como a lei 11.645/08, que altera a
10.639/96 e inclui também o ensino da
História e Culturas indígenas no
currículo escolar. A partir destas leis, o
que era observado como prática de
alguns professores tornou
obrigatório. Novos desafios são
impostos, como ampliar a formação
destes
educadores no nível superior,
bem como revisar detalhadamente o
material escolar utilizado nas salas
aula.
3.
“Infeliz do povo que não sabe de
onde vem”
6
“É verdade que o africano, o
afrodescendente e o povo da floresta,
que se encontravam aqui pelo
menos dez mil anos foram os maiores
sofredores da globalização moderna.
(...),m
as não é toda verdade”
(SANTOS, 2013, p.
6
Trecho do rap "Milionário do Sonho", de
autoria de Leandro Roque de Oliveira, mais
conhecido como Emicida.
75
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(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
É neste contexto, no qual os
muros das escolas vão ruindo, que a
lei 10.639/96 pode ser analisada. Após
intensas lutas, uma vitória dos
movimentos negros. A lei estabelece a
obrigatoriedade do ensino sobre
História e Cultura Afro
-Brasileira. Bem
como a lei 11.645/08, que altera a
lei
10.639/96 e inclui também o ensino da
História e Culturas indígenas no
currículo escolar. A partir destas leis, o
que era observado como prática de
alguns professores tornou
-se
obrigatório. Novos desafios são
impostos, como ampliar a formação
educadores no nível superior,
bem como revisar detalhadamente o
material escolar utilizado nas salas
de
“Infeliz do povo que não sabe de
“É verdade que o africano, o
afrodescendente e o povo da floresta,
que se encontravam aqui pelo
menos dez mil anos foram os maiores
sofredores da globalização moderna.
as não é toda verdade”
(SANTOS, 2013, p.
123-124). As
Trecho do rap "Milionário do Sonho", de
autoria de Leandro Roque de Oliveira, mais
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
negras e negros que foram
sequestrados de sua terra natal e
trazidos como cativos para o Brasil,
atravessaram o Atlântico
com
sabedorias de outras terras que
vieram imantadas nos corpos,
suportes de memórias e de
experiências múltiplas que lançadas
na via do não retorno, da
desterritorialização e do
despedaçamento cognitivo e
identitário, reconstruíram
próprio curso, n
reinventando a si e ao mundo.
(SIMAS; RUFINO, 2018, p.
Ou seja, são elas e eles parte
fundante da nossa nação. Entretanto,
como modo de
produção, portanto,
como parte importante na organização
das relações sociais, o sistema
escravista-
colonial (GORENDER,
2010) deixou sua marca: a sociedade
organizou-
se, produtiva e socialmente,
hierarquizando e relegando tanto os
negros e as negras, assim como os
indígenas que aqui habitavam,
papel de marginalidade, que gerou e
desenvo
lveu o racismo, além de
permitir sua perpetuação até os dias
atuais. Uma sociedade que, para
afirmar uma pretensa superioridade
branca proporcionou a
destruição dos
valores culturais, das modalidades de
existência. A linguagem, o vestuário,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
negras e negros que foram
sequestrados de sua terra natal e
trazidos como cativos para o Brasil,
com
sabedorias de outras terras que
vieram imantadas nos corpos,
suportes de memórias e de
experiências múltiplas que lançadas
na via do não retorno, da
desterritorialização e do
despedaçamento cognitivo e
identitário, reconstruíram
-se no
próprio curso, n
o transe,
reinventando a si e ao mundo.
(SIMAS; RUFINO, 2018, p.
11)
Ou seja, são elas e eles parte
fundante da nossa nação. Entretanto,
produção, portanto,
como parte importante na organização
das relações sociais, o sistema
colonial (GORENDER,
2010) deixou sua marca: a sociedade
se, produtiva e socialmente,
hierarquizando e relegando tanto os
negros e as negras, assim como os
indígenas que aqui habitavam,
a um
papel de marginalidade, que gerou e
lveu o racismo, além de
permitir sua perpetuação até os dias
atuais. Uma sociedade que, para
afirmar uma pretensa superioridade
destruição dos
valores culturais, das modalidades de
existência. A linguagem, o vestuário,
as cnicas
o desvalorizadas”
(FANON, 2011, p.
274).
Diante disto, tornou
fundamental construir identidades
negras que dialoguem e combatam o
racismo presente na sociedade atual.
A escola é um instrumento para que,
através de análises críticas da
sociedade, possam
visões dos alunos
professores, sobre a temática, pois “é
pelo menos na escola que se deveria
ter uma visão mais crítica e objetiva
das raízes do preconceito e
discriminações raciais”
(NASCIMENTO, 2005, p.
A visita técnica
neste artigo teve como objetivo
justamente apresentar o africano
traficado e escravizado a partir
visão
que vai além da “coisificadora”,
pois
tal teoria (...) defende a ideia de
que as condições extremamente duras
da vida na escravid
ão teriam destituído
os escravos da capacidade de pensar
o mundo a partir de categorias e
significados sociais que não aqueles
instituídos pelos próprios senhores”
(CHALHOUB, 2011, p.
Apresentá-
lo como um agente
histórico, portador de vontades, de
de
sejos, de leituras sobre a realidade,
76
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(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
o desvalorizadas”
274).
Diante disto, tornou
-se
fundamental construir identidades
negras que dialoguem e combatam o
racismo presente na sociedade atual.
A escola é um instrumento para que,
através de análises críticas da
os ampliar as
e também dos
professores, sobre a temática, pois “é
pelo menos na escola que se deveria
ter uma visão mais crítica e objetiva
das raízes do preconceito e
discriminações raciais”
(NASCIMENTO, 2005, p.
23).
A visita técnica
que analisamos
neste artigo teve como objetivo
justamente apresentar o africano
traficado e escravizado a partir
de uma
que vai além da “coisificadora”,
tal teoria (...) defende a ideia de
que as condições extremamente duras
ão teriam destituído
os escravos da capacidade de pensar
o mundo a partir de categorias e
significados sociais que não aqueles
instituídos pelos próprios senhores”
(CHALHOUB, 2011, p.
314).
lo como um agente
histórico, portador de vontades, de
sejos, de leituras sobre a realidade,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
de construção de redes de
relacionamento foi um objetivo central
que perpassou toda nossa visita
técnica. Não uma “coisa”, mas um
humano, que foi posto, à força, num
lugar social de
escravizado
nós educadores a
presentarmos uma
visão atualizada, em termos
historiográficos, e que possui produção
bastante extensa, sobretudo a partir de
uma virada teórica e historiográfica
nos anos de 1980, que lançou “luz
sobre a face interna da escravidão em
suas várias abrangênci
as regionais” e
passou a encarar “os escravos como
sujeitos ativos na construção de seu
devir” (MARCHESE, 2013, p.
dando visibilidade ao escravizado
como ator social. Dialogar com tais
perspectivas historiográficas, a nosso
ver, é uma afirmação de
educação em direitos humanos e
antirracista.
