PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
Resumo:
Em que condições sobrevivem as trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Essa e demais questões buscamos analisar, a
concentrado no mercado de tr
tanto,
utilizamos o estudo de caso como metodologia, que resultou na elaboração
desse artigo. Na intenção de identificar o cerne das tensões, impactos, principais
desafios e em que medida as/os profis
no trabalho, como também, que possíveis caminhos são apontados para corrigir as
fragilidades dessa classe trabalhadora informal. Nessa direção, realizamos uma
série de entrevistas em profundidade, através de uma
perguntas abertas, direcionadas para uma parcela de trabalhadoras e trabalhadores
que atuam em diversos segmentos artístico
C
om base nas respostas levantadas nas entrevistas, apresentamos es
comentada e referenciada em estudos e pesquisadores da área.
Palavras-chaves:
direitos.
La precariedad creciente del trabajo en cultura en la ciudad de Rio de Janeiro
Resumen:
En qué condiciones sobreviven los trabajadores culturales? Ésta y otras
cuestiones que buscamos analizar, a partir del objeto de investigación concentrado
en el mercado laboral en el sector cultural brasileño hoy. Para eso, utilizamos el
estudio de caso c
omo metodología, lo que resultó en la elaboración de este artículo.
1
Ana Lúcia Ribeiro Pardo. Pós-
doutoranda em Cultura e Territorialidades na Universidade Federal
Fluminense (CAPES-UFF). Do
utora em Políticas públicas e formação humana pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, UERJ
, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-
7671
Recebido em 01/03/2021, aceito para publicação em 01
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
.48928
Ana Lúcia Pardo
“A nova cultura começa
quando o
trabalhador e o trabalho
são tratados com respeito”.
Em que condições sobrevivem as trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Essa e demais questões buscamos analisar, a
partir do objeto de pesquisa
concentrado no mercado de tr
abalho no setor cultural brasileiro na atualidade. Para
utilizamos o estudo de caso como metodologia, que resultou na elaboração
desse artigo. Na intenção de identificar o cerne das tensões, impactos, principais
desafios e em que medida as/os profis
sionais enfrentam a situação de precariedade
no trabalho, como também, que possíveis caminhos são apontados para corrigir as
fragilidades dessa classe trabalhadora informal. Nessa direção, realizamos uma
série de entrevistas em profundidade, através de uma
pesquisa qualitativa, com
perguntas abertas, direcionadas para uma parcela de trabalhadoras e trabalhadores
que atuam em diversos segmentos artístico
-
culturais na cidade do Rio de Janeiro.
om base nas respostas levantadas nas entrevistas, apresentamos es
comentada e referenciada em estudos e pesquisadores da área.
trabalho; a
rtes; cultura; precariedade; e
mpreendedorismo
La precariedad creciente del trabajo en cultura en la ciudad de Rio de Janeiro
En qué condiciones sobreviven los trabajadores culturales? Ésta y otras
cuestiones que buscamos analizar, a partir del objeto de investigación concentrado
en el mercado laboral en el sector cultural brasileño hoy. Para eso, utilizamos el
omo metodología, lo que resultó en la elaboración de este artículo.
doutoranda em Cultura e Territorialidades na Universidade Federal
utora em Políticas públicas e formação humana pela Universidade do
, Brasil
. E-
mail: anapardo.teatralidade@gmail.com
7671
-438X
Recebido em 01/03/2021, aceito para publicação em 01
/06/2021 e
disponibilizado online em
01/09/2021.
188
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
Ana Lúcia Pardo
1
“A nova cultura começa
trabalhador e o trabalho
são tratados com respeito”.
(Máximo Gorky)
Em que condições sobrevivem as trabalhadoras e os trabalhadores da
partir do objeto de pesquisa
abalho no setor cultural brasileiro na atualidade. Para
utilizamos o estudo de caso como metodologia, que resultou na elaboração
desse artigo. Na intenção de identificar o cerne das tensões, impactos, principais
sionais enfrentam a situação de precariedade
no trabalho, como também, que possíveis caminhos são apontados para corrigir as
fragilidades dessa classe trabalhadora informal. Nessa direção, realizamos uma
pesquisa qualitativa, com
perguntas abertas, direcionadas para uma parcela de trabalhadoras e trabalhadores
culturais na cidade do Rio de Janeiro.
om base nas respostas levantadas nas entrevistas, apresentamos es
sa análise,
mpreendedorismo
;
La precariedad creciente del trabajo en cultura en la ciudad de Rio de Janeiro
En qué condiciones sobreviven los trabajadores culturales? Ésta y otras
cuestiones que buscamos analizar, a partir del objeto de investigación concentrado
en el mercado laboral en el sector cultural brasileño hoy. Para eso, utilizamos el
omo metodología, lo que resultó en la elaboración de este artículo.
doutoranda em Cultura e Territorialidades na Universidade Federal
utora em Políticas públicas e formação humana pela Universidade do
mail: anapardo.teatralidade@gmail.com
-
disponibilizado online em
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Con el fin de identificar el núcleo de las tensiones, impactos, principales desafíos y la
medida en que los profesionales enfrentan la situación de precariedad en el trabajo,
así como qué
posibles caminos se señalan para corregir las debilidades de esta
clase trabajadora informal. En esta dirección, realizamos una serie de entrevistas en
profundidad, a través de una investigación cualitativa, con preguntas abiertas,
dirigidas a un grupo de
segmentos artísticos y culturales en la ciudad de Río de Janeiro. A partir de las
respuestas planteadas en las entrevistas, presentamos este análisis, comentado y
referenciado en estudios e investigadores
Palabras clave: trabajo
; a
públicas.
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
Abstract:
In what conditions do cultural workers survive? This is the other survey
that we seek to analyze, based on the object of investigation concentrated in the
labor market in the Brazilian cultural sector today. For this, we used the case study
as a methodolo
gy, which resulted in the elaboration of this article. In order to identify
the core of the stresses, impacts, main challenges and the extent to which the
professionals face the precarious situation in the work, as well as the possible ways
to seign themse
lves to correct the weaknesses of this informal working class. In this
direction, we carry out a series of in
investigation, with open questions, addressed to a group of workers and workers who
work in various artist
ic and cultural segments in the city of Río de Janeiro. Based on
the answers planted in the interviews, we present this analysis, commented on and
referenced in studies and researchers in the area.
Keywords: work; arts; c
ulture
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
A partir do objeto de pesquisa,
concentrado na situação do mercado
de trabalho no setor cultural brasileiro
na atualidade, começamos por lançar
as seguintes questões: sob
condições sobrevivem as
trabalhadoras e os trabalhadores da
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Con el fin de identificar el núcleo de las tensiones, impactos, principales desafíos y la
medida en que los profesionales enfrentan la situación de precariedad en el trabajo,
posibles caminos se señalan para corregir las debilidades de esta
clase trabajadora informal. En esta dirección, realizamos una serie de entrevistas en
profundidad, a través de una investigación cualitativa, con preguntas abiertas,
dirigidas a un grupo de
trabajadores y trabajadoras que laboran en diversos
segmentos artísticos y culturales en la ciudad de Río de Janeiro. A partir de las
respuestas planteadas en las entrevistas, presentamos este análisis, comentado y
referenciado en estudios e investigadores
del área.
; a
rte; cultura; precariedad; e
mprendimiento
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
In what conditions do cultural workers survive? This is the other survey
that we seek to analyze, based on the object of investigation concentrated in the
labor market in the Brazilian cultural sector today. For this, we used the case study
gy, which resulted in the elaboration of this article. In order to identify
the core of the stresses, impacts, main challenges and the extent to which the
professionals face the precarious situation in the work, as well as the possible ways
lves to correct the weaknesses of this informal working class. In this
direction, we carry out a series of in
-
depth interviews, through a qualitative
investigation, with open questions, addressed to a group of workers and workers who
ic and cultural segments in the city of Río de Janeiro. Based on
the answers planted in the interviews, we present this analysis, commented on and
referenced in studies and researchers in the area.
ulture
; precariousness; entrepreneurship; p
ublic
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
A partir do objeto de pesquisa,
concentrado na situação do mercado
de trabalho no setor cultural brasileiro
na atualidade, começamos por lançar
as seguintes questões: sob
que
condições sobrevivem as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Em que dimensão
passaram, e/ou ainda se encontram,
em estado de precariedade e, em caso
afirmativo, como é enfrentada tal
situação?
Como avaliam o mercado de
trabalho na Cultura n
mundo? Em que medida os problemas
189
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Con el fin de identificar el núcleo de las tensiones, impactos, principales desafíos y la
medida en que los profesionales enfrentan la situación de precariedad en el trabajo,
posibles caminos se señalan para corregir las debilidades de esta
clase trabajadora informal. En esta dirección, realizamos una serie de entrevistas en
profundidad, a través de una investigación cualitativa, con preguntas abiertas,
trabajadores y trabajadoras que laboran en diversos
segmentos artísticos y culturales en la ciudad de Río de Janeiro. A partir de las
respuestas planteadas en las entrevistas, presentamos este análisis, comentado y
mprendimiento
; políticas
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
In what conditions do cultural workers survive? This is the other survey
that we seek to analyze, based on the object of investigation concentrated in the
labor market in the Brazilian cultural sector today. For this, we used the case study
gy, which resulted in the elaboration of this article. In order to identify
the core of the stresses, impacts, main challenges and the extent to which the
professionals face the precarious situation in the work, as well as the possible ways
lves to correct the weaknesses of this informal working class. In this
depth interviews, through a qualitative
investigation, with open questions, addressed to a group of workers and workers who
ic and cultural segments in the city of Río de Janeiro. Based on
the answers planted in the interviews, we present this analysis, commented on and
ublic
policies.
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
Cultura? Em que dimensão
passaram, e/ou ainda se encontram,
em estado de precariedade e, em caso
afirmativo, como é enfrentada tal
Como avaliam o mercado de
trabalho na Cultura n
o Brasil e no
mundo? Em que medida os problemas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
vividos no mercado de trabalho da
Cultura no Brasil são locais ou
globais? Quais são as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Que caminhos possíveis
aponta
riam para melhorar as
condições de trabalho na Cultura?
Para tanto,
utilizamos o estudo
de caso como metodologia, na
intenção de identificar o cerne das
tensões, desafios e avaliar em que
medida as/os profissionais enfrentam a
situação de precariedade no t
como também, que possíveis
caminhos são apontados para corrigir
as fragilidades dessa classe
trabalhadora informal. Nessa direção,
realizamos uma série de entrevistas
em profundidade, através de uma
pesquisa qualitativa, com perguntas
abertas, dir
ecionadas para uma
parcela de trabalhadoras e
trabalhadores que atuam em diversos
segmentos artístico-
culturais
Cênicas -
Dança, Circo, Teatro, Arte
Pública; Artes Visuais; Audiovisual;
Produção Teatral; Publicidade,
Comunicação Visual, dias Socia
na cidade do Rio de Janeiro.
As perguntas desse
questionário foram previamente
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
vividos no mercado de trabalho da
Cultura no Brasil são locais ou
globais? Quais são as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Que caminhos possíveis
riam para melhorar as
condições de trabalho na Cultura?
utilizamos o estudo
de caso como metodologia, na
intenção de identificar o cerne das
tensões, desafios e avaliar em que
medida as/os profissionais enfrentam a
situação de precariedade no t
rabalho,
como também, que possíveis
caminhos são apontados para corrigir
as fragilidades dessa classe
trabalhadora informal. Nessa direção,
realizamos uma série de entrevistas
em profundidade, através de uma
pesquisa qualitativa, com perguntas
ecionadas para uma
parcela de trabalhadoras e
trabalhadores que atuam em diversos
culturais
(Artes
Dança, Circo, Teatro, Arte
Pública; Artes Visuais; Audiovisual;
Produção Teatral; Publicidade,
Comunicação Visual, dias Socia
is),
na cidade do Rio de Janeiro.
As perguntas desse
questionário foram previamente
enviadas às/os entrevistadas/os no
início de janeiro de 2021,
também através do WhatsApp, além
de contatos telefônicos, a fim de evitar
o contato presencial
pandemia, -
resultando no retorno das
respostas de 09 (nove)
trabalhadoras/es da Cultura, sendo
quatro mulheres e cinco homens, que
nos foram concedidas de forma
gradativa, no período compreendido
entre o dia 05/01 ao dia 20/01/2021.
Com base
nas respostas levantadas
nas entrevistas, apresentamos essa
análise, comentada e referenciada em
estudos e pesquisadores da área.
O presente estudo se utiliza
basicamente de entrevistas,
documentos e publicações que
costumam ser usadas no estudo de
caso.
Com base nas respostas dos
entrevistados, somadas às referências
de estudos, dados, pesquisas e
demais fontes e autores, além de
palestras e seminários realizados na
universidade, movimentos e runs
artísticos, buscamos fazer uma análise
acerca da situaç
ão atual do mercado
de trabalho na Cultura. Segundo
Robert Yin (2010, p. 39), o estudo de
caso “é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno
190
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
enviadas às/os entrevistadas/os no
início de janeiro de 2021,
- por email e
também através do WhatsApp, além
de contatos telefônicos, a fim de evitar
o contato presencial
em função da
resultando no retorno das
respostas de 09 (nove)
trabalhadoras/es da Cultura, sendo
quatro mulheres e cinco homens, que
nos foram concedidas de forma
gradativa, no período compreendido
entre o dia 05/01 ao dia 20/01/2021.
nas respostas levantadas
nas entrevistas, apresentamos essa
análise, comentada e referenciada em
estudos e pesquisadores da área.
O presente estudo se utiliza
basicamente de entrevistas,
documentos e publicações que
costumam ser usadas no estudo de
Com base nas respostas dos
entrevistados, somadas às referências
de estudos, dados, pesquisas e
demais fontes e autores, além de
palestras e seminários realizados na
universidade, movimentos e runs
artísticos, buscamos fazer uma análise
ão atual do mercado
de trabalho na Cultura. Segundo
Robert Yin (2010, p. 39), o estudo de
caso “é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
contemporâneo em profundidade e em
seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre
o fenô
meno e o contexto não são
claramente definidos”. Essa definição
leva em consideração três condições
básicas sobre estratégias de pesquisa:
o tipo de questão de pesquisa, o
controle do pesquisador sobre eventos
comportamentais, e o foco no
contemporâneo ao
invés de
fenômenos históricos. Ao delinear
estas três condições, Yin argumenta
que a escolha de estudo de caso seria
a estratégia preferida quando “como”
ou “por que” questões estão sendo
colocadas; quando o investigador tem
pouco controle sobre os eventos
quando o foco está em um fenômeno
contemporâneo dentro de algum
contexto da vida real.
Entrevistas com trabalhadores e
trabalhadoras da Cultura do Rio de
Janeiro
Para esse estudo aqui
apresentado, foram feitas, portanto,
entrevistas em profundidade,
as/os seguintes artistas que trabalham
em áreas e segmentos diversos:
Maracajá
(Artes Cênicas e
Audiovisual), Daphne Madeira (Artes
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
contemporâneo em profundidade e em
seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre
meno e o contexto não são
claramente definidos”. Essa definição
leva em consideração três condições
básicas sobre estratégias de pesquisa:
o tipo de questão de pesquisa, o
controle do pesquisador sobre eventos
comportamentais, e o foco no
invés de
fenômenos históricos. Ao delinear
estas três condições, Yin argumenta
que a escolha de estudo de caso seria
a estratégia preferida quando “como”
ou “por que” questões estão sendo
colocadas; quando o investigador tem
pouco controle sobre os eventos
e;
quando o foco está em um fenômeno
contemporâneo dentro de algum
Entrevistas com trabalhadores e
trabalhadoras da Cultura do Rio de
Para esse estudo aqui
apresentado, foram feitas, portanto,
entrevistas em profundidade,
com
as/os seguintes artistas que trabalham
em áreas e segmentos diversos:
Célia
(Artes Cênicas e
Audiovisual), Daphne Madeira (Artes
Cênicas
Dança),
(Artes Cênicas
Teatro), Erisvelton de
Alencar Santana (Publicidade,
Comunicaçã
o Visual e Redes Sociais),
Gabriel Bezerra de Melo Júnior (Artes
Cênicas Circo),
José Carlos Rosa
Miranda (Produção Teatral),
de Andrade França (Arte Pública
Circense), Stanley Livingstone Whibbe
(Microempresa de Elaboração e
Produção de Projetos
de Morais (Artes Visuais, Audiovisual,
Mídias Sociais).
Nessa entrevista, a
artista multimídia e pesquisadora Ynaê
Cortez de Morais, 28 anos, afirma que
após terminar a graduação em História
da Arte não encontrou trabalho na
área, tendo que
migrar para o mercado
de audiovisual, onde tinha algum
conhecimento, mesmo com uma baixa
remuneração. “Enfrento muita
dificuldade na remuneração de
trabalhos autorais, por conta disso sou
fotógrafa e editora freelancer de
cinema, publicidade e mídias s
Ela aponta concentrações de recursos,
burocracias e o uso mercadológico
feito pelas empresas.
A meu ver o mercado de trabalho
na cultura no Brasil é muito
precarizado, os trabalhadores são
predominantemente informais,
uma grande concentração d
191
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dança),
Denise Milfont
Teatro), Erisvelton de
Alencar Santana (Publicidade,
o Visual e Redes Sociais),
Gabriel Bezerra de Melo Júnior (Artes
José Carlos Rosa
Miranda (Produção Teatral),
Wildson
de Andrade França (Arte Pública
Circense), Stanley Livingstone Whibbe
(Microempresa de Elaboração e
Produção de Projetos
) e Ynaê Cortez
de Morais (Artes Visuais, Audiovisual,
Nessa entrevista, a
artista multimídia e pesquisadora Ynaê
Cortez de Morais, 28 anos, afirma que
após terminar a graduação em História
da Arte não encontrou trabalho na
migrar para o mercado
de audiovisual, onde tinha algum
conhecimento, mesmo com uma baixa
remuneração. “Enfrento muita
dificuldade na remuneração de
trabalhos autorais, por conta disso sou
fotógrafa e editora freelancer de
cinema, publicidade e mídias s
ociais”.
Ela aponta concentrações de recursos,
burocracias e o uso mercadológico
A meu ver o mercado de trabalho
na cultura no Brasil é muito
precarizado, os trabalhadores são
predominantemente informais,
uma grande concentração d
e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
renda em grandes produtoras.
Vejo dois grandes problemas no
mercado de cultura: a falta de
recursos para o setor e a
concentração dos recursos
disponíveis. Embora muitos
editais públicos e leis de
incentivos estejam abertos a
todos, os pequenos e médios
produtores muitas vezes
enfrentam grandes dificuldades
em se inscrever, pois essas
inscrições exigem
documentações, licitações e
burocracias que muitas vezes
não estão ao alcance de um
pequeno ou médio produtor. O
incentivo indireto também
apresenta diver
problemáticas, uma delas é que o
incentivo via empresas muitas
vezes é utilizado como um
‘marketing social’ das empresas
que privilegiam grandes projetos
e profissionais renomados.
(MORAIS, 2021).
Ynaê considera que esses
problemas são locais e provindos de
uma falta de políticas públicas voltadas
para a área que levem em conta a
diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
políticas. “Também acredito que os
problemas são reflexos da ina
de muitos gestores sobre o próprio
entendimento do que é cultura, como
realizar políticas democráticas para
área e difundir o acesso da
população”. E considera o
mapeamento e cadastramento de
profissionais da cultura um grande
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
renda em grandes produtoras.
Vejo dois grandes problemas no
mercado de cultura: a falta de
recursos para o setor e a
concentração dos recursos
disponíveis. Embora muitos
editais públicos e leis de
incentivos estejam abertos a
todos, os pequenos e médios
produtores muitas vezes
enfrentam grandes dificuldades
em se inscrever, pois essas
inscrições exigem
documentações, licitações e
burocracias que muitas vezes
não estão ao alcance de um
pequeno ou médio produtor. O
incentivo indireto também
apresenta diver
sas
problemáticas, uma delas é que o
incentivo via empresas muitas
vezes é utilizado como um
‘marketing social’ das empresas
que privilegiam grandes projetos
e profissionais renomados.
Ynaê considera que esses
problemas são locais e provindos de
uma falta de políticas públicas voltadas
para a área que levem em conta a
diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
políticas. “Também acredito que os
problemas são reflexos da ina
bilidade
de muitos gestores sobre o próprio
entendimento do que é cultura, como
realizar políticas democráticas para
área e difundir o acesso da
população”. E considera o
mapeamento e cadastramento de
profissionais da cultura um grande
avanço e os recursos
de Emergência Cultural Aldir Blanc,
apresentada pela Comissão de Cultura
da Câmara dos Deputados e
implementada em 2020.
Na visão dessa artista, houve
o entendimento, a valorização e o
reconhecimento das culturas locais,
ass
im como a iniciativa da
desburocratização da inscrição dos
profissionais e espaços relacionados
aos pontos de cultura foi uma grande
conquista. No entanto, aponta muitos
problemas na execução dos recursos
da lei por conta de diversas gestões
municipais e e
staduais. “Acredito que
os maiores desafios sejam o
investimento na área e a
democratização dos recursos para que
pequenos e médios produtores
possam acessar esses recursos”.
