MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Identidad Marron
e o mito do labirinto.
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
Resumo:
Em um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a interseccionalidade são
debatidos por vários espaços, procuramos apresentar um estudo de caso e uma reflexão sobre a
atuação do
Colectivo Identidad Marron
em 2018 na cidade de Buenos Aires, o
periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção dos povos originários em melhores postos de
trabalhos e espaços
de destaque artístico.
gigantesco labirinto, sugerimos que esta situação se apresenta como a reconfiguração do mito do
Minotauro e objetivamos
erefletir sobre o modo como
as iniciativas e movimentos solidários
Marron
em meio ao sistema de precarização ressignificam sua inserção, dando maior visibilidade às
questões dos
movimentos identit
Palavras-chaves
: coletivos políticos e culturais; povos originários; América Latina;
interseccionalidade; precarização cultural.
Identidad marrón y el mito del laberinto
Buenos Aires
Resumen:
En un momento en el que tanto la agenda identitaria como la interseccionalidad son
discutidas por diversos espacios, buscamos presentar un caso de estudio y una reflexión sobre la
actuación del
Colectivo Identidad Marron
2018 en la ciudad de Buenos Aires, el
periféricos, mujeres y gays que luchan por una inserción de los pueblos originarios en mejores
empleos y espacios de protagonismo a
laberinto gigantesco, sugerimos que esta situación se presenta como la reconfiguración del mito del
Minotauro y pretendemos introducir un debate sobre la relación laberinto / tecnología
/intersecci
onalidad y reflexionar sobre la forma en que las iniciativas y movimientos solidarios de los
integrantes de Identidad Marrón en medio del precario sistema dan un nuevo sentido a su inserción,
dando mayor visibilidad a los temas de los movimientos identitar
1
Roberta Filgueiras Mathias.
Doutoranda de Cinema pela Universidade Federal Fluminense
Doutoranda em Ciências Soci
ais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
robertamathias@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
2
Michele Pucarelli.
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
UFRJ. Professor do Programa de Pós
universidade Federal Fluminense, Brasil. E
0001-9345-4463
Recebido em 21/01/2021,
aceito para publicação em 2
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
e o mito do labirinto.
Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
.48251
Roberta Filgueiras
Michele Pucarelli
Em um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a interseccionalidade são
debatidos por vários espaços, procuramos apresentar um estudo de caso e uma reflexão sobre a
Colectivo Identidad Marron
em meio
ao contexto da precarização na Argentina. Formado
em 2018 na cidade de Buenos Aires, o
Colectivo
é composto principalmente por indígenas,
periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção dos povos originários em melhores postos de
de destaque artístico.
Compreendendo o atual cenário
precarizado
gigantesco labirinto, sugerimos que esta situação se apresenta como a reconfiguração do mito do
introduzir um debate sobre a relação labirinto
/
tecnologia/Interseccionalidade
as iniciativas e movimentos solidários
das integrantes do
em meio ao sistema de precarização ressignificam sua inserção, dando maior visibilidade às
movimentos identit
ários na Argentina.
: coletivos políticos e culturais; povos originários; América Latina;
interseccionalidade; precarização cultural.
Identidad marrón y el mito del laberinto
. Lucha y resistencia del colectivo de pueblos de
En un momento en el que tanto la agenda identitaria como la interseccionalidad son
discutidas por diversos espacios, buscamos presentar un caso de estudio y una reflexión sobre la
Colectivo Identidad Marron
en el contexto de la preca
riedad en Argentina. Formado en
2018 en la ciudad de Buenos Aires, el
Colectivo
está compuesto principalmente por indígenas,
periféricos, mujeres y gays que luchan por una inserción de los pueblos originarios en mejores
empleos y espacios de protagonismo a
rtístico. Entendiendo el actual escenario precario como un
laberinto gigantesco, sugerimos que esta situación se presenta como la reconfiguración del mito del
Minotauro y pretendemos introducir un debate sobre la relación laberinto / tecnología
onalidad y reflexionar sobre la forma en que las iniciativas y movimientos solidarios de los
integrantes de Identidad Marrón en medio del precario sistema dan un nuevo sentido a su inserción,
dando mayor visibilidad a los temas de los movimientos identitar
ios en Argentina.
Doutoranda de Cinema pela Universidade Federal Fluminense
ais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
-
UERJ, Brasil.
https://orcid.org/0000
-0002-8715-4998
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
UFRJ. Professor do Programa de Pós
-Graduação em Mídia e Cotidiano -
PPGMC/UFF da
universidade Federal Fluminense, Brasil. E
-mail: michelepucarelli@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
aceito para publicação em 2
2/05/20
21 e disponibilizado online em
01/09/2021.
165
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Luta e resistência do coletivo dos povos
Roberta Filgueiras
Mathias
1
Michele Pucarelli
2
Em um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a interseccionalidade são
debatidos por vários espaços, procuramos apresentar um estudo de caso e uma reflexão sobre a
ao contexto da precarização na Argentina. Formado
é composto principalmente por indígenas,
periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção dos povos originários em melhores postos de
precarizado
como um
gigantesco labirinto, sugerimos que esta situação se apresenta como a reconfiguração do mito do
tecnologia/Interseccionalidade
das integrantes do
Identidad
em meio ao sistema de precarização ressignificam sua inserção, dando maior visibilidade às
: coletivos políticos e culturais; povos originários; América Latina;
. Lucha y resistencia del colectivo de pueblos de
En un momento en el que tanto la agenda identitaria como la interseccionalidad son
discutidas por diversos espacios, buscamos presentar un caso de estudio y una reflexión sobre la
riedad en Argentina. Formado en
está compuesto principalmente por indígenas,
periféricos, mujeres y gays que luchan por una inserción de los pueblos originarios en mejores
rtístico. Entendiendo el actual escenario precario como un
laberinto gigantesco, sugerimos que esta situación se presenta como la reconfiguración del mito del
Minotauro y pretendemos introducir un debate sobre la relación laberinto / tecnología
onalidad y reflexionar sobre la forma en que las iniciativas y movimientos solidarios de los
integrantes de Identidad Marrón en medio del precario sistema dan un nuevo sentido a su inserción,
ios en Argentina.
Doutoranda de Cinema pela Universidade Federal Fluminense
– UFF e
UERJ, Brasil.
E-mail:
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
-
PPGMC/UFF da
https://orcid.org/0000
-
21 e disponibilizado online em
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Palabras clave:
colectivos políticos y culturales; pueblos originarios; América Latina;
interseccionalidad; precariedad cultural.
Identidad Marron
and the myth of the labyrinth.
peoples from Buenos Aires
Abstract:
At a time when both the identity agenda and intersectionality are discussed by various
spaces, we seek to present a case study and a reflection on the performance of
Marron
in the context of precariousness in Argentina. Formed in 2018 in the city of Buenos Aires, the
Colectivo
is mainly composed of indigenous, peripheral, women and gays struggling for an insertion of
native peoples in better Jobs and spaces of artistic promi
scenario as a gigantic labyrinth, we suggest that this situation presents itself as the reconfiguration of
the myth of the Minotaur and we aim to introduce a debate about the labyrinth / technology /
/intersecti
onality relationship and reflect about the way in which the solidarity initiatives and
movements of the members of
their insertion, giving greater visibility to the issues of identity movement
Keywords:
political and cultural collectives; native peoples; Latin America; intersectionality; cultural
precariousness.
Identidad Marron
e o mito do labirinto.
Introdução
O desenvolvimento
tecnologia das comunicações
era globalizada
nos leva de volta para
dentro do mito do labirinto do
Minotauro
3
. C
om uma lógica
descentrada e desregulada de
inúmeros aplicativos disponíveis, o
prometia ser um incentivo à
3
Na
mitologia grega, o Labirinto do
povoou o imaginário dos gregos, levando
medo e terror. A criatura habitava um labirinto
na ilha de Creta,
que era governada pelo rei
Minos. De acordo com o mito, era
imaginada com a cabeça de um
corpo de um homem
. Disponível em:
http://www.projetominotauro.com.br/o
minotauro.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
colectivos políticos y culturales; pueblos originarios; América Latina;
interseccionalidad; precariedad cultural.
and the myth of the labyrinth.
Struggle and resistance of the collective of
At a time when both the identity agenda and intersectionality are discussed by various
spaces, we seek to present a case study and a reflection on the performance of
in the context of precariousness in Argentina. Formed in 2018 in the city of Buenos Aires, the
is mainly composed of indigenous, peripheral, women and gays struggling for an insertion of
native peoples in better Jobs and spaces of artistic promi
nence. Understanding the current precarious
scenario as a gigantic labyrinth, we suggest that this situation presents itself as the reconfiguration of
the myth of the Minotaur and we aim to introduce a debate about the labyrinth / technology /
onality relationship and reflect about the way in which the solidarity initiatives and
movements of the members of
Identidad Marron
amidt He precarious system give new meaning to
their insertion, giving greater visibility to the issues of identity movement
s in Argentina.
political and cultural collectives; native peoples; Latin America; intersectionality; cultural
e o mito do labirinto.
Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
O desenvolvimento
da
tecnologia das comunicações
desta
nos leva de volta para
dentro do mito do labirinto do
om uma lógica
descentrada e desregulada de
inúmeros aplicativos disponíveis, o
que
prometia ser um incentivo à
mitologia grega, o Labirinto do
Minotauro
povoou o imaginário dos gregos, levando
medo e terror. A criatura habitava um labirinto
que era governada pelo rei
Minos. De acordo com o mito, era
uma criatura
touro sobre o
. Disponível em:
http://www.projetominotauro.com.br/o
-mito-do-
multiplicidade de ideias e costumes, se
transformou num
amedrontador, com a prática de uma
agenda neoliberal econômica, que
deixa de lado a ideia de bem
social. Neste cenário, onde as
promessas de ganhos e bem viver são
intensamente propagadas nas mídias,
deixa-
se de informar, contudo, que
elas
são pouco acessíveis à maior
parte das populações latino
americanas.
Na prática cotidiana desta
agenda, testemunhamos como os
cidadãos são substituídos por
166
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
colectivos políticos y culturales; pueblos originarios; América Latina;
Struggle and resistance of the collective of
At a time when both the identity agenda and intersectionality are discussed by various
spaces, we seek to present a case study and a reflection on the performance of
Colectivo Identidad
in the context of precariousness in Argentina. Formed in 2018 in the city of Buenos Aires, the
is mainly composed of indigenous, peripheral, women and gays struggling for an insertion of
nence. Understanding the current precarious
scenario as a gigantic labyrinth, we suggest that this situation presents itself as the reconfiguration of
the myth of the Minotaur and we aim to introduce a debate about the labyrinth / technology /
onality relationship and reflect about the way in which the solidarity initiatives and
amidt He precarious system give new meaning to
s in Argentina.
political and cultural collectives; native peoples; Latin America; intersectionality; cultural
Luta e resistência do coletivo dos povos
multiplicidade de ideias e costumes, se
transformou num
ambiente
amedrontador, com a prática de uma
agenda neoliberal econômica, que
deixa de lado a ideia de bem
-estar
social. Neste cenário, onde as
promessas de ganhos e bem viver são
intensamente propagadas nas mídias,
se de informar, contudo, que
são pouco acessíveis à maior
parte das populações latino
-
Na prática cotidiana desta
agenda, testemunhamos como os
cidadãos são substituídos por
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
consumidores, as principais cidades
por aglomerados humanos, as nações
por empresas, a ideia de pov
conceito de mercado e as relações
humanas por uma concorrência
comercial que não tem fim
(GALEANO, 2006, p. 150). Estaríamos
enfim, imersos num gigantesco
labirinto
sem uma saída à vista?
uma das principais formas de
exploração destes novos
que, na precarização, o sujeito é
colocado como eixo de sua própria
exploração e, dessa forma, a
exploração é encoberta sob a forma de
liberdade. Ou seja, a exploração fica
oculta na sedução do discurso, que
sob o slogan de ter acesso à sua
pró
pria liberdade, transfere a
responsabilidade das garantias sociais
e trabalhistas para quem na prática
não terá condições de criá
-
la.