Pensar na região da Pequena
África, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, local de história viva e
latente, é pensar muito além das
questões que envolvem a escravidão
propriamente dita. Transitar
caminhos é notar, a todo instante, que
esta é uma prova material que nega,
enfaticamente, o escravizado como
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
de construção de redes de
relacionamento foi um objetivo central
que perpassou toda nossa visita
técnica. Não uma “coisa”, mas um
humano, que foi posto, à força, num
escravizado
. Cabe a
presentarmos uma
visão atualizada, em termos
historiográficos, e que possui produção
bastante extensa, sobretudo a partir de
uma virada teórica e historiográfica
nos anos de 1980, que lançou “luz
sobre a face interna da escravidão em
as regionais” e
passou a encarar “os escravos como
sujeitos ativos na construção de seu
devir” (MARCHESE, 2013, p.
229),
dando visibilidade ao escravizado
como ator social. Dialogar com tais
perspectivas historiográficas, a nosso
ver, é uma afirmação de
uma
educação em direitos humanos e
Pensar na região da Pequena
África, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, local de história viva e
latente, é pensar muito além das
questões que envolvem a escravidão
propriamente dita. Transitar
por estes
caminhos é notar, a todo instante, que
esta é uma prova material que nega,
enfaticamente, o escravizado como
desprovido de ações sociais, e mesmo
políticas. Como explicar os terreiros
das religiões de matriz africana, ou
mesmo o surgimento do Sam
Choro, na região da Pedra do Sal,
partindo da crença de que o
escravizado era um mero refletor dos
ideais senhoriais? Esses locais
emanam resistência.
Trazer reflexões como estas ao
cotidiano escolar é complexificar a
escravidão, é pen
sistema de produção escravista,
disseminado pela historiografia
tradicional, que tende a uma análise
do quadro político-
social que leva
como parâmetro as classes
dominantes. Tal análise é muito
importante para compreensão e
superação das desigualdades q
vivemos, mas não é o único caminho.
Partimos do pressuposto que é
importante buscar resgatar as
complexas relações sociais presentes
nos tempos escravistas, dando
visibilidade à resistência negra. Ou,
como chamou Clóvis Moura, ações de
“quilombagem”, en
tendida como um
movimento de rebeldia permanente
organizado ou dirigido pelos próprios
escravos que se verificou durante o
escravismo em todo o território
77
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- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
desprovido de ações sociais, e mesmo
políticas. Como explicar os terreiros
das religiões de matriz africana, ou
mesmo o surgimento do Sam
ba e do
Choro, na região da Pedra do Sal,
partindo da crença de que o
escravizado era um mero refletor dos
ideais senhoriais? Esses locais
Trazer reflexões como estas ao
cotidiano escolar é complexificar a
escravidão, é pen
-la além do
sistema de produção escravista,
disseminado pela historiografia
tradicional, que tende a uma análise
social que leva
como parâmetro as classes
dominantes. Tal análise é muito
importante para compreensão e
superação das desigualdades q
ue
vivemos, mas não é o único caminho.
Partimos do pressuposto que é
importante buscar resgatar as
complexas relações sociais presentes
nos tempos escravistas, dando
visibilidade à resistência negra. Ou,
como chamou Clóvis Moura, ações de
tendida como um
movimento de rebeldia permanente
organizado ou dirigido pelos próprios
escravos que se verificou durante o
escravismo em todo o território
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
nacional
”, onde constavam “uma
constelação de movimentos de
protesto do escravo” (MOURA, 1992,
p. 22-
23). Não à toa, a região da Pedra
do Sal foi reconhecida como um
quilombo (CORRÊA, 2016, p.
Foi neste sentido que
organizamos a visita à região da
Pequena África, sabendo que seria
repleta de contrastes que vão desde
afirmações de verdades tidas c
incontestáveis, a a apresentação de
novos prismas de interpretação. Assim
sendo, apresentar os grilhões ainda
presentes no Cais do Valongo, ou
mesmo observarmos uma ossada
remetida a um escravizado que sequer
foi comercializado em terras
brasileiras,
no Instituto dos Pretos
Novos, é materializar a questão
escravista. Entretanto, visitar a Pedra
do Sal é poder dialogar com uma rica
cultura, construída com a genialidade
de negros e negras. É demonstrar que
se havia poder, também havia
resistência. Coloc
ando a lupa na
importância dos enfrentamentos,
mesmo que no campo das ideias. É
contribuir na construção de uma ou
mais identidades, ligadas ao
sentimento de pertencimento de uma
comunidade negra.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
”, onde constavam “uma
constelação de movimentos de
protesto do escravo” (MOURA, 1992,
23). Não à toa, a região da Pedra
do Sal foi reconhecida como um
quilombo (CORRÊA, 2016, p.
12)
Foi neste sentido que
organizamos a visita à região da
Pequena África, sabendo que seria
repleta de contrastes que vão desde
afirmações de verdades tidas c
omo
incontestáveis, a a apresentação de
novos prismas de interpretação. Assim
sendo, apresentar os grilhões ainda
presentes no Cais do Valongo, ou
mesmo observarmos uma ossada
remetida a um escravizado que sequer
foi comercializado em terras
no Instituto dos Pretos
Novos, é materializar a questão
escravista. Entretanto, visitar a Pedra
do Sal é poder dialogar com uma rica
cultura, construída com a genialidade
de negros e negras. É demonstrar que
se havia poder, também havia
ando a lupa na
importância dos enfrentamentos,
mesmo que no campo das ideias. É
contribuir na construção de uma ou
mais identidades, ligadas ao
sentimento de pertencimento de uma
4.
O processo de construção de
identidades é algo complexo.
S
em construir a sua identidade
“racial” ou étnica, alienada no
universo racista brasileiro, o negro
não poderá participar do processo de
construção da democracia e da
identidade nacional em de
igualdade com seus compatriotas de
outras ascendências.