De fato, conforme ressalta
Ynaê Cortez
de Morais
trabalho na cultura está atravessado
pela precariedade. Sobretudo porque a
grande maioria desses agentes,
seus fazeres e saberes culturais,
atua de forma autônoma, precária,
informal, sem garantia alguma de
direitos trabalhistas, pre
tributários, dependendo, portanto, dos
editais, que estão cada vez mais raros
192
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
avanço e os recursos
provindos da Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc,
apresentada pela Comissão de Cultura
da Câmara dos Deputados e
implementada em 2020.
Na visão dessa artista, houve
o entendimento, a valorização e o
reconhecimento das culturas locais,
im como a iniciativa da
desburocratização da inscrição dos
profissionais e espaços relacionados
aos pontos de cultura foi uma grande
conquista. No entanto, aponta muitos
problemas na execução dos recursos
da lei por conta de diversas gestões
staduais. “Acredito que
os maiores desafios sejam o
investimento na área e a
democratização dos recursos para que
pequenos e médios produtores
possam acessar esses recursos”.
De fato, conforme ressalta
de Morais
, o mercado de
trabalho na cultura está atravessado
pela precariedade. Sobretudo porque a
grande maioria desses agentes,
- com
seus fazeres e saberes culturais,
-
atua de forma autônoma, precária,
informal, sem garantia alguma de
direitos trabalhistas, pre
videnciários e
tributários, dependendo, portanto, dos
editais, que estão cada vez mais raros
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
nessas últimas gestões de governo,
para manterem vivas as suas
atividades. Além da dificuldade de
acesso e apoio de uma grande parcela
de trabalhadores da cultura,
distorções quanto ao uso dos recursos
públicos, via incentivo indireto, por
empresas e bancos, resultando nas
recorrentes concentrações em grandes
produtoras de eventos e de
entretenimento.
A
potência inventiva da cultura
envolve uma força labora
ofício, embora suas especificidades
extrapolem o campo formal do
chamado mundo do trabalho.
de uma classe trabalhadora que vive
sob condições
e relações
extremamente precarizadas, s
qualquer garantia de renda, vínculos
empregatícios reg
istrados em carteira
de trabalho, contrato ou documentação
equivalente, sendo geralmente
desprovida de benefícios como
remuneração fixa, férias pagas
mecanismos de
proteção
de
cobertura previdenciária
quadro diferenciado de trabalho no
setor cultural, - que
compreende uma
rica e extensa diversidade de atores,
segmentos, expressões, linguagens,
artes, culturas, que não são
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
nessas últimas gestões de governo,
para manterem vivas as suas
atividades. Além da dificuldade de
acesso e apoio de uma grande parcela
de trabalhadores da cultura,
ocorrem
distorções quanto ao uso dos recursos
públicos, via incentivo indireto, por
empresas e bancos, resultando nas
recorrentes concentrações em grandes
produtoras de eventos e de
potência inventiva da cultura
envolve uma força labora
tiva, um
ofício, embora suas especificidades
extrapolem o campo formal do
chamado mundo do trabalho.
Trata-se
de uma classe trabalhadora que vive
e relações
extremamente precarizadas, s
em
qualquer garantia de renda, vínculos
istrados em carteira
de trabalho, contrato ou documentação
equivalente, sendo geralmente
desprovida de benefícios como
remuneração fixa, férias pagas
,
proteção
social e
cobertura previdenciária
. Esse
quadro diferenciado de trabalho no
compreende uma
rica e extensa diversidade de atores,
segmentos, expressões, linguagens,
artes, culturas, que não são
institucionalizadas,
-
não alcança a compreensão e o
devido preparo técnico por parte dos
gestores de ór
gãos públicos e
privados para implementarem
políticas que possam corrigir essas
fragilidades e garantir os direitos
trabalhistas, triburios e
previdenciários desses profissionais.
Isso se revela tamm na
de
contarmos com levantamentos
consis
tentes e atualizados de
cadastros, dados, desempenho e
funcionamento dessas atividades.
Esse ofício compreende não somente
uma grande diversidade de perfis de
trabalhadoras e trabalhadores da
Cultura, oriundos de uma extensa
variedade de segmentos e lingua
como também, envolve uma
multiplicidade de públicos a quem se
dirigem e são compartilhados os seus
trabalhos.
Ao perguntarmos sobre que
caminhos possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Ynaê menciona mudanças voltadas
principalmente para corrigir as
concentrações de recursos e a falta de
acesso da sociedade civil às políticas
culturais.
193
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
-
muitas vezes
não alcança a compreensão e o
devido preparo técnico por parte dos
gãos públicos e
privados para implementarem
políticas que possam corrigir essas
fragilidades e garantir os direitos
trabalhistas, triburios e
previdenciários desses profissionais.
Isso se revela tamm na
dificuldade
contarmos com levantamentos
tentes e atualizados de
cadastros, dados, desempenho e
funcionamento dessas atividades.
Esse ofício compreende não somente
uma grande diversidade de perfis de
trabalhadoras e trabalhadores da
Cultura, oriundos de uma extensa
variedade de segmentos e lingua
gens,
como também, envolve uma
multiplicidade de públicos a quem se
dirigem e são compartilhados os seus
Ao perguntarmos sobre que
caminhos possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Ynaê menciona mudanças voltadas
principalmente para corrigir as
concentrações de recursos e a falta de
acesso da sociedade civil às políticas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Uma distribuição dos recursos
que não privilegie determinados
estados a nível federal ou
determinados bairros a nível
municipal.
Uma participação da
população na escolha de
gestores de instituições, teatros e
espaços culturais, assim como a
participação da população na
escolha da programação desses
espaços. Políticas culturais
voltadas para pequenos
produtores e grupos em
vulnerabilidade (
MORAIS
Além de apontar a
necessidade de rever a distribuição
dos recursos, que ainda estão
concentrados em determinadas
cidades, áreas e regiões, destaca a
necessidade da população participar
do processo de escolha dos gestores
das instituições, conforme sugere
Ynaê. Tendo em vista que um dos
problemas que identificamos, a
exemplo do Rio de Janeiro, é que a
pasta das secretarias municipal e
estadual vêm sendo administradas,
sobretudo nos últimos anos, por
pessoas que não são ori
setor cultural, muitas vezes resultantes
de indicações de parlamentares dos
órgãos legislativos locais, com fins
políticos e eleitorais. Essa é uma
questão que foi levantada nas
conferências municipais de cultura do
Rio, na direção de garantir
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Uma distribuição dos recursos
que não privilegie determinados
estados a nível federal ou
determinados bairros a nível
Uma participação da
população na escolha de
gestores de instituições, teatros e
espaços culturais, assim como a
participação da população na
escolha da programação desses
espaços. Políticas culturais
voltadas para pequenos
produtores e grupos em
MORAIS
, 2021).
Além de apontar a
necessidade de rever a distribuição
dos recursos, que ainda estão
concentrados em determinadas
cidades, áreas e regiões, destaca a
necessidade da população participar
do processo de escolha dos gestores
das instituições, conforme sugere
Ynaê. Tendo em vista que um dos
problemas que identificamos, a
exemplo do Rio de Janeiro, é que a
pasta das secretarias municipal e
estadual vêm sendo administradas,
sobretudo nos últimos anos, por
pessoas que não são ori
undas do
setor cultural, muitas vezes resultantes
de indicações de parlamentares dos
órgãos legislativos locais, com fins
políticos e eleitorais. Essa é uma
questão que foi levantada nas
conferências municipais de cultura do
Rio, na direção de garantir
que as
nomeações de dirigentes que
passarem a assumir o comando do
órgão gestor da Secretaria Municipal
de Cultura do Rio de Janeiro, sejam de
fato oriundos do setor artístico
Para isso, torna-
se relevante que
atendam ao perfil de preparo e de
c
onhecimento técnico específico na
área, permitindo, assim, qualificar e
fortalecer a classe trabalhadora
cultural, como também, as políticas
públicas, programas, gestão de
equipamentos e demais ações a
serem implementadas na cidade.
Nessa entr
evista, Erisvelton de
Alencar Santana, 32 anos, que
trabalha com publicidade,
comunicação visual e redes sociais e é
aluno do curso de graduação em
Produção Cultural da Universidade
Federal Fluminense
-
“apesar de não possuir vínculo
empreg
atício possuo contratos com
prazo indeterminado e como
geralmente atuo com gestão de mídias
e sites a pandemia não afetou tanto
quanto outros setores”. Assim como
Ynaê, ele considera que um
entendimento reduzido da cultura, que
está concentrada em event
carência de ações e investimentos por
parte do governo no mercado cultural
194
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
nomeações de dirigentes que
passarem a assumir o comando do
órgão gestor da Secretaria Municipal
de Cultura do Rio de Janeiro, sejam de
fato oriundos do setor artístico
-cultural.
se relevante que
atendam ao perfil de preparo e de
onhecimento técnico específico na
área, permitindo, assim, qualificar e
fortalecer a classe trabalhadora
cultural, como também, as políticas
públicas, programas, gestão de
equipamentos e demais ações a
serem implementadas na cidade.
evista, Erisvelton de
Alencar Santana, 32 anos, que
trabalha com publicidade,
comunicação visual e redes sociais e é
aluno do curso de graduação em
Produção Cultural da Universidade
-
UFF, afirma que
“apesar de não possuir vínculo
atício possuo contratos com
prazo indeterminado e como
geralmente atuo com gestão de mídias
e sites a pandemia não afetou tanto
quanto outros setores”. Assim como
Ynaê, ele considera que um
entendimento reduzido da cultura, que
está concentrada em event
os, e que a
carência de ações e investimentos por
parte do governo no mercado cultural
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
é anterior à pandemia, ao contrário da
Coreia do Sul e dos Estados Unidos,
conforme exemplifica.
O mercado cultural era
complexo antes da pandemia,
pois no
Brasil cultura no
entendimento popular se resumia
a shows e durante muito tempo
não possuiu ações significativas
do governo para potencializar
esse mercado. Em relação ao
mundo, esse mercado irá variar
dependendo do país que seja
analisado, pois países
entendem a cultura como um
mercado altamente importante
tanto em questões financeiras
quando se trata de disseminar
valores culturais, vide o KPOP.
(..) No geral são problemas
globais, pode ser uma visão
micro particular minha, mas
pouco se sabe sobre
atravessam sua territorialidade e
influenciam o mundo. Temos o
exemplo atual do KPOP como
grande movimento de
popularização da cultura Coreana
que impactou o mundo e gerou
um retorno para a Coreia do Sul
muito grande. Tivemos o cinema
Hollywoo
diano que vem
disseminando os valores norte
americanos mais de um
século, mas ainda assim acredito
que poucos países enxergam o
potencial da cultura (SANTANA,
2021).
Na opinião de Erisvelton,
uma desvalorização da cultura
brasileira em d
etrimento da cultura
estrangeira e do entretenimento e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
é anterior à pandemia, ao contrário da
Coreia do Sul e dos Estados Unidos,
O mercado cultural era
complexo antes da pandemia,
Brasil cultura no
entendimento popular se resumia
a shows e durante muito tempo
não possuiu ações significativas
do governo para potencializar
esse mercado. Em relação ao
mundo, esse mercado irá variar
dependendo do país que seja
analisado, pois países
que
entendem a cultura como um
mercado altamente importante
tanto em questões financeiras
quando se trata de disseminar
valores culturais, vide o KPOP.
(..) No geral são problemas
globais, pode ser uma visão
micro particular minha, mas
pouco se sabe sobre
culturas que
atravessam sua territorialidade e
influenciam o mundo. Temos o
exemplo atual do KPOP como
grande movimento de
popularização da cultura Coreana
que impactou o mundo e gerou
um retorno para a Coreia do Sul
muito grande. Tivemos o cinema
diano que vem
disseminando os valores norte
-
americanos mais de um
século, mas ainda assim acredito
que poucos países enxergam o
potencial da cultura (SANTANA,
Na opinião de Erisvelton,
uma desvalorização da cultura
etrimento da cultura
estrangeira e do entretenimento e
acredita que o funk ainda pode
impactar o mundo.
Acredito que a principal perda se
devido à má compreensão,
por parte da população, sobre o
que é cultura. Muitos acreditam
que cultura está atrelada
entretenimento e muitas vezes a
hierarquizam desvalorizando toda
a produção nacional em
detrimento a algo que seja
estrangeiro. Embora, com os
avanços tecnológicos a cultura
popular, tendo o funk como
exemplo, em 2020 conseguimos
ultrapassar barreiras
atingir significativamente muitas
pessoas. Penso que se fosse
investido da maneira correta,
poderíamos transformar o Funk
em algo 100% brasileiro e
impactar o mundo assim como o
KPOP. Essa mudança de olhar
do público, conseguir sobreviver
se
m suporte governamental ao
mesmo tempo em que é
desvalorizado por ele, se mostra
a meu ver como um dos
principais desafios de quem
trabalha na área cultural (
2021).
Em torno dessa falta de
entendimento sobre a cultura, o
pesquisador p
eruano Victor Vich
argumenta que implica pensar nela
também como um problema cotidiano
que muitas vezes é naturalizado ou
negligenciado.
Cultura não é uma palavra “boa”.
Não podemos continuar
entendendo-
a como algo sempre
positivo para a sociedade. Não
195
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
acredita que o funk ainda pode
Acredito que a principal perda se
devido à má compreensão,
por parte da população, sobre o
que é cultura. Muitos acreditam
que cultura está atrelada
ao
entretenimento e muitas vezes a
hierarquizam desvalorizando toda
a produção nacional em
detrimento a algo que seja
estrangeiro. Embora, com os
avanços tecnológicos a cultura
popular, tendo o funk como
exemplo, em 2020 conseguimos
ultrapassar barreiras
territoriais e
atingir significativamente muitas
pessoas. Penso que se fosse
investido da maneira correta,
poderíamos transformar o Funk
em algo 100% brasileiro e
impactar o mundo assim como o
KPOP. Essa mudança de olhar
do público, conseguir sobreviver
m suporte governamental ao
mesmo tempo em que é
desvalorizado por ele, se mostra
a meu ver como um dos
principais desafios de quem
trabalha na área cultural (
Ibidem,
Em torno dessa falta de
entendimento sobre a cultura, o
eruano Victor Vich
argumenta que implica pensar nela
também como um problema cotidiano
que muitas vezes é naturalizado ou
Cultura não é uma palavra “boa”.
Não podemos continuar
a como algo sempre
positivo para a sociedade. Não
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
po
demos continuar entendendo a
cultura somente a partir da “aura”
das artes, do campo daquilo que
é valorizado socialmente. Hoje,
devemos entendê-
la como laços
humanos, estilos de vida, hábitos
estabelecidos na cotidianidade
mais comum. A cultura
disseram-nos
é sempre “o
normal”. De fato, se pensarmos
nela como um problema
cotidiano, perceberemos que ela
é hegemonia, e que a hegemonia
é hoje carreirismo político,
corrupção, discriminação em
todas as suas formas,
consumismo, injustiça social.
Nossas socied
ades continuam
sendo aquelas em que a
corrupção se tornou cínica, a
desigualdade é naturalizada, o
espírito de competição prima
sobre qualquer outro, a
heterogeneidade cultural se
faz visível como subalternidade e
a frivolidade transformou
educaçã
o sentimental. No
entanto, apesar de
uma palavra feia, temos de
continuar apostando em uma
intervenção na
cultura
elementos da cultura. A questão
é que devemos fazê
-
mais radicalismo: é preciso
conseguir tornar visível o modo
como uma forma de poder social
se estabeleceu nos hábitos
cotidianos. (VICH, 2017, p. 49).
Essas questões problematizadas
por Erisvelton não estão dissociadas
de um sistema capitalista cujo modelo
está concentrado nos
neoliberais na econom
ia, com a
mínima intervenção do Estado e a
centralidade no mercado
e na iniciativa
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
demos continuar entendendo a
cultura somente a partir da “aura”
das artes, do campo daquilo que
é valorizado socialmente. Hoje,
la como laços
humanos, estilos de vida, hábitos
estabelecidos na cotidianidade
mais comum. A cultura
é sempre “o
normal”. De fato, se pensarmos
nela como um problema
cotidiano, perceberemos que ela
é hegemonia, e que a hegemonia
é hoje carreirismo político,
corrupção, discriminação em
todas as suas formas,
consumismo, injustiça social.
ades continuam
sendo aquelas em que a
corrupção se tornou cínica, a
desigualdade é naturalizada, o
espírito de competição prima
sobre qualquer outro, a
heterogeneidade cultural se
faz visível como subalternidade e
a frivolidade transformou
-se em
o sentimental. No
entanto, apesar de
cotidiano ser
uma palavra feia, temos de
continuar apostando em uma
cultura
com
elementos da cultura. A questão
-
lo com muito
mais radicalismo: é preciso
conseguir tornar visível o modo
como uma forma de poder social
se estabeleceu nos hábitos
cotidianos. (VICH, 2017, p. 49).
Essas questões problematizadas
por Erisvelton não estão dissociadas
de um sistema capitalista cujo modelo
está concentrado nos
ideais
ia, com a
mínima intervenção do Estado e a
e na iniciativa
privada. C
om o excesso de ofertas de
bens mercantis e simbólicos que
passam a serem absorvidos pelo
mercado, principalmente de uma
cultura centrada no entretenimento,
em gra
ndes eventos, filmes
blockbusters
e musicais da Broadway
que passaram a ocupar as salas dos
cinemas e dos teatros brasileiros. Ao
mesmo tempo que o Funk ainda é
bastante criminalizado, interessa
transformá-
lo em
ser comercializado.
Esse processo de
mercantilização da cultura o surgiu
agora, Theodor
Adorno já falava da
indústria cultural nos anos 1940 e
desde então, esse processo se
aprofundou.
Não à toa, foram introduzidos na
cultura os conceitos oriundos do
mercado, a
empreendedorismo para os
trabalhadores e o modelo privado das
Organizações Sociais, adotado na
gestão de museus, teatros, bibliotecas
e demais espaços públicos, com a
concentração de recursos
administrados por empresas como a
Fundação Roberto Ma
gestores municipais e estaduais,
inclusive passaram a introduzir a
economia criativa no nome
196
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
om o excesso de ofertas de
bens mercantis e simbólicos que
passam a serem absorvidos pelo
mercado, principalmente de uma
cultura centrada no entretenimento,
ndes eventos, filmes
e musicais da Broadway
que passaram a ocupar as salas dos
cinemas e dos teatros brasileiros. Ao
mesmo tempo que o Funk ainda é
bastante criminalizado, interessa
lo em
um produto a
Esse processo de
mercantilização da cultura o surgiu
Adorno já falava da
indústria cultural nos anos 1940 e
desde então, esse processo se
Não à toa, foram introduzidos na
cultura os conceitos oriundos do
mercado, a
exemplo do
empreendedorismo para os
trabalhadores e o modelo privado das
Organizações Sociais, adotado na
gestão de museus, teatros, bibliotecas
e demais espaços públicos, com a
concentração de recursos
administrados por empresas como a
Fundação Roberto Ma
rinho. Os órgãos
gestores municipais e estaduais,
inclusive passaram a introduzir a
economia criativa no nome
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
institucional dessas pastas, cujo
conceito vem sendo adotado também
nas políticas adotadas, além das
chamadas cidades criativas. Erisvelton
aponta
propostas de políticas culturas
que, em seu entendimento, poderiam
fazer a diferença para melhorar as
condições de trabalho na Cultura.
Através da criação de políticas
culturais que deem suporte a
ações e movimentos populares,
não é ser sustentado pelo
g
overno como alguns podem
pensar, é ter suporte. Existem
centenas de músicos que se
apresentam nas ruas por não
existirem palcos para shows
gratuitos no país. Centenas de
artistas plásticos expõem suas
pinturas, esculturas, artesanatos
em calçadas por não h
galeria pública onde pudesse ser
feita a comercialização das obras.
Ou ainda, não existe um circuito
cultural de valorização de
produções locais e disseminação
de produtos por todo o território
brasileiro, pois pouco sabemos
sobre o que é produzid
outras regiões, visto que o
governo foca seu olhar na região
sudeste negligenciando as outras
quatro regiões (Ibidem, 2021).
Essa reduzida visão
concentradora, desigual e de mal uso
da cultura, acaba por ser utilizada para
fins políticos e interesses individuais,
mercadológicos e hegemônicos,
acirrando as desigualdades e as
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
institucional dessas pastas, cujo
conceito vem sendo adotado também
nas políticas adotadas, além das
chamadas cidades criativas. Erisvelton
propostas de políticas culturas
que, em seu entendimento, poderiam
fazer a diferença para melhorar as
condições de trabalho na Cultura.
Através da criação de políticas
culturais que deem suporte a
ações e movimentos populares,
não é ser sustentado pelo
overno como alguns podem
pensar, é ter suporte. Existem
centenas de músicos que se
apresentam nas ruas por não
existirem palcos para shows
gratuitos no país. Centenas de
artistas plásticos expõem suas
pinturas, esculturas, artesanatos
em calçadas por não h
aver uma
galeria pública onde pudesse ser
feita a comercialização das obras.
Ou ainda, não existe um circuito
cultural de valorização de
produções locais e disseminação
de produtos por todo o território
brasileiro, pois pouco sabemos
sobre o que é produzid
o em
outras regiões, visto que o
governo foca seu olhar na região
sudeste negligenciando as outras
quatro regiões (Ibidem, 2021).