Desse modo, testemunhamos o
quanto os
trabalhadores mais
vulneráveis ficam expostos à
situação de escolhas entre a servidão
ou o desemprego para terem acesso à
alguma renda. Todavia,
denúncias em
relação a um
processo de desmonte
social são realizados mais de
quarenta anos, antecipando os
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
consumidores, as principais cidades
por aglomerados humanos, as nações
por empresas, a ideia de pov
os pelo
conceito de mercado e as relações
humanas por uma concorrência
comercial que não tem fim
(GALEANO, 2006, p. 150). Estaríamos
enfim, imersos num gigantesco
sem uma saída à vista?
Afinal,
uma das principais formas de
sistemas é
que, na precarização, o sujeito é
colocado como eixo de sua própria
exploração e, dessa forma, a
exploração é encoberta sob a forma de
liberdade. Ou seja, a exploração fica
oculta na sedução do discurso, que
sob o slogan de ter acesso à sua
pria liberdade, transfere a
responsabilidade das garantias sociais
e trabalhistas para quem na prática
-
la e mantê-
Desse modo, testemunhamos o
trabalhadores mais
vulneráveis ficam expostos à
difícil
situação de escolhas entre a servidão
ou o desemprego para terem acesso à
denúncias em
processo de desmonte
social são realizados mais de
quarenta anos, antecipando os
problemas exploratórios que surgiriam
com
a implementação de uma agenda
neoliberal econômica na América
Latina e o consequente processo de
crescimento de fragilidade social no
cotidiano dessas populações.Dos
movimentos de resistência que
desde os anos 70, podemos destacar
um grupo de intelect
Latina (Aníbal Quijano, Enrique Dussel
e Walter Mignolo) que se reuniram
para pensar o conceito de
decolonialidade e tentar traçar
paralelos que nos conectassem
culturalmente e politicamente a partir
das agressões e repressões que
vivíamos
e como isso poderia nos
deixar em uma posição frágil nos
campos político, econômico e cultural,
tanto internamente como
externamente. O primeiro
extrapolação da sujeição dos corpos
na ditadura por um lado, e o segundo
sobre o modo como nos
relacionáv
amos com os chamados
países desenvolvidos.
A partir da cada de 90, esse
grupo intensifica suas atividades e cria
o Grupo Modernidade/Colonialidade
(Grupo M/C). Ao reivindicar um
pertencimento originário conectado
aos grupos indígenas que habitavam a
167
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
problemas exploratórios que surgiriam
a implementação de uma agenda
neoliberal econômica na América
Latina e o consequente processo de
crescimento de fragilidade social no
cotidiano dessas populações.Dos
movimentos de resistência que
vêm
desde os anos 70, podemos destacar
um grupo de intelect
uais da América
Latina (Aníbal Quijano, Enrique Dussel
e Walter Mignolo) que se reuniram
para pensar o conceito de
decolonialidade e tentar traçar
paralelos que nos conectassem
culturalmente e politicamente a partir
das agressões e repressões que
e como isso poderia nos
deixar em uma posição frágil nos
campos político, econômico e cultural,
tanto internamente como
externamente. O primeiro
com a
extrapolação da sujeição dos corpos
na ditadura por um lado, e o segundo
sobre o modo como nos
amos com os chamados
países desenvolvidos.
A partir da cada de 90, esse
grupo intensifica suas atividades e cria
o Grupo Modernidade/Colonialidade
(Grupo M/C). Ao reivindicar um
pertencimento originário conectado
aos grupos indígenas que habitavam a
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Amé
rica Latina, um caráter de
reformulação histórica que reverbera
em nossas ações cotidianas. Questões
que permaneceram através de
traduções, livros e simpósios com
nomes que militavam na década de
1970/1980, mas somente agora
ganharam a reverberação m
por todo continente, e em especial no
Brasil. Entre eles, a argentina Maria
Lugones
recém falecida, a brasileira
Maria Beatriz Nascimento
assassinada em 1995,
Victoria Santa Cruz
mais conhecida
por seus poemas com temáticas
raciais, e por
Yuderkys
Miñoso (2014) com seu
pensamento
interseccional introduzindo a questão
da orientação sexual.
debates vêm
aumentando a atenção
para a importância de refletirmos
algumas das distorções da
latino-americana
através da
interseccionalidade.
Da reunião de todas essas
referências teóricas e com as
experiências de observação e análise
do Colectivo
Identidad
gostaríamos de destacar nosso
entendimento do conceito de
interseccionalidade como a
sobreposição das diversa
s identidades
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
rica Latina, um caráter de
reformulação histórica que reverbera
em nossas ações cotidianas. Questões
que permaneceram através de
traduções, livros e simpósios com
nomes que militavam na década de
1970/1980, mas somente agora
ganharam a reverberação m
erecida
por todo continente, e em especial no
Brasil. Entre eles, a argentina Maria
recém falecida, a brasileira
Maria Beatriz Nascimento
assassinada em 1995,
a peruana
mais conhecida
por seus poemas com temáticas
Yuderkys
Espinosa-
pensamento
interseccional introduzindo a questão
Todos os
aumentando a atenção
para a importância de refletirmos
algumas das distorções da
história
através da
Da reunião de todas essas
referências teóricas e com as
experiências de observação e análise
Identidad
Marron,
gostaríamos de destacar nosso
entendimento do conceito de
interseccionalidade como a
s identidades
(que perpassam corpos, raças, etnias)
e de marcadores sociais (com seus
sistemas de discriminação, dominação
ou opressão) nas lutas identitárias
pelas transformações das relações de
poder.
Sob essas considerações,
entendemos que os conceitos
defendidos por Patricia
Angela Davis
são centrais para a
compreensão de uma disputa narrativa
mais ampla que traga essa correlação
em seu próprio eixo como estratégia
política.
Essa leitura se interliga com
nossa maneira de observar as
relações fundamentais a serem
debatidas neste artigo.
Porém, é importante
destacarmos que
intersseccionalidade, ela própria, é
uma maneira de se colocar uma lente
sobre um sujeito de pesquisa, a
que, inclusive, se faz presente nesse
artigo. A proposta de trazer a
intersseccionalidade como uma
investigação crítica para estudar
diversos fenômenos sociais nos
parece fundamental para o caso da
precarização laboral na América Latina
e da atuação de
ssas forças nos
diferentes corpos que são implicados.
Assim,
pretendemos fazer do debate
da
interseccionalidade
168
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(que perpassam corpos, raças, etnias)
e de marcadores sociais (com seus
sistemas de discriminação, dominação
ou opressão) nas lutas identitárias
pelas transformações das relações de
Sob essas considerações,
entendemos que os conceitos
defendidos por Patricia
Hill Collins e
são centrais para a
compreensão de uma disputa narrativa
mais ampla que traga essa correlação
em seu próprio eixo como estratégia
Essa leitura se interliga com
nossa maneira de observar as
relações fundamentais a serem
debatidas neste artigo.
Porém, é importante
destacarmos que
a
intersseccionalidade, ela própria, é
uma maneira de se colocar uma lente
sobre um sujeito de pesquisa, a
lgo
que, inclusive, se faz presente nesse
artigo. A proposta de trazer a
intersseccionalidade como uma
investigação crítica para estudar
diversos fenômenos sociais nos
parece fundamental para o caso da
precarização laboral na América Latina
ssas forças nos
diferentes corpos que são implicados.
pretendemos fazer do debate
interseccionalidade
e da
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
precarização uma chave metodológica
do texto, compreendendo ser a análise
e apresentação do
Colectivo
que um estudo de caso, um
i
nterlocutor desse processo. Por esse
motivo, entrando em diálogo com a
proposta e diretrizes elaboradas
artistxs
apresentadxs, iremos trazer
suas falas de maneira integral nas
citações, respeitando uma demanda
que surge a partir do momento que
começa
m a ganhar espaço em eixos
centrais da cidade e sentem a
necessidade de ver seus propósitos e
discursos não serem desvirtuados.
Sob este cenário, pretendemos
com o presente artigo, refletir o
contexto geral de precarização no
setor cultural através da apre
do trabalho do
Colectivo
Marron, formado por
descendentes
dos povos originários na cidade de
Buenos Aires. Objetivamos refletir
cooptação e atuação delas no sistema
de precarização, com todas as
explorações conhecidas, não
possibilitam, por outro lado, a
ressignificação de sua inse
cenário social, artístico e político,
conseguindo dar maior visibilidade às
questões dos
movimentos identitários
na Argentina, além de apontarem
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
precarização uma chave metodológica
do texto, compreendendo ser a análise
Colectivo
- mais do
que um estudo de caso, um
nterlocutor desse processo. Por esse
motivo, entrando em diálogo com a
proposta e diretrizes elaboradas
pelxs
apresentadxs, iremos trazer
suas falas de maneira integral nas
citações, respeitando uma demanda
que surge a partir do momento que
m a ganhar espaço em eixos
centrais da cidade e sentem a
necessidade de ver seus propósitos e
discursos não serem desvirtuados.
Sob este cenário, pretendemos
com o presente artigo, refletir o
contexto geral de precarização no
setor cultural através da apre
sentação
Colectivo
Identidad
descendentes
dos povos originários na cidade de
Buenos Aires. Objetivamos refletir
se a
cooptação e atuação delas no sistema
de precarização, com todas as
explorações conhecidas, não
possibilitam, por outro lado, a
ressignificação de sua inse
rção no
cenário social, artístico e político,
conseguindo dar maior visibilidade às
movimentos identitários
na Argentina, além de apontarem
possíveis caminhos de saída deste
grande labirinto reconfigurado do
A plataformização do trabalh
e da sociedade
Em nosso entendimento
“precarização” se caracteriza como a
intensificação de uma relação de
trabalho cada vez mais individualizada
a partir do modo como os dados são
utilizados para criar valor através de
um processo de subordinação de
corpos invisibilizados e
marginalizados, com formas
diferenciadas de assalariamento e
obtenção de lucro que ocorriam
décadas, mas agora com uma
aparência de prestação de
serviços.Nesse sentido, entendemos
que os conceitos defendidos por Casilli
e Pos
ada (2018) sobre a
plataformização do trabalho e da
sociedade e de Ricardo Antunes com
suas reflexões sobre o capitalismo
contemporâneo a partir da alteração
do padrão taylorista,promovendo a
flexibilização, desregulamentação e
privatização, em conjunto c
decadência do modelo de bem
social (2000, p.37) reverberaram na
América Latina de modo significativo.
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
possíveis caminhos de saída deste
grande labirinto reconfigurado do
mito.
A plataformização do trabalh
o
Em nosso entendimento
a
“precarização” se caracteriza como a
intensificação de uma relação de
trabalho cada vez mais individualizada
a partir do modo como os dados são
utilizados para criar valor através de
um processo de subordinação de
corpos invisibilizados e
marginalizados, com formas
diferenciadas de assalariamento e
obtenção de lucro que ocorriam
décadas, mas agora com uma
aparência de prestação de
serviços.Nesse sentido, entendemos
que os conceitos defendidos por Casilli
ada (2018) sobre a
plataformização do trabalho e da
sociedade e de Ricardo Antunes com
suas reflexões sobre o capitalismo
contemporâneo a partir da alteração
do padrão taylorista,promovendo a
flexibilização, desregulamentação e
privatização, em conjunto c
om a
decadência do modelo de bem
-estar
social (2000, p.37) reverberaram na
América Latina de modo significativo.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Em particular, no caso do
Colectivo Identidad
Marron
integrantes trabalham com
telemarketing, distribuição de
panfletos, como babás, mo
ubber
ou entregadorxs de comida e
outras mercadorias associadas as
plataformas de entrega. Para elxs
essas atividades não são
consideradas um problema em si,
porque a reclamação o passa pelo
tipo de trabalho que é feito, mas pela
falta de gar
antias e pela imposição de
horários fragmentados que as
impedem de estudar, ter lazer e
praticar atividades artísticas. Elxs
percebem em alguns destes tipos de
atividade uma continuação do trabalho
precarizado de suas mães, avós e
bisavós, agora com o agra
exploratório de uma publicidade que
faz com que certas atividades pareçam
flexíveis a partir de um discurso
motivacional sobre a ideia de que o/a
antigo/a empregado/a agora é um
colaborador/a livre, que pode gerenciar
seu próprio tempo.