É a p
artir daqui que colocamos a
questão da importância de ensinar a
história da África e do negro na
sociedade e na escola brasileira. É
possível ensinar a história do Brasil
sem incluir a história de todos os
grupos étnico-
raciais que aqui se
encontram em con
diferentes e desiguais? (MUNANGA,
2015, p. 25)
Tendo em vista a citação de
Kabengele
Munanga posta acima, a
vida escolar é fator decisivo na
formação de um arcabouço intelectual
e também de uma rede de
sociabilidade que são cruciais na
construção de uma, ou mais
identidades, ao longo da infância,
adolescência e da juventude. Essas
identidades tendem a se entrecruzar
no espaço escolar, onde
e compartilhamos não conteúdos e
saberes escolares,
valores, crenças e h
como preconceitos raciais, de gênero,
de classe e de idade” (GOMES, 2002,
p. 39)
. Sendo assim é fundamental
que os educadores busquem dialogar
com essas temáticas em sala de aula,
78
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- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
O processo de construção de
identidades é algo complexo.
em construir a sua identidade
“racial” ou étnica, alienada no
universo racista brasileiro, o negro
não poderá participar do processo de
construção da democracia e da
identidade nacional em de
igualdade com seus compatriotas de
outras ascendências.
artir daqui que colocamos a
questão da importância de ensinar a
história da África e do negro na
sociedade e na escola brasileira. É
possível ensinar a história do Brasil
sem incluir a história de todos os
raciais que aqui se
encontram em con
dições históricas
diferentes e desiguais? (MUNANGA,
Tendo em vista a citação de
Munanga posta acima, a
vida escolar é fator decisivo na
formação de um arcabouço intelectual
e também de uma rede de
sociabilidade que são cruciais na
construção de uma, ou mais
identidades, ao longo da infância,
adolescência e da juventude. Essas
identidades tendem a se entrecruzar
no espaço escolar, onde
“aprendemos
e compartilhamos não conteúdos e
mas também,
valores, crenças e h
ábitos, assim
como preconceitos raciais, de gênero,
de classe e de idade” (GOMES, 2002,
. Sendo assim é fundamental
que os educadores busquem dialogar
com essas temáticas em sala de aula,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
lidar com os preconceitos que
permeiam o cotidiano escolar.
Em pesquisa realizada por Stela
Guedes Caputo, recolhendo
depoimentos de alunos da rede
pública de ensino, é cenário comum
essa discriminação realizada no
ambiente escolar para com aqueles
que se identificam, por exemplo, com
religiões de matrizes africana
Partindo da fala de uma aluna
chamada Joyce, a autora pode
concluir que ela
omite sua religião, disfarça sua
para não ser ainda mais perseguida.
Esse mecanismo, chamado de
sincretismo, esconde uma violação e
fez com que Joyce tenha preferido
dizer q
ue apanhara de sua mãe em
vez de se assumir como praticante
do candomblé. A dolorosa prática é
utilizada por quase todas as crianças
e adolescentes que entrevistei ao
longo desse tempo. (...) Joyce
associa o preconceito religioso ao
preconceito racial. “As
apontavam na rua e também na
escola e diziam: Isso é coisa de
negro!” (CAPUTO, 2012, p.
Essa fala demonstra bem o
enraizamento de percepções racistas
que estigmatizam a figura do negro
desde a mais tenra idade. Um
processo que Frantz
Fanon chama de
“psicopatologização do negro”: desde
criança os sujeitos são bombardeados
com uma
uma série de proposições
que, lenta e sutilmente, graças às
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
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1, n. 20, p. 69-89,
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lidar com os preconceitos que
permeiam o cotidiano escolar.
Em pesquisa realizada por Stela
Guedes Caputo, recolhendo
depoimentos de alunos da rede
pública de ensino, é cenário comum
essa discriminação realizada no
ambiente escolar para com aqueles
que se identificam, por exemplo, com
religiões de matrizes africana
s.
Partindo da fala de uma aluna
chamada Joyce, a autora pode
omite sua religião, disfarça sua
para não ser ainda mais perseguida.
Esse mecanismo, chamado de
sincretismo, esconde uma violação e
fez com que Joyce tenha preferido
ue apanhara de sua mãe em
vez de se assumir como praticante
do candomblé. A dolorosa prática é
utilizada por quase todas as crianças
e adolescentes que entrevistei ao
longo desse tempo. (...) Joyce
associa o preconceito religioso ao
preconceito racial. “As
pessoas me
apontavam na rua e também na
escola e diziam: Isso é coisa de
negro!” (CAPUTO, 2012, p.
200)
Essa fala demonstra bem o
enraizamento de percepções racistas
que estigmatizam a figura do negro
desde a mais tenra idade. Um
Fanon chama de
“psicopatologização do negro”: desde
criança os sujeitos são bombardeados
uma série de proposições
que, lenta e sutilmente, graças às
obras literárias, aos jornais, à
educação, aos livros escolares, aos
cartazes, ao cinema, à rádio,
no indivíduo
constituindo a visão do
mundo da coletividade à qual ele
pertence” (FANON, 2008, p.
infelizmente, estes valores aos quais a
criança negra é submetida, são
valores brancos
, em suma maioria.
Fruto do colonialismo, “o arquéti
valores inferiores é representado pelo
negro” (Ibidem
, p.160). Ou seja, desde
criança é ensinado que tudo aquilo
que envolve à
pretitude
tipos de cabelo, os tons de pele, os
traços fenotípicos, os processos
culturais. Em contraposição, tu
aquilo relacionado à
responde ao polo oposto, infelizmente,
o positivo. É uma chaga do
colonialismo que podemos perceber
na fala da aluna trazida por Caputo
logo acima.
Partindo deste cenário é preciso
lidar com esses preconceitos através
d
o fortalecimento de identidades
combativas que perpassem
diretamente pela construção de uma
memória coletiva que permita a
criação de
imaginadas”
no sentindo trabalhado por
Benedict Anderson (2008). Além disso,
79
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(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
obras literárias, aos jornais, à
educação, aos livros escolares, aos
cartazes, ao cinema, à rádio,
penetram
constituindo a visão do
mundo da coletividade à qual ele
pertence” (FANON, 2008, p.
135), e,
infelizmente, estes valores aos quais a
criança negra é submetida, são
, em suma maioria.
Fruto do colonialismo, “o arquéti
po dos
valores inferiores é representado pelo
, p.160). Ou seja, desde
criança é ensinado que tudo aquilo
pretitude
é ruim, os
tipos de cabelo, os tons de pele, os
traços fenotípicos, os processos
culturais. Em contraposição, tu
do
aquilo relacionado à
branquitude
responde ao polo oposto, infelizmente,
o positivo. É uma chaga do
colonialismo que podemos perceber
na fala da aluna trazida por Caputo
Partindo deste cenário é preciso
lidar com esses preconceitos através
o fortalecimento de identidades
combativas que perpassem
diretamente pela construção de uma
memória coletiva que permita a
criação de
“comunidades
no sentindo trabalhado por
Benedict Anderson (2008). Além disso,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
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março 2021.
cabe destacar que, memória, em um
sentido prático e aplicado junto à obra
de Pierre Nora,
é a vida, sempre carregada por
grupos vivos e, nesse sentido, ela
está em permanente evolução,
aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas
deformações sucessivas, vulneráv
a todos os usos e manipulações,
susceptível de longas latências e de
repentinas revitalizações. (...) A
memória é um fenômeno sempre
atual, um elo vivido no eterno
presente. (NORA, 1993, p.