Essa reduzida visão
concentradora, desigual e de mal uso
da cultura, acaba por ser utilizada para
fins políticos e interesses individuais,
mercadológicos e hegemônicos,
acirrando as desigualdades e as
opressões. Para fazer uma mudança
através das políticas
conforme sinalizam Erisvelton e Ynaê,
implica ampliar o olhar acerca da
sociedade que vivemos, reorganizar o
cotidiano e construir uma nova
hegemonia.
Nesse sentido, sustento que as
políticas culturais devem se
concentrar em mostrar como
surg
iu a ordem que temos. Para
transformar a realidade, é preciso
primeiro mudar a maneira de
olhar para ela. Acho que as
políticas culturais devem apontar
para isso. Mais do que produzir
um novo tipo de dever, a questão
é gerar uma imagem que nos
faça ver o t
ipo de sociedade que
temos. [...]
políticas culturais deve então
consistir na tentativa de
reorganizar o cotidiano
contribuir para a construção de
uma nova hegemonia. Agora, o
que é o cotidiano? Poderíamos
dizer que é o mundo da inércia,
dos hábitos estabelecidos, do
senso comum existente, das
maneiras estabelecidas do fazer.
Contudo, sem dúvida, trata
também do espaço da
criatividade, da agência, do lugar
onde pequenas mudanças sociais
poderiam acontecer. O cotidiano
é sinônimo de cum
também de resistência; é inércia,
mas também a possibilidade de
transgressão (VICH, 2017
Além de aprofundar o significado
de cotidiano, Victor Vich lança o
desafio de transformá
197
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
opressões. Para fazer uma mudança
através das políticas
públicas,
conforme sinalizam Erisvelton e Ynaê,
implica ampliar o olhar acerca da
sociedade que vivemos, reorganizar o
cotidiano e construir uma nova
Nesse sentido, sustento que as
políticas culturais devem se
concentrar em mostrar como
iu a ordem que temos. Para
transformar a realidade, é preciso
primeiro mudar a maneira de
olhar para ela. Acho que as
políticas culturais devem apontar
para isso. Mais do que produzir
um novo tipo de dever, a questão
é gerar uma imagem que nos
ipo de sociedade que
O objetivo das
políticas culturais deve então
consistir na tentativa de
reorganizar o cotidiano
, de
contribuir para a construção de
uma nova hegemonia. Agora, o
que é o cotidiano? Poderíamos
dizer que é o mundo da inércia,
dos hábitos estabelecidos, do
senso comum existente, das
maneiras estabelecidas do fazer.
Contudo, sem dúvida, trata
-se
também do espaço da
criatividade, da agência, do lugar
onde pequenas mudanças sociais
poderiam acontecer. O cotidiano
é sinônimo de cum
plicidade, mas
também de resistência; é inércia,
mas também a possibilidade de
transgressão (VICH, 2017
, p. 49).
Além de aprofundar o significado
de cotidiano, Victor Vich lança o
desafio de transformá
-lo, na medida
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
em que uma verdadeira transfo
social não pode ser concebida como
externa ao cotidiano, mas como uma
mudança fundamental na vida diária.
O que significa isso? “Significa que as
políticas culturais devem ser sempre
transversais e estar articuladas com
políticas econômicas, da saúd
habitação, do meio ambiente, de
gênero, de segurança cidadã, do
combate à corrupção” (VICH, 201
50
). Segundo ele, as políticas culturais
não estão articuladas com esferas fora
de si mesmas, o mais provável é que a
cultura continue sendo vista co
entretenimento ou como assunto para
especialistas (VICH, 2017).
Wildson de Andrade França, 40
anos, é ator, produtor e
palhaço,
na área de Artes nicas, na cidade
de Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, fazendo apresentações
em fest
as, teatros, circos, mas
principalmente nos trens da Supervia,
afirmando que se viu muitas vezes
em estado de precariedade, “foi me
apresentando nos trens que ocorreu a
mudança, mas hoje por conta da
Covid-
19 tive que me ausentar dos
trens por conta das
aglomerações”. Ao
avaliar o mercado de trabalho na
Cultura no Brasil, ele acredita que as
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
em que uma verdadeira transfo
rmação
social não pode ser concebida como
externa ao cotidiano, mas como uma
mudança fundamental na vida diária.
O que significa isso? “Significa que as
políticas culturais devem ser sempre
transversais e estar articuladas com
políticas econômicas, da saúd
e, da
habitação, do meio ambiente, de
gênero, de segurança cidadã, do
combate à corrupção” (VICH, 201
7, p.
). Segundo ele, as políticas culturais
não estão articuladas com esferas fora
de si mesmas, o mais provável é que a
cultura continue sendo vista co
mo
entretenimento ou como assunto para
especialistas (VICH, 2017).
Wildson de Andrade França, 40
palhaço,
atua
na área de Artes nicas, na cidade
de Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, fazendo apresentações
as, teatros, circos, mas
principalmente nos trens da Supervia,
afirmando que se viu muitas vezes
em estado de precariedade, “foi me
apresentando nos trens que ocorreu a
mudança, mas hoje por conta da
19 tive que me ausentar dos
aglomerações”. Ao
avaliar o mercado de trabalho na
Cultura no Brasil, ele acredita que as
principais precariedades estão nas
periferias e no interior do país, assim
como, na falta de reconhecimento e
entendimento acerca da Arte Pública
como fazer artístico.
É um mercado abrangente, mas
têm muitas precariedades aqui no
Brasil, uma delas é ausência de
equipamentos culturais públicos
nas periferias e interiores. Outra
precariedade é a falta de diálogo
e compreensão sobre a questão
da Arte Pública, como f
artístico e manifestação. Existe
um mercado na arte pública uma
movimentação, porém, não é
levada em consideração no Brasil
(FRANÇA, 2021).
Com o seu Palhaço
Wildson França criou o espetáculo
Will Will Conta Benjamin de Oliveira”,
que rememora a trajetória de Benjamin
de Oliveira, o
primeiro palhaço
negro do Brasil,
a partir do olhar de
Will Will, um palhaço negro dos dias
atuais, que enquanto conta
de seu ancestral, identifica
semelhanças com ele e com sua
trajetória.
Wildson realizou a
Benjamin de Oliveira
Fluminense, convidando palhaços
pretos para homenageá
manter viva a memória de Benjamim
como referê
ncia. E é também lançar
ao público questões como a ausência
198
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
principais precariedades estão nas
periferias e no interior do país, assim
como, na falta de reconhecimento e
entendimento acerca da Arte Pública
É um mercado abrangente, mas
têm muitas precariedades aqui no
Brasil, uma delas é ausência de
equipamentos culturais públicos
nas periferias e interiores. Outra
precariedade é a falta de diálogo
e compreensão sobre a questão
da Arte Pública, como f
azer
artístico e manifestação. Existe
um mercado na arte pública uma
movimentação, porém, não é
levada em consideração no Brasil
(FRANÇA, 2021).
Com o seu Palhaço
Will Will,
Wildson França criou o espetáculo
Will Will Conta Benjamin de Oliveira”,
que rememora a trajetória de Benjamin
primeiro palhaço
a partir do olhar de
Will Will, um palhaço negro dos dias
atuais, que enquanto conta
a história
de seu ancestral, identifica
semelhanças com ele e com sua
Wildson realizou a
Semana
Benjamin de Oliveira
, na Baixada
Fluminense, convidando palhaços
pretos para homenageá
-lo. “A ideia é
manter viva a memória de Benjamim
ncia. E é também lançar
ao público questões como a ausência
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
de palhaços pretos na palhaçaria e
fomentar a criação de uma rede para
ações conjuntas e contínuas”, revela
De fato, o Circo é um dos
segmentos das Artes Cênicas que
mais enfrenta
dificuldades com a
ausência, ou a burocratização, de
espaços públicos e de infraestrutura
adequadas para montar e apoiar os
circos nas zonas urbanas e rurais das
cidades. A arte circense praticada nas
lonas, ou através da Arte Pública,
conforme é realizad
a por Wildson nos
trens da Supervia, precisa de políticas
públicas e apoio de editais para
desenvolver as suas atividades. Ainda
mais nesse momento em que os
artistas de rua não conseguem mais
expor as suas artes no espaço público
e interagir no contato hu
praças, nos trens, no metrô, nas
barcas, nas escolas, se vendo
obrigados a recolherem os seus
chapéus de sobrevivência.
Ele aponta as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura, além de
considerar que a Lei
2
Em
Redação da Baixada, Rio de
Janeiro, 10/6/2020. Disponível
em:
sitedabaixada.com.br/cultura/2020/06/10/palha
cos-pretos-da-baixada-
fluminense
homenageiam-benjamim-de-
oliveira/
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
de palhaços pretos na palhaçaria e
fomentar a criação de uma rede para
ações conjuntas e contínuas”, revela
2
.
De fato, o Circo é um dos
segmentos das Artes Cênicas que
dificuldades com a
ausência, ou a burocratização, de
espaços públicos e de infraestrutura
adequadas para montar e apoiar os
circos nas zonas urbanas e rurais das
cidades. A arte circense praticada nas
lonas, ou através da Arte Pública,
a por Wildson nos
trens da Supervia, precisa de políticas
públicas e apoio de editais para
desenvolver as suas atividades. Ainda
mais nesse momento em que os
artistas de rua não conseguem mais
expor as suas artes no espaço público
e interagir no contato hu
mano, nas
praças, nos trens, no metrô, nas
barcas, nas escolas, se vendo
obrigados a recolherem os seus
chapéus de sobrevivência.
Ele aponta as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
considerar que a Lei
Redação da Baixada, Rio de
em:
:
sitedabaixada.com.br/cultura/2020/06/10/palha
fluminense
-
oliveira/
).
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representa a necessidade de manter
esse tipo de dotação orçamentária,
como também, trazer a Arte Pública
para a centralidade do debate.
Menos equipamentos culturais,
menos políticas culturais,
sucat
eamento órgãos importantes
como a Ancine e seus editais.
Falta de editais com segmentos
mais abrangentes como artes
afro-
brasileiras, produções feitas
por mulheres, etc. Creio que a
LAB foi uma ótima forma de
saber quantos somos quem
somos e abrir uma gran
discussão sobre as Secretaria de
Cultura nos estados e municípios
do Brasil. E acho desafio abrir
uma grande discussão sobre arte
pública e ser contínua a dotação
orçamentária com advento da
LAB (Ibidem, 2021).
Ao perguntar sobre que
caminho
s possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Wildson apresenta algumas das
prioridades, que segundo ele, exigem
maior comprometimento por parte dos
gestores e reitera a potência da Arte
Pública.
Gestores que tenham
conhecimento e
comprometimento com a cultura,
criação de equipamentos,
ocupação de espaços ociosos e
públicos, desburocratização
dessas ocupações. Ampliação de
leis de incentivo, editais e
199
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representa a necessidade de manter
esse tipo de dotação orçamentária,
como também, trazer a Arte Pública
para a centralidade do debate.
Menos equipamentos culturais,
menos políticas culturais,
eamento órgãos importantes
como a Ancine e seus editais.
Falta de editais com segmentos
mais abrangentes como artes
brasileiras, produções feitas
por mulheres, etc. Creio que a
LAB foi uma ótima forma de
saber quantos somos quem
somos e abrir uma gran
de
discussão sobre as Secretaria de
Cultura nos estados e municípios
do Brasil. E acho desafio abrir
uma grande discussão sobre arte
pública e ser contínua a dotação
orçamentária com advento da
LAB (Ibidem, 2021).
Ao perguntar sobre que
s possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Wildson apresenta algumas das
prioridades, que segundo ele, exigem
maior comprometimento por parte dos
gestores e reitera a potência da Arte
Gestores que tenham
conhecimento e
comprometimento com a cultura,
criação de equipamentos,
ocupação de espaços ociosos e
públicos, desburocratização
dessas ocupações. Ampliação de
leis de incentivo, editais e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
emendas para cultura. Creio que
a arte pública
é uma das grandes
salvações como forma de
vivência, sobrevivência e
resistência ante tantos
retrocessos neste país. Temos
muitos gargalos que vão
continuar infelizmente, mas
diminuindo o contato do artista
com o público nesse momento
pode solucionar muitas
(Ibidem, 2021).
Sobre Wildson ter ressaltado
que as principais precariedades estão
nas periferias, trazemos algumas
reflexões feitas pela
socióloga Lívia de
Tommasi, que pesquisa periferias,
juventudes, culturas urbanas,
empreendedorismo e trabalho
precário. No trabalho de pesquisa de
caráter etnográfico realizado na
Cidade de Deus, no período de
pacificação das favelas no Rio de
Janeiro, T
ommasi disse ter se
deparado com muitos projetos que
falavam em empreendedorismo, no
momento em que ainda se falava
muito pouco sobre isso. E começou
então uma efervescência, com cursos
de formação, debates, financiamentos,
em particular, nesse âmbito da a
da cultura como ideia de financiamento
e remuneração das atividades, e
muitos projetos de Organizações Não
Governamentais que antes tinham a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
emendas para cultura. Creio que
é uma das grandes
salvações como forma de
vivência, sobrevivência e
resistência ante tantos
retrocessos neste país. Temos
muitos gargalos que vão
continuar infelizmente, mas
diminuindo o contato do artista
com o público nesse momento
pode solucionar muitas
questões
Sobre Wildson ter ressaltado
que as principais precariedades estão
nas periferias, trazemos algumas
socióloga Lívia de
Tommasi, que pesquisa periferias,
juventudes, culturas urbanas,
empreendedorismo e trabalho
precário. No trabalho de pesquisa de
caráter etnográfico realizado na
Cidade de Deus, no período de
pacificação das favelas no Rio de
ommasi disse ter se
deparado com muitos projetos que
falavam em empreendedorismo, no
momento em que ainda se falava
muito pouco sobre isso. E começou
então uma efervescência, com cursos
de formação, debates, financiamentos,
em particular, nesse âmbito da a
rte e
da cultura como ideia de financiamento
e remuneração das atividades, e
muitos projetos de Organizações Não
Governamentais que antes tinham a
ideia de salvação, como arte para
combater a guerra. E menciona
também um fundo municipal que
tornou-se refer
ência nesse campo com
o
programa de Valorização das
Iniciativas Culturais (
VAI
juventudes da periferia, criado em
2003, em São Paulo, pela Lei
Municipal nº 13.540/2003 e, que em
2014 ganhou uma segunda
modalidade por meio da Lei Municipal
15.897/2013.
Ações, ocorridas
fortemente em São Paulo e no Rio de
Janeiro, que buscavam a visibilidade e
uma oferta de possibilidades de
financiamento, como também, o
caráter instrumental dessa celebração
e desse suporte no âmbito da
chamada pacificação, de ac
ela, trazendo a ideia de que se poderia
integrar os pobres à cidade através do
mercado. Nesse cenário, ocorreram
alterações no mercado de trabalho
com a figura do Microempreendedor
Cultural.
Por isso, esse estímulo à
formalização do trabalho cul
via Microemprendedor Cultural
MEI, tinha essa perspectiva, de
tornar os informais como
contribuintes, e, ao mesmo
tempo, garantir a eles alguns
direitos através dessa figura
jurídica. Mas para uma parcela
200
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ideia de salvação, como arte para
combater a guerra. E menciona
também um fundo municipal que
ência nesse campo com
programa de Valorização das
VAI
), focado nas
juventudes da periferia, criado em
2003, em São Paulo, pela Lei
Municipal nº 13.540/2003 e, que em
2014 ganhou uma segunda
modalidade por meio da Lei Municipal
Ações, ocorridas
fortemente em São Paulo e no Rio de
Janeiro, que buscavam a visibilidade e
uma oferta de possibilidades de
financiamento, como também, o
caráter instrumental dessa celebração
e desse suporte no âmbito da
chamada pacificação, de ac
ordo com
ela, trazendo a ideia de que se poderia
integrar os pobres à cidade através do
mercado. Nesse cenário, ocorreram
alterações no mercado de trabalho
com a figura do Microempreendedor
Por isso, esse estímulo à
formalização do trabalho cul
tural,
via Microemprendedor Cultural
MEI, tinha essa perspectiva, de
tornar os informais como
contribuintes, e, ao mesmo
tempo, garantir a eles alguns
direitos através dessa figura
jurídica. Mas para uma parcela
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
desses jovens é também uma
forma de se sus
economicamente. E é por isso
que eu digo que o trabalho nessa
área pode ser considerado
paradigmático do ponto de vista
das transformações que
ocorreram nos últimos decênios
no mundo do trabalho, quando
para fazer frente a uma classe
enorme de desem
provocada pela desestruturação
produtiva com a globalização dos
mercados, a deslocalização da
produção, a partir dos anos 70,
flexibilidade e precarização foram
apontadas como as únicas saídas
possíveis (TOMMASI, 2020).
Na entrevista fei
ta com José
Carlos Rosa Miranda, 35 anos, que
trabalha no segmento de Teatro, como
ator e produtor teatral, ele afirma que
atualmente não es em estado de
precariedade, mas, “passei por
situações de baixa produção, ou seja,
os trabalhos estavam bem escass
fora a concorrência que é muita e
infelizmente as indicações entram no
lugar das qualidades muitas vezes”. E
considera que o mercado de trabalho
da Cultura no Brasil e no campo global
está “muito ruim, infelizmente não
soubemos aproveitar a efervescênc
da produção cultural que esteve muito
potente até 2013, e hoje com o atual
cenário político, perdemos muito, mas
somos fortes e vamos vencer esse
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
desses jovens é também uma
forma de se sus
tentar
economicamente. E é por isso
que eu digo que o trabalho nessa
área pode ser considerado
paradigmático do ponto de vista
das transformações que
ocorreram nos últimos decênios
no mundo do trabalho, quando
para fazer frente a uma classe
enorme de desem
prego
provocada pela desestruturação
produtiva com a globalização dos
mercados, a deslocalização da
produção, a partir dos anos 70,
flexibilidade e precarização foram
apontadas como as únicas saídas
possíveis (TOMMASI, 2020).
ta com José
Carlos Rosa Miranda, 35 anos, que
trabalha no segmento de Teatro, como
ator e produtor teatral, ele afirma que
atualmente não es em estado de
precariedade, mas, “passei por
situações de baixa produção, ou seja,
os trabalhos estavam bem escass
os,
fora a concorrência que é muita e
infelizmente as indicações entram no
lugar das qualidades muitas vezes”. E
considera que o mercado de trabalho
da Cultura no Brasil e no campo global
está “muito ruim, infelizmente não
soubemos aproveitar a efervescênc
ia
da produção cultural que esteve muito
potente até 2013, e hoje com o atual
cenário político, perdemos muito, mas
somos fortes e vamos vencer esse
marasmo de horrores que o país se
encontra”.
Na opinião de
estamos vivendo dois mom
contrastantes para a Cultura, da
efervescência passamos para um
desmonte. Depois de muitos avanços
alcançados no Brasil, principalmente
durante o governo do presidente Luis
Inácio Lula da Silva, no período de
2003 a 2011, com uma política pública
que
conferiu musculatura institucional
para a pasta da Cultura, nas gestões
dos ministros Gilberto Gil e Juca
Ferreira, estamos passando por um
acelerado desmanche das políticas de
Estado de âmbito federal, com
profundos impactos causados na
gestão pública de
Cultura, sobretudo
no governo do presidente Jair Messias
Bolsonaro, a partir de janeiro de 2019.
Além de cortes, contingenciamentos
de recursos, instalou
cultural, com censuras e perseguições
aos artistas. Embora esse avançado
processo de de
sinstitucionalização do
setor e das políticas públicas tenha
iniciado desde o golpe decretado em
2016, com a retirada da presidenta
Dilma Rousseff, que resultou na
extinção do Ministério da Cultura, uma
das primeiras medidas tomadas por
201
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
marasmo de horrores que o país se
Na opinião de
José Carlos,
estamos vivendo dois mom
entos
contrastantes para a Cultura, da
efervescência passamos para um
desmonte. Depois de muitos avanços
alcançados no Brasil, principalmente
durante o governo do presidente Luis
Inácio Lula da Silva, no período de
2003 a 2011, com uma política pública
conferiu musculatura institucional
para a pasta da Cultura, nas gestões
dos ministros Gilberto Gil e Juca
Ferreira, estamos passando por um
acelerado desmanche das políticas de
Estado de âmbito federal, com
profundos impactos causados na
Cultura, sobretudo
no governo do presidente Jair Messias
Bolsonaro, a partir de janeiro de 2019.
Além de cortes, contingenciamentos
de recursos, instalou
-se uma guerra
cultural, com censuras e perseguições
aos artistas. Embora esse avançado
sinstitucionalização do
setor e das políticas públicas tenha
iniciado desde o golpe decretado em
2016, com a retirada da presidenta
Dilma Rousseff, que resultou na
extinção do Ministério da Cultura, uma
das primeiras medidas tomadas por
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Michel Temer ao ass
umir o governo.
Sobre os problemas vividos no
mercado de trabalho, José Carlos
destaca a mesma fragilidade apontada
por Erisvelton, afirmando que a cultura
estrangeira é mais valorizada do que a
brasileira, principalmente as atividades
de pequeno porte rea
lizadas em áreas
periféricas, a exemplo do Teatro,
conforme Wildson havia
mencionado.