Contudo, ess
e tempo de sobra
para o lazer inexiste para a maioria da
população de baixa renda, que se
obrigada a trabalhar por mais tempo
para conseguir dinheiro suficiente para
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Em particular, no caso do
Marron
, muitxs
integrantes trabalham com
telemarketing, distribuição de
panfletos, como babás, mo
toristas de
ou entregadorxs de comida e
outras mercadorias associadas as
plataformas de entrega. Para elxs
essas atividades não são
consideradas um problema em si,
porque a reclamação o passa pelo
tipo de trabalho que é feito, mas pela
antias e pela imposição de
horários fragmentados que as
impedem de estudar, ter lazer e
praticar atividades artísticas. Elxs
percebem em alguns destes tipos de
atividade uma continuação do trabalho
precarizado de suas mães, avós e
bisavós, agora com o agra
vante
exploratório de uma publicidade que
faz com que certas atividades pareçam
flexíveis a partir de um discurso
motivacional sobre a ideia de que o/a
antigo/a empregado/a agora é um
colaborador/a livre, que pode gerenciar
e tempo de sobra
para o lazer inexiste para a maioria da
população de baixa renda, que se
obrigada a trabalhar por mais tempo
para conseguir dinheiro suficiente para
sustentar a família -
tempo tomado em longas viagens
entre trabalho e m
oradia.
perdas de direitos trabalhistas não
podem ser entendidas como
novidades surgidas na
plataformização, mas como a
continuidade de um processo
exploratório que existe um longo
tempo. O discurso de marketing
acerca da valorização de uma
independência e liberdade de agenda
de horários e folgas para aqueles que
se associam a este projeto de
empreendedorismo informal, não
consegue superar a fragilidade que a
falta de direitos fundamentais
promove, como ausências de férias
remuneradas
, previdência para uma
futura aposentadoria e auxílio em caso
de doenças ou problemas de saúde.
No texto “A Plataformização do
trabalho e da sociedade”, Antonio
Casilli e Julian Posada (2018)
recordam que desde o início dos anos
2000 o termo plataformização já era
utilizado nas indústrias de tecnologia
para designar padrões digitais que
combinavam informações. Nesse
momento, no entanto, o que estava em
jogo era a organização de dados
atravé
s desses recursos digitais.
170
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
além de ter seu
tempo tomado em longas viagens
oradia.
Portanto as
perdas de direitos trabalhistas não
podem ser entendidas como
novidades surgidas na
plataformização, mas como a
continuidade de um processo
exploratório que existe um longo
tempo. O discurso de marketing
acerca da valorização de uma
suposta
independência e liberdade de agenda
de horários e folgas para aqueles que
se associam a este projeto de
empreendedorismo informal, não
consegue superar a fragilidade que a
falta de direitos fundamentais
promove, como ausências de férias
, previdência para uma
futura aposentadoria e auxílio em caso
de doenças ou problemas de saúde.
No texto “A Plataformização do
trabalho e da sociedade”, Antonio
Casilli e Julian Posada (2018)
nos
recordam que desde o início dos anos
2000 o termo plataformização já era
utilizado nas indústrias de tecnologia
para designar padrões digitais que
combinavam informações. Nesse
momento, no entanto, o que estava em
jogo era a organização de dados
s desses recursos digitais.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Posteriormente, os autores analisam
como o fenômeno se alastra e passa a
fazer parte constitutiva da cultura
contemporânea e das relações de
trabalho, considerando cinco
características fundamentais para
entender o fenômeno: a m
aneira como
os dados são utilizados para criar
valor, como os dados são extraídos de
uma série de usuários sob a forma de
trabalho digital, o comportamento dos
usuários fragmentado e reduzido a
tarefas padrões, a substituição dos
modos econômicos preexiste
por fim,
como as tendências em
direção à especificação de dados e
tarefas são o cerne dos
desenvolvimentos contemporâneos em
automação e inteligência artificial
Contudo, é importante lembrar
que as características essenciais dos
movimentos explo
ratórios não são
recentes e estão presentes na história
um longo tempo. O processo
colonizador foi extremamente violento
tanto na dominação efetiva dos
corpos, quanto na simbólica. No livro
Necropolítica
, o filósofo e historiador
camaronês Achille Mbemb
que essa dominação em meio ao
4
Antonio A. Casili
e Julián Posada
(2019, p. 02).
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Posteriormente, os autores analisam
como o fenômeno se alastra e passa a
fazer parte constitutiva da cultura
contemporânea e das relações de
trabalho, considerando cinco
características fundamentais para
aneira como
os dados são utilizados para criar
valor, como os dados são extraídos de
uma série de usuários sob a forma de
trabalho digital, o comportamento dos
usuários fragmentado e reduzido a
tarefas padrões, a substituição dos
modos econômicos preexiste
ntes, e,
como as tendências em
direção à especificação de dados e
tarefas são o cerne dos
desenvolvimentos contemporâneos em
automação e inteligência artificial
4
.
Contudo, é importante lembrar
que as características essenciais dos
ratórios não são
recentes e estão presentes na história
um longo tempo. O processo
colonizador foi extremamente violento
tanto na dominação efetiva dos
corpos, quanto na simbólica. No livro
, o filósofo e historiador
camaronês Achille Mbemb
e defende
que essa dominação em meio ao
e Julián Posada
Gutierrez
processo de globalização assume
outras formas. No caso específico da
América do Sul podemos perceber
uma subordinação imposta aos
descendentes dos povos escravizados
vindos da África e uma invisibilidade
dos povos or
iginários, compreendidos
pelos descendentes de indígenas.
Para Mbembe há simplesmente uma
atualização de poder sobre o corpo.
De um modelo imperialista para um
capitalista, onde os processos de
exploração são reorganizados, mas
onde opressores e subalterno
continuam os mesmos. (MBEMBE,
2018, p. 56)
Alguns dados relevantes
ajudam a compreender esta ideia. O
relatório dezembro de 2019 da CEPAL
Comissão Econômica para América
Latina e Caribe, indicava que a região
apresentava uma desaceleração
econômica ge
neralizada, completando
seis anos consecutivos de baixo
crescimento. O panorama
macroeconômico geral indicava queda
do produto interno bruto (PIB) per
capita, queda do investimento, queda
do consumo per capita, redução das
exportações e manutenção do
proce
sso de deterioração da qualidade
do emprego. De acordo com este
171
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
processo de globalização assume
outras formas. No caso específico da
América do Sul podemos perceber
uma subordinação imposta aos
descendentes dos povos escravizados
vindos da África e uma invisibilidade
iginários, compreendidos
pelos descendentes de indígenas.
Para Mbembe há simplesmente uma
atualização de poder sobre o corpo.
De um modelo imperialista para um
capitalista, onde os processos de
exploração são reorganizados, mas
onde opressores e subalterno
s
continuam os mesmos. (MBEMBE,
Alguns dados relevantes
ajudam a compreender esta ideia. O
relatório dezembro de 2019 da CEPAL
Comissão Econômica para América
Latina e Caribe, indicava que a região
apresentava uma desaceleração
neralizada, completando
seis anos consecutivos de baixo
crescimento. O panorama
macroeconômico geral indicava queda
do produto interno bruto (PIB) per
capita, queda do investimento, queda
do consumo per capita, redução das
exportações e manutenção do
sso de deterioração da qualidade
do emprego. De acordo com este
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
relatório: “[...] as projeções de
crescimento para 2020 permanecerão
baixas, em torno de 1,3% para a
região como um todo.” (CEPAL, 2019).
Contudo, em contraposição a esta
situação, na América
Latina, a renda
do 1% mais rico subiu brutalmente.
São taxas de crescimento acima de
100% ou de 200% para o 1% do topo
entre 1980 e 2019. (CHACEL, 2019).
A história recente da Argentina
também ajuda a ilustrar este caminho.
Desde a hiperinflação dos anos
resultantes da destruição das
instituições políticas e das perdas
econômicas impostas pelas ditaduras
militares, à governança neoliberal dos
anos 1990, que ao invés de entregar
um crescimento econômico e social,
acelerou um processo de desmonte
das ú
ltimas estruturas de um Estado
Social e levou o país a uma extensa
recessão econômica, que provocou
uma implosão social. Nas pesquisas
realizadas ao fim do ano pandêmico
de 2020,
e segundo os dados oficiais
do Indec
Instituto Nacional de
5
Vale destacar que essas eram as projeções
realizadas antes da chegada do coronavírus e
da pandemia da covid-
19, que agravou a
situação de
crise e deu contornos dramáticos
à situação socioeconômica de vários países
latino-americanos.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
relatório: “[...] as projeções de
crescimento para 2020 permanecerão
baixas, em torno de 1,3% para a
região como um todo.” (CEPAL, 2019).
Contudo, em contraposição a esta
Latina, a renda
do 1% mais rico subiu brutalmente.
São taxas de crescimento acima de
100% ou de 200% para o 1% do topo
entre 1980 e 2019. (CHACEL, 2019).
5
A história recente da Argentina
também ajuda a ilustrar este caminho.
Desde a hiperinflação dos anos
1980,
resultantes da destruição das
instituições políticas e das perdas
econômicas impostas pelas ditaduras
militares, à governança neoliberal dos
anos 1990, que ao invés de entregar
um crescimento econômico e social,
acelerou um processo de desmonte
ltimas estruturas de um Estado
Social e levou o país a uma extensa
recessão econômica, que provocou
uma implosão social. Nas pesquisas
realizadas ao fim do ano pandêmico
e segundo os dados oficiais
Instituto Nacional de
Vale destacar que essas eram as projeções
realizadas antes da chegada do coronavírus e
19, que agravou a
crise e deu contornos dramáticos
à situação socioeconômica de vários países
estatística e ce
nso da República
Argentina, 44% da população da
população está na pobreza.
(COLOMBO, 2020)
A preocupação com esse tipo
de exploração e sobre os modos como
as Integrantes do
Identidad
tentam enfrentá-
las de modo coletivo,
fica evidenciada no moviment
participação na grande passeata do
8M, nome dado ao movimento de
mulheres que se reúnem nas ruas de
diversas cidades no dia 8 de março,
Dia Internacional da Mulher, para
marchar por uma visibilidade e
reivindicar por postos de trabalhos
igualitários e
direito ao aborto legal,
dentre outras pautas. A citação a
seguir, colocada na íntegra conforme
explicado em respeito as diretrizes do
Colectivo Identidad
Marron, encontra
se em sua
página do Facebook:
(
www.facebook.com/identidadmarron/
Somos filhas de empregadas
domésticas que não podiam ir as
passeatas do grupo 8M. Ontem
as mulheres e travestis marrons
saímos para marchar, como
mulheres marrons, como travestis
marrons, mas não apenas para
nós, mas também para nossas
mães e nossas avós m
indígenas e camponesas, que
foram exploradas aproveitando
se de suas precariedades.
Saímos para nos abraçar, para
172
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
nso da República
Argentina, 44% da população da
população está na pobreza.
A preocupação com esse tipo
de exploração e sobre os modos como
Identidad
Marron
las de modo coletivo,
fica evidenciada no moviment
o de
participação na grande passeata do
8M, nome dado ao movimento de
mulheres que se reúnem nas ruas de
diversas cidades no dia 8 de março,
Dia Internacional da Mulher, para
marchar por uma visibilidade e
reivindicar por postos de trabalhos
direito ao aborto legal,
dentre outras pautas. A citação a
seguir, colocada na íntegra conforme
explicado em respeito as diretrizes do
Marron, encontra
-
página do Facebook:
www.facebook.com/identidadmarron/
)
Somos filhas de empregadas
domésticas que não podiam ir as
passeatas do grupo 8M. Ontem
as mulheres e travestis marrons
saímos para marchar, como
mulheres marrons, como travestis
marrons, mas não apenas para
nós, mas também para nossas
mães e nossas avós m
arrons,
indígenas e camponesas, que
foram exploradas aproveitando
-
se de suas precariedades.