Visitar esses lugares de
memória (Ibidem, p. 12
-
ouvidos e acolhimento a sentimentos e
pertencimentos que muitas vezes são
obliterados aos olhos da sociedade e
por consequência do nosso cotidiano
escolar. É
“reconhecer que a África
tem história” e que este fato “é o ponto
de partida para discutir a
diáspora negra que na historiografia
dos países pelo tráfico negreiro foi
também ora negada, ora distorcida,
ora falsificada” (MUNANGA, 2015, p.
28),
daí a importância da queda dos
muros que cercam a escola e a
entrada de pautas de algumas
mino
rias, como tem sido observado,
através dos próprios alunos, ou com a
força de lei, como as leis 10.639/96 ou
a lei 11.645/08.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
cabe destacar que, memória, em um
sentido prático e aplicado junto à obra
é a vida, sempre carregada por
grupos vivos e, nesse sentido, ela
está em permanente evolução,
aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas
deformações sucessivas, vulneráv
el
a todos os usos e manipulações,
susceptível de longas latências e de
repentinas revitalizações. (...) A
memória é um fenômeno sempre
atual, um elo vivido no eterno
presente. (NORA, 1993, p.
9)
Visitar esses lugares de
-
13) é dar
ouvidos e acolhimento a sentimentos e
pertencimentos que muitas vezes são
obliterados aos olhos da sociedade e
por consequência do nosso cotidiano
“reconhecer que a África
tem história” e que este fato “é o ponto
de partida para discutir a
história da
diáspora negra que na historiografia
dos países pelo tráfico negreiro foi
também ora negada, ora distorcida,
ora falsificada” (MUNANGA, 2015, p.
daí a importância da queda dos
muros que cercam a escola e a
entrada de pautas de algumas
rias, como tem sido observado,
através dos próprios alunos, ou com a
força de lei, como as leis 10.639/96 ou
5.
A valorização das culturas
populares
É importante ilustrar que o
esforço desta visita também se
encaixa na constante tentativa d
valorização da cultura popular,
seguindo como base primária, e
teórica, a interpretação dada por
Thompson, onde a cultura popular
tradicional consegue significativa
independência em relação à cultura
entendida como erudita, além de ser
um campo de mudanç
visão deste autor, uma cultura
representa “um conjunto de diferentes
recursos, em que sempre uma
troca entre o escrito e o oral, o
dominante e o subordinado, a aldeia e
a metrópole; é uma arena de
elementos conflitivos” (THOMPSON,
2005, p.
17). Muito embora exista uma
tentativa de controle sobre essa
cultura por parte das elites dirigentes,
é possível perceber que uma cultura
costumeira
“que não está sujeita, em
seu funcionamento cotidiano, ao
domínio ideológico dos governantes”
(Ibidem, p.
17). É a esta cultura
costumeira que chamamos de
“cultura(s) populares”.
Essas culturas populares são
resultado da encruzilhada de vários
80
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
A valorização das culturas
É importante ilustrar que o
esforço desta visita também se
encaixa na constante tentativa d
e
valorização da cultura popular,
seguindo como base primária, e
teórica, a interpretação dada por
Thompson, onde a cultura popular
tradicional consegue significativa
independência em relação à cultura
entendida como erudita, além de ser
um campo de mudanç
a e disputa. Na
visão deste autor, uma cultura
representa “um conjunto de diferentes
recursos, em que sempre uma
troca entre o escrito e o oral, o
dominante e o subordinado, a aldeia e
a metrópole; é uma arena de
elementos conflitivos” (THOMPSON,
17). Muito embora exista uma
tentativa de controle sobre essa
cultura por parte das elites dirigentes,
é possível perceber que uma cultura
“que não está sujeita, em
seu funcionamento cotidiano, ao
domínio ideológico dos governantes”
17). É a esta cultura
costumeira que chamamos de
“cultura(s) populares”.
Essas culturas populares são
o
resultado da encruzilhada de vários
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
conhecimentos, aqueles trazidos como
fruto do desterro do povo africano e
aqueles que aqui foram ressignifcados,
“crioulizados” (PRICE, 2003). Assim,
conseguimos complexificar o conceito
de cultura, que é alargado e deixa de
atender somente à processos das
elites,
“tão culturais quanto uma ópera
de Verdi ou uma sinfonia de
Beethoven são a capoeira, o
candomblé, o jo
ngo, o acarajé”
(PASSOS; FACINA, 2014, p.
Estes últimos, marcos culturais negros,
que perpassam diretamente a história
da região visitada.
Nesse sentido, cabe destacar
também
que de forma mais específica
a visita técnica promoveu o conceito
de cultura popular negra, apoiado nos
ideais de Stuart Hall (2006), que
considera necessário levar em
consideração as condições sociais e
materiais das classes específicas
durante a análise
cultural. Hall defende
determinado distanciamento da visão
clássica de cultura popular em
detrimento da superação de barreiras
limitantes que o conceito engessado
impõe. O que aqui se pretende é um
distanciamento da cultura popular
enquanto “consumida” e u
aproximação da definição de cultura
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
conhecimentos, aqueles trazidos como
fruto do desterro do povo africano e
aqueles que aqui foram ressignifcados,
“crioulizados” (PRICE, 2003). Assim,
conseguimos complexificar o conceito
de cultura, que é alargado e deixa de
atender somente à processos das
“tão culturais quanto uma ópera
de Verdi ou uma sinfonia de
Beethoven são a capoeira, o
ngo, o acarajé”
(PASSOS; FACINA, 2014, p.
15).
Estes últimos, marcos culturais negros,
que perpassam diretamente a história
Nesse sentido, cabe destacar
que de forma mais específica
a visita técnica promoveu o conceito
de cultura popular negra, apoiado nos
ideais de Stuart Hall (2006), que
considera necessário levar em
consideração as condições sociais e
materiais das classes específicas
cultural. Hall defende
determinado distanciamento da visão
clássica de cultura popular em
detrimento da superação de barreiras
limitantes que o conceito engessado
impõe. O que aqui se pretende é um
distanciamento da cultura popular
enquanto “consumida” e u
ma
aproximação da definição de cultura
produzida pelo o povo, como é a
questão da produção encontrada na
região da Pequena África. A cultura
popular que se coloca em constantes
tensionamentos em relação à cultura
dominante, um campo em constante
disputa, e
também engajamento na
luta e enfrentamento, onde “o corpo
objetificado, desencantando, como
pretendido pelo colonialismo, dribla e
golpeia a lógica dominante” (SIMAS;
RUFINO, 2018, p.
48)
Além disso, é nosso trabalho
produzir junto com os estudantes a
no
ção de que a cultura negra não é
única, ou seja, imutável ao redor do
mundo, e sim uma construção plural,
pois une
a herança africana, trazida no
â
mago da diáspora, e as tradições
desenvolvidas em território
brasileiro. As bases para compreender
essa fo
rmação se dão justamente nas
continuidades e rupturas, pois se trata
de
“um espaço ambivalente,
paradoxal, local de interseções,
consentimentos, insurgências e
contestações táticas”
FACINA, 2014, p. 15)
.