Creio que seja nível Brasil, até
porque o povo brasileiro
infelizmente valoriza pouco a
nossa cultura, exceto
manifestações que ultrapassam
da barreira da
cultura, como o
Carnaval,
por exemplo, e outros
eventos de grande porte, que
fogem da essência cultural. O
teatro, por exemplo, realizado por
pequenas produções ou grupos
de bairros periféricos são pouco
valorizados, e muitas pessoas
que tem a mínima condi
sobrevivência, prefere assistir um
espetáculo da Broadway do que
ver uma manifestação
de um grupo da periferia. Com
isso, o jogo político ganha força e
não investe no principal alimento
da alma do público a arte
(MIRANDA, 2021).
Além de falar, assim como os
demais entrevistados, dos problemas e
desafios que precisam de
investimento, no que se refere aos
equipamentos culturais e à
infraestrutura, José Carlos ressalta a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
umir o governo.
Sobre os problemas vividos no
mercado de trabalho, José Carlos
destaca a mesma fragilidade apontada
por Erisvelton, afirmando que a cultura
estrangeira é mais valorizada do que a
brasileira, principalmente as atividades
lizadas em áreas
periféricas, a exemplo do Teatro,
conforme Wildson havia
Creio que seja nível Brasil, até
porque o povo brasileiro
infelizmente valoriza pouco a
nossa cultura, exceto
algumas
manifestações que ultrapassam
cultura, como o
por exemplo, e outros
eventos de grande porte, que
fogem da essência cultural. O
teatro, por exemplo, realizado por
pequenas produções ou grupos
de bairros periféricos são pouco
valorizados, e muitas pessoas
que tem a mínima condi
ção de
sobrevivência, prefere assistir um
espetáculo da Broadway do que
ver uma manifestação
artística
de um grupo da periferia. Com
isso, o jogo político ganha força e
não investe no principal alimento
da alma do público a arte
Além de falar, assim como os
demais entrevistados, dos problemas e
desafios que precisam de
investimento, no que se refere aos
equipamentos culturais e à
infraestrutura, José Carlos ressalta a
importância de garantir o acesso às
pessoas com defic
iência e dialogar
com as escolas públicas.
O desmonte dos equipamentos
culturais, a falta de investimento
em infraestrutura, melhorias
simples para acolher os
espetáculos, acolher os públicos
principalmente os que são
portadores de alguma deficiência,
viv
endo atualmente um cenário
muito triste na cultura.
em infraestrutura, investir em
grupos populares para que as
principais
manifestações
presentes em nosso país não
fiquem obsoletas. Investir em
fomento público direto para
grupos a
rtísticos possam
desenvolver produtos artísticos
em suas comunidades/bairro.
Criar projetos que possam
dialogar com escolas públicas,
fazendo com que o artista possa
ocupar profissionalmente (Ibidem,
2021).
Essa necessidade, mencionada
por José C
arlos, de aperfeiçoar e criar
condições de mobilidade aos
equipamentos onde ocorrem os
espetáculos culturais, a fim de torná
los habilitados e adaptados para o
acesso de suas dependências internas
e externas, tem sido discutido nos
fóruns e conselhos cultu
e estaduais. Sendo necessário, nesse
caso, ampliar os recursos financeiros
destinados às políticas de
202
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
importância de garantir o acesso às
iência e dialogar
com as escolas públicas.
O desmonte dos equipamentos
culturais, a falta de investimento
em infraestrutura, melhorias
simples para acolher os
espetáculos, acolher os públicos
principalmente os que são
portadores de alguma deficiência,
endo atualmente um cenário
muito triste na cultura.
[..] Investir
em infraestrutura, investir em
grupos populares para que as
artísticas
presentes em nosso país não
fiquem obsoletas. Investir em
fomento público direto para
rtísticos possam
desenvolver produtos artísticos
em suas comunidades/bairro.
Criar projetos que possam
dialogar com escolas públicas,
fazendo com que o artista possa
ocupar profissionalmente (Ibidem,
Essa necessidade, mencionada
arlos, de aperfeiçoar e criar
condições de mobilidade aos
equipamentos onde ocorrem os
espetáculos culturais, a fim de torná
-
los habilitados e adaptados para o
acesso de suas dependências internas
e externas, tem sido discutido nos
fóruns e conselhos cultu
rais municipais
e estaduais. Sendo necessário, nesse
caso, ampliar os recursos financeiros
destinados às políticas de
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
acessibilidade cultural, mas o
somente voltadas para o público, como
também, aos artistas, entre outras
pessoas com mobilidade reduzida.
Ao apresentar o seu histórico de
trabalho nas Artes Cênicas, o ator
titeriteiro Gabriel Bezerra de Melo
Júnior, 58 anos, que reside na cidade
do Rio de Janeiro, menciona que em
sua trajetória tentou buscar outras
profissões e a ajuda de familiar
decisiva para que conseguisse fazer
seus trabalhos artísticos.
Sou registrado como ator
titeriteiro no meu DRT, obtido no
Sindicato de Artistas e Técnicos
de São Paulo por volta de 1998,
comprovando minhas atuações.
Portanto, nas artes cênicas como
ator marionetista em espetáculos
de diversão. Trabalhei como
manipulador em programas de
TV, como TV Colosso
Globo. Como muitos colegas de
profissão, passei por altos e
baixos durante grande parte faz
minha carreira. Muitas vezes
tentei praticar ou
tras profissões
fazendo cursos, mas sempre
retomava aos trabalhos artísticos.
Tive apoio de familiares e
esposas (
MELO JUNIOR
Gabriel Bezerra ressalta as
políticas públicas implementadas nos
períodos de gestões dos ex
presidentes Luiz In
ácio Lula da Silva
(2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011
a 2016) como um salto de qualidade
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
acessibilidade cultural, mas o
somente voltadas para o público, como
também, aos artistas, entre outras
pessoas com mobilidade reduzida.
Ao apresentar o seu histórico de
trabalho nas Artes Cênicas, o ator
titeriteiro Gabriel Bezerra de Melo
Júnior, 58 anos, que reside na cidade
do Rio de Janeiro, menciona que em
sua trajetória tentou buscar outras
profissões e a ajuda de familiar
es foi
decisiva para que conseguisse fazer
Sou registrado como ator
titeriteiro no meu DRT, obtido no
Sindicato de Artistas e Técnicos
de São Paulo por volta de 1998,
comprovando minhas atuações.
Portanto, nas artes cênicas como
ator marionetista em espetáculos
de diversão. Trabalhei como
manipulador em programas de
TV, como TV Colosso
- Rede
Globo. Como muitos colegas de
profissão, passei por altos e
baixos durante grande parte faz
minha carreira. Muitas vezes
tras profissões
fazendo cursos, mas sempre
retomava aos trabalhos artísticos.
Tive apoio de familiares e
MELO JUNIOR
, 2021).
Gabriel Bezerra ressalta as
políticas públicas implementadas nos
períodos de gestões dos ex
-
ácio Lula da Silva
(2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011
a 2016) como um salto de qualidade
que, em seu entendimento, foram
determinantes para alavancar a sua
trajetória no trabalho com a Cultura.
No mundo tivemos movimentos
artísticos relevantes e com
influência. No Brasil tivemos um
salto muito grande de qualidade e
oportunidades através das
políticas públicas dos períodos
Lula e Dilma, onde trabalhei
incessantemente em circuitos
SESI, SESC e SENAI. Depois
passei por muitas dificuldades,
inclusi
ve pessoais precisando
cuidar da minha mãe idosa e
demente, o que afastou do front
dos palcos (
Ibidem
Nesse contexto dos avanços
políticos e institucionais realizados
desde o primeiro mandato do
presidente Lula e na gestão da
presidenta Dilma Rousseff,
mencionados por Gabriel Bezerra,
sobretudo nas gestões dos ministros
Gilberto Gil e Juca Ferreira,
destac
amos o papel do Plano Nacional
de Cultura (PNC), instituído pela Lei
n.12.343/2010, com validade para 10
anos. Formulado com a ideia de
apresentar um planejamento de longo
prazo, a formulação do PNC contou
com a participação da sociedade civil,
a partir de
consultas nacionais e
regionais por meio de fóruns e
conferências realizados pelo país.
203
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que, em seu entendimento, foram
determinantes para alavancar a sua
trajetória no trabalho com a Cultura.
No mundo tivemos movimentos
artísticos relevantes e com
muita
influência. No Brasil tivemos um
salto muito grande de qualidade e
oportunidades através das
políticas públicas dos períodos
Lula e Dilma, onde trabalhei
incessantemente em circuitos
SESI, SESC e SENAI. Depois
passei por muitas dificuldades,
ve pessoais precisando
cuidar da minha mãe idosa e
demente, o que afastou do front
Ibidem
, 2021).
Nesse contexto dos avanços
políticos e institucionais realizados
desde o primeiro mandato do
presidente Lula e na gestão da
presidenta Dilma Rousseff,
mencionados por Gabriel Bezerra,
sobretudo nas gestões dos ministros
Gilberto Gil e Juca Ferreira,
amos o papel do Plano Nacional
de Cultura (PNC), instituído pela Lei
n.12.343/2010, com validade para 10
anos. Formulado com a ideia de
apresentar um planejamento de longo
prazo, a formulação do PNC contou
com a participação da sociedade civil,
consultas nacionais e
regionais por meio de fóruns e
conferências realizados pelo país.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Além do Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais
(SNIIC) e o Plano de Economia
Criativa. E ainda, a aprovação e a
regulamentação do Vale-
Cultura,
ben
efício ligado ao Programa
de Cultura
do Trabalhador, cujo
objetivo era garantir acesso e incentivo
aos programas
culturais
através do auxílio de R$50,00,
oferecido pelas empresas que faziam
parte do Programa e era fornecido aos
funcionários de
carteira assinada.
Essa mudança estruturante de uma
política blica, iniciada em 2003, que
conferiu musculatura institucional para
a pasta da Cultura, foi desmontada a
partir de 2016 e definitivamente extinta
em 2019.
A gestão do Ministério da Cultura
i
niciada em 2003 resultou na
implementação do Sistema
Nacional de Cultura, baseado no
Sistema Único de Saúde (SUS),
que é uma referência nacional e
mundial, que estabeleceu o pacto
federativo, entre estados, união e
municípios. Para formular uma
política co
m a sociedade civil, a
partir de um amplo processo de
diálogo e debates em fóruns, pré
conferências, conferências
municipais regionais, estaduais,
nacionais que resultaram na
elaboração de planos e na
criação de conselhos
representativos. Além de outras
po
líticas culturais, como o
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Além do Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais
(SNIIC) e o Plano de Economia
Criativa. E ainda, a aprovação e a
Cultura,
um
efício ligado ao Programa
do Trabalhador, cujo
objetivo era garantir acesso e incentivo
culturais
brasileiros
através do auxílio de R$50,00,
oferecido pelas empresas que faziam
parte do Programa e era fornecido aos
carteira assinada.
Essa mudança estruturante de uma
política blica, iniciada em 2003, que
conferiu musculatura institucional para
a pasta da Cultura, foi desmontada a
partir de 2016 e definitivamente extinta
A gestão do Ministério da Cultura
niciada em 2003 resultou na
implementação do Sistema
Nacional de Cultura, baseado no
Sistema Único de Saúde (SUS),
que é uma referência nacional e
mundial, que estabeleceu o pacto
federativo, entre estados, união e
municípios. Para formular uma
m a sociedade civil, a
partir de um amplo processo de
diálogo e debates em fóruns, pré
-
conferências, conferências
municipais regionais, estaduais,
nacionais que resultaram na
elaboração de planos e na
criação de conselhos
representativos. Além de outras
líticas culturais, como o
Programa Cultura Viva com
Pontos de Cultura, Colegiados
Setoriais, Fundos Culturais, que
nesse momento percebemos que
estão se esfacelando e com
profundos cortes e suspensão
dos editais e contingenciamento
no orçamento da pasta
(RODRIGUES
;
239).
Gabriel Bezerra observa que os
problemas locais de perdas, estado de
calamidade e precarização do trabalho
no setor cultural não estão dissociados
do sistema capitalista, que se alimenta
da exploração, opressão, d
das políticas públicas e da cultura
brasileira que estão sendo feitas na
política ultraliberal do presidente Jair
Bolsonaro. Em contraponto, ele
menciona que a Lei de Emergência
Cultural Aldir Blanc acabou
aproximando os artistas que passaram
a s
e unir pelas redes.
Nossos problemas são locais
mais concretamente falando,
porém, oriundos de uma escala
global aonde se insere a crise do
capitalismo, o ultraliberalismo e a
ascensão da extrema direita no
mundo e a crescente
concentração de renda no
mundo. A destruição de toda e
qualquer ação que afirme a
cultura brasileira, qualquer coisa
que seja cultura, nossa
identidade. O preconceito, a
imbecilidade, a destruição de
políticas culturais e verbas (vide
PEC dos infernos)! Além da
204
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Programa Cultura Viva com
Pontos de Cultura, Colegiados
Setoriais, Fundos Culturais, que
nesse momento percebemos que
estão se esfacelando e com
profundos cortes e suspensão
dos editais e contingenciamento
no orçamento da pasta
;
PARDO, 2020, p.
Gabriel Bezerra observa que os
problemas locais de perdas, estado de
calamidade e precarização do trabalho
no setor cultural não estão dissociados
do sistema capitalista, que se alimenta
da exploração, opressão, d
estruição
das políticas públicas e da cultura
brasileira que estão sendo feitas na
política ultraliberal do presidente Jair
Bolsonaro. Em contraponto, ele
menciona que a Lei de Emergência
Cultural Aldir Blanc acabou
aproximando os artistas que passaram
e unir pelas redes.
Nossos problemas são locais
mais concretamente falando,
porém, oriundos de uma escala
global aonde se insere a crise do
capitalismo, o ultraliberalismo e a
ascensão da extrema direita no
mundo e a crescente
concentração de renda no
mundo. A destruição de toda e
qualquer ação que afirme a
cultura brasileira, qualquer coisa
que seja cultura, nossa
identidade. O preconceito, a
imbecilidade, a destruição de
políticas culturais e verbas (vide
PEC dos infernos)! Além da
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
permanência do geno
Bolsonaro e a política ultraliberal
apoiada pela elite mais perversa
que existe em todo o planeta. A
pandemia atrapalhou bastante,
mas nos uniu pelas redes, uniu
artistas de todas as tribos e
conseguimos gerar o maior
legado desta época que foi a
(MELO JUNIOR
, 2021).
Gabriel menciona a destruição
das políticas culturais e demais
perdas, com o que chamou de “PEC
dos Infernos”, apresentada por Michel
Temer. Trata-
se Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 55, conhecida
como a PEC do Teto dos Gastos, e
também como a PEC
do Fim do
Mundo”,
que congela os investimentos
públicos durante 20 anos,
inviabilizando também o Plano
Nacional de Educação (PNE), criado
em 2014 pelo governo da presidenta
Dilma Rousseff, que previa aumentar o
valor dos investimentos na educaçã
pública gradativamente em um período
de dez anos. O filósofo e pedagogo
Demeval Saviani, ao criticar as
medidas e o governo de Temer, com
essa PEC do Teto dos Gastos, que,
segundo ele, inviabilizou a educação
pública no país, afirma: “O que
provocou o go
lpe foram os interesses
econômicos do sistema financeiro, daí
o foco na dívida e nas contas públicas,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
permanência do geno
cida Jair
Bolsonaro e a política ultraliberal
apoiada pela elite mais perversa
que existe em todo o planeta. A
pandemia atrapalhou bastante,
mas nos uniu pelas redes, uniu
artistas de todas as tribos e
conseguimos gerar o maior
legado desta época que foi a
LAB
, 2021).
Gabriel menciona a destruição
das políticas culturais e demais
perdas, com o que chamou de “PEC
dos Infernos”, apresentada por Michel
se Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 55, conhecida
como a PEC do Teto dos Gastos, e
do Fim do
que congela os investimentos
públicos durante 20 anos,
inviabilizando também o Plano
Nacional de Educação (PNE), criado
em 2014 pelo governo da presidenta
Dilma Rousseff, que previa aumentar o
valor dos investimentos na educaçã
o
pública gradativamente em um período
de dez anos. O filósofo e pedagogo
Demeval Saviani, ao criticar as
medidas e o governo de Temer, com
essa PEC do Teto dos Gastos, que,
segundo ele, inviabilizou a educação
pública no país, afirma: “O que
lpe foram os interesses
econômicos do sistema financeiro, daí
o foco na dívida e nas contas públicas,
para fazer caixa, para fazer o superávit
primário, para o pagamento dos
bancos”
3
.
Esse acelerado desmonte,
continuado na política neoliberal d
Jair Bolsonaro, resulta em cortes no
orçamento, suspensão de editais e nas
privatizações das empresas estatais,
dentre outras ações que estão
impactando o setor cultural. Na
contramão, Gabriel considera que a
pandemia aproximou a classe artística
cultura
l em torno da Lei de
Emergência Cultural Aldir Blanc, Lei
14.017, de 29 de junho de 2020.
Apresentada pela Comissão de
Cultura da Câmara dos Deputados, e
aprovada em resposta aos severos
impactos sociais e econômicos
decorrentes da pandemia da Covid
naquele que tornou-
se um dos setores
mais afetados pelas restrições de
circulação impostas à população: o
setor cultural. Com o fechamento, do
dia para noite, de casas de
espetáculos, museus, centros
culturais, entre outros, além do
cancelamento de aprese
3
Em
Mauro Ramos. Brasil de Fato,
São Paulo (SP),
08 de Dezembro de 2017.
Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2017/12/08/pe
c-do-teto-dos-gastos-
inviabilizou
pubica-no-brasil-diz-
dermeval
205
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
para fazer caixa, para fazer o superávit
primário, para o pagamento dos
Esse acelerado desmonte,
continuado na política neoliberal d
e
Jair Bolsonaro, resulta em cortes no
orçamento, suspensão de editais e nas
privatizações das empresas estatais,
dentre outras ações que estão
impactando o setor cultural. Na
contramão, Gabriel considera que a
pandemia aproximou a classe artística
-
l em torno da Lei de
Emergência Cultural Aldir Blanc, Lei
14.017, de 29 de junho de 2020.
Apresentada pela Comissão de
Cultura da Câmara dos Deputados, e
aprovada em resposta aos severos
impactos sociais e econômicos
decorrentes da pandemia da Covid
-19,
se um dos setores
mais afetados pelas restrições de
circulação impostas à população: o
setor cultural. Com o fechamento, do
dia para noite, de casas de
espetáculos, museus, centros
culturais, entre outros, além do
cancelamento de aprese
ntações
Mauro Ramos. Brasil de Fato,
Política,
08 de Dezembro de 2017.
https://www.brasildefato.com.br/2017/12/08/pe
inviabilizou
-a-educacao-
dermeval
-saviani).
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
artísticas, feiras e exposições,
inúmeras trabalhadoras e
trabalhadores da cultura viram
subtraídos da renda responsável pela
sua subsistência.
A Lei de Emergência Cultural
Aldir Blanc (Lei
14.017/2020)
batizada em homenagem ao esc
compositor que veio a falecer em maio
de 2020, em função do coronavírus,
que resultou numa ampla mobilização
e campanha nacional do setor cultural
brasileiro, destinou R$ 3 bilhões ao
setor cultural, na forma de renda
emergencial, subsídio para
m
anutenção de espaços culturais e
editais e chamadas públicas. Para
esse ator, criador de títeres e
marionetes, a quebra da espinha
dorsal do país exige resistência,
engajamento e reinvenção.
A resistência através de maior
engajamento de artistas, gestore
e políticos na luta pelo
restabelecimento de todo o
conjunto de experiências
positivas de sentir no passado,
com a experiência que estamos
vivenciando no momento e o
fortalecimento do campo
progressista, como único meio de
se reconstruir o que já não exi
É desanimador. Quebraram a
espinha dorsal do nosso país e
levaremos muito tempo pra
restabelecê-
la. Não é para a
nossa geração. Mas é ela quem
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
artísticas, feiras e exposições,
inúmeras trabalhadoras e
trabalhadores da cultura viram
-se
subtraídos da renda responsável pela
A Lei de Emergência Cultural
14.017/2020)
, -
batizada em homenagem ao esc
ritor e
compositor que veio a falecer em maio
de 2020, em função do coronavírus,
-
que resultou numa ampla mobilização
e campanha nacional do setor cultural
brasileiro, destinou R$ 3 bilhões ao
setor cultural, na forma de renda
emergencial, subsídio para
anutenção de espaços culturais e
editais e chamadas públicas. Para
esse ator, criador de títeres e
marionetes, a quebra da espinha
dorsal do país exige resistência,
engajamento e reinvenção.
A resistência através de maior
engajamento de artistas, gestore
s
e políticos na luta pelo
restabelecimento de todo o
conjunto de experiências
positivas de sentir no passado,
com a experiência que estamos
vivenciando no momento e o
fortalecimento do campo
progressista, como único meio de
se reconstruir o que já não exi
ste.