Saímos para nos abraçar, para
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
deixar de ser objeto de fetiche e
ser objeto de ação. Saímos para
questionar uma irmandade
enunciativa, saímos para gritar
que irmanda
de também é pagar
as contribuições dos
trabalhadores domésticos.
Entendemos que muitos não
puderam ir, entendemos por que
muitos de nossos primos, avós ou
irmãs são precarizados, não
registrados, sem contribuições, e
faltar ao trabalho, na maioria das
veze
s, resultará em não comer e
não pagar o aluguel. Saímos para
encontrar nossa voz, exigir
empatia sincera, todos
entendemos que o discurso é
bonito, mas muitos de nós não
podem parar, porque quando o
desemprego é precário, parar não
é uma opção, mas um priv
(MAMANI;
RUIZ, 2019)
6
Somos las hijas de las empleadas domésticas
que al 8m no pudieron ir ayer las mujeres y
travestis marrones salimos a marchar,
nosotras como mujeres marrones, co
travestis marrones, pero no solo por nosotras,
sino por nuestras madres y nuestras abuelas
marrones, indígenas, campesinas, que fueron
explotadas aprovechándose de su
precariedad. Salimos a abrazarnos, a dejar de
ser el objeto de fetiche para ser las su
acción. Salimos a cuestionar una sororidad
enunciativa, salimos a gritar que sororidad
también es pagar los aportes de las
empleadas domésticas. Entendemos que
muchas no pudieron ir, entendemos porque
muchas de nuestras primas, madres abuelas o
he
rmanas están precarizadas, no registradas,
sin aportes, y faltar al trabajo es la mayoría de
las veces no comer, no pagar el alquiler.
Salimos a buscar nuestra voz, a exigir una
sincera empatía, todas entendemos que el
discurso es bello pero muchas de noso
podemos parar porque cuando se está
precarizada el paro no es una opción sino un
privilegio.
<
https://m.facebook.com/identidadmarron
de março de 2019 acesso em 17 de janeiro de
2021. (Tradução livre dos autores).
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
deixar de ser objeto de fetiche e
ser objeto de ação. Saímos para
questionar uma irmandade
enunciativa, saímos para gritar
de também é pagar
as contribuições dos
trabalhadores domésticos.
Entendemos que muitos não
puderam ir, entendemos por que
muitos de nossos primos, avós ou
irmãs são precarizados, não
registrados, sem contribuições, e
faltar ao trabalho, na maioria das
s, resultará em não comer e
não pagar o aluguel. Saímos para
encontrar nossa voz, exigir
empatia sincera, todos
entendemos que o discurso é
bonito, mas muitos de nós não
podem parar, porque quando o
desemprego é precário, parar não
é uma opção, mas um priv
ilégio.
RUIZ, 2019)
6
Somos las hijas de las empleadas domésticas
que al 8m no pudieron ir ayer las mujeres y
travestis marrones salimos a marchar,
nosotras como mujeres marrones, co
mo
travestis marrones, pero no solo por nosotras,
sino por nuestras madres y nuestras abuelas
marrones, indígenas, campesinas, que fueron
explotadas aprovechándose de su
precariedad. Salimos a abrazarnos, a dejar de
ser el objeto de fetiche para ser las su
jetas de
acción. Salimos a cuestionar una sororidad
enunciativa, salimos a gritar que sororidad
también es pagar los aportes de las
empleadas domésticas. Entendemos que
muchas no pudieron ir, entendemos porque
muchas de nuestras primas, madres abuelas o
rmanas están precarizadas, no registradas,
sin aportes, y faltar al trabajo es la mayoría de
las veces no comer, no pagar el alquiler.
Salimos a buscar nuestra voz, a exigir una
sincera empatía, todas entendemos que el
discurso es bello pero muchas de noso
tras no
podemos parar porque cuando se está
precarizada el paro no es una opción sino un
https://m.facebook.com/identidadmarron
> 10
de março de 2019 acesso em 17 de janeiro de
2021. (Tradução livre dos autores).
Estarem umas pelas outras,
muitas delas que não podem perder
um dia de trabalho sob o risco de
serem dispensadas, demonstra o
esforço do sentido de solidariedade
para que juntas possam reclamar por
um espaço próprio, que é ta
espaço de seus pais e avôs. Uma das
críticas a ser destacada do
a de que o trabalho precarizado e com
poucas garantias para os
trabalhadores já era uma regra para as
gerações que os antecederam,
reafirmando a segregação de seus
corpos.
Essa característica pode ser
observada inclusive na configuração
de ocupação dos territórios da cidade,
pois os descendentes de indígenas
não conseguem espaços na cidade de
Buenos Aires e buscam moradia e
trabalho nos distritos vizinhos.
Atualmente, o que
é um trabalho extremamente
precarizado combinado ao discurso
midiático do empreendedorismo. Se no
mundo colonial a grande perversidade
era desumanizar o corpo do outro,
com a precarização talvez seja a
ilusão de que ao abrir o próprio
negócio, a
inda que sem garantias
trabalhistas, esse outro (indígena,
imigrante, negro) passe a ditar as
173
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Estarem umas pelas outras,
muitas delas que não podem perder
um dia de trabalho sob o risco de
serem dispensadas, demonstra o
esforço do sentido de solidariedade
para que juntas possam reclamar por
um espaço próprio, que é ta
mbém um
espaço de seus pais e avôs. Uma das
críticas a ser destacada do
Colectivo é
a de que o trabalho precarizado e com
poucas garantias para os
trabalhadores já era uma regra para as
gerações que os antecederam,
reafirmando a segregação de seus
Essa característica pode ser
observada inclusive na configuração
de ocupação dos territórios da cidade,
pois os descendentes de indígenas
não conseguem espaços na cidade de
Buenos Aires e buscam moradia e
trabalho nos distritos vizinhos.
Atualmente, o que
observamos
é um trabalho extremamente
precarizado combinado ao discurso
midiático do empreendedorismo. Se no
mundo colonial a grande perversidade
era desumanizar o corpo do outro,
com a precarização talvez seja a
ilusão de que ao abrir o próprio
inda que sem garantias
trabalhistas, esse outro (indígena,
imigrante, negro) passe a ditar as
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
próprias regras. O sociólogo brasileiro
Ricardo Antunes
observa que o
advento do neoliberalismo provoca
uma reestruturação produtiva que
coloca os trabalhadores m
vulneráveis em uma difícil escolha:
servidão ou desemprego (ANTUNES,
2018, p. 39).
Para pensar esse “novo
proletariado” ele ressalta a importância
do enfraquecimento da
regulamentação do trabalho, a
flexibilidade das empresas, a
privatização dos
serviços e a
proliferação de trabalhos intermitentes.
Essas novas características do serviço
digitalizado em conjunto com a
realidade desigual da América
Latina produzem uma pulverização da
classe trabalhadora que perde
algumas características fundantes
daquele trabalhador da década de
1970ou 1980 que se viu impelido a
participar do mundo político a partir de
um sentimento de pertencimento de
classe.
Uma nova revolução nos modos
de ver, viver e trabalhar somente pode
partir desses grupos que vêm sendo
ex
cluídos e marginalizados
décadas. A defesa da América Latina
como um laboratório fundamental para
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
próprias regras. O sociólogo brasileiro
observa que o
advento do neoliberalismo provoca
uma reestruturação produtiva que
coloca os trabalhadores m
ais
vulneráveis em uma difícil escolha:
servidão ou desemprego (ANTUNES,
Para pensar esse “novo
proletariado” ele ressalta a importância
do enfraquecimento da
regulamentação do trabalho, a
flexibilidade das empresas, a
serviços e a
proliferação de trabalhos intermitentes.
Essas novas características do serviço
digitalizado em conjunto com a
realidade desigual da América
Latina produzem uma pulverização da
classe trabalhadora que perde
algumas características fundantes
daquele trabalhador da década de
1970ou 1980 que se viu impelido a
participar do mundo político a partir de
um sentimento de pertencimento de
Uma nova revolução nos modos
de ver, viver e trabalhar somente pode
partir desses grupos que vêm sendo
cluídos e marginalizados
décadas. A defesa da América Latina
como um laboratório fundamental para
as lutas sociais a partir dessas
revoluções na esfera micro, mas que
precisariam alçar voz em direção ao
global.Dentro desse contexto, as
atividades sociai
s do
Identidad
Marron, da
Buenos Aires, podem servir de
referência à estas lutas de resistências
sociais. O Colectivo
luta não somente
pelos próprios direitos trabalhistas,
mas por um espaço de expressão
política mais amplo
para se mani
politicamente. Dessa forma, eles
buscam também ecoar vozes do
passado e de seus antecessores
procurando reconstruir uma Argentina
mais plural, como demonstraremos a
seguir.
A revolução coletiva do
Marron
O Colectivo
Identidad
construiu a partir das manifestações
que ocorreram em 2018 e início de
2019 na Argentina. Inicialmente, um
movimento a favor da legalização do
aborto no país, que contava com
diversas vertentes do movimento
feminista. As manifestações cresceram
e chegar
am a acontecer em outros
países da América Latina. O
movimento, que ficou conhecido como
174
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
as lutas sociais a partir dessas
revoluções na esfera micro, mas que
precisariam alçar voz em direção ao
global.Dentro desse contexto, as
s do
Colectivo
Marron, da
cidade de
Buenos Aires, podem servir de
referência à estas lutas de resistências
luta não somente
pelos próprios direitos trabalhistas,
mas por um espaço de expressão
para se mani
festar
politicamente. Dessa forma, eles
buscam também ecoar vozes do
passado e de seus antecessores
procurando reconstruir uma Argentina
mais plural, como demonstraremos a
A revolução coletiva do
Identidad
Identidad
Marronse
construiu a partir das manifestações
que ocorreram em 2018 e início de
2019 na Argentina. Inicialmente, um
movimento a favor da legalização do
aborto no país, que contava com
diversas vertentes do movimento
feminista. As manifestações cresceram
am a acontecer em outros
países da América Latina. O
movimento, que ficou conhecido como
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Pañuelos Verdes
7
, cresceu também
dentro do próprio país e possibilitou
que houvesse encontro de pessoas
que também lutavam por outras
causas. Foi nas manifestações na
Plaza de Mayo
e nas principais ruas
do centro de Buenos Aires que o grupo
começou a ganhar corpo e fazer das
ruas o principal espaço para sua arte
política. Finalmente, no dia 30 de
dezembro, o aborto foi legalizado no
país.
8
O objetivo do coletivo argenti
Identidad Marron
propostas interdisciplinares de artistas
e acadêmicas das mais diversas áreas
(poetas, cineastas e ilustradores) que
procuram pensar o papel dos
7
A luta pela legalização do abo
rto na Argentina
é a ponta de um iceberg que tem por debaixo
décadas de organização feminista. A
Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto
Legal foi gestada nos Encontros Nacionais de
Mulheres de Rosário e Mendoza e lançada
oficialmente em 28 de maio de 200
Internacional de Ação pela Saúde das
Mulheres. De lá para cá, o movimento foi
incansável no debate científico-
universitário e
nas discussões sobre políticas públicas para
mulheres. Construiu um mote claro:
sexual para decidir, anticonce
pcionais para
não abortar e aborto legal para não morrer”
Fonte:
www.brasildefato.com.br/2018/08/13/nada
sera-como-antes-uma-
radiografia
aborto-e-da-mare-verde-na-
argentina/
em: 17 jan. 2021.
8
Cf.
https://veja.abril.com.br/mundo/congresso
argentina-aprova-legalizacao-do
-
Acesso em: 01 jan. 2020.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
, cresceu também
dentro do próprio país e possibilitou
que houvesse encontro de pessoas
que também lutavam por outras
causas. Foi nas manifestações na
e nas principais ruas
do centro de Buenos Aires que o grupo
começou a ganhar corpo e fazer das
ruas o principal espaço para sua arte
política. Finalmente, no dia 30 de
dezembro, o aborto foi legalizado no
O objetivo do coletivo argenti
no
é a de
reunir
propostas interdisciplinares de artistas
e acadêmicas das mais diversas áreas
(poetas, cineastas e ilustradores) que
procuram pensar o papel dos
rto na Argentina
é a ponta de um iceberg que tem por debaixo
décadas de organização feminista. A
Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto
Legal foi gestada nos Encontros Nacionais de
Mulheres de Rosário e Mendoza e lançada
oficialmente em 28 de maio de 200
5, no Dia
Internacional de Ação pela Saúde das
Mulheres. De lá para cá, o movimento foi
universitário e
nas discussões sobre políticas públicas para
mulheres. Construiu um mote claro:
“Educação
pcionais para
não abortar e aborto legal para não morrer”
www.brasildefato.com.br/2018/08/13/nada
-
radiografia
-do-8-de-
argentina/
. Acesso
https://veja.abril.com.br/mundo/congresso
-da-
-
aborto/.
descendentes de povos originários na
Argentina.