6.
Experiências da visita
Apesar dos percalç
enfrentados para a realização desta
81
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
produzida pelo o povo, como é a
questão da produção encontrada na
região da Pequena África. A cultura
popular que se coloca em constantes
tensionamentos em relação à cultura
dominante, um campo em constante
também engajamento na
luta e enfrentamento, onde “o corpo
objetificado, desencantando, como
pretendido pelo colonialismo, dribla e
golpeia a lógica dominante” (SIMAS;
48)
Além disso, é nosso trabalho
produzir junto com os estudantes a
ção de que a cultura negra não é
única, ou seja, imutável ao redor do
mundo, e sim uma construção plural,
a herança africana, trazida no
mago da diáspora, e as tradições
desenvolvidas em território
brasileiro. As bases para compreender
rmação se dão justamente nas
continuidades e rupturas, pois se trata
“um espaço ambivalente,
paradoxal, local de interseções,
consentimentos, insurgências e
contestações táticas”
(PASSOS;
.
Experiências da visita
Apesar dos percalç
os
enfrentados para a realização desta
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
visita, como a falta de apoio financeiro
e logístico devido à falta de verbas,
conseguimos levar nossos alunos e
alunas para região da Pequena África,
utilizando transporte blico, através
do cartão Riocard (gratuida
transporte rodoviário concedida, por
lei, pela Prefeitura do Rio de Janeiro à
estudantes devidamente matriculados
na rede pública de ensino), e uma boa
quantidade de conversa com
condutores do transporte para
permitirem a entrada de tantos alunos,
o
que não deveria ser um problema,
que é direito concedido e autorizado
pela legislação vigente.
A falta de incentivo é algo
razoavelmente comum no ensino
público, seja ele das esferas municipal,
estadual ou mesmo federal. Portanto
os educadores se veem
em situações
em que devem abrir mão de táticas,
que
não são revolucionárias na medida
em que não transformam o estatuto
do poder, não destituem
determinados grupos do poder, mas
obrigam àqueles que estão no poder
a reformularem permanentemente
suas estrat
égias. As táticas,
portanto, são transformadoras das
relações sociais (ANDRADE, 2011,
p. 33).
Fazer uso de táticas em nossa
prática docente é ultrapassar os
obstáculos burocráticos impostos pelo
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
visita, como a falta de apoio financeiro
e logístico devido à falta de verbas,
conseguimos levar nossos alunos e
alunas para região da Pequena África,
utilizando transporte blico, através
do cartão Riocard (gratuida
de no
transporte rodoviário concedida, por
lei, pela Prefeitura do Rio de Janeiro à
estudantes devidamente matriculados
na rede pública de ensino), e uma boa
quantidade de conversa com
condutores do transporte para
permitirem a entrada de tantos alunos,
que não deveria ser um problema,
que é direito concedido e autorizado
A falta de incentivo é algo
razoavelmente comum no ensino
público, seja ele das esferas municipal,
estadual ou mesmo federal. Portanto
em situações
em que devem abrir mão de táticas,
não são revolucionárias na medida
em que não transformam o estatuto
do poder, não destituem
determinados grupos do poder, mas
obrigam àqueles que estão no poder
a reformularem permanentemente
égias. As táticas,
portanto, são transformadoras das
relações sociais (ANDRADE, 2011,
Fazer uso de táticas em nossa
prática docente é ultrapassar os
obstáculos burocráticos impostos pelo
sistema, que dificultam o cotidiano
escolar, e no caso da
contribuir através da possibilidade de
criação de conhecimentos que
permitam a construção ou o
fortalecimento de identidade(s)
negra(s).
Sobre a região da Pequena
África é necessário apresentar duas
considerações coletivas dos alunos
que fiz
eram a atividade: 1) a grande
maioria nunca havia feito uma visita
aquela região; 2) as dificuldades de
acesso. Quanto à
consideração nos demonstra a urgente
necessidade de ampliarmos o escopo
de conhecimento sobre a cidade do
Rio de Janeiro
. Como um colégio
federal de excelência, o IFRJ atrai
alunos das mais diversas zonas da
cidade do Rio, bem como da Região
Metropolitana do Estado, o que mostra
que, perante as dificuldades e o custo
razoável de locomoção para muitas
famílias, fica patente
das instituições de educação
propiciarem, sobretudo com apoio
logístico e financeiro, o alargamento
dos conhecimentos sobre a história,
cultura e geografia da cidade.
Sobre a segunda consideração
coletiva: a região da Pequena África,
82
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
sistema, que dificultam o cotidiano
escolar, e no caso da
nossa visita,
contribuir através da possibilidade de
criação de conhecimentos que
permitam a construção ou o
fortalecimento de identidade(s)
Sobre a região da Pequena
África é necessário apresentar duas
considerações coletivas dos alunos
eram a atividade: 1) a grande
maioria nunca havia feito uma visita
aquela região; 2) as dificuldades de
primeira, essa
consideração nos demonstra a urgente
necessidade de ampliarmos o escopo
de conhecimento sobre a cidade do
. Como um colégio
federal de excelência, o IFRJ atrai
alunos das mais diversas zonas da
cidade do Rio, bem como da Região
Metropolitana do Estado, o que mostra
que, perante as dificuldades e o custo
razoável de locomoção para muitas
famílias, fica patente
a necessidade
das instituições de educação
propiciarem, sobretudo com apoio
logístico e financeiro, o alargamento
dos conhecimentos sobre a história,
cultura e geografia da cidade.
Sobre a segunda consideração
coletiva: a região da Pequena África,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
por te
r sido uma região tanto de
chegada de africanos trazidos sob
sequestro de suas respectivas regiões
natais, como da venda destes acabou
ficando estigmatizada e isolada do
resto da sociedade carioca.
Analisando o projeto de reforma
urbanística “Plano Porto d
data 2001, patrocinado pela própria
Prefeitura do Rio, Roberta Sampaio
Guimarães encontra a visão
autoridades sobre a região: no corpo
do projeto, seguido de uma imagem
panorâmica da região vista da Baia de
Guanabara (talvez a mesma
os tumbeiros também tivessem ao
atracar no Valongo),
foi operado um regime de
historicidade calcado na valorização
do futuro, utilizando noções como
‘antigo’, ‘ocioso’, ‘obsoleto’,
‘abandonadoe ‘velho’ para qualificar
o tempo presente da Zona
e ‘criativo’, ‘reestruturado’,
‘reciclado’, ‘renovado’ e ‘moderno’
para designar os projetos de
transformação (GUIMARÃES, 2014,
p. 34)
Infelizmente, não é apenas
datada deste século a insistente
tentativa de reformas na região
visando, usualm
ente, apagar seu
passado relacionado, majorita
riamente, à questão negra. Ainda no
início do século passado o então
prefeito Pereira Passos praticou o
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
r sido uma região tanto de
chegada de africanos trazidos sob
sequestro de suas respectivas regiões
natais, como da venda destes acabou
ficando estigmatizada e isolada do
resto da sociedade carioca.