É desanimador. Quebraram a
espinha dorsal do nosso país e
levaremos muito tempo pra
la. Não é para a
nossa geração. Mas é ela quem
deve continuar a resistir e se
reinventar (
MELO JUNIOR,
2021).
Nessa entrevista, a atriz Célia
Maracajá, 63 anos, nascida em Belém
do Pará e residente na cidade do Rio,
fala de suas várias ações para manter
a sobrevivência, implicando no amor à
arte e na militância política para
trabalhar com Teatro e Cinema.
Tenho trabalhado como atriz em
teatro e cinema em projetos que
são frutos de editais, recebendo
cachês, por vezes razoáveis e
outras vezes fazendo por amor à
arte e militância política. O
mesmo ocorre em relação a
trabalhos que dirijo tanto no
cinema como
às formas de sobrevivência,
realizo outras ações podendo
citar: ministro oficinas de
interpretação para cinema em
diversas instituições, como por
exemplo, a Escola de Cinema
Darcy Ribeiro. Faço também
doces e geleias de frutas
regionais.
Todos com sabor do
Pará (MARACAJÁ, 2021).
Célia Maracajá atribui como
responsável pela catástrofe sanitária e
as perdas dos direitos dos
trabalhadores, a situação de crescente
precariedade dos artistas que acirrou
nos últimos dois anos, assim c
desmonte do Ministério da Cultura e
da Ancine, quem nomeou de “inimigo
do povo brasileiro”, que tem nome e
206
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
deve continuar a resistir e se
MELO JUNIOR,
Nessa entrevista, a atriz Célia
Maracajá, 63 anos, nascida em Belém
do Pará e residente na cidade do Rio,
fala de suas várias ações para manter
a sobrevivência, implicando no amor à
arte e na militância política para
trabalhar com Teatro e Cinema.
Tenho trabalhado como atriz em
teatro e cinema em projetos que
são frutos de editais, recebendo
cachês, por vezes razoáveis e
outras vezes fazendo por amor à
arte e militância política. O
mesmo ocorre em relação a
trabalhos que dirijo tanto no
cinema como
no teatro. Quanto
às formas de sobrevivência,
realizo outras ações podendo
citar: ministro oficinas de
interpretação para cinema em
diversas instituições, como por
exemplo, a Escola de Cinema
Darcy Ribeiro. Faço também
doces e geleias de frutas
Todos com sabor do
Pará (MARACAJÁ, 2021).
Célia Maracajá atribui como
responsável pela catástrofe sanitária e
as perdas dos direitos dos
trabalhadores, a situação de crescente
precariedade dos artistas que acirrou
nos últimos dois anos, assim c
omo o
desmonte do Ministério da Cultura e
da Ancine, quem nomeou de “inimigo
do povo brasileiro”, que tem nome e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
sobrenome. Mas que ela disse ter
aprendido com os mestres da cultura
popular a não pronunciar o nome do
inimigo.
Temos vivido situações de
pr
ecariedade em diversas
ocasiões, como a maioria dos
nossos artistas que sofrem nesse
país, principalmente nos últimos
dois anos, enfrentando um
desgoverno que mergulhou o
Brasil numa das maiores
tragédias política e humanitária
dos últimos tempos, ocasião
que ocorreu também o desmonte
do Ministério da Cultura e da
Ancine. Projetos já aprovados,
infelizmente foram invalidados.
Em função da pandemia esse
quadro se agravou. Tenho vivido
do auxílio emergencial, que
também está findando. Uma
coisa é certa, o
inimigo do povo
brasileiro tem nome e
sobrenome: Jair Bolsonaro (não
gosto nem de pronunciar esse
nome, pois aprendi com os
mestres da cultura popular que
não se pronuncia o nome do
inimigo). Ele vem retirando o
direito dos trabalhadores, Ele
vem entregan
do o país. Ele é
responsável pela maior catástrofe
sanitária que estamos vivendo.
Ele deveria ser julgado por um
tribunal internacional por crimes
contra a humanidade (
2021).
A atriz diz que a sua situação de
sua precariedade e dos demais
artistas não começou agora. Porém,
estamos com um aumento significativo
de desemprego e decisões políticas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
sobrenome. Mas que ela disse ter
aprendido com os mestres da cultura
popular a não pronunciar o nome do
Temos vivido situações de
ecariedade em diversas
ocasiões, como a maioria dos
nossos artistas que sofrem nesse
país, principalmente nos últimos
dois anos, enfrentando um
desgoverno que mergulhou o
Brasil numa das maiores
tragédias política e humanitária
dos últimos tempos, ocasião
em
que ocorreu também o desmonte
do Ministério da Cultura e da
Ancine. Projetos já aprovados,
infelizmente foram invalidados.
Em função da pandemia esse
quadro se agravou. Tenho vivido
do auxílio emergencial, que
também está findando. Uma
inimigo do povo
brasileiro tem nome e
sobrenome: Jair Bolsonaro (não
gosto nem de pronunciar esse
nome, pois aprendi com os
mestres da cultura popular que
não se pronuncia o nome do
inimigo). Ele vem retirando o
direito dos trabalhadores, Ele
do o país. Ele é
responsável pela maior catástrofe
sanitária que estamos vivendo.
Ele deveria ser julgado por um
tribunal internacional por crimes
contra a humanidade (
Ibidem,
A atriz diz que a sua situação de
sua precariedade e dos demais
artistas não começou agora. Porém,
estamos com um aumento significativo
de desemprego e decisões políticas
que fragilizaram os vínculos no mundo
do trabalho, como a reforma
trabalhista, a lei da terceirização e a
reforma da previdência, com um
mercado des
regulado e a perda dos
direitos básicos e de aposentadoria.
Em contraponto à catástrofe e ao que
chamou de desmonte da Cultura,
que se desfez a pasta do Ministério da
Cultura e de suas fundações
vinculadas: Fundação Nacional de
Artes (Funarte), Fundaç
Palmares, Fundação Biblioteca
Nacional, Fundação Casa de Rui
Barbosa, como também, a Ancine, que
é uma autarquia vinculada ao MinC
desde 2003, cujos editais foram
censurados e suspensos,
Maracajá também destaca, assim
como outros entrev
istados, apenas um
período de avanço no setor cultural,
ocorrido na gestão do ministro Gilberto
Gil e do presidente Luís Inácio Lula da
Silva, em que houve uma consistente
política voltada para o Cinema.
O Brasil é dono de uma riqueza
cultural impressiona
salientar aqui apenas o avanço
que tivemos em um dos
segmentos da cultura, durante a
gestão do Ministro Gilberto Gil, no
governo Lula. O Gil que é um
artista da música, mas pensa a
cultura como o grande alimento,
207
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que fragilizaram os vínculos no mundo
do trabalho, como a reforma
trabalhista, a lei da terceirização e a
reforma da previdência, com um
regulado e a perda dos
direitos básicos e de aposentadoria.
Em contraponto à catástrofe e ao que
chamou de desmonte da Cultura,
- em
que se desfez a pasta do Ministério da
Cultura e de suas fundações
vinculadas: Fundação Nacional de
Artes (Funarte), Fundaç
ão Cultural
Palmares, Fundação Biblioteca
Nacional, Fundação Casa de Rui
Barbosa, como também, a Ancine, que
é uma autarquia vinculada ao MinC
desde 2003, cujos editais foram
censurados e suspensos,
- Célia
Maracajá também destaca, assim
istados, apenas um
período de avanço no setor cultural,
ocorrido na gestão do ministro Gilberto
Gil e do presidente Luís Inácio Lula da
Silva, em que houve uma consistente
política voltada para o Cinema.
O Brasil é dono de uma riqueza
cultural impressiona
nte. Vou
salientar aqui apenas o avanço
que tivemos em um dos
segmentos da cultura, durante a
gestão do Ministro Gilberto Gil, no
governo Lula. O Gil que é um
artista da música, mas pensa a
cultura como o grande alimento,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
como a arte de tornar possível o
i
mpossível, juntamente com uma
equipe, onde podemos destacar o
Orlando Senna, criou uma política
voltada para o cinema que
ampliou, qualificou e
democratizou a produção
cinematográfica brasileira. De
norte a sul nesse país se
produziu maravilhas e se firmou
parcerias além fronteiras com os
nossos irmãos latino americanos
(Ibidem, 2021).
Ela também considera que a Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representou uma grande conquista
para o setor cultural e refere
palavras resistência e rein
usadas por Gabriel Bezerra
Junior)
, para reverter esse quadro de
destruição, em que a rebelião e a
guerrilha cultural são as únicas
alternativas possíveis.
Os problemas vivenciados pela
cultura no nosso país são locais,
face à uma destr
instrumentos que impulsionam a
vida, o fazer cultural. Mas existe
resistência também. Os artistas
se reinventam. A criação da lei
Aldir Blanc é uma constatação
disso. Criada pelo Congresso
Nacional, por propostas dos
artistas, revelou que ainda v
pena lutar e criar formas para
manter viva a chama que jamais
se apagará. A criatividade e a
esperança de que a barbárie não
triunfará. O único caminho
possível é o da rebelião e o da
constante guerrilha cultural
(MELO JUNIOR,
2021).
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
como a arte de tornar possível o
mpossível, juntamente com uma
equipe, onde podemos destacar o
Orlando Senna, criou uma política
voltada para o cinema que
ampliou, qualificou e
democratizou a produção
cinematográfica brasileira. De
norte a sul nesse país se
produziu maravilhas e se firmou
parcerias além fronteiras com os
nossos irmãos latino americanos
Ela também considera que a Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representou uma grande conquista
para o setor cultural e refere
-se às
palavras resistência e rein
venção,
usadas por Gabriel Bezerra
(de Melo
, para reverter esse quadro de
destruição, em que a rebelião e a
guerrilha cultural são as únicas
Os problemas vivenciados pela
cultura no nosso país são locais,
face à uma destr
uição dos
instrumentos que impulsionam a
vida, o fazer cultural. Mas existe
resistência também. Os artistas
se reinventam. A criação da lei
Aldir Blanc é uma constatação
disso. Criada pelo Congresso
Nacional, por propostas dos
artistas, revelou que ainda v
ale a
pena lutar e criar formas para
manter viva a chama que jamais
se apagará. A criatividade e a
esperança de que a barbárie não
triunfará. O único caminho
possível é o da rebelião e o da
constante guerrilha cultural
2021).
Sobre as condições de trabalho
que levantamos nessa pesquisa, a
atriz, bailarina e professora Daphne
Madeira, 48 anos, que atua no
segmento da Dança, acredita que as
mudanças ocorridas com a suspensão
das atividades e aulas presenciais
nesse perí
odo de pandemia,
impactaram ainda mais em suas
condições precárias de
sobrevivência na Cultura, causando
danos também de ordem física e
psicológica.
Eu sou atriz, bailarina e
professora. Atualmente, estou
lecionando técnicas somáticas
(Pilates, Eutonia, Laban, Dança)
online
para alunos particulares, e
também sou professora da
Escola Angel Vianna, mas neste
semestre não estarei em sala de
aula (online)
pois a turma decidiu
que voltará presencialmente.
Diante deste quadro, as
condições de sobrevivência são
bastante precárias, na verdade
não tenho carteira assinada como
professora, e como bailarina,
coreógrafa ou diretora de
movimento de teatro são raro
trabalhos remunerados, e isto se
agravou muito no período da
pandemia. Assim, nos coube a
tarefa (ou sempre nos caberá?)
de se reinventar a cada
momento. Não muito raro estou
em momentos que a
precariedade se agrava, ela
sempre está potencialmente
pre
sente na minha vida, já que
208
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Sobre as condições de trabalho
que levantamos nessa pesquisa, a
atriz, bailarina e professora Daphne
Madeira, 48 anos, que atua no
segmento da Dança, acredita que as
mudanças ocorridas com a suspensão
das atividades e aulas presenciais
odo de pandemia,
impactaram ainda mais em suas
condições precárias de
sobrevivência na Cultura, causando
danos também de ordem física e
Eu sou atriz, bailarina e
professora. Atualmente, estou
lecionando técnicas somáticas
(Pilates, Eutonia, Laban, Dança)
para alunos particulares, e
também sou professora da
Escola Angel Vianna, mas neste
semestre não estarei em sala de
pois a turma decidiu
que voltará presencialmente.
Diante deste quadro, as
condições de sobrevivência são
bastante precárias, na verdade
não tenho carteira assinada como
professora, e como bailarina,
coreógrafa ou diretora de
movimento de teatro são raro
s os
trabalhos remunerados, e isto se
agravou muito no período da
pandemia. Assim, nos coube a
tarefa (ou sempre nos caberá?)
de se reinventar a cada
momento. Não muito raro estou
em momentos que a
precariedade se agrava, ela
sempre está potencialmente
sente na minha vida, já que
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
minha forma de ganhos mensais
depende de não parar e contar
com o pagamento de pessoas
físicas, ou seja, um aluno que sai
da minha aula é um ganho a
menos. Deste modo, a cada mês,
meus rendimentos variam, o que
me causa bastante
psicofísica (MADEIRA, 2021).
Para Daphne, a principal
fragilidade no mercado de trabalho
artístico é o fato de ser regulado de
acordo com os interesses e modismos
do mercado empresarial. Ela revela
que não tem carteira assinada, o
trabalhos remunerados são bastante
escassos e a Dança tem muito pouco
investimento. Além disso, acredita que
essa situação se agravou ainda mais
com a pandemia, mas principalmente
pela desvalorização da Cultura e da
Educação, em que a “arte se encontra
a
gonizando no governo de Jair
Bolsonaro”.
O mercado é sempre ditado por
grandes negociações, seja no
âmbito político, seja no âmbito
financeiro, ou artístico. Assim, a
arte acaba por se encontrar
tensionada entre produto e
processo. E o que vale é ditado
pelo mercado do Grand Mond,
cada vez mais alguns processos
artísticos caem de moda, e outros
sobem de cotação. A dança tem
atualmente pouquíssimo
investimento perante as outras
artes como o teatro e a música. E
mesmo estas são tensionadas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
minha forma de ganhos mensais
depende de não parar e contar
com o pagamento de pessoas
físicas, ou seja, um aluno que sai
da minha aula é um ganho a
menos. Deste modo, a cada mês,
meus rendimentos variam, o que
instabilidade
psicofísica (MADEIRA, 2021).
Para Daphne, a principal
fragilidade no mercado de trabalho
artístico é o fato de ser regulado de
acordo com os interesses e modismos
do mercado empresarial. Ela revela
que não tem carteira assinada, o
s
trabalhos remunerados são bastante
escassos e a Dança tem muito pouco
investimento. Além disso, acredita que
essa situação se agravou ainda mais
com a pandemia, mas principalmente
pela desvalorização da Cultura e da
Educação, em que a “arte se encontra
gonizando no governo de Jair
O mercado é sempre ditado por
grandes negociações, seja no
âmbito político, seja no âmbito
financeiro, ou artístico. Assim, a
arte acaba por se encontrar
tensionada entre produto e
processo. E o que vale é ditado
pelo mercado do Grand Mond,
cada vez mais alguns processos
artísticos caem de moda, e outros
sobem de cotação. A dança tem
atualmente pouquíssimo
investimento perante as outras
artes como o teatro e a música. E
mesmo estas são tensionadas
por modas, como p
música sertaneja e o teatro de
grandes musicais. O artista gira
entre esse mercado de grandes
produtores, altas verbas e
investimentos, mas seus cachês
ainda são bem abaixo da linha de
estabilidade financeira. Acredito
que a crise na cultura
fenômeno mundial, onde outras
áreas de atuação sempre foram
mais valorizadas. No caso do
Brasil, país do terceiro mundo,
que vive entre a urgência de
sobreviver em todas as direções,
a arte se encontra agonizando, e
este panorama se agravou com o
gove
rno de Bolsonaro que não
valoriza a educação e a cultura
(Ibidem
, 2021).
Daphne Madeira, assim como os
demais entrevistados, problematiza
acerca desse mercado concentrador
de recursos em grandes produtores,
embora com baixos cachês. E procura
dest
acar as principais perdas, avanços
e desafios para os trabalhadores e as
trabalhadoras da Cultura nesse
momento. “As perdas são constantes
ainda mais neste momento
pandêmico, o avanço foi garantir a
implementação da Lei Emergencial
Aldir Blanc, e o maior d
garantir através de políticas públicas
novos modos de gerar trabalho e
garantias de renda para os artistas e
trabalhadores da cultura”, afirma. Ao
perguntar sobre que caminhos
209
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
por modas, como p
or exemplo, a
música sertaneja e o teatro de
grandes musicais. O artista gira
entre esse mercado de grandes
produtores, altas verbas e
investimentos, mas seus cachês
ainda são bem abaixo da linha de
estabilidade financeira. Acredito
que a crise na cultura
é um
fenômeno mundial, onde outras
áreas de atuação sempre foram
mais valorizadas. No caso do
Brasil, país do terceiro mundo,
que vive entre a urgência de
sobreviver em todas as direções,
a arte se encontra agonizando, e
este panorama se agravou com o
rno de Bolsonaro que não
valoriza a educação e a cultura
, 2021).
Daphne Madeira, assim como os
demais entrevistados, problematiza
acerca desse mercado concentrador
de recursos em grandes produtores,
embora com baixos cachês. E procura
acar as principais perdas, avanços
e desafios para os trabalhadores e as
trabalhadoras da Cultura nesse
momento. “As perdas são constantes
ainda mais neste momento
pandêmico, o avanço foi garantir a
implementação da Lei Emergencial
Aldir Blanc, e o maior d
os desafios é
garantir através de políticas públicas
novos modos de gerar trabalho e
garantias de renda para os artistas e
trabalhadores da cultura”, afirma. Ao
perguntar sobre que caminhos
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
possíveis para melhorar as condições
de trabalho na Cultura, ela r
“Pergunta difícil, acredito que mais
união a partir das participações da
sociedade civil, novas leis que
garantam um mínimo de condição
econômica mensal para os artistas em
geral. E estar numa organização não
hegemônica suficientemente forte para
participar e criar novos caminhos em
editais, leis, etc”.
Esse estado de constante
precariedade do trabalho no campo
artístico-
cultural, se expressa também
na fala da atriz Denise Milfont, 58
anos, ao dizer que nunca ganhou
dinheiro trabalhando com o Teatro. E,
da mesma forma que Daphne Madeira
e os o
utros artistas entrevistados, ela
pontua que o entretenimento ocupa
mais espaço e apoio em relação às
artes, principalmente o trabalho de
pesquisa experimental, exigindo serem
adotadas políticas diferenciadas.
Sou atriz. Vivo de gerenciar uma
residência d
e artistas. E quando
tem trabalho, mas com o teatro
nunca ganhei dinheiro. Enfrentei
precariedade, mas tive ajuda da
família. A cultura sempre foi para
mim dividida em duas esferas. A
arte e o entretenimento. O
entretenimento sempre foi e será
mais rentáve
l e o trabalho de
pesquisa que requer um público
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
possíveis para melhorar as condições
de trabalho na Cultura, ela r
esponde:
“Pergunta difícil, acredito que mais
união a partir das participações da
sociedade civil, novas leis que
garantam um mínimo de condição
econômica mensal para os artistas em
geral. E estar numa organização não
hegemônica suficientemente forte para
participar e criar novos caminhos em
Esse estado de constante
precariedade do trabalho no campo
cultural, se expressa também
na fala da atriz Denise Milfont, 58
anos, ao dizer que nunca ganhou
dinheiro trabalhando com o Teatro. E,
da mesma forma que Daphne Madeira
utros artistas entrevistados, ela
pontua que o entretenimento ocupa
mais espaço e apoio em relação às
artes, principalmente o trabalho de
pesquisa experimental, exigindo serem
adotadas políticas diferenciadas.
Sou atriz. Vivo de gerenciar uma
e artistas. E quando
tem trabalho, mas com o teatro
nunca ganhei dinheiro. Enfrentei
precariedade, mas tive ajuda da
família. A cultura sempre foi para
mim dividida em duas esferas. A
arte e o entretenimento. O
entretenimento sempre foi e será
l e o trabalho de
pesquisa que requer um público
que aceite o experimental. E que
o público vem a ser menor. Isso
requer políticas diferentes. Sem o
experimental não evoluímos
como linguagem (MILFOND,
2021).
Denise toca num dos gargalos
que ident
ificamos no setor cultural, que
costuma concentrar os recursos nas
ações e editais, mais voltados para os
resultados, nesse caso, para a
produção e também a circulação, em
detrimento dos seus processos de
construção, deixando, portanto, de
considerar a for
mação, a pesquisa e o
trabalho experimental, que implicariam
em políticas diferenciadas.
apoiar pesquisas, cursos, ciclos e
seminários, oficinas de formação, cujo
pensamento crítico criador vem
sendo profundamente censurado,
perseguido e penaliza
gestão do presidente Jair Bolsonaro,
com a suspensão de atividades e de
recursos que estão por muito tempo
paralisados. A
cadeia produtiva da
cultura, por conta de desenvolver
partir das dimensões simbólica, cidadã
e econômica, signif
ica passar pelos
processos de criação,
produção, circulação,
distribuição, intercâmbio, difusão,
acesso e fruição de bens, obras,
210
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que aceite o experimental. E que
o público vem a ser menor. Isso
requer políticas diferentes. Sem o
experimental não evoluímos
como linguagem (MILFOND,
Denise toca num dos gargalos
ificamos no setor cultural, que
costuma concentrar os recursos nas
ações e editais, mais voltados para os
resultados, nesse caso, para a
produção e também a circulação, em
detrimento dos seus processos de
construção, deixando, portanto, de
mação, a pesquisa e o
trabalho experimental, que implicariam
em políticas diferenciadas.