Em lunfardo, conjunto de
gírias argentinas advindas das
milongas do tango, “Negro ou Marron”
significa gente humilde e pobre. Ainda
que as gírias tenham com o tempo
adquirido novos significados, essa
correlação entre cor, classe e
desprestígio estava em su
Chamar alguém de negro ou de
marron
, na maior parte das ocasiões,
não é elogio. Mas é justamente ao
retomar essa identidade para si e
ressignificá-
la que o grupo, iniciado em
2018, conseguem fabricar novos
espaços para si próprios
Tendo sua maior
integrantes mulheres, o grupo marca
presença em outras manifestações
ocorridas na cidade, além de produzir
workshops, debates e mesas de
conversas sobre cinema, literatura e
artes visuais
marrones
com a apropriação de seus corpos e
discursos, o grupo deixa claro que
essa preocupação com a apropriação
do discurso está em sua origem.
Todas estas atividades são gratuitas e
tem como objetivo a troca de
experiências e a oferta de uma melhor
qualificação profissional
axscompanheirxs.
T
175
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
descendentes de povos originários na
Em lunfardo, conjunto de
gírias argentinas advindas das
milongas do tango, “Negro ou Marron”
significa gente humilde e pobre. Ainda
que as gírias tenham com o tempo
adquirido novos significados, essa
correlação entre cor, classe e
desprestígio estava em su
a origem.
Chamar alguém de negro ou de
, na maior parte das ocasiões,
não é elogio. Mas é justamente ao
retomar essa identidade para si e
la que o grupo, iniciado em
2018, conseguem fabricar novos
espaços para si próprios
Tendo sua maior
parte de
integrantes mulheres, o grupo marca
presença em outras manifestações
ocorridas na cidade, além de produzir
workshops, debates e mesas de
conversas sobre cinema, literatura e
marrones
”. Preocupadxs
com a apropriação de seus corpos e
discursos, o grupo deixa claro que
essa preocupação com a apropriação
do discurso está em sua origem.
Todas estas atividades são gratuitas e
tem como objetivo a troca de
experiências e a oferta de uma melhor
qualificação profissional
T
endo sido em
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
2021 selecionadxs para o Salão
Nacional de Artes Visuais
convidadxs para dar um workshop em
conjunto com o Centro Cultural da
Espanha em Montevidéu
diversas mesas que pensam racismo e
colonialidade, continuam a transitar
também por espa
ços alternativos
mostrando seu caráter de integração
em múltiplas frentes.
Se atualmente o conceito da
interseccionalidade é debatido com
vigor em diversos simpósios, não
podemos deixar de atentar ao fato que
desde nossa mais remota formação
continental no
s vemos diante da
vivência de um corpo interseccional.
Dessa forma, pensar a colonialidade é,
necessariamente, pensar a
interseccionalidade que se faz
constitutiva desse/nesse processo.
pelos relatos das integrantes do
colectivo
, descritos mais adiante, fi
evidente como as estruturas atuam
desigualmente em nosso continente
através de ordens cruzadas de
9
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2135887390056624/272545908443278
2/. Acesso em: 03 maio 2021.
10
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/pcb.2727820407529983/2727811007530
923/. Acesso em 03 maio 2021.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
2021 selecionadxs para o Salão
Nacional de Artes Visuais
9
e
convidadxs para dar um workshop em
conjunto com o Centro Cultural da
Espanha em Montevidéu
10
em
diversas mesas que pensam racismo e
colonialidade, continuam a transitar
ços alternativos
mostrando seu caráter de integração
Se atualmente o conceito da
interseccionalidade é debatido com
vigor em diversos simpósios, não
podemos deixar de atentar ao fato que
desde nossa mais remota formação
s vemos diante da
vivência de um corpo interseccional.
Dessa forma, pensar a colonialidade é,
necessariamente, pensar a
interseccionalidade que se faz
constitutiva desse/nesse processo.
pelos relatos das integrantes do
, descritos mais adiante, fi
ca
evidente como as estruturas atuam
desigualmente em nosso continente
através de ordens cruzadas de
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2135887390056624/272545908443278
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/pcb.2727820407529983/2727811007530
violência a partir de combinações entre
raça, identidade de gênero, classe,
orientação sexual. Cada uma dessas
identidades atua como mais uma
camada que at
rai rejeições podendo
um corpo carregar várias delas.
Podemos destacar alguns
apontamentos de Glória Anzaldúa
(2005)
, que na década de 80,
enfatizava as múltiplas dificuldades de
se ser uma mulher negra latino
americana. Uma
mestiza
A escrita como possibilidade
combativa também faz parte do
processo dessas mulheres que sofrem
com camadas de invisibilidades, por
isso, a escritura e o incentivo à
formação de uma rede de mulheres
produtoras de pensamento
novo pensamento que seja
pela concretude que lhes é imposta
perpassa a construção teórica das
estudiosas latino-
americanas e dos
coletivos educacionais e artísticos
formados aqui.
Yuderkys
Miñoso, aqui citada, aponta
concomitantemente para uma nova
visão de d
ecolonialidade. Se os
membros do
Modernidade/Colonialidade cunharam
o termo tendo como propósito
repensar um território,
176
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
violência a partir de combinações entre
raça, identidade de gênero, classe,
orientação sexual. Cada uma dessas
identidades atua como mais uma
rai rejeições podendo
um corpo carregar várias delas.
Podemos destacar alguns
apontamentos de Glória Anzaldúa
, que na década de 80,
enfatizava as múltiplas dificuldades de
se ser uma mulher negra latino
-
mestiza
.
A escrita como possibilidade
combativa também faz parte do
processo dessas mulheres que sofrem
com camadas de invisibilidades, por
isso, a escritura e o incentivo à
formação de uma rede de mulheres
produtoras de pensamento
- de um
novo pensamento que seja
embasado
pela concretude que lhes é imposta
-
perpassa a construção teórica das
americanas e dos
coletivos educacionais e artísticos
Yuderkys
Espinosa-
Miñoso, aqui citada, aponta
concomitantemente para uma nova
ecolonialidade. Se os
membros do
Grupo
Modernidade/Colonialidade cunharam
o termo tendo como propósito
repensar um território,
Espinosa-
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Miñoso propõe pensar os territórios
dentro dos territórios e a
intersseccionalidade compreendida
não somente como um con
como um atravessamento cotidiano
nos corpos dessas mulheres, uma
estrutura que precisa ser redefinida.
Podemos perceber esses
atravessamentos na própria prática do
Identidad Marron
. Sara Pérez, uma
das integrantes do Colectivo, diz em
recente matéria
11
: “A melhor militância
é mostrar a cor da nossa pele e nos
colocar em cena”. Assim, vêm
ocupando espaços virtuais e físicos de
discussão artística trazendo além dos
corpos femininos, outrxs.
sentido, é preciso destacar que o
Colectivo
luta não somente pelos
próprios direitos trabalhistas, mas por
um espaço de expressão política mais
amplo para se manifestar. Dessa
forma, elxs buscam também ecoar
vozes do passado e de seus
11
https://www.pagina12.com.ar/335951
mejor-militancia-es-mostrar-el-
color
nuestra-piel-y-
po?fbclid=IwAR2GurQzTEvTlGqHWo2OXMeV
yo-
FnQsXRam9mhwk11OHifHvEN0tpTwsEoY
Acesso em: 03 maio 2021.
12
Ver f
oto de um casal na marcha do Orgulho
Gay na Argentina
. Disponível em:
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2358104314501596/261199363244599
5/. Acesso em: 03 maio 2021.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Miñoso propõe pensar os territórios
dentro dos territórios e a
intersseccionalidade compreendida
não somente como um con
ceito, mas
como um atravessamento cotidiano
nos corpos dessas mulheres, uma
estrutura que precisa ser redefinida.
Podemos perceber esses
atravessamentos na própria prática do
. Sara Pérez, uma
das integrantes do Colectivo, diz em
: “A melhor militância
é mostrar a cor da nossa pele e nos
colocar em cena”. Assim, vêm
ocupando espaços virtuais e físicos de
discussão artística trazendo além dos
corpos femininos, outrxs.
12
Nesse
sentido, é preciso destacar que o
luta não somente pelos
próprios direitos trabalhistas, mas por
um espaço de expressão política mais
amplo para se manifestar. Dessa
forma, elxs buscam também ecoar
vozes do passado e de seus
https://www.pagina12.com.ar/335951
-la-
color
-de-
po?fbclid=IwAR2GurQzTEvTlGqHWo2OXMeV
FnQsXRam9mhwk11OHifHvEN0tpTwsEoY
.
oto de um casal na marcha do Orgulho
. Disponível em:
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2358104314501596/261199363244599
antecessores procurando reconstruir
uma Argentina mais plural, al
trabalhar com um pensamento
decolonial a partir de feministas latino
americanas como as citadas em suas
declarações, como a seguir:
Reunir-
nos nessa “marronidad”
não é festivo, nem revolucionário.
Reunir-
se e ocupar as ruas é
tornar visível o desejo
estejamos todas. É também
afirmar porque elas não estão .
É também manifestando a partir
dessa afeição política que
queremos ser lidas por nós ou
através de nossas fibras, aqueles
marrons que cobrem livros
séculos. Às vezes, reunir
ocupar
as ruas é uma decisão
complicada, porque se perde um
dia de salário e corremos o risco
ser demitidas. Reunir
as ruas é um momento, um
tempo, eles fizeram e fazem isso
o tempo todo. Juntar
as ruas é para nós, pardos,
agradecer a ele
que se juntem à marcha.
(MAMANI, 2019
13
Juntarnos en esta marronidad no es festivo,
tam
poco revolucionario. [...] Juntarnos y
ocupar las calles es visibilizar el deseo de que
estemos todes. Es también enunciar porque
no están ellas. Es incluso manifestar desde
ese afecto político que queremos ser leídas
por nosotras o leernos a través de nue
fibras, esas marronas que durante siglos han
revestido libros. Juntarnos y ocupar las calles
a veces es una decisión última porque parar
es un día menos de trabajo o además es
perder el mismo. Juntarnos y ocupar las calles
es un momento, un tiempo, e
lo hacen todo el tiempo. Juntarnos y ocupar
las calles es para nosotras marronas decirles
gracias a ellas y a otras basta y se unan a la
ronda.
[Chana Mamani em:
https://www.facebook.com/identidadmarron
177
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
antecessores procurando reconstruir
uma Argentina mais plural, al
ém de
trabalhar com um pensamento
decolonial a partir de feministas latino
-
americanas como as citadas em suas
declarações, como a seguir:
nos nessa “marronidad”
não é festivo, nem revolucionário.
se e ocupar as ruas é
tornar visível o desejo
de que
estejamos todas. É também
afirmar porque elas não estão .
É também manifestando a partir
dessa afeição política que
queremos ser lidas por nós ou
através de nossas fibras, aqueles
marrons que cobrem livros
séculos. Às vezes, reunir
-se e
as ruas é uma decisão
complicada, porque se perde um
dia de salário e corremos o risco
ser demitidas. Reunir
-se e ocupar
as ruas é um momento, um
tempo, eles fizeram e fazem isso
o tempo todo. Juntar
-se e ocupar
as ruas é para nós, pardos,
agradecer a ele
s, gritar basta!, e
que se juntem à marcha.