Analisando o projeto de reforma
urbanística “Plano Porto d
o Rio”, que
data 2001, patrocinado pela própria
Prefeitura do Rio, Roberta Sampaio
Guimarães encontra a visão
oficial das
autoridades sobre a região: no corpo
do projeto, seguido de uma imagem
panorâmica da região vista da Baia de
Guanabara (talvez a mesma
visão que
os tumbeiros também tivessem ao
foi operado um regime de
historicidade calcado na valorização
do futuro, utilizando noções como
‘antigo’, ‘ocioso’, ‘obsoleto’,
‘abandonadoe ‘velho’ para qualificar
o tempo presente da Zona
Portuária;
e ‘criativo’, ‘reestruturado’,
‘reciclado’, ‘renovado’ e ‘moderno’
para designar os projetos de
transformação (GUIMARÃES, 2014,
Infelizmente, não é apenas
datada deste século a insistente
tentativa de reformas na região
ente, apagar seu
passado relacionado, majorita
-
riamente, à questão negra. Ainda no
início do século passado o então
prefeito Pereira Passos praticou o
“bota-
abaixo”, na expectativa de
expurgar a chaga escravista da região,
revitalizando-
a. Num sentido mais
concreto, embranquecendo
da leitura racial feita à época, e que
parece ter deixado profundas
consequências na visão coletiva e
oficial da sociedade carioca
(CHALHOUB, 1995).
Destacados alguns pontos
fundamentais para entender não as
dificul
dades da nossa visita, como
também os objetivos desta,
continuemos o relato da experiência
vivida.
Como a visita não foi uma
atividade proposta como avaliação
para o bimestre,
desistências, cerca de 50% da turma
compareceu. O que talvez
d
emonstre algumas das dificuldades
do sistema educacional brasileiro.
Apesar disso, os estudantes que se
propuseram a ir, participaram e
interagiram bastante com a visita,
levantando questões ou mesmo
contribuindo com os seus
conhecimentos prévios.
Pudemo
s problematizar com os
alunos sobre o esquecimento da
região da Pequena África, frente as
autoridades competentes, como
83
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
abaixo”, na expectativa de
expurgar a chaga escravista da região,
a. Num sentido mais
concreto, embranquecendo
-a, no bojo
da leitura racial feita à época, e que
parece ter deixado profundas
consequências na visão coletiva e
oficial da sociedade carioca
Destacados alguns pontos
fundamentais para entender não as
dades da nossa visita, como
também os objetivos desta,
continuemos o relato da experiência
Como a visita não foi uma
atividade proposta como avaliação
houve algumas
desistências, cerca de 50% da turma
compareceu. O que talvez
emonstre algumas das dificuldades
do sistema educacional brasileiro.
Apesar disso, os estudantes que se
propuseram a ir, participaram e
interagiram bastante com a visita,
levantando questões ou mesmo
contribuindo com os seus
conhecimentos prévios.
s problematizar com os
alunos sobre o esquecimento da
região da Pequena África, frente as
autoridades competentes, como
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
descrito acima, e como a recente
revitalização da área foi possível
pelos investimentos dos grandes
eventos realizados no Rio de Jane
a Copa do Mundo, em 2014 e as
Olimpíadas, em 2016. Inclusive, a
redescoberta do Cais do Valongo/da
Imperatriz ocorreu neste cenário.
Apesar do conhecimento teórico sobre
tal localidade, não se sabia sua
localização geográfica. Tal fato foi
possível
com as obras na região. Hoje,
o Cais é aberto à visitação 24 horas
por dia, e foi eleito pela UNESCO, em
2017, como Patrimônio Mundial, fato
que o coloca, segundo o órgão
mundial, no mesmo patamar histórico
e memorialístico que o campo de
concentração de
Auschwitz, na
Polônia
7
. Ou seja, o Cais é um local
onde pudemos ouvir o ecoar de
soluços de dor de negros e negras
sequestrados de suas raízes e
escravizados deste lado do
Atlântico.
Durante a visita foi possível
mostrar aos estudantes o local onde
mil
hares de negros, que seriam
escravizados, desembarcaram no
7
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/09/politi
ca/1499625756_209
845.html. Acesso em: 18
jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
descrito acima, e como a recente
revitalização da área foi possível
pelos investimentos dos grandes
eventos realizados no Rio de Jane
iro:
a Copa do Mundo, em 2014 e as
Olimpíadas, em 2016. Inclusive, a
redescoberta do Cais do Valongo/da
Imperatriz ocorreu neste cenário.
Apesar do conhecimento teórico sobre
tal localidade, não se sabia sua
localização geográfica. Tal fato foi
com as obras na região. Hoje,
o Cais é aberto à visitação 24 horas
por dia, e foi eleito pela UNESCO, em
2017, como Patrimônio Mundial, fato
que o coloca, segundo o órgão
mundial, no mesmo patamar histórico
e memorialístico que o campo de
Auschwitz, na
. Ou seja, o Cais é um local
onde pudemos ouvir o ecoar de
soluços de dor de negros e negras
sequestrados de suas raízes e
escravizados deste lado do
Durante a visita foi possível
mostrar aos estudantes o local onde
hares de negros, que seriam
escravizados, desembarcaram no
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/09/politi
845.html. Acesso em: 18
Brasil. E como, com a vinda da
Imperatriz Teresa Cristina em 1843, o
Cais foi reformado, e ressignificado,
para recebê-
la. Encontram
hoje na localidade, dentre as três
camadas de construçã
o espaço, os grilhões onde os
escravizados eram presos no processo
de desembarque.
Após este ponto levamos os
estudantes para a Pedra do Sal, local
onde podemos ouvir os cantos de
alegria do povo negro. Importante
lugar de memória que ainda
marca a vida cultural do Rio de
Janeiro, berço do Samba e do Choro.
A Pedra do Sal foi um momento de
reflexão sobre a vida cultural das
negras e negros, um debate sobre a
religiosidade e sua ligação com a
cultura, onde expusemos sobre as
famosas tias
quituteiras e a mais
famosa delas, a Tia Ciata
relação com a Cultura Negra.
8
Hilária Batista de Almeida, mais conhecida
como Tia Ciata, nasceu na Bahia, em 1854,
mas foi no Rio de Janeiro que ganhou fama.
Mãe-de-
Santo em um terreiro na Praça Onze,
onde vários composições e compositores
foram cria
dos. Seu terreiro pode ser
considerado, também, como berço do Samba.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1924. Mais
sobre Tia Ciata: MOURA, Roberto.
a Pequena África no Rio de Janeiro
de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura,
1995.