E para
apoiar pesquisas, cursos, ciclos e
seminários, oficinas de formação, cujo
pensamento crítico criador vem
sendo profundamente censurado,
perseguido e penaliza
do pela atual
gestão do presidente Jair Bolsonaro,
com a suspensão de atividades e de
recursos que estão por muito tempo
cadeia produtiva da
cultura, por conta de desenvolver
-se a
partir das dimensões simbólica, cidadã
ica passar pelos
processos de criação,
formação,
distribuição, intercâmbio, difusão,
acesso e fruição de bens, obras,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
espetáculos, filmes, livros,
atividades
culturais e expressões
artísticas e culturais de uma ampla
diversidade de segmentos.
Assim como os demais
entrevistados, Denise Milfond também
faz uma crítica ao governo atual que
desconsidera a Arte e a Ciência,
tornando ainda mais dramática as
condições de trabalho para os artistas.
Dentre as perdas, ela problematiza os
impactos das tecnologias apontando a
necessidade de se repensar o formato
de apresentações presenciais.
Quanto ao mundo global acho
que cada país tem sua própria
política. Não trabalho para
todos artistas em lugar nenhum
do planeta. São muito poucas
o
portunidades para dividir em
tantos profissionais. No Brasil
particularmente o momento é
desanimador, pois enfrentamos
um governo negacionista,
anticiência e antiarte. As perdas
estão ocorrendo algum
tempo na minha opinião. São as
referências de qual
idades serem
baseadas pelo número de
seguidores numa mídia social.
Penso que isso gerou uma
equidade nociva que é
irresponsável no setor cultural.
Hoje em dia qualquer um vira
artista e arte demanda talento e
vocação. Arte virou algo sem
conteúdo Na sua ma
avanços que conseguimos
alcançar foi maior número de
público, mas sujeitos a um total
descaso e o desafio será
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
espetáculos, filmes, livros,
culturais e expressões
artísticas e culturais de uma ampla
Assim como os demais
entrevistados, Denise Milfond também
faz uma crítica ao governo atual que
desconsidera a Arte e a Ciência,
tornando ainda mais dramática as
condições de trabalho para os artistas.
Dentre as perdas, ela problematiza os
impactos das tecnologias apontando a
necessidade de se repensar o formato
de apresentações presenciais.
Quanto ao mundo global acho
que cada país tem sua própria
política. Não trabalho para
todos artistas em lugar nenhum
do planeta. São muito poucas
portunidades para dividir em
tantos profissionais. No Brasil
particularmente o momento é
desanimador, pois enfrentamos
um governo negacionista,
anticiência e antiarte. As perdas
estão ocorrendo algum
tempo na minha opinião. São as
idades serem
baseadas pelo número de
seguidores numa mídia social.
Penso que isso gerou uma
equidade nociva que é
irresponsável no setor cultural.
Hoje em dia qualquer um vira
artista e arte demanda talento e
vocação. Arte virou algo sem
conteúdo Na sua ma
ioria, os
avanços que conseguimos
alcançar foi maior número de
público, mas sujeitos a um total
descaso e o desafio será
permanecer ativo nesta
pandemia. Neste momento
requer entender de uma forma
coletiva que o presencial deve ser
reformulado (
Ibidem
Para além de um governo
negacionista, que vem promovendo
uma guerra cultural e o esvaziamento
principalmente das políticas públicas
alavancadas nos últimos quinze anos,
sem dúvida, uma das mudanças
significativas que estamos
atravessando na
sinalizadas por Denise Milfond,
referem-
se às etapas de comunicação
e fruição na cadeia produtiva da
cultura. Diante da obrigatória
necessidade de evitar as
aglomerações e o contato presencial,
a fim de evitar o contágio de covid no
período de
pandemia, a única maneira
de apresentar, transmitir e
compartilhar as criações artísticas
passou a ser o formato virtual, pelas
plataformas online
, nas redes sociais.
Essa situação acirrou ainda mais os
impactos das tecnologias digitais sobre
as artes pre
senciais, em tempos
marcados por uma cultura digital que
vem mudando de forma significativa os
comportamentos na sociedade, a partir
de relações interpessoais cada vez
mais mediadas pelo computador, a
211
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
permanecer ativo nesta
pandemia. Neste momento
requer entender de uma forma
coletiva que o presencial deve ser
Ibidem
, 2021).
Para além de um governo
negacionista, que vem promovendo
uma guerra cultural e o esvaziamento
principalmente das políticas públicas
alavancadas nos últimos quinze anos,
sem dúvida, uma das mudanças
significativas que estamos
atravessando na
atualidade,
sinalizadas por Denise Milfond,
se às etapas de comunicação
e fruição na cadeia produtiva da
cultura. Diante da obrigatória
necessidade de evitar as
aglomerações e o contato presencial,
a fim de evitar o contágio de covid no
pandemia, a única maneira
de apresentar, transmitir e
compartilhar as criações artísticas
passou a ser o formato virtual, pelas
, nas redes sociais.
Essa situação acirrou ainda mais os
impactos das tecnologias digitais sobre
senciais, em tempos
marcados por uma cultura digital que
vem mudando de forma significativa os
comportamentos na sociedade, a partir
de relações interpessoais cada vez
mais mediadas pelo computador, a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
rede de internet e outros aparelhos
digitais. Uma mudan
ça que implica
repensar, por exemplo, o Teatro como
linguagem, que é uma arte cênica e
prescinde da situação de co
e como experimenta o tempo da
comunicação virtual mediada pelas
tecnologias e o computador. Para se
pensar sobre o que virou Tea
o público com quem irá dialogar, que
formas de comunicação a serem
estabelecidas e como isso se reflete
na cena contemporânea, no Teatro
como Trabalho.
o entrevistado
Livingstone Whibbe, 68 anos, depois
de exercer a função de
Companhia Experimental do Sesc
TESC, em Manaus, e trabalhar por
cerca de 30 anos no Rio, na Fundação
Nacional de Artes
Funarte do
Ministério da Cultura, onde foi inclusive
coordenador de Teatro, nos últimos
anos ele passou a atuar no segmento
de Elaboração e Produção de
Projetos, com a prestação de serviços,
através da microempresa, Stanley
Projetos Empresariais Ltda. Porém,
afirma que “a empresa encontra
com muita dificuldade para se manter
ativa. Modos de enfrentamento:
empréstimos bancári
os para pagar as
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
rede de internet e outros aparelhos
ça que implica
repensar, por exemplo, o Teatro como
linguagem, que é uma arte cênica e
prescinde da situação de co
-presença,
e como experimenta o tempo da
comunicação virtual mediada pelas
tecnologias e o computador. Para se
pensar sobre o que virou Tea
tro, qual
o público com quem irá dialogar, que
formas de comunicação a serem
estabelecidas e como isso se reflete
na cena contemporânea, no Teatro
o entrevistado
Stanley
Livingstone Whibbe, 68 anos, depois
de exercer a função de
ator da
Companhia Experimental do Sesc
TESC, em Manaus, e trabalhar por
cerca de 30 anos no Rio, na Fundação
Funarte do
Ministério da Cultura, onde foi inclusive
coordenador de Teatro, nos últimos
anos ele passou a atuar no segmento
de Elaboração e Produção de
Projetos, com a prestação de serviços,
através da microempresa, Stanley
Projetos Empresariais Ltda. Porém,
afirma que “a empresa encontra
-se
com muita dificuldade para se manter
ativa. Modos de enfrentamento:
os para pagar as
contas e diversificação do portfólio”.
Ele considera que trata
quadro o dramático no mercado de
trabalho na Cultura que muitos
profissionais estão sendo obrigados a
deixar o setor. E também pontua que
essas grandes perdas se de
últimos dois anos, portanto, essa
situação de perdas é anterior ao
período de pandemia.
As empresas estão sendo
fechadas, os profissionais estão
se empregando em empresas de
publicidade. Conheço
profissionais que foram
preparados ao longo de muitos
anos para atuar com
profissionalismo no setor, mas no
momento estão vendendo
instalação de ener
Outros viraram vendedores da
“Natura”. Regredimos 10 anos em
dois (WHIBBE, 2021).
Assim como os demais
entrevistados, Stanley atribui a
responsabilidade pela dramática
precariedade vivida pelos profissionais
da Cultura, à gestão de
Bolsonaro que assumiu o governo
nesses últimos dois anos. Com a
extinção definitiva da pasta da Cultura,
em 2019, no governo Bolsonaro, o
Ministério da Cultura transformou
numa Secretaria Especial da Cultura,
212
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- ISSN 2237-1508
contas e diversificação do portfólio”.
Ele considera que trata
-se de um
quadro o dramático no mercado de
trabalho na Cultura que muitos
profissionais estão sendo obrigados a
deixar o setor. E também pontua que
essas grandes perdas se de
ram nos
últimos dois anos, portanto, essa
situação de perdas é anterior ao
período de pandemia.
As empresas estão sendo
fechadas, os profissionais estão
se empregando em empresas de
publicidade. Conheço
profissionais que foram
preparados ao longo de muitos
anos para atuar com
profissionalismo no setor, mas no
momento estão vendendo
instalação de ener
gia solar.
Outros viraram vendedores da
“Natura”. Regredimos 10 anos em
dois (WHIBBE, 2021).
Assim como os demais
entrevistados, Stanley atribui a
responsabilidade pela dramática
precariedade vivida pelos profissionais
da Cultura, à gestão de
Jair
Bolsonaro que assumiu o governo
nesses últimos dois anos. Com a
extinção definitiva da pasta da Cultura,
em 2019, no governo Bolsonaro, o
Ministério da Cultura transformou
-se
numa Secretaria Especial da Cultura,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
atualmente subordinada ao Ministério
do
Turismo. Além de perder a
musculatura institucional para manter
o órgão gestor e a sua capacidade
para formular, executar e dar
continuidade às políticas pactuadas
com a sociedade e com os entes
federados municipais e estaduais,
instalou-
se uma guerra cul
implantada nesse governo
ideologia vem sendo defendida pelas
pessoas nomeadas ao assumirem a
gestão, a exemplo dos
posicionamentos adotados por Regina
Duarte, Roberto Alvim e o atual
Secretário Mário Frias.
Essa guerra cultural que estamos
en
frentando, orquestrada nas
tomadas de decisão, nomeações,
cortes, extinção da pasta da
Cultura, por parte do governo,
que nomeia de combate ao
marxismo cultural, desconsidera,
omite, as reais contradições de
um capitalismo que leva ao
esfacelamento do Esta
políticas públicas, dos direitos
básicos garantidos na
Constituição em nome do livre
mercado. De que direitos
humanos se fala, de que
democracia, se estão atingindo
direitos básicos que estão na
constituição? Com uma guerra de
classes, como apontav
desmonte nos campos federal,
estadual, municipal, o
acirramento das desigualdades, a
crescente recessão, a
precarização do mercado de
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
atualmente subordinada ao Ministério
Turismo. Além de perder a
musculatura institucional para manter
o órgão gestor e a sua capacidade
para formular, executar e dar
continuidade às políticas pactuadas
com a sociedade e com os entes
federados municipais e estaduais,
se uma guerra cul
tural
implantada nesse governo
, cuja
ideologia vem sendo defendida pelas
pessoas nomeadas ao assumirem a
gestão, a exemplo dos
posicionamentos adotados por Regina
Duarte, Roberto Alvim e o atual
Essa guerra cultural que estamos
frentando, orquestrada nas
tomadas de decisão, nomeações,
cortes, extinção da pasta da
Cultura, por parte do governo,
que nomeia de combate ao
marxismo cultural, desconsidera,
omite, as reais contradições de
um capitalismo que leva ao
esfacelamento do Esta
do, das
políticas públicas, dos direitos
básicos garantidos na
Constituição em nome do livre
mercado. De que direitos
humanos se fala, de que
democracia, se estão atingindo
direitos básicos que estão na
constituição? Com uma guerra de
classes, como apontav
a Marx, o
desmonte nos campos federal,
estadual, municipal, o
acirramento das desigualdades, a
crescente recessão, a
precarização do mercado de
trabalho, com a chamada
uberização. E o crescimento da
pobreza das populações nas
favelas, sem
pessoas em situação de rua,
indígenas, quilombolas,
trabalhadores do campo,
terceirizados, entregadores de
aplicativo, artistas de rua, slams,
artesanato. Sobretudo, na área
da Cultura, cujos profissionais
atuam, em sua maioria, de
maneira informal, autôno
(RODRIGUES
;
242).
Ao pontuar as principais perdas
para os trabalhadores e trabalhadores
da Cultura, Stanley avalia que se trata
de um desmonte do setor, assim como
haviam também considerado outros
entrevistados como a Célia Maracajá.
E destaca, de forma bem resumida, o
que considera fundamental para
melhorar as condições de trabalho.
um desmonte das estruturas
do setor cultural, inclusive no
setor audiovisual. 1) Interdição da
Lei Federal de Incentivo à Cultura
(Lei nº 8.313/91
Paralisação do setor
pandemia. A cultura voltar a
ocupar um lugar de centralidade
como vetor de desenvolvimento
social e econômico (Ibidem,
2021).
Algumas pesquisas e estudos sobre
o setor cultural e os impactos da
pandemia
213
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
trabalho, com a chamada
uberização. E o crescimento da
pobreza das populações nas
favelas, sem
-teto, sem-terra,
pessoas em situação de rua,
indígenas, quilombolas,
trabalhadores do campo,
terceirizados, entregadores de
aplicativo, artistas de rua, slams,
artesanato. Sobretudo, na área
da Cultura, cujos profissionais
atuam, em sua maioria, de
maneira informal, autôno
ma
;
PARDO, 2020, p.
Ao pontuar as principais perdas
para os trabalhadores e trabalhadores
da Cultura, Stanley avalia que se trata
de um desmonte do setor, assim como
haviam também considerado outros
entrevistados como a Célia Maracajá.
E destaca, de forma bem resumida, o
que considera fundamental para
melhorar as condições de trabalho.
um desmonte das estruturas
do setor cultural, inclusive no
setor audiovisual. 1) Interdição da
Lei Federal de Incentivo à Cultura
(Lei nº 8.313/91
– Rouanet); 2)
Paralisação do setor
após a
pandemia. A cultura voltar a
ocupar um lugar de centralidade
como vetor de desenvolvimento
social e econômico (Ibidem,
Algumas pesquisas e estudos sobre
o setor cultural e os impactos da
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Para aprofundarmos ainda mais
essa análise, feita com base nas
questões trazidas pelos/as
trabalhadores/as da Cultura, que se
expressaram nessas entrevistas,
apresentamos algumas pesquisas e
estudos realizados sobre a crescente
precarização do setor cultu
também, os impactos gerados com a
chegada da pandemia.
Para isso, acrescentamos a
avaliação feita por Gustavo Portella
Machado, que problematiza que as
condições laborais da produção
cultural têm positivado uma
racionalidade neoliberal, nor
a precarização do trabalho ao mesmo
tempo em que responsabiliza os
trabalhadores pelo sucesso individual
e da economia geral. Ele considera
que nesse modelo, o trabalhador da
cultura passa a ser empresário e não
funcionário, cuja função acaba sen
ser desvirtuada pelas empresas que o
exploram.
Precisa demonstrar
criatividade, administrar conflitos,
flexibilidade, paciência, trabalhar em
equipe. Sem férias, 13º salário, direitos
trabalhistas e previdenciários. “Ao
atuar sem contrato, com horários
flexíveis, com forte pressão, com
dificuldade de se pensar em longo
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
Para aprofundarmos ainda mais
essa análise, feita com base nas
questões trazidas pelos/as
trabalhadores/as da Cultura, que se
expressaram nessas entrevistas,
apresentamos algumas pesquisas e
estudos realizados sobre a crescente
precarização do setor cultu
ral, como
também, os impactos gerados com a
Para isso, acrescentamos a
avaliação feita por Gustavo Portella
Machado, que problematiza que as
condições laborais da produção
cultural têm positivado uma
racionalidade neoliberal, nor
matizando
a precarização do trabalho ao mesmo
tempo em que responsabiliza os
trabalhadores pelo sucesso individual
e da economia geral. Ele considera
que nesse modelo, o trabalhador da
cultura passa a ser empresário e não
funcionário, cuja função acaba sen
do
ser desvirtuada pelas empresas que o
Precisa demonstrar
criatividade, administrar conflitos,
flexibilidade, paciência, trabalhar em
equipe. Sem férias, 13º salário, direitos
trabalhistas e previdenciários. “Ao
atuar sem contrato, com horários
flexíveis, com forte pressão, com
dificuldade de se pensar em longo
prazo (temporalmente e
materialmente) e com alta
dependência das redes sociais passa
a apresentar um valor positivo, uma
normalidade no campo laboral e da
vida contemporânea” (MACHADO,
201
9, p. 66). No entanto, essa
dinâmica neoliberal carrega dimensões
subjetivas, -
como trabalhar sob
pressão, atenção difusa, pró
etc, -
que são incorporadas como pré
condições normativas e
normalizadoras. Essas competências
indicam que o trabalho
artísticos e culturais carrega noções
positivadas do empresariamento de si
e da precarização do trabalho.
Em sua pesquisa, Machado
considera que a formação de
produtores culturais no mercado
compreende a adequação de suas
subjetividades às
realidades mercantis
que implicam a responsabilidade de si
diante do sucesso seu e da economia
geral. Mas também carrega os
impactos de um possível fracasso,
conforme ele cita o que Wendy Brown
(2018) identifica nesse indivíduo
responsabilizado, que isenta
a lei e a economia das condições
precárias e das suas dificuldades. Por
meio desse binômio
214
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- ISSN 2237-1508
prazo (temporalmente e
materialmente) e com alta
dependência das redes sociais passa
a apresentar um valor positivo, uma
normalidade no campo laboral e da
vida contemporânea” (MACHADO,
9, p. 66). No entanto, essa
dinâmica neoliberal carrega dimensões
como trabalhar sob
pressão, atenção difusa, pró
-atividade,
que são incorporadas como pré
-
condições normativas e
normalizadoras. Essas competências
indicam que o trabalho
de produtores
artísticos e culturais carrega noções
positivadas do empresariamento de si
e da precarização do trabalho.
Em sua pesquisa, Machado
considera que a formação de
produtores culturais no mercado
compreende a adequação de suas
realidades mercantis
que implicam a responsabilidade de si
diante do sucesso seu e da economia
geral. Mas também carrega os
impactos de um possível fracasso,
conforme ele cita o que Wendy Brown
(2018) identifica nesse indivíduo
responsabilizado, que isenta
o Estado,
a lei e a economia das condições
precárias e das suas dificuldades. Por
meio desse binômio
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
atuação/culpabilização, indivíduos são
duplamente responsabilizados:
espera-
se que cuidem de si mesmos
(e são culpabilizados por seu próprio
fracasso em p
rosperar) e do bem
econômico (e são culpabilizados pelo
fracasso da economia em prosperar).
Segundo ele, no mundo do trabalho
cultural, a adoção do modelo por conta
própria, que compreende o MEI, é a
principal forma de ocupação, mesmo
sem oferecer
quaisquer benefícios e
garantias formais de trabalho, esses
trabalhadores são tratados como
empresários.
De acordo com Lívia de
Tommasi, os empreendedores seriam
movidos por uma mistura entre senso
de oportunidade e necessidade de
sobrevivência
. O peso distinto de cada
um desses fatores depende,
provavelmente, de onde os indivíduos
estão colocados na escala social.
Os indivíduos contemporâneos
são incitados a viver como se
fossem projetos, a se tornar, cada
um, empresário de si mesmo. No
âmbito da racionalidade
neoliberal, a autonomia do self é,
ao mesmo tempo, objetivo e
instrumento das estratégias de
governo. A sup
osta autonomia
dos trabalhadores “por conta
própria” faz com que, além de
assumir os riscos, eles tenham
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
atuação/culpabilização, indivíduos são
duplamente responsabilizados:
se que cuidem de si mesmos
(e são culpabilizados por seu próprio
rosperar) e do bem
-estar
econômico (e são culpabilizados pelo
fracasso da economia em prosperar).
Segundo ele, no mundo do trabalho
cultural, a adoção do modelo por conta
própria, que compreende o MEI, é a
principal forma de ocupação, mesmo
quaisquer benefícios e
garantias formais de trabalho, esses
trabalhadores são tratados como
De acordo com Lívia de
Tommasi, os empreendedores seriam
movidos por uma mistura entre senso
de oportunidade e necessidade de
. O peso distinto de cada
um desses fatores depende,
provavelmente, de onde os indivíduos
estão colocados na escala social.