(MAMANI, 2019
)13
Juntarnos en esta marronidad no es festivo,
poco revolucionario. [...] Juntarnos y
ocupar las calles es visibilizar el deseo de que
estemos todes. Es también enunciar porque
no están ellas. Es incluso manifestar desde
ese afecto político que queremos ser leídas
por nosotras o leernos a través de nue
stras
fibras, esas marronas que durante siglos han
revestido libros. Juntarnos y ocupar las calles
a veces es una decisión última porque parar
es un día menos de trabajo o además es
perder el mismo. Juntarnos y ocupar las calles
es un momento, un tiempo, e
llas lo hicieron y
lo hacen todo el tiempo. Juntarnos y ocupar
las calles es para nosotras marronas decirles
gracias a ellas y a otras basta y se unan a la
[Chana Mamani em:
https://www.facebook.com/identidadmarron
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Na página de Facebook
principal plataforma de comunicação
de suas atividades para o público, o
Colectivo Identidad
Marron
como “Um espaço de reflexão sobre o
racismo na América Latina
precarização no emprego dos pardos,
sua invisibilidade na sociedade e,
acima de tudo, “um espaço de
entrelaçamento para desenvolver
respostas ou ações concretas que
tenham impacto social”.
15
meados de 2018 o
Colectivo
realizar reuniões, pautas e
movimentos de ocupação de espaços
culturais. Desde então, conseguiram
>10 de março de 2019. A
cesso em
2021. –
Tradução livre dos autores]
14
https://www.facebook.com/identidadmarron/
Para imagens dxs
integratxs em
manifestações e de suas atividades
educacionais e artísticas,
acessar a página do
Coletivo.
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/2271016883210340. -
Manifestação
ocorrida na região central de Buenos Aires
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/2133924530252910 –
Oficina sobre
Racialização do Trabalho Precário
em: 06 jan. 2020).
15
Un espacio de reflexión sobre el
Latinoamericala, precarización laboral de las
personas marrones, la invisibilización de las
mismas en sociedad y sobretodo un espacio
de entretejido para poder elaborar respuestas
u acciones concretas que tengan incidencia
social. Colectivo Identidad
Marron
em:
https://www.facebook.com/pg/identidadmarron/
about/. Acesso em: 1 out. 2019.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Na página de Facebook
14
,
principal plataforma de comunicação
de suas atividades para o público, o
Marron
se define
como “Um espaço de reflexão sobre o
racismo na América Latina
, a
precarização no emprego dos pardos,
sua invisibilidade na sociedade e,
acima de tudo, “um espaço de
entrelaçamento para desenvolver
respostas ou ações concretas que
15
A partir de
Colectivo
passa a
realizar reuniões, pautas e
movimentos de ocupação de espaços
culturais. Desde então, conseguiram
cesso em
: 17 jan.
Tradução livre dos autores]
https://www.facebook.com/identidadmarron/
.
integratxs em
manifestações e de suas atividades
acessar a página do
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
Manifestação
ocorrida na região central de Buenos Aires
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
Oficina sobre
Racialização do Trabalho Precário
(acesso
Un espacio de reflexión sobre el
racismo en
Latinoamericala, precarización laboral de las
personas marrones, la invisibilización de las
mismas en sociedad y sobretodo un espacio
de entretejido para poder elaborar respuestas
u acciones concretas que tengan incidencia
Marron
, disponível
https://www.facebook.com/pg/identidadmarron/
ocupar importantes espaços culturais
da cidade como o El Cultural San
Martin no centro da cidade ou
Memoria y
Derechos
Esma-
prédio onde alguns dos presos
políticos da Ditadura Argentina foram
torturados e mortos, por isso sua
ocupação se torna particularmente
importante.
O Identidad
Marron
identidade como um grupo coletivo, e
dessa forma a assinatura das
atividades
é realizada como um
coletivo, e não por assinaturas
individuais de suas integrantes. Esse
padrão somente é quebrado quando
uma integrante em especial apresenta
algum trabalho ou propõe uma oficina.
Essa aposta na coletividade o é
mera formalidade. Elas a
juntas são mais fortes e têm mais
possibilidade de alcançar espaços de
fala e escuta privilegiados. Todavia,
mesmo quando optam por assinar as
obras, o fazem exaltando a
coletividade como descrito a seguir,
Nós, filhxs e netxs de migrantes
indígenas, indígenas,
racializadas, trabalhadorxs
domésticos, cuidadores,
habitamos nesta terra, temos
memória ancestral, existimos e,
como a poeira que não conhece
178
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ocupar importantes espaços culturais
da cidade como o El Cultural San
Martin no centro da cidade ou
Espacio
Derechos
Humanos, ex
prédio onde alguns dos presos
políticos da Ditadura Argentina foram
torturados e mortos, por isso sua
ocupação se torna particularmente
Marron
assume sua
identidade como um grupo coletivo, e
dessa forma a assinatura das
é realizada como um
coletivo, e não por assinaturas
individuais de suas integrantes. Esse
padrão somente é quebrado quando
uma integrante em especial apresenta
algum trabalho ou propõe uma oficina.
Essa aposta na coletividade o é
mera formalidade. Elas a
creditam que
juntas são mais fortes e têm mais
possibilidade de alcançar espaços de
fala e escuta privilegiados. Todavia,
mesmo quando optam por assinar as
obras, o fazem exaltando a
coletividade como descrito a seguir,
Nós, filhxs e netxs de migrantes
indígenas, indígenas,
racializadas, trabalhadorxs
domésticos, cuidadores,
habitamos nesta terra, temos
memória ancestral, existimos e,
como a poeira que não conhece
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
barreiras, avançamos. A
resistência é apresentada a nós
co
mo uma constante, uma vez
que lembramos, que
conversamos com nossas
famílias, sabemos que a
resistência vem em primeiro
lugar. [...] em todo lugar que você
e, embora não possamos
entrar, estaremos, até mesmo
nos vegetais da sua sopa. Não
temos tempo
para nos sentir mal,
temos que lutar para existir,
trabalhar, lutar. Decolonialidade e
anti-
racismo não é apenas um
discurso que soa bem, a
decolonialidade é a luta por uma
independência que permite nosso
livre desenvolvimento, a
decolonialidade não é um
d
esenho ou um post culpado, é
ação! 527 anos de resistência,
não somos os primeiros nem
seremos os últimos. (VIDO,
2019)
16
16
Nosotres
hijxs/nietxs de campesinxs,
indígenas, migrantes racializadas, empleadas
domésticas, cuidadoras, villeras, habitamos
estas tierras, tenemos
memoria ancestral,
existimos, y como el polvo que no conoce
barreras, avanzamos. La resistencia se nos
plantea como una constante, desde que
recordamos,
desde que hablamos con
nuestras familias, sabemos que resistir es lo
primero. [...] en cada lugar a do
nde vayas y
aunque no podamos ingresar, estaremos,
hasta en la verduras de tu sopa. Nosotrxs no
tenemos tiempo para sentirnos mal, tenemos
que pelear por existir, trabajar, luchar, la
decolonialidad y el antiracismo no es solo un
discurso que suena bien, l
a decolonialidad es
la lucha por una independencia que permita
nuestro desarrollo libre, la decolonialidad no es
un dibujo o un post culposo, es acción!
AÑOS de resistencia, nosotrxs no somos lxs
primerxs, ni
tampoco seremos lxs
postagem de 12 de outubro de 2019, de Gema
Modelo Vido (artista visual que utiliza o próprio
corpo como obra)
<https://www.facebook.com/identidadmarron>
13 de outubro de 2019. A
cesso em 17 de
janeiro de 2021.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
barreiras, avançamos. A
resistência é apresentada a nós
mo uma constante, uma vez
que lembramos, que
conversamos com nossas
famílias, sabemos que a
resistência vem em primeiro
lugar. [...] em todo lugar que você
e, embora não possamos
entrar, estaremos, até mesmo
nos vegetais da sua sopa. Não
para nos sentir mal,
temos que lutar para existir,
trabalhar, lutar. Decolonialidade e
racismo não é apenas um
discurso que soa bem, a
decolonialidade é a luta por uma
independência que permite nosso
livre desenvolvimento, a
decolonialidade não é um
esenho ou um post culpado, é
ação! 527 anos de resistência,
não somos os primeiros nem
seremos os últimos. (VIDO,
hijxs/nietxs de campesinxs,
indígenas, migrantes racializadas, empleadas
domésticas, cuidadoras, villeras, habitamos
memoria ancestral,
existimos, y como el polvo que no conoce
barreras, avanzamos. La resistencia se nos
plantea como una constante, desde que
desde que hablamos con
nuestras familias, sabemos que resistir es lo
nde vayas y
aunque no podamos ingresar, estaremos,
hasta en la verduras de tu sopa. Nosotrxs no
tenemos tiempo para sentirnos mal, tenemos
que pelear por existir, trabajar, luchar, la
decolonialidad y el antiracismo no es solo un
a decolonialidad es
la lucha por una independencia que permita
nuestro desarrollo libre, la decolonialidad no es
un dibujo o un post culposo, es acción!
527
AÑOS de resistencia, nosotrxs no somos lxs
tampoco seremos lxs
últimxs
postagem de 12 de outubro de 2019, de Gema
Modelo Vido (artista visual que utiliza o próprio
<https://www.facebook.com/identidadmarron>
cesso em 17 de
Dentre as atividades do
Identidad Marron
está também a de
ocupar as ruas, com seus corpos, com
artes provocativas
e também com a
inte
nsificação da produção de pôsteres
lambe-
lambes políticos e críticos. A
partir de suas intervenções artísticas e
reflexivas o Coletivo cria suas próprias
redes, com objetivo de escapar das
significações atribuídas a seus corpos
ao longo dos anos e se remod
partir de novos símbolos e de novas
atribuições que são construídos
coletivamente. Elxs produzem novas
imagens de si através de plataformas
visuais, e audiovisuais, notadamente
baseadas em seus processos de
oralidade. Assim, criam suas próprias
comun
icações, e evitam de serem
capturadas pelos discursos
existentes da globalização.
Contudo, em contraste à
estrutura coletiva, e analisando o
caráter individual dxs integrantes do
Coletivo, percebemos que muitas
delas continuam reféns de trabalhos
informais ou de trabalhos precarizados
destas novas empresas surgidas com
falta de garantia
s e com imposição de
horários fragmentados que as
179
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dentre as atividades do
está também a de
ocupar as ruas, com seus corpos, com
e também com a
nsificação da produção de pôsteres
lambes políticos e críticos. A
partir de suas intervenções artísticas e
reflexivas o Coletivo cria suas próprias
redes, com objetivo de escapar das
significações atribuídas a seus corpos
ao longo dos anos e se remod
ela a
partir de novos símbolos e de novas
atribuições que são construídos
coletivamente. Elxs produzem novas
imagens de si através de plataformas
visuais, e audiovisuais, notadamente
baseadas em seus processos de
oralidade. Assim, criam suas próprias
icações, e evitam de serem
capturadas pelos discursos
existentes da globalização.
Contudo, em contraste à
estrutura coletiva, e analisando o
caráter individual dxs integrantes do
Coletivo, percebemos que muitas
delas continuam reféns de trabalhos
informais ou de trabalhos precarizados
destas novas empresas surgidas com
s e com imposição de
horários fragmentados que as
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
impedem de estudar ou ter lazer. São
obrigadas a essa situação pela falta de
uma qualificação formal, devido a
necessidades financeiras, por suas
moradias ficarem muito distantes dos
centros urbanos e, por
conta da grave
crise econômica pela qual passa a
Argentina, muitas temem ficar sem
algum tipo de trabalho, em meio à um
número expressivo de pessoas
desempregadas no país. É a partir
daqui que podemos pensar como a
globalização, com seus acelerados
process
os de integração
econômica e cultural mundial,
maneira perversa diante de alguns
corpos.