84
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Brasil. E como, com a vinda da
Imperatriz Teresa Cristina em 1843, o
Cais foi reformado, e ressignificado,
la. Encontram
-se ainda
hoje na localidade, dentre as três
camadas de construçã
o que compõem
o espaço, os grilhões onde os
escravizados eram presos no processo
Após este ponto levamos os
estudantes para a Pedra do Sal, local
onde podemos ouvir os cantos de
alegria do povo negro. Importante
lugar de memória que ainda
hoje
marca a vida cultural do Rio de
Janeiro, berço do Samba e do Choro.
A Pedra do Sal foi um momento de
reflexão sobre a vida cultural das
negras e negros, um debate sobre a
religiosidade e sua ligação com a
cultura, onde expusemos sobre as
quituteiras e a mais
famosa delas, a Tia Ciata
8
e sua
relação com a Cultura Negra.
Hilária Batista de Almeida, mais conhecida
como Tia Ciata, nasceu na Bahia, em 1854,
mas foi no Rio de Janeiro que ganhou fama.
Santo em um terreiro na Praça Onze,
onde vários composições e compositores
dos. Seu terreiro pode ser
considerado, também, como berço do Samba.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1924. Mais
sobre Tia Ciata: MOURA, Roberto.
Tia Ciata e
a Pequena África no Rio de Janeiro
. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Continuamos o nosso itinerário
e seguimos para o Jardim Suspenso
do Valongo. Cabe ressaltar que,
apesar de estar em nosso itinerário a
construção não pertence ao período
inicialmente proposto, pois foi erguida
durante a Reforma urbanística
proposta por Francisco Pereira
Passos, em 1906, ou seja, 18 anos
após a Abolição. Entretanto o encontro
com este lugar é importante para
compreender os momentos históricos
do Rio de Jane
iro, sobretudo, por
representar a junção de períodos
históricos, que muitos dos
ornamentos utilizados neste foram
retirados do Cais da Imperatriz antes
de seu aterramento.
Finalizamos nossa visita no
Instituto dos Pretos Novos, o IPN, sua
sede fica no
bairro da Zona Portuária,
da Gamboa, também na Pequena
África. O Instituto visa preservar a
memória sobre o Cemitério dos Pretos
Novos, localidade onde eram
enterrados os cativos recém
ao Rio, que porventura faleciam antes
mesmo de serem comercial
Cabe destacar que a falta de prest
e respeito destinados à
área fica nítid
ao serem descobertos
juntamente aos
corpos resíduos produzidos pela
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
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Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Continuamos o nosso itinerário
e seguimos para o Jardim Suspenso
do Valongo. Cabe ressaltar que,
apesar de estar em nosso itinerário a
construção não pertence ao período
inicialmente proposto, pois foi erguida
durante a Reforma urbanística
proposta por Francisco Pereira
Passos, em 1906, ou seja, 18 anos
após a Abolição. Entretanto o encontro
com este lugar é importante para
compreender os momentos históricos
iro, sobretudo, por
representar a junção de períodos
históricos, que muitos dos
ornamentos utilizados neste foram
retirados do Cais da Imperatriz antes
Finalizamos nossa visita no
Instituto dos Pretos Novos, o IPN, sua
bairro da Zona Portuária,
da Gamboa, também na Pequena
África. O Instituto visa preservar a
memória sobre o Cemitério dos Pretos
Novos, localidade onde eram
enterrados os cativos recém
-chegados
ao Rio, que porventura faleciam antes
mesmo de serem comercial
izados.
Cabe destacar que a falta de prest
ígio
área fica nítid
a
juntamente aos
corpos resíduos produzidos pela
cidade, que eram descartados na área
pelo entendimento da população geral
que este era um local de
escória social. Além disso, é preciso
informar que a área do cemitério era
administrada pela Igreja Católica,
responsável pelo livro de identificações
de corpos, todos descartados em valas
comuns.
Na localidade é possível visitar
ossadas semi
completas, além de ossos avulsos.
Bem como alguns objetos, resquícios
do lixo cotidiano da época.Pudemos
problematizar esta questão com os
estudantes e materializar a real
condição, por muitas vezes suavizada
nos livros didáticos, daqueles su
que desembarcavam no Brasil como
fruto do tráfico atlântico de pessoas.
Ao final da visitação
propusemos um formulário a ser
respondido pelos estudantes via
internet. Constavam três
questionamentos: “Você gostou da
visita técnica à região da ‘Pequ
África’? Justifique.”; “Você
recomendaria esta visita a outr@
alun@? Justifique.”; “Pensando em
melhorar sempre, o que você mudaria
na visita técnica?”. A metade dos
presentes respondeu. Todos
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
cidade, que eram descartados na área
pelo entendimento da população geral
que este era um local de
descarte de
escória social. Além disso, é preciso
informar que a área do cemitério era
administrada pela Igreja Católica,
responsável pelo livro de identificações
de corpos, todos descartados em valas
Na localidade é possível visitar
ossadas semi
ou totalmente
completas, além de ossos avulsos.
Bem como alguns objetos, resquícios
do lixo cotidiano da época.Pudemos
problematizar esta questão com os
estudantes e materializar a real
condição, por muitas vezes suavizada
nos livros didáticos, daqueles su
jeitos
que desembarcavam no Brasil como
fruto do tráfico atlântico de pessoas.
Ao final da visitação
propusemos um formulário a ser
respondido pelos estudantes via
internet. Constavam três
questionamentos: “Você gostou da
visita técnica à região da ‘Pequ
ena
África’? Justifique.”; “Você
recomendaria esta visita a outr@
alun@? Justifique.”; “Pensando em
melhorar sempre, o que você mudaria
na visita técnica?”. A metade dos
presentes respondeu. Todos
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
afirmaram gostar da visita técnica e
justificaram, usualmen
te, relacionando
a questão do conhecimento ou a
materialização do conteúdo muitas
vezes idealizado em sala
Lembrando ser esse um dos objetivos
centrais da visita técnica. Assim como
todas as respostas apontaram que
recomendariam a visita a outros
estudantes, justificando a necessidade
de conhecer mais sobre a nossa
história.
Sobre a possibilidade de
melhorar a visita, foram apontados
alguns ajustes, como adicionar mais
lugares ao roteiro, ou, principalmente,
melhorar a logística da visita, como a
utilização de um veículo oferecido pela
instituição.
7.
É preciso afirmar que “Vid
negras importam! Algumas
considerações finais
Sair dos muros da escola torna
se fundamental para o processo de
construção do aprendizado,
(re)conhecimento e fortalecimento de
identidades. Pudemos, através da
visita, materializar um conhecimento
que mui
tas vezes fica pouco palpável
quando abordado em sala
envolto nas quatro frias paredes que
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
afirmaram gostar da visita técnica e
te, relacionando
a questão do conhecimento ou a
materialização do conteúdo muitas
vezes idealizado em sala
de aula.