Os indivíduos contemporâneos
são incitados a viver como se
fossem projetos, a se tornar, cada
um, empresário de si mesmo. No
âmbito da racionalidade
neoliberal, a autonomia do self é,
ao mesmo tempo, objetivo e
instrumento das estratégias de
osta autonomia
dos trabalhadores “por conta
própria” faz com que, além de
assumir os riscos, eles tenham
que assumir o ônus do fracasso
em termos de responsabilização
individual: se o negócio não deu
certo, é porque ele não foi um
“bom empreendedor”, não t
as qualidades e a ousadia
necessárias. O peso subjetivo do
fracasso é significativo, em
particular para os jovens.
ideia central é que cada indivíduo
tem a responsabilidade de se
aproveitar das oportunidades que
aparecem no caminho. Aos
agente
s externos,
especificamente ao Estado, cabe
simplesmente oferecer (de forma
difusa) essas oportunidades.
Assim, o direito ao trabalho é
transformado em geração de
oportunidade. Portanto, hoje não
se trata de facilitar o acesso dos
jovens ao primeiro empreg
sim de oferecer oportunidades. O
termo oportunidade é sinônimo
de ocasião, possibilidade.
Acredito que as atuais
transformações no mundo do
trabalho devem ser
compreendidas sem cair na
tentação de ficar presos a
representações binárias. É
precis
o escapar tanto dos
entusiasmos simplistas sobre a
presumida potência
transformadora quanto do
cinismo resignado que
cooptação, captura e
neoliberalismo, o capital e o
mercado (TOMMASI, 2016, p
60).
Na avaliação do antropólog
cientista social Néstor GarcÍ
a modernidade nos acostumou às
novidades, primeiro com as
vanguardas que se imaginava, como a
superação da arte anterior e se
215
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que assumir o ônus do fracasso
em termos de responsabilização
individual: se o negócio não deu
certo, é porque ele não foi um
“bom empreendedor”, não t
inha
as qualidades e a ousadia
necessárias. O peso subjetivo do
fracasso é significativo, em
particular para os jovens.
[...] A
ideia central é que cada indivíduo
tem a responsabilidade de se
aproveitar das oportunidades que
aparecem no caminho. Aos
s externos,
especificamente ao Estado, cabe
simplesmente oferecer (de forma
difusa) essas oportunidades.
Assim, o direito ao trabalho é
transformado em geração de
oportunidade. Portanto, hoje não
se trata de facilitar o acesso dos
jovens ao primeiro empreg
o, e
sim de oferecer oportunidades. O
termo oportunidade é sinônimo
de ocasião, possibilidade.
[...]
Acredito que as atuais
transformações no mundo do
trabalho devem ser
compreendidas sem cair na
tentação de ficar presos a
representações binárias. É
o escapar tanto dos
entusiasmos simplistas sobre a
presumida potência
transformadora quanto do
cinismo resignado que
cooptação, captura e
derrota pelo
neoliberalismo, o capital e o
mercado (TOMMASI, 2016, p
. 59-
Na avaliação do antropólog
o e
cientista social Néstor GarcÍ
a Canclini,
a modernidade nos acostumou às
novidades, primeiro com as
vanguardas que se imaginava, como a
superação da arte anterior e se
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
substituíam umas às outras. Ele
propõe uma outra interpretação acerca
do cansaço da i
novação vanguardista,
“em parte pode-
se ler como descrença
em face da exigência da originalidade
incessante e da visão progressista da
história. Mas é também resultado da
expropriação da criatividade social
pelo capitalismo pós
(GARCÍA CANCLINI,
2016, p. 77). Ele
também faz referência a Boltanski e
Chiapello, ao analisarem quando os
movimentos de contestação que
sofreram um giro regressivo no
momento em que a economia
neoliberal se apropriou dessas
demandas. Em que os manuais de
gestão empresarial
passam a
promover a criatividade dos
assalariados e premiam suas
iniciativas inovadoras, o uso das
tecnologias, especialmente nos
setores de expansão, como os
serviços e a produção cultural.
Assim, simula-
se incorporar as
fábricas à demanda cultural de
verdade por meio de uma
produção flexível em pequenas
séries e da diversificação dos
bens comerciais, sobretudo nos
setores da moda, do design de
objetos e dos serviços. Pretende
se, desse modo,
fazer com que o
trabalho seja interessante,
favorecendo à expressão pessoal
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
substituíam umas às outras. Ele
propõe uma outra interpretação acerca
novação vanguardista,
se ler como descrença
em face da exigência da originalidade
incessante e da visão progressista da
história. Mas é também resultado da
expropriação da criatividade social
pelo capitalismo pós
-fordista”
2016, p. 77). Ele
também faz referência a Boltanski e
Chiapello, ao analisarem quando os
movimentos de contestação que
sofreram um giro regressivo no
momento em que a economia
neoliberal se apropriou dessas
demandas. Em que os manuais de
passam a
promover a criatividade dos
assalariados e premiam suas
iniciativas inovadoras, o uso das
tecnologias, especialmente nos
setores de expansão, como os
serviços e a produção cultural.
se incorporar as
fábricas à demanda cultural de
verdade por meio de uma
produção flexível em pequenas
séries e da diversificação dos
bens comerciais, sobretudo nos
setores da moda, do design de
objetos e dos serviços. Pretende
-
fazer com que o
trabalho seja interessante,
favorecendo à expressão pessoal
e ser um mesmo”. Além de
expropriar a inovação e
incorporá-
la à exploração do
trabalho, intensificou
criatividade em design de
produtos com o objetivo de
atender às exigênci
dos diferentes consumidores.
Com isso, pretende
desenvolver a liberdade de
escolher. Como demonstrado por
Boltanski e Chiapello (2002, p.
538), o que acontece realmente é
um disciplinamento diversificado
dos desejos, pois os
fornecedores
dos bens controlam
o multiculturalismo dos gostos de
seu repertório comercial de
inovações. A oferta submete a
demanda. (
GARCÍA
2016, p. 78).
De acordo com os recentes
dados, o setor cultural ocupava, em
2018, mais de 5 milhões de pesso
de acordo com dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua),
representando 5,7% do total de
ocupados no país. Mais da metade
eram mulheres (50,5%), pessoas de
cor ou raça branca (52,6%) e com
menos de 40 anos de idade (5
Além disso, se comparado ao
total das ocupações, o percentual
daqueles com nível superior era maior
(26,9% no setor cultural ante 19,9% no
total de ocupados). A partir dessa
pesquisa, é possível perceber o
aumento da informalidade no seto
216
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
e ser um mesmo”. Além de
expropriar a inovação e
la à exploração do
trabalho, intensificou
-se a
criatividade em design de
produtos com o objetivo de
atender às exigênci
as e os gostos
dos diferentes consumidores.
Com isso, pretende
-se
desenvolver a liberdade de
escolher. Como demonstrado por
Boltanski e Chiapello (2002, p.
538), o que acontece realmente é
um disciplinamento diversificado
dos desejos, pois os
dos bens controlam
o multiculturalismo dos gostos de
seu repertório comercial de
inovações. A oferta submete a
GARCÍA
CANCLINI
De acordo com os recentes
dados, o setor cultural ocupava, em
2018, mais de 5 milhões de pesso
as,
de acordo com dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua),
representando 5,7% do total de
ocupados no país. Mais da metade
eram mulheres (50,5%), pessoas de
cor ou raça branca (52,6%) e com
menos de 40 anos de idade (5
4,9%).
Além disso, se comparado ao
total das ocupações, o percentual
daqueles com nível superior era maior
(26,9% no setor cultural ante 19,9% no
total de ocupados). A partir dessa
pesquisa, é possível perceber o
aumento da informalidade no seto
r
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
cultural, no período analisado de 2014
a 2018. Entre os trabalhadores na
cultura, essa tendência de redução do
trabalhador do setor privado com
carteira assinada e o aumento de
trabalhadores por conta própria
ocorreu em todas as grandes regiões.
Contudo,
apenas na região Sul, em
2018, o empregado da cultura e com
carteira apresentava uma participação
maior de pessoas (43,3%) do que o
por conta própria (37,5%). A região
Nordeste tinha o maior percentual de
empregados do setor privado sem
carteira (16,7%) e
de trabalhadores
por conta própria (47,5%)
4
.
Segundo estimativa da
Fundação Getúlio Vargas
(FGV), 2020
no “Atlas Econômico da Cultura
Brasileira”, o impacto social e
econômico da pandemia -
longo prazo -
no setor cultural
brasileiro é brutal
. Conforme os
da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (PNAD), de 2018, o setor
representa em torno de 5,7%, ou seja,
4
Agência de Notícias IBGE, Editoria:
Estatísticas Sociais, 0
5/12/2019. Disponível
em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia
sala-de-imprensa/2013-agencia-
de
noticias/releases/26235-siic-
2007
cultural-ocupa-5-2-milhoes-de-
pessoas
2018-tendo-movimentado-r-226-
bilhoes
ano-anterior .
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
cultural, no período analisado de 2014
a 2018. Entre os trabalhadores na
cultura, essa tendência de redução do
trabalhador do setor privado com
carteira assinada e o aumento de
trabalhadores por conta própria
ocorreu em todas as grandes regiões.
apenas na região Sul, em
2018, o empregado da cultura e com
carteira apresentava uma participação
maior de pessoas (43,3%) do que o
por conta própria (37,5%). A região
Nordeste tinha o maior percentual de
empregados do setor privado sem
de trabalhadores
Segundo estimativa da
(FGV), 2020
no “Atlas Econômico da Cultura
Brasileira”, o impacto social e
em curto e
no setor cultural
. Conforme os
dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (PNAD), de 2018, o setor
representa em torno de 5,7%, ou seja,
Agência de Notícias IBGE, Editoria:
5/12/2019. Disponível
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia
-
de
-
2007
-2018-setor-
pessoas
-em-
bilhoes
-no-
mais de 5 milhões
de trabalhadoras
e
trabalhadores no país, sendo que
44% destes profissionais
autônomos.
A economia da cultura
que representa 5,
4
Interno Bruto -
PIB mundial
de 180
milhões de postos de trabalho
em todo o planeta
.
feminina nesta força de trabalho é da
ordem de 57,2%.
A situação ainda é
mais grave
devido ao fato de que os
vínculos trabalhistas no setor cultural
são majoritariamente precários
informais e temporários.
consequências deste impacto serão
longas e difíceis no Brasil e em todo o
mundo.
Nesse profundo impacto, o setor
da Cultura, -
que atua em áreas
rurais e urbanas, na informalidade, de
maneira autônoma e bastante
precária, sem nenhuma garantia de
renda, e cujo ofício exige a presença
humana, a interação e o contato físico,
-
foi um dos primeiros a serem
diretamente a
tingidos, ao ser obrigado
a interromper as suas atividades. Com
o fechamento de cinemas, teatros,
espaços culturais, lançamentos
adiados, espetáculos cancelados, sem
nenhuma previsão de retorno. E um
número incontável de artistas e demais
217
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
de trabalhadoras
trabalhadores no país, sendo que
44% destes profissionais
são
A economia da cultura
,
4
% do Produto
PIB mundial
, gera cerca
milhões de postos de trabalho
.
A participação
feminina nesta força de trabalho é da
A situação ainda é
devido ao fato de que os
vínculos trabalhistas no setor cultural
são majoritariamente precários
,
informais e temporários.
As
consequências deste impacto serão
longas e difíceis no Brasil e em todo o
Nesse profundo impacto, o setor
que atua em áreas
rurais e urbanas, na informalidade, de
maneira autônoma e bastante
precária, sem nenhuma garantia de
renda, e cujo ofício exige a presença
humana, a interação e o contato físico,
foi um dos primeiros a serem
tingidos, ao ser obrigado
a interromper as suas atividades. Com
o fechamento de cinemas, teatros,
espaços culturais, lançamentos
adiados, espetáculos cancelados, sem
nenhuma previsão de retorno. E um
número incontável de artistas e demais
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
profissionais da Cultura
,
desempregados e bastante
precarizados diante das dificuldades
de manterem as condições básicas de
sobrevivência e sem renda para a
manutenção dos espaços
Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em informe intitulado "COVID
e o mundo do trabalho"
,
esta crise têm consequências
devastadoras,
e que a paralisação
parcial ou total de setores da
economia afetam 2,
7
trabalhadores, ou 81%
da força de
trabalho mundial.
Entre os setores mais afetados
a situação laboral de trabalhadores
das áreas de arte
,
entretenimento é avaliada pela OIT
como de "alto risco". Com
lançamentos adiados, espetáculos
cancelados e um número incontável de
artistas e de
mais profissionais da
Cultura sem nenhuma renda. Ainda
sem estimativas precisas do impacto
econômico da crise causada pelo
coronavírus (Covid-
19) para o setor
cultural no Brasil, é possível avaliar
que as consequências são sem
precedentes e podem perdurar
longo tempo, mesmo depois de
contido o vírus, uma vez que a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
,
que estão
desempregados e bastante
precarizados diante das dificuldades
de manterem as condições básicas de
sobrevivência e sem renda para a
manutenção dos espaços
. A
Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em informe intitulado "COVID
-19
,
avalia que
esta crise têm consequências
e que a paralisação
parcial ou total de setores da
7
bilhões de
da força de
Entre os setores mais afetados
,
a situação laboral de trabalhadores
,
cultura e
entretenimento é avaliada pela OIT
como de "alto risco". Com
lançamentos adiados, espetáculos
cancelados e um número incontável de
mais profissionais da
Cultura sem nenhuma renda. Ainda
sem estimativas precisas do impacto
econômico da crise causada pelo
19) para o setor
cultural no Brasil, é possível avaliar
que as consequências são sem
precedentes e podem perdurar
por
longo tempo, mesmo depois de
contido o vírus, uma vez que a
economia como um todo está
sofrendo as consequências.
No Rio de Janeiro, existem em
torno de 21 mil Microempreendedores
Individuais (MEIs), que atuam e
sobrevivem exclusivamente
trabalho realizado junto às Artes e à
Cultura. Somente na cidade do Rio,
capital do Estado Fluminense, são
cerca de 93 salas de teatro e mais 370
cinemas, além de espaços culturais
alternativos que estão fechados. São
atividades presenciais de artistas
rua, de teatro, circo, dança, folias,
cordéis, cirandas, slams, poesias,
grafites, pinturas corporais,
artesanatos indígenas e quilombolas e
apresentações de música nos bares,
restaurantes e nas ruas, agora
paralisadas pela pandemia. E somente
uma parce
la reduzida tem de fato
condições e qualquer apoio para fazer
e transmitir arte pelas redes sociais.
A cidade e o estado do Rio têm
uma trajetória de ocupação e emprego
bastante dramática, sobretudo no
período entre 2015 e 2020. De acordo
com o
s dados do Ministério da
Economia, no período de janeiro de
2015 a dezembro de 2020, o estado
do Rio de Janeiro perdeu 702.148
empregos com carteira assinada.
218
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
economia como um todo está
sofrendo as consequências.
No Rio de Janeiro, existem em
torno de 21 mil Microempreendedores
Individuais (MEIs), que atuam e
sobrevivem exclusivamente
do
trabalho realizado junto às Artes e à
Cultura. Somente na cidade do Rio,
capital do Estado Fluminense, são
cerca de 93 salas de teatro e mais 370
cinemas, além de espaços culturais
alternativos que estão fechados. São
atividades presenciais de artistas
de
rua, de teatro, circo, dança, folias,
cordéis, cirandas, slams, poesias,
grafites, pinturas corporais,
artesanatos indígenas e quilombolas e
apresentações de música nos bares,
restaurantes e nas ruas, agora
paralisadas pela pandemia. E somente
la reduzida tem de fato
condições e qualquer apoio para fazer
e transmitir arte pelas redes sociais.
A cidade e o estado do Rio têm
uma trajetória de ocupação e emprego
bastante dramática, sobretudo no
período entre 2015 e 2020. De acordo
s dados do Ministério da
Economia, no período de janeiro de
2015 a dezembro de 2020, o estado
do Rio de Janeiro perdeu 702.148
empregos com carteira assinada.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Significa que o estado do Rio sozinho
representou quase 50% do total de
empregos com carteira ass
perdidos no país, de 1.593.541
empregos. E a cidade do Rio perdeu
mais empregos que a cidade de São
Paulo, apesar da economia de São
Paulo ser mais que duas vezes maior
que a economia da cidade do Rio.
Embora essa crise estrutural do Rio de
Janeiro s
eja bem mais antiga, mesmo
sendo um centro financeiro e cultural
do país, analisa o professor de
Economia da UFRJ, Mauro Osório
conforme citado por Sidney Rezende
O Rio que conhecemos nasce
como porto e fortificação militar,
como aponta Carlos Lessa no
livro “Rio de Janeiro de todos os
brasis”. Posteriormente, vira a
capital do Brasil. A partir da vinda
da Família Real portuguesa para
o Brasil, em 1808, o Rio se
moderniza e, usando o conceito
do historiador de arte Giulio
Argan, vira o eixo da capitalid
brasileira, passando a ser a
principal referência internacional
do país. Entre 1930 e 1980, a
economia brasileira, em média,
dobra de tamanho a cada dez
anos. Quem “puxa” esse
dinamismo é São Paulo. No
entanto, o Rio, como capital do
país, sede de empr
5
REZENDE,
Sidney, 14/02/2021, Jornal O
Dia, pesquisado no site:
https://odia.ig.com.br/colunas/sidney
rezende/2021/02/6084594-as-
raizes
decadencia-do-estado-do-rio-de
-
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Significa que o estado do Rio sozinho
representou quase 50% do total de
empregos com carteira ass
inada
perdidos no país, de 1.593.541
empregos. E a cidade do Rio perdeu
mais empregos que a cidade de São
Paulo, apesar da economia de São
Paulo ser mais que duas vezes maior
que a economia da cidade do Rio.
Embora essa crise estrutural do Rio de
eja bem mais antiga, mesmo
sendo um centro financeiro e cultural
do país, analisa o professor de
Economia da UFRJ, Mauro Osório
,
conforme citado por Sidney Rezende
5
:
O Rio que conhecemos nasce
como porto e fortificação militar,
como aponta Carlos Lessa no
livro “Rio de Janeiro de todos os
brasis”. Posteriormente, vira a
capital do Brasil. A partir da vinda
da Família Real portuguesa para
o Brasil, em 1808, o Rio se
moderniza e, usando o conceito
do historiador de arte Giulio
Argan, vira o eixo da capitalid
ade
brasileira, passando a ser a
principal referência internacional
do país. Entre 1930 e 1980, a
economia brasileira, em média,
dobra de tamanho a cada dez
anos. Quem “puxa” esse
dinamismo é São Paulo. No
entanto, o Rio, como capital do
país, sede de empr
esas
Sidney, 14/02/2021, Jornal O
https://odia.ig.com.br/colunas/sidney
-
raizes
-da-
-
janeiro.html
nacionais e internacionais, que
atuam no Brasil, principal centro
financeiro e cultural, acompanha
o dinamismo brasileiro. Porém, a
partir da transferência da capital
para Brasília, a cidade e o estado
do Rio passam a ser lanterna em
termos de dinamis
Com o cenário atual, o
fenômeno deve se intensificar,
conforme a pesquisa.
pom, o setor criativo já apresentava
mais fechamentos de empresas do
que a abertura destas. Com o cerio
atual, o fenômeno deve se
intensificar.
“Certamente vamos
assistir a eliminação de postos de
trabalho e de empresas neste ano
complementa Valiati. Ele diz que
podemos saber qual é o potencial de
um setor específico e entender o que
es sendo posto em risco”
Nessa maria do Drio da
Causa Operária, publicada no dia
de maio de 2020, portanto no início
da pandemia, já era possível prever
os fortes impactos ecomicos
provocados no setor cultural, sendo
possível perceber que o ficaria
impune à cr
ise capitalista e sanitária
6
Diário da Causa Operária 5998,
04/05/2020, disponível
em
https://www.causaop
eraria.org.br/quase
milhoes-de-trabalhadores
-
atingidos/
219
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
nacionais e internacionais, que
atuam no Brasil, principal centro
financeiro e cultural, acompanha
o dinamismo brasileiro. Porém, a
partir da transferência da capital
para Brasília, a cidade e o estado
do Rio passam a ser lanterna em
termos de dinamis
mo econômico.
Com o cenário atual, o
fenômeno deve se intensificar,
conforme a pesquisa.
Desde 2016,
pom, o setor criativo já apresentava
mais fechamentos de empresas do
que a abertura destas. Com o cerio
atual, o fenômeno deve se
“Certamente vamos
assistir a eliminação de postos de
trabalho e de empresas neste ano
,
complementa Valiati. Ele diz que
[…]
podemos saber qual é o potencial de
um setor específico e entender o que
es sendo posto em risco”
6
.
Nessa maria do Drio da
Causa Operária, publicada no dia
4
de maio de 2020, portanto no início
da pandemia, já era possível prever
os fortes impactos ecomicos
provocados no setor cultural, sendo
possível perceber que o ficaria
ise capitalista e sanitária
Diário da Causa Operária 5998,
em
:
eraria.org.br/quase
-5-
-
da-cultura-sao-
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
que o ps atravessa. Tendo em vista
que em torno de cinco miles de
trabalhadores dependem deste
importante meio de subsistência e
vinham sendo atingidos com o
avao do ataque aos direitos
trabalhistas e a inviabilidade de
apresentões artísticas por todo o
Brasil devido à pandemia viral do
Covid-
19. Para Valiati, a cultura
deverá sofrer ainda mais do que os
demais setores, tendo em vista que
n
essa pandemia que a humanidade
está enfrentando talvez provoque
mudanças estrutu
rais no perfil de
consumo cultural, a exemplo da
migração do show de música para o
Spotify
, do cinema para plataforma de
streaming
, que é uma tendência, e
pode se intensificar. Esses impactos
das tecnologias sobre as
apresentações artísticas presenciais
ta
mbém foram abordados nas
entrevistas.