As promessas sedutoras das
cidades globalizadas
Dentre as relações as quais a
cidade moderna estabelece, podemos
definir como centrais os jogos de
movimentos entre alguns espaços das
cidades, na relação entre moradia e
trabalho, que fazem com esses
trabalhadores habitem o entorno ese
desloquem em longas distancias para
outros lados da cidade nas regiões de
trabalho, localizados nas regiões de
maior
poder aquisitivo ou de
concentração de estabelecimentos
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
impedem de estudar ou ter lazer. São
obrigadas a essa situação pela falta de
uma qualificação formal, devido a
necessidades financeiras, por suas
moradias ficarem muito distantes dos
conta da grave
crise econômica pela qual passa a
Argentina, muitas temem ficar sem
algum tipo de trabalho, em meio à um
número expressivo de pessoas
desempregadas no país. É a partir
daqui que podemos pensar como a
globalização, com seus acelerados
os de integração
política,
econômica e cultural mundial,
atua de
maneira perversa diante de alguns
As promessas sedutoras das
Dentre as relações as quais a
cidade moderna estabelece, podemos
definir como centrais os jogos de
movimentos entre alguns espaços das
cidades, na relação entre moradia e
trabalho, que fazem com esses
trabalhadores habitem o entorno ese
desloquem em longas distancias para
outros lados da cidade nas regiões de
trabalho, localizados nas regiões de
poder aquisitivo ou de
concentração de estabelecimentos
comerciais. Se, a partir da
Modernidade era possível perceber
esse processo, com o advento da
globalização ele se intensifica e a
relação entre espaço de moradia X
espaço de trabalho se torna essen
para o controle do tempo e dos
próprios corpos dos trabalhadores das
classes sociais mais pobres. Ou seja,
eles tentam habitar os espaços
periféricos da cidade de Buenos Aires,
para que não passem a maior parte de
seu tempo em um transporte
m
as, de modo geral, ainda é isso que
ainda acontece para a maioria.
Em entrevista especial sobe
desigualdade global para a Folha de
São Paulo, Lucas Chacel,
Coordenador do Relatório da
Desigualdade Global,
Economia de Paris explica que “a
globalização fracassou para muitos,
'fuga para o mais barato' achatou as
classes médias, levou à precarização
dos serviços públicos e os países
precisam reorganizar a integração
econômica global para evitar "reações
violentas" no futuro. (CHACEL,
2019)Pa
ra o coordenador existem
lados da história da globalização. O
mais feliz, e
amplamente divulgado, é
o do significativo crescimento
180
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
comerciais. Se, a partir da
Modernidade era possível perceber
esse processo, com o advento da
globalização ele se intensifica e a
relação entre espaço de moradia X
espaço de trabalho se torna essen
cial
para o controle do tempo e dos
próprios corpos dos trabalhadores das
classes sociais mais pobres. Ou seja,
eles tentam habitar os espaços
periféricos da cidade de Buenos Aires,
para que não passem a maior parte de
seu tempo em um transporte
público,
as, de modo geral, ainda é isso que
ainda acontece para a maioria.
Em entrevista especial sobe
desigualdade global para a Folha de
São Paulo, Lucas Chacel,
Coordenador do Relatório da
Desigualdade Global,
da Escola de
Economia de Paris explica que “a
globalização fracassou para muitos,
a
'fuga para o mais barato' achatou as
classes médias, levou à precarização
dos serviços públicos e os países
precisam reorganizar a integração
econômica global para evitar "reações
violentas" no futuro. (CHACEL,
ra o coordenador existem
dois
lados da história da globalização. O
amplamente divulgado, é
o do significativo crescimento
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
econômico da China, Índia e Coréia do
Sul, na Ásia.Entretanto, existe um
outro lado, onde a renda cresceu em
ritmo muito
lento entre as classes
trabalhadoras tanto na Europa como
Estados Unidos e América Latina, que
precisa ainda ser refletido em conjunto
ao fato de que em todos estes lugares
a renda do 1% mais rico subiu
brutalmente.
Portanto, na América Latina,
estamos em
meio a um processo
ascendente de concentração de renda
de uma parcela mínima em relação a
milhares de trabalhadores que estão
sendo empurrados da classe média
para classe de baixa renda, e estes
para a miséria
ampliando ainda mais
a desigualdade socioec
onômica. A
globalização permitiu a livre circulação
do dinheiro e a fuga para que as
empresas multinacionais pudessem ir
ao encontro de serviços mais baratos.
Porém, deixou de fora todos os
trabalhadores que simplesmente não
podem se mudar. Mas essas pesso
continuam a necessitar da
manutenção de bons níveis de serviço
público. A renda cai, os impostos e
custos fixos permanecem. Segundo
Chacel, se nenhuma política de
reorganização e renda for realizada
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
econômico da China, Índia e Coréia do
Sul, na Ásia.Entretanto, existe um
outro lado, onde a renda cresceu em
lento entre as classes
trabalhadoras tanto na Europa como
Estados Unidos e América Latina, que
precisa ainda ser refletido em conjunto
ao fato de que em todos estes lugares
a renda do 1% mais rico subiu
Portanto, na América Latina,
meio a um processo
ascendente de concentração de renda
de uma parcela mínima em relação a
milhares de trabalhadores que estão
sendo empurrados da classe média
para classe de baixa renda, e estes
ampliando ainda mais
onômica. A
globalização permitiu a livre circulação
do dinheiro e a fuga para que as
empresas multinacionais pudessem ir
ao encontro de serviços mais baratos.
Porém, deixou de fora todos os
trabalhadores que simplesmente não
podem se mudar. Mas essas pesso
as
continuam a necessitar da
manutenção de bons níveis de serviço
público. A renda cai, os impostos e
custos fixos permanecem. Segundo
Chacel, se nenhuma política de
reorganização e renda for realizada
para diminuir as desigualdades, o
resultado dessa equa
desequilibrada poderá nos levar a
reações violentas e brutais. Os sinais
de descontentamento e frustração com
as promessas da globalização ficaram
evidentes com as eleições e governos
polarizados de Donald Trump, nos
Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro
no Brasil.
Esta situação se agravou em
função dos efeitos adversos da
pandemia do coronavírus. Para o
diretor sênior de política do
the Americas
e mestre em políticas
públicas pela Universidade Harvard,
Robert Simon: “a
também ampliar desigualdades dentro
e entre países, com
ainda mais distante dos desenvolvidos.
Desde 2014, a região vive seu período
de menor crescimento econômico em
sete décadas.” (SIMON, 2020). Para o
pesquisador, o vírus
momento possível na América Latina,
pois uma
incerteza sobre a ordem
internacional que emergirá ao final da
crise que vivemos.
juntam com as de Dani Rodrik,
economista de Harvard e as
Richard Haas, o presidente do
on Foreign
Relations
181
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- ISSN 2237-1508
para diminuir as desigualdades, o
resultado dessa equa
ção
desequilibrada poderá nos levar a
reações violentas e brutais. Os sinais
de descontentamento e frustração com
as promessas da globalização ficaram
evidentes com as eleições e governos
polarizados de Donald Trump, nos
Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro
Esta situação se agravou em
função dos efeitos adversos da
pandemia do coronavírus. Para o
diretor sênior de política do
Council of
e mestre em políticas
públicas pela Universidade Harvard,
Covid-19 deve
também ampliar desigualdades dentro
a América Latina
ainda mais distante dos desenvolvidos.
Desde 2014, a região vive seu período
de menor crescimento econômico em
sete décadas.” (SIMON, 2020). Para o
pesquisador, o vírus
chegou no pior
momento possível na América Latina,
incerteza sobre a ordem
internacional que emergirá ao final da
Estas idéias se
juntam com as de Dani Rodrik,
economista de Harvard e as
de
Richard Haas, o presidente do
Council
Relations
, convergindo a
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
um ponto comum: a ideia de que a
pandemia do Covid-
19 funcione como
uma espécie de máquina do tempo,
onde mais do que criar algo novo,
acelerará transformações globais que
já estavam em curso.
Neste sentido, as condiç
exploração trabalhista na América
Latina poderão ser acentuadas. Na
Argentina, segundo o sindicato de
Pessoal Auxiliar de Casas
Particulares, existem em torno de 750
mil trabalhadoras sem registro.
Segundo Sylvia Colombo, em
reportagem para a Folha
Paulo, “Na capital, Buenos Aires,
muitas delas são imigrantes de países
limítrofes, como o Paraguai e a Bolívia,
e estão em situação irregular, o que as
deixa de fora da possibilidade de
receber o auxílio governamental.”
(COLOMBO, 2020).
E, como as
estão contratadas não têm carteira
assinada, continuar a receber o salário
depende da boa vontade dos patrões.
Esta é uma configuração de
retorno
à exploração de direitos
humanos, pois muitas, com medo de
ficar sem dinheiro,
continuam a
trabalhar, perpetuando
uma relação de
exploração trabalhista da parte desses
empregadores. Desse modo elas
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
um ponto comum: a ideia de que a
19 funcione como
uma espécie de máquina do tempo,
onde mais do que criar algo novo,
acelerará transformações globais que
Neste sentido, as condiç
ões de
exploração trabalhista na América
Latina poderão ser acentuadas. Na
Argentina, segundo o sindicato de
Pessoal Auxiliar de Casas
Particulares, existem em torno de 750
mil trabalhadoras sem registro.
Segundo Sylvia Colombo, em
reportagem para a Folha
de São
Paulo, “Na capital, Buenos Aires,
muitas delas são imigrantes de países
limítrofes, como o Paraguai e a Bolívia,
e estão em situação irregular, o que as
deixa de fora da possibilidade de
receber o auxílio governamental.”
E, como as
que
estão contratadas não têm carteira
assinada, continuar a receber o salário
depende da boa vontade dos patrões.
Esta é uma configuração de
à exploração de direitos
humanos, pois muitas, com medo de
continuam a
uma relação de
exploração trabalhista da parte desses
empregadores. Desse modo elas
convivem com o risco duplo de serem
contaminadas pelo vírus na casa dos
patrões ou a caminho do trabalho,
onde ainda correm o risco de serem
presas pela polícia, po
do presidente argentino Alberto
Fernández não as classificou em
grupo de trabalho essencial.
importante destacar que dentro destas
condições encontra-
se grande parte
das mulheres integrantes do
Identidad Marron
,que ainda prec
conviver com o preconceito imposto às
ascendências indígenas
grupo, e identidades de gênero e
orientações sexuais diversas.
Nesse caldeirão de hostilidades
as explorações se multiplicam de cima
para baixo numa espiral
aparentemente sem fi
que não é enfrentada pelo sistema
público, a população em situação de
rua na cidade de Buenos Aires cresce
exponencialmente. As manifestações
populares em 2019 revelaram um
crescente descontentamento com as
condições de vida na capital latin
americana
e serviram como prenúncio
do retorno da esquerda ao poder na
Argentina, com Alberto Fernandez
eleito Presidente, e Cristina Kirchner
como vice-
presidente, vencendo as
182
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
convivem com o risco duplo de serem
contaminadas pelo vírus na casa dos
patrões ou a caminho do trabalho,
onde ainda correm o risco de serem
presas pela polícia, po
rque o decreto
do presidente argentino Alberto
Fernández não as classificou em
grupo de trabalho essencial.
Sendo
importante destacar que dentro destas
se grande parte
das mulheres integrantes do
Colectivo
,que ainda prec
isam
conviver com o preconceito imposto às
ascendências indígenas
-maioria do
grupo, e identidades de gênero e
orientações sexuais diversas.
Nesse caldeirão de hostilidades
as explorações se multiplicam de cima
para baixo numa espiral
aparentemente sem fi
m, e na medida
que não é enfrentada pelo sistema
público, a população em situação de
rua na cidade de Buenos Aires cresce
exponencialmente. As manifestações
populares em 2019 revelaram um
crescente descontentamento com as
condições de vida na capital latin
o-
e serviram como prenúncio
do retorno da esquerda ao poder na
Argentina, com Alberto Fernandez
eleito Presidente, e Cristina Kirchner
presidente, vencendo as
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
eleições presidenciais ainda no
primeiro turno de votação. Mesmo não
sendo
possível apontar qual será o
resultado
dessas manifestações, é
interessante observar o afloramento de
um novo discurso de identidade em
alguns movimentos pelas ruas da
cidade portenha.