Lembrando ser esse um dos objetivos
centrais da visita técnica. Assim como
todas as respostas apontaram que
recomendariam a visita a outros
estudantes, justificando a necessidade
de conhecer mais sobre a nossa
Sobre a possibilidade de
melhorar a visita, foram apontados
alguns ajustes, como adicionar mais
lugares ao roteiro, ou, principalmente,
melhorar a logística da visita, como a
utilização de um veículo oferecido pela
É preciso afirmar que “Vid
as
negras importam! Algumas
Sair dos muros da escola torna
-
se fundamental para o processo de
construção do aprendizado,
(re)conhecimento e fortalecimento de
identidades. Pudemos, através da
visita, materializar um conhecimento
tas vezes fica pouco palpável
quando abordado em sala
de aula,
envolto nas quatro frias paredes que
delimitam este espaço. Visualizar os
grilhões, ver os muros pintados da
Pedra do Sal, entender a real condição
dos escravizados torna
fundamental para o
situações polític
as
econômicas
contemporâneas.
Resgatando Djamila Ribeiro
(2019), compreendemos o processo
desta visita como uma ação que
questionou a cultura que consumimos,
na medida em que apresentou um
roteiro histórico aind
valorizado, bem como enxergou a
negritude presente nas e nos
estudantes que participaram da visita e
se viram na cultura presente na região
visitada.
Uma saída como esta
também contextualizar os mais
recentes ataques
umband
a e candomblé que vêm sendo
observados na rotina fluminense
como a violência praticada diariamente
contra as populações mais pobres e
seus representantes.
Em nossa hipótese, visitas
como esta permitem aos estudantes
9
Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas
noticias/2019/06/15/traficantes
policia-e-mpf-miram-
intolerancia
rio.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e
3a6da3d7996
. Acesso em: 18 jul. 2020.
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
delimitam este espaço. Visualizar os
grilhões, ver os muros pintados da
Pedra do Sal, entender a real condição
dos escravizados torna
-se
fundamental para o
entendimento de
as
, sociais e
contemporâneas.
Resgatando Djamila Ribeiro
(2019), compreendemos o processo
desta visita como uma ação que
questionou a cultura que consumimos,
na medida em que apresentou um
roteiro histórico aind
a pouco
valorizado, bem como enxergou a
negritude presente nas e nos
estudantes que participaram da visita e
se viram na cultura presente na região
Uma saída como esta
permite
também contextualizar os mais
recentes ataques
a terreiros de
a e candomblé que vêm sendo
observados na rotina fluminense
9
, bem
como a violência praticada diariamente
contra as populações mais pobres e
Em nossa hipótese, visitas
como esta permitem aos estudantes
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas
-
noticias/2019/06/15/traficantes
-de-jesus-
intolerancia
-religiosa-no-
rio.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e
. Acesso em: 18 jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
experiências que contribuem no
co
mbate às práticas racistas e
preconceituosas como as relatadas
anteriormente. O conhecimento
histórico, cultural e social do nosso
passado transbordou a sala de aula e
se (re)fez nas ruas, becos e vielas da
Pequena África. Com essa ação
pretendemos ser um
contraponto aos
discursos de ódio, tanto no que tange
à
própria prática docente (PENNA,
2016), como também às minorias, do
ponto de vista sociológico, tendo em
vista à negação enfática do passado
escravista brasileiro, sobretudo em
conteúdos vistos na inte
redes sociais. Bem como também
dialogamos com a ideia de que o
racismo é sempre
estrutural”,
suas expressões
no cotidiano, seja
nas relações interpessoais, seja na
dinâmica das instituições, são
manifestações de algo mais profundo,
que se desenvolve nas entranhas
políticas e econômicas da sociedade”.
Portanto, “em uma sociedade em que
o racismo está presente na v
cotidiana, as instituições que não
tratarem de maneira ativa e como um
problema a desigualdade racial irão
facilmente reproduzir as práticas
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
experiências que contribuem no
mbate às práticas racistas e
preconceituosas como as relatadas
anteriormente. O conhecimento
histórico, cultural e social do nosso
passado transbordou a sala de aula e
se (re)fez nas ruas, becos e vielas da
Pequena África. Com essa ação
contraponto aos
discursos de ódio, tanto no que tange
própria prática docente (PENNA,
2016), como também às minorias, do
ponto de vista sociológico, tendo em
vista à negação enfática do passado
escravista brasileiro, sobretudo em
conteúdos vistos na inte
rnet e nas
redes sociais. Bem como também
dialogamos com a ideia de que o
estrutural”,
e que
no cotidiano, seja
nas relações interpessoais, seja na
dinâmica das instituições, são
manifestações de algo mais profundo,
que se desenvolve nas entranhas
políticas e econômicas da sociedade”.
Portanto, “em uma sociedade em que
o racismo está presente na v
ida
cotidiana, as instituições que não
tratarem de maneira ativa e como um
problema a desigualdade racial irão
facilmente reproduzir as práticas
racistas tidas como ‘normais’ em
toda a sociedade (ALMEIDA, 2019).
Nesse sentido, como apontado
na HQ que a
presentamos no início do
artigo, precisamos falar sobre este
passado de dor para que ele não se
repita. Silenciar implica naturalizar.
Não podemos naturalizar que o Brasil
ainda continue sendo racista,
praticando um genocídio da população
negra como aponta
m os dados da
Anistia Internacional na Campanha
“Jovem Negro Vivo”
10
antirracista
comprometid
promoção dos Direitos Humanos é
urgente, afinal as ruas gritam “Vidas
negras importam!”. E
experiência compartilhada neste
arti
go, possa contribuir para uma
educação de fato igualitária.
8. Referências
bibliográficas
ALMEIDA, S. L.
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São Paulo: Editora Pólen, 2019.
ANDERSON, B.
Imaginadas:
reflexões sobre a origem
e a difusão do nacionalismo
Paulo: Companhia das Letras, 2008.
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escolares como táticas criadoras: os
praticantes nas tessituras de
10
Disponível em:
https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovi
vo/.
Acesso em: 15 jul. 2020.
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
racistas tidas como ‘normais’ em
toda a sociedade (ALMEIDA, 2019).
Nesse sentido, como apontado
presentamos no início do
artigo, precisamos falar sobre este
passado de dor para que ele não se
repita. Silenciar implica naturalizar.
Não podemos naturalizar que o Brasil
ainda continue sendo racista,
praticando um genocídio da população
m os dados da
Anistia Internacional na Campanha
10
. Uma Educação
comprometid
a com a
promoção dos Direitos Humanos é
urgente, afinal as ruas gritam “Vidas
negras importam!”. E
speramos que, a
experiência compartilhada neste
go, possa contribuir para uma
educação de fato igualitária.
bibliográficas
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Cidade Febril:
e epidemias na Corte Imperial. São
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CHALHOUB, S.
Visões da Liberdade:
uma história das última
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