Considerações finais: corpos
indígenas entre o mito do labirinto,
a
tecnologia e a interseccionalidade
Se por um lado a precarização
trouxe a perspectiva de
reestruturação produtiva que colocou
para os trabalhadores mais
vulneráveis a difícil escolha entre a
servidão ou desemprego,por outro,
com os avanços da tecnologi
a aproximação de uma situação que
pode ser ainda mais extrema: a da
escolha entre exploração sem direitos,
versus a irrelevância e o desprezo.
Para as pessoas comuns, termos
como: block chain
, engenharia
genética, inteligência artificial,
learning
e criptomoedas, soam como
um dialeto estranho, que nada tem a
ver com elas.Fora
o fato de que este
processo não inibe nem elimina a
longa trajetória de opressões,
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
eleições presidenciais ainda no
primeiro turno de votação. Mesmo não
possível apontar qual será o
dessas manifestações, é
interessante observar o afloramento de
um novo discurso de identidade em
alguns movimentos pelas ruas da
Considerações finais: corpos
indígenas entre o mito do labirinto,
tecnologia e a interseccionalidade
Se por um lado a precarização
trouxe a perspectiva de
uma
reestruturação produtiva que colocou
para os trabalhadores mais
vulneráveis a difícil escolha entre a
servidão ou desemprego,por outro,
com os avanços da tecnologi
a, temos
a aproximação de uma situação que
pode ser ainda mais extrema: a da
escolha entre exploração sem direitos,
versus a irrelevância e o desprezo.
Para as pessoas comuns, termos
, engenharia
genética, inteligência artificial,
machine
e criptomoedas, soam como
um dialeto estranho, que nada tem a
o fato de que este
processo não inibe nem elimina a
longa trajetória de opressões,
preconceitos e discriminações
perpassam corpos, raças, etnias,
amplificam
ainda mais os obstáculos.
Todavia, esse universo
tecnológico com seu estranho dialeto
está cada vez mais presente, através
de retóricas eficientes e sedutoras de
empreendedorismo, moldando novas
configurações de trabalho em variados
setores de serviço. E,
dessa engrenagem, rapidamente
descobrimos que por trás de
fachada existe um labirinto complexo,
onde nem consumidores nem
prestadores de serviços conseguem
saber ao certo como acessar seus
direitos em caso de qualquer tipo de
problema. E
stamos enfim, imersos
num grande e complexo labirinto sem
fim.Sabendo do poder de consolidação
desse sistema e sabendo do enorme
risco de serem relegadxs a
irrelevância,xs integrantes do
Identidad Marron
estabelecem um
posicionamento de luta, onde
dentro do próprio sistema, atuam com
objetivo de manter ao mesmo tempo a
sobrevivência financeira e a defesa
das suas ideias.
Nesse sentido, voltando à
reflexão inicial, quando dialogamos
com Mbembe, podemos ver como o
183
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- ISSN 2237-1508
preconceitos e discriminações
que
perpassam corpos, raças, etnias,
que
ainda mais os obstáculos.
Todavia, esse universo
tecnológico com seu estranho dialeto
está cada vez mais presente, através
de retóricas eficientes e sedutoras de
empreendedorismo, moldando novas
configurações de trabalho em variados
setores de serviço. E,
uma vez dentro
dessa engrenagem, rapidamente
descobrimos que por trás de
sua
fachada existe um labirinto complexo,
onde nem consumidores nem
prestadores de serviços conseguem
saber ao certo como acessar seus
direitos em caso de qualquer tipo de
stamos enfim, imersos
num grande e complexo labirinto sem
fim.Sabendo do poder de consolidação
desse sistema e sabendo do enorme
risco de serem relegadxs a
irrelevância,xs integrantes do
Colectivo
estabelecem um
posicionamento de luta, onde
, de
dentro do próprio sistema, atuam com
objetivo de manter ao mesmo tempo a
sobrevivência financeira e a defesa
Nesse sentido, voltando à
reflexão inicial, quando dialogamos
com Mbembe, podemos ver como o
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
conceito de necropolítica é
extr
emamente vigente e se reatualiza.
Corpos negros e corpos indígenas
ainda sofrem com a construção
eurocêntrica e estereotipada e
precisam se organizar a partir dos
fragmentos que nos foram passados
através das gerações anteriores como
meios de fugir dessa r
edução da qual
a precarização laboral é apenas uma
das facetas. Assim, construir discursos
coletivos que reivindiquem a
centralidade de suas histórias se torna
uma maneira poética, potente e literal
de permanecerem vivxs.
pensarmos o território de Bueno
como uma “Arena Cultural”
visualizar a disputa por espaços e
discursos que opera através da
interseccionalidade. Os corpos dxs
integrantes do
Colectivo
Marron
, não acessam diretamente
determinados espaços, nem possuem
possibilida
de de interlocução direta
com outros corpos, porque eles foram
17
O debate das cidades como Arenas
Culturais
, conceito inaugurado por Richard
Morse década de 50, mas retomado em
recente livro “Ciudades Sudamericanas como
Arenas Culturales” pode ser também aqui
lembrado. O livro, organizado pelo antropólogo
argentino Adrian Gorelik e pela antropóloga
brasileira F
ernanda Arêas Peixoto traz, através
de diversos artigos, articulações possíveis
entre cultura e cidades na América do Sul,
justamente o cerne do presente artigo.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
conceito de necropolítica é
emamente vigente e se reatualiza.
Corpos negros e corpos indígenas
ainda sofrem com a construção
eurocêntrica e estereotipada e
precisam se organizar a partir dos
fragmentos que nos foram passados
através das gerações anteriores como
edução da qual
a precarização laboral é apenas uma
das facetas. Assim, construir discursos
coletivos que reivindiquem a
centralidade de suas histórias se torna
uma maneira poética, potente e literal
de permanecerem vivxs.
Ao
pensarmos o território de Bueno
s Aires
como uma “Arena Cultural”
17
podemos
visualizar a disputa por espaços e
discursos que opera através da
interseccionalidade. Os corpos dxs
Colectivo
Identidad
, não acessam diretamente
determinados espaços, nem possuem
de de interlocução direta
com outros corpos, porque eles foram
O debate das cidades como Arenas
, conceito inaugurado por Richard
Morse década de 50, mas retomado em
recente livro “Ciudades Sudamericanas como
Arenas Culturales” pode ser também aqui
lembrado. O livro, organizado pelo antropólogo
argentino Adrian Gorelik e pela antropóloga
ernanda Arêas Peixoto traz, através
de diversos artigos, articulações possíveis
entre cultura e cidades na América do Sul,
justamente o cerne do presente artigo.
e permanecem separados desde a
colonização. Deste modo, podemos
entender que existe de modo
permanente uma tensão social na
disputa por recursos os mais diversos,
como dinheiro, tempo, repertór
cultural, redes de sociabilidade que
precisam ser conquistadas diariamente
por seus integrantxs
maioria não tem qualificação para
vencer essa batalha, aumenta a
importância das rodas de conversa e
dos workshops que o
oferece gratuit
amente.
Através dessas atividades
regulares, todxs
sabem que participam
de um sistema e o utilizam para
sobreviver e fazer parte integrante do
processo capitalista, mas, diferente de
suas avós e mães que se viam
silenciadas, conseguem encontrar
brechas no sistema para que suas
vozes sejam ouvidas e reverbe
Desse modo, ocupam espaços
importantes do saber formal e centros
culturais da cidade. Conscientes da
quase impossibilidade de destruírem
um sistema tecnologicamente
sofisticado, entenderam que este
mesmo regime lhes poderia servir de
ferramenta de a
184
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- ISSN 2237-1508
e permanecem separados desde a
colonização. Deste modo, podemos
entender que existe de modo
permanente uma tensão social na
disputa por recursos os mais diversos,
como dinheiro, tempo, repertór
io
cultural, redes de sociabilidade que
precisam ser conquistadas diariamente
por seus integrantxs
e, como a
maioria não tem qualificação para
vencer essa batalha, aumenta a
importância das rodas de conversa e
dos workshops que o
Colectivo
amente.
Através dessas atividades
sabem que participam
de um sistema e o utilizam para
sobreviver e fazer parte integrante do
processo capitalista, mas, diferente de
suas avós e mães que se viam
silenciadas, conseguem encontrar
brechas no sistema para que suas
vozes sejam ouvidas e reverbe
radas.
Desse modo, ocupam espaços
importantes do saber formal e centros
culturais da cidade. Conscientes da
quase impossibilidade de destruírem
um sistema tecnologicamente
sofisticado, entenderam que este
mesmo regime lhes poderia servir de
ferramenta de a
mplificação e
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
reverberação de suas questões
identitárias.
Dessa maneira, as atividades
do Coletivo estimulam a sensação de
pertencimento e autoestima aos
integrantes
de grupos vulneráveis.
Seus discursos amplificam vozes que
estavam abafadas, e se estabele
como formas de resistências que
gradualmente poderão ser
multiplicadas através de um processo
de circulação da cultura periférica por
outros territórios da cidade. A
multiplicidade de atividades projeta
uma pluralidade de leituras
seus dire
itos e visibilidade. Com este
movimento, o
Colectivo
Marron
serve de referência a grupos
minoritários de outros países latino
americanos que, além de possuírem
uma ancestralidade em comum,
passam pelas mesmas dificuldades
existentes na Argentina.
Se permitimo-
nos observar a
grande influência que os povos
originários deixaram através de suas
raízes no continente americano,
ampliaremos as possiblidades de
compreensão de que, neste momento,
seus descendentes também apontam
para um legado de força e
E, uma vez reunidos esses contextos,
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
reverberação de suas questões
Dessa maneira, as atividades
do Coletivo estimulam a sensação de
pertencimento e autoestima aos
de grupos vulneráveis.
Seus discursos amplificam vozes que
estavam abafadas, e se estabele
cem
como formas de resistências que
gradualmente poderão ser
multiplicadas através de um processo
de circulação da cultura periférica por
outros territórios da cidade. A
multiplicidade de atividades projeta
uma pluralidade de leituras
na luta por
itos e visibilidade. Com este
Colectivo
Identidad
serve de referência a grupos
minoritários de outros países latino
-
americanos que, além de possuírem
uma ancestralidade em comum,
passam pelas mesmas dificuldades
nos observar a
grande influência que os povos
originários deixaram através de suas
raízes no continente americano,
ampliaremos as possiblidades de
compreensão de que, neste momento,
seus descendentes também apontam
para um legado de força e
resistência.
E, uma vez reunidos esses contextos,
finalizamos nosso artigo
compartilhando que em nosso
entendimento o
Colectivo
de suas atividades formais, funciona
como uma possibilidade de
saída de obstáculos comuns a muitos
grupos v
ulneráveis, ainda que
temporário.
Afinal, é um longo embate
com entradas e saídas, perdas e
ganhos em relação a um sistema
complexo de precarização. Não
obstante, sua força plural energia
para que xsintegrantxs, seus pais e
descendentes vislumbrem
persp
ectivas menos silenciadoras e
estereotipadas.
Porque, se afinal, a
tecnologia se transformou
reconfigurado
mito do labirinto do
Minotauro, que tenta manter como
impossível a saída de seu
iniciativas e movimentos solidários
integrantes do
Identidad
meio ao sistema de precarização
ressignificam sua inserção, dando
maior visibilidade às questões
dos
movimentos identitários na
Argentina,
além de apontarem
possíveis caminhos de saída deste
grande e complexo labirinto
185
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finalizamos nosso artigo
compartilhando que em nosso
Colectivo
, para além
de suas atividades formais, funciona
como uma possibilidade de
portal de
saída de obstáculos comuns a muitos
ulneráveis, ainda que
Afinal, é um longo embate
com entradas e saídas, perdas e
ganhos em relação a um sistema
complexo de precarização. Não
obstante, sua força plural energia
para que xsintegrantxs, seus pais e
descendentes vislumbrem
ectivas menos silenciadoras e
Porque, se afinal, a
tecnologia se transformou
num
mito do labirinto do
Minotauro, que tenta manter como
impossível a saída de seu
interior, as
iniciativas e movimentos solidários
das
Identidad
Marron em
meio ao sistema de precarização
ressignificam sua inserção, dando
maior visibilidade às questões
movimentos identitários na
além de apontarem
possíveis caminhos de saída deste
grande e complexo labirinto
.
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