De outro lado, segundo a
maria do Drio da Causa Operia,
o há uma políticablica voltada
para os profissionais da Cultura que
ficaram sem renda, apontando para a
necessidade de lutarem por seus
direitos criand
o Conselhos Populares.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
que o ps atravessa. Tendo em vista
que em torno de cinco miles de
trabalhadores dependem deste
importante meio de subsistência e
vinham sendo atingidos com o
avao do ataque aos direitos
trabalhistas e a inviabilidade de
apresentões artísticas por todo o
Brasil devido à pandemia viral do
19. Para Valiati, a cultura
deverá sofrer ainda mais do que os
demais setores, tendo em vista que
essa pandemia que a humanidade
está enfrentando talvez provoque
rais no perfil de
consumo cultural, a exemplo da
migração do show de música para o
, do cinema para plataforma de
, que é uma tendência, e
pode se intensificar. Esses impactos
das tecnologias sobre as
apresentações artísticas presenciais
mbém foram abordados nas
De outro lado, segundo a
maria do Drio da Causa Operia,
o há uma políticablica voltada
para os profissionais da Cultura que
ficaram sem renda, apontando para a
necessidade de lutarem por seus
o Conselhos Populares.
Enquanto isso inúmeros
artistas como os circenses e de
rua que não podem trabalhar ou
tiveram sua fonte de renda
drasticamente reduzida porque
dependem de público presencial.
Não sinal de qualquer política
pública decente para
profissionais que naturalmente já
vivem uma realidade muito difícil
com suas famílias. Os
trabalhadores da economia
criativa e de todo o setor
cultural, abandonados à própria
sorte, devem se unir e formar
Conselhos Populares para
lutarem pelo seu di
sobrevivência ou serão
massacrados pelos capitalistas
que enxergam a arte apenas
como status social e não como o
ganha pão diário. Para tanto o
Coletivo GARI (Grupo por uma
Arte Revolucionária
Independente) do PCO está à
disposão de todos os
comp
anheiros que queiram
somar-
se a luta.
Um estudo realizado pelo Painel
de Dados do Itaú Cultural, lançado no
dia 26 de novembro de 2020, revela
que metade dos postos de trabalho
ocupados por profissionais da Cultura
deixou de existir entre
2020, resultando numa redução de
49%.
De acordo com esse estudo,
que tem como base a Pesquisa
Nacional Por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística
IBGE, no período
ana
lisado, o mercado editorial perdeu
220
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Enquanto isso inúmeros
artistas como os circenses e de
rua que não podem trabalhar ou
tiveram sua fonte de renda
drasticamente reduzida porque
dependem de público presencial.
Não sinal de qualquer política
pública decente para
estes
profissionais que naturalmente já
vivem uma realidade muito difícil
com suas famílias. Os
trabalhadores da economia
criativa e de todo o setor
cultural, abandonados à própria
sorte, devem se unir e formar
Conselhos Populares para
lutarem pelo seu di
reito à
sobrevivência ou serão
massacrados pelos capitalistas
que enxergam a arte apenas
como status social e não como o
ganha pão diário. Para tanto o
Coletivo GARI (Grupo por uma
Arte Revolucionária
Independente) do PCO está à
disposão de todos os
anheiros que queiram
se a luta.
(Idem).
Um estudo realizado pelo Painel
de Dados do Itaú Cultural, lançado no
dia 26 de novembro de 2020, revela
que metade dos postos de trabalho
ocupados por profissionais da Cultura
deixou de existir entre
junho de 2019 e
2020, resultando numa redução de
De acordo com esse estudo,
que tem como base a Pesquisa
Nacional Por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e
IBGE, no período
lisado, o mercado editorial perdeu
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
76,85% de postos de trabalho, sendo
7.994 empregos a menos, as
atividades artesanais também ficaram
prejudicadas, com um prejuízo de
49,66%, resultando na diminuição de
132,8 mil postos de trabalho. As
perdas nas artes vi
suais e nas artes
cênicas são de 43% (97.823),
enquanto o cinema, fotografia, música,
rádio e tv perderam 38, 71% (43.845)
Cerca de 900 mil dos
trabalhadores da cultura no Brasil,
formais e informais, perderam seus
empregos entre dezembro de 201
junho de 2020. Esse grupo inclui
atividades artesanais, cinema, teatro,
rádio, TV, fotografia, artes visuais e
setor editorial. O número total de
pessoas empregadas no setor cultural
era de 7 milhões em dezembro de
2019, mas caiu para 6 milhões e 200
m
il em junho deste ano de 2020, uma
queda de 12% de pessoas trabalhando
na cultura. Os profissionais
diretamente ligados às atividades
culturais caíram de 659,9 mil para
333,7 mil
uma redução de 49%.
Essa queda, de quase 50%, é
7
Painel de Dados do Itaú Cultural, 2020, no
site do Farol da Bahia:
https://www.faroldabahia.com/noticia/um
cada-dois-profissionais-da-
cultura
trabalho-em-2020
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
76,85% de postos de trabalho, sendo
7.994 empregos a menos, as
atividades artesanais também ficaram
prejudicadas, com um prejuízo de
49,66%, resultando na diminuição de
132,8 mil postos de trabalho. As
suais e nas artes
cênicas são de 43% (97.823),
enquanto o cinema, fotografia, música,
rádio e tv perderam 38, 71% (43.845)
7
.
Cerca de 900 mil dos
trabalhadores da cultura no Brasil,
formais e informais, perderam seus
empregos entre dezembro de 201
9 e
junho de 2020. Esse grupo inclui
atividades artesanais, cinema, teatro,
rádio, TV, fotografia, artes visuais e
setor editorial. O número total de
pessoas empregadas no setor cultural
era de 7 milhões em dezembro de
2019, mas caiu para 6 milhões e 200
il em junho deste ano de 2020, uma
queda de 12% de pessoas trabalhando
na cultura. Os profissionais
diretamente ligados às atividades
culturais caíram de 659,9 mil para
uma redução de 49%.
Essa queda, de quase 50%, é
Painel de Dados do Itaú Cultural, 2020, no
https://www.faroldabahia.com/noticia/um
-em-
cultura
-perdeu-
dramática, diz Eduardo Saro
do Itaú Cultural, uma vez que mostra o
impacto da pandemia nas linguagens
artísticas, como cinema e teatro.
do que nunca, vamos precisar de
políticas blicas estruturantes para a
cultura e setores criativos, assim que
a pandemia passar”
8
Diante desse quadro dramático,
agravado pelos impactos de uma crise
sanitária e social causada pela
pandemia do Covid-
19, no Brasil, foi
elaborado, e
m caráter de extrema
urgência, o Projeto de Lei 1075,
resultando na Lei de Emergência
Cultural,
de autoria da deputada
Benedita da Silva (PT), Presidente da
Comissão de Cultura na Câmara, e
outros 23 deputados, de 8 partidos
(PT, PSOL, PCdoB, Rede, PDT, PSB,
PL e PSDB) e 14 estados, cuja
relatora foi a deputada Jandira Feghali
(PCdoB), que unificou
outros cinco projetos e teve como
principal argumento a demonstração
comprovada da fonte existente de
origem dos 3 bilhões. Trata
verba destinada para a Cultura e
que estava paralisada no Fundo
8
Nova Brasi
l FM Campinas, 27/11/2020,
disponível em:
https://campinas.novabrasilfm.com.br/notas
musicais/12133
221
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
dramática, diz Eduardo Saro
n, diretor
do Itaú Cultural, uma vez que mostra o
impacto da pandemia nas linguagens
artísticas, como cinema e teatro.
“Mais
do que nunca, vamos precisar de
políticas blicas estruturantes para a
cultura e setores criativos, assim que
8
.
Diante desse quadro dramático,
agravado pelos impactos de uma crise
sanitária e social causada pela
19, no Brasil, foi
m caráter de extrema
urgência, o Projeto de Lei 1075,
resultando na Lei de Emergência
de autoria da deputada
Benedita da Silva (PT), Presidente da
Comissão de Cultura na Câmara, e
outros 23 deputados, de 8 partidos
(PT, PSOL, PCdoB, Rede, PDT, PSB,
PL e PSDB) e 14 estados, cuja
relatora foi a deputada Jandira Feghali
(PCdoB), que unificou
em um texto
outros cinco projetos e teve como
principal argumento a demonstração
comprovada da fonte existente de
origem dos 3 bilhões. Trata
-se de uma
verba destinada para a Cultura e
que estava paralisada no Fundo
l FM Campinas, 27/11/2020,
https://campinas.novabrasilfm.com.br/notas
-
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Nacional de Cultura (FNC) desde
2019.
Essa Lei
(PL 1075/2020)
aprovada na Câmara dos Deputados,
no dia 26 de maio e no Senado no dia
4 de junho, sendo
sancionada p
Presidência da República, em Brasília,
no dia 29 de junho,
como
Emergência Cultural
Aldir Blanc
Lei 14.017/2020.
Os 3 bilhões
aprovados pela Lei Aldir Blanc foram
distribuídos 50% para os municípios e
50% para os estados e o Distrito
Federal, com o compromisso desses
entes federados aplicarem em
medidas emergenciais, em forma de
repasse de uma renda
sica, dividida
em três parcelas, aos trabalhadores do
setor cultural (tendo como base legal a
Lei 13982/2020), subsídios para
manutenção dos espaços culturais e
artísticos independentes,
microempresas e cooperativas;
chamadas públicas, realização de
cursos
, produções, editais, meios de
fomento e premiação simplificados,
aquisição de bens e serviços do setor
cultural.
No caso da cidade do Rio de
Janeiro, que recebeu R$39 milhões
pela Lei Aldir Blanc,
informados no Cadastro, apresentado
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Nacional de Cultura (FNC) desde
(PL 1075/2020)
foi
aprovada na Câmara dos Deputados,
no dia 26 de maio e no Senado no dia
sancionada p
ela
Presidência da República, em Brasília,
como
Lei de
Aldir Blanc
-
Os 3 bilhões
aprovados pela Lei Aldir Blanc foram
distribuídos 50% para os municípios e
50% para os estados e o Distrito
Federal, com o compromisso desses
entes federados aplicarem em
medidas emergenciais, em forma de
sica, dividida
em três parcelas, aos trabalhadores do
setor cultural (tendo como base legal a
Lei 13982/2020), subsídios para
manutenção dos espaços culturais e
artísticos independentes,
microempresas e cooperativas;
chamadas públicas, realização de
, produções, editais, meios de
fomento e premiação simplificados,
aquisição de bens e serviços do setor
No caso da cidade do Rio de
Janeiro, que recebeu R$39 milhões
pela Lei Aldir Blanc,
os dados
informados no Cadastro, apresentado
p
ela Secretaria Municipal de Cultura
SMC-
RJ e preenchido por mais de 6
mil agentes culturais, para a obtenção
das medidas emergenciais da Lei Aldir
Blanc, apontam que 92% não têm
emprego formal e 94% paralisaram as
atividades durante a pandemia. Foram,
no
total, mais de 14 mil cadastros
realizados, sendo 6.196 de artistas
individuais e 8.158 de espaços, grupos
e coletivos. O mapeamento foi
realizado via formulário online com o
modelo de autoadesão e
autodeclaração do agente cultural, que
passou a compor o
Mapa Cultural do
Município do Rio de Janeiro.
iniciativa buscou atender à
necessidade de construção do
Mapeamento Cultural Carioca, em
acordo com o Sistema Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro (Lei
6.708, de 15 de janeiro de 2020).
O alto
índice de informalidade
do mercado de trabalho brasileiro,
total de 38,4 milhões de informais,
24,2 milhões são trabalhadores
autônomos,
o maior nível da série
histórica iniciada em 2012
comparável, em anos recentes, aos
piores momentos da crise econômica
dos anos 1980.
Hoje, o trabalho
informal abrange 41,1% da população
222
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ela Secretaria Municipal de Cultura
RJ e preenchido por mais de 6
mil agentes culturais, para a obtenção
das medidas emergenciais da Lei Aldir
Blanc, apontam que 92% não têm
emprego formal e 94% paralisaram as
atividades durante a pandemia. Foram,
total, mais de 14 mil cadastros
realizados, sendo 6.196 de artistas
individuais e 8.158 de espaços, grupos
e coletivos. O mapeamento foi
realizado via formulário online com o
modelo de autoadesão e
autodeclaração do agente cultural, que
Mapa Cultural do
Município do Rio de Janeiro.
A
iniciativa buscou atender à
necessidade de construção do
Mapeamento Cultural Carioca, em
acordo com o Sistema Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro (Lei
6.708, de 15 de janeiro de 2020).
índice de informalidade
do mercado de trabalho brasileiro,
- do
total de 38,4 milhões de informais,
24,2 milhões são trabalhadores
o maior nível da série
histórica iniciada em 2012
, é
comparável, em anos recentes, aos
piores momentos da crise econômica
Hoje, o trabalho
informal abrange 41,1% da população
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
economicamente ativa, o equiva
38,4 milhões de pessoas, segundo
dados do IBGE. O percentual de
trabalhadores autônomos que não
possui CNPJ chega a quase 80%. A
informalidade inclui, ainda, as
categorias de trabalhador sem carteira,
trabalhadores domésticos sem
carteira, empregad
or sem CNPJ e
trabalhador familiar auxiliar. O
crescimento da informalidade foi
determinante para conter o aumento
da taxa de desemprego nos últimos
anos. De 2014 a 2019, a população
desocupada quase dobrou, tendo
crescido 87,7% e chegado a 12,6
milhões de brasileiros.
Especialistas ouvidos pela
emissora internacional de jornalismo
independente da Alemanha DW Brasil,
atribuem o cenário atual a uma
combinação de fatores, que passam
pela escalada do desemprego que
teve início a partir de 2015 e as
d
ecisões políticas posteriores que
fragilizaram os vínculos no mundo do
trabalho, como a reforma trabalhista e
a lei da terceirização. As
transformações, ocorridas no contexto
da estagnação econômica iniciada
cinco anos, romperam uma trajetória
de formal
ização que vinha sendo
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
economicamente ativa, o equiva
lente a
38,4 milhões de pessoas, segundo
dados do IBGE. O percentual de
trabalhadores autônomos que não
possui CNPJ chega a quase 80%. A
informalidade inclui, ainda, as
categorias de trabalhador sem carteira,
trabalhadores domésticos sem
or sem CNPJ e
trabalhador familiar auxiliar. O
crescimento da informalidade foi
determinante para conter o aumento
da taxa de desemprego nos últimos
anos. De 2014 a 2019, a população
desocupada quase dobrou, tendo
crescido 87,7% e chegado a 12,6
Especialistas ouvidos pela
emissora internacional de jornalismo
independente da Alemanha DW Brasil,
atribuem o cenário atual a uma
combinação de fatores, que passam
pela escalada do desemprego que
teve início a partir de 2015 e as
ecisões políticas posteriores que
fragilizaram os vínculos no mundo do
trabalho, como a reforma trabalhista e
a lei da terceirização. As
transformações, ocorridas no contexto
da estagnação econômica iniciada
cinco anos, romperam uma trajetória
ização que vinha sendo
observada nos anos 2000. O
professor de economia da USP, Ruy
Braga, pontua que nessa década, 93%
dos empregos criados eram formais.
Entretanto, 63,7% dos postos de
trabalho abertos no período estavam
no setor de serviços, de remuner
mais baixa.
“A construção de um mercado
regulado de trabalho, que articulava
emprego e cidadania salarial, com
direitos e uma forte presença do poder
público protegendo o trabalhador,
tomou décadas e esteve muito
associado ao projeto de
industrialização do país”, afirma Ruy
Braga
9
.
Segundo Braga, em 2018, a
participação da indústria de
transformação no Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro atingiu o menor
patamar desde o final dos anos 1940:
11,3%. Nos anos 1980, a taxa chegou
a se aprox
imar dos 30%.
O horizonte de integração social
via trabalho e direitos está se
esfacelando. Temos uma parcela
enorme da juventude exposta aos
riscos desse modelo
autoempreendedor popular sem
uma formação profissional. Isso
9
DW Brasil,
19/03/2020, em:
https://www.dw.com/pt-
br/epidemia
coronav%C3%ADrus-
exp%C3%B5e
vulnerabilidades-da-
uberiza%C3%A7%C3%A3o/a
223
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
observada nos anos 2000. O
professor de economia da USP, Ruy
Braga, pontua que nessa década, 93%
dos empregos criados eram formais.
Entretanto, 63,7% dos postos de
trabalho abertos no período estavam
no setor de serviços, de remuner
ação
“A construção de um mercado
regulado de trabalho, que articulava
emprego e cidadania salarial, com
direitos e uma forte presença do poder
público protegendo o trabalhador,
tomou décadas e esteve muito
associado ao projeto de
industrialização do país”, afirma Ruy
Segundo Braga, em 2018, a
participação da indústria de
transformação no Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro atingiu o menor
patamar desde o final dos anos 1940:
11,3%. Nos anos 1980, a taxa chegou
imar dos 30%.
O horizonte de integração social
via trabalho e direitos está se
esfacelando. Temos uma parcela
enorme da juventude exposta aos
riscos desse modelo
autoempreendedor popular sem
uma formação profissional. Isso
19/03/2020, em:
br/epidemia
-de-
exp%C3%B5e
-
uberiza%C3%A7%C3%A3o/a
-52830974
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
pode construir um mercado
basta
nte desregulado, e até
selvagem, mas não constrói um
país, segregando as pessoas do
acesso a direitos básicos, como a
aposentadoria
(Ibidem).
Caminhos incertos sobre o futuro
do trabalho
Iniciamos por considerar, a partir
das condições precarizadas e sem
quaisquer garantias de fontes de renda
e o desmantelamento das políticas
culturais no Brasil, que se
expressaram nas vozes dos artistas
entrevistados, apontam uma grande
incertez
a acerca do futuro do mercado
de trabalho não somente na Cultura.
Sobretudo, a partir de 2016, com a
extinção da pasta do Ministério da
Cultura e demais medidas tomadas
por Michel Temer no governo, cujas
perdas se intensificaram, desde 2019,
nesse governo
de Jair Bolsonaro, que
decretou uma guerra cultural, além dos
profundos impactos identificados no
país e no mundo, a partir de 2020,
causados pela pandemia do Covid
De fato, vimos se esfacelar a
cada dia o mercado regulado de
trabalho e dos d
ireitos, a perda de
emprego e da cidadania, com muitas
demissões, terceirizações,
privatizações, um aumento significativo
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
pode construir um mercado
nte desregulado, e até
selvagem, mas não constrói um
país, segregando as pessoas do
acesso a direitos básicos, como a
(Ibidem).
Caminhos incertos sobre o futuro
Iniciamos por considerar, a partir
das condições precarizadas e sem
quaisquer garantias de fontes de renda
e o desmantelamento das políticas
culturais no Brasil, que se
expressaram nas vozes dos artistas
entrevistados, apontam uma grande
a acerca do futuro do mercado
de trabalho não somente na Cultura.
Sobretudo, a partir de 2016, com a
extinção da pasta do Ministério da
Cultura e demais medidas tomadas
por Michel Temer no governo, cujas
perdas se intensificaram, desde 2019,
de Jair Bolsonaro, que
decretou uma guerra cultural, além dos
profundos impactos identificados no
país e no mundo, a partir de 2020,
causados pela pandemia do Covid
-19.
De fato, vimos se esfacelar a
cada dia o mercado regulado de
ireitos, a perda de
emprego e da cidadania, com muitas
demissões, terceirizações,
privatizações, um aumento significativo
de autônomos, informais, a chamada
uberização
e as reformas trabalhistas
e da previdência. Um sistema que
concentra cada vez mais no i
a responsabilidade de arcar com os
riscos e incertezas para se
autopromover, auto
também se autoculpabilizar por suas
perdas e fracassos, isentando o
Estado, a lei e a economia pelas
dificuldades e condições precárias
enfrentadas num
extremamente concentrado, desigual,
segregador e excludente.
consegue se destacar e alçar o cume
é visibilizado como artista, mas é
invisibilizado em seu labor enquanto
assalariado comum, que tangencia a
cada momento a sua condição de
preca
riedade, ainda que muitas vezes
obliterado pela falácia de ser
“empreendedor”.
Nesse cenário dramático, a
exemplo de um mercado de trabalho e
de um governo Bolsonaro que
evidencia o mundo dos negócios,
torna-
se difícil garantir a retomada e a
con
tinuidade das políticas públicas
voltadas para a Cultura que levem em
conta a diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
224
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
de autônomos, informais, a chamada
e as reformas trabalhistas
e da previdência. Um sistema que
concentra cada vez mais no i
ndivíduo
a responsabilidade de arcar com os
riscos e incertezas para se
autopromover, auto
-empresariar e
também se autoculpabilizar por suas
perdas e fracassos, isentando o
Estado, a lei e a economia pelas
dificuldades e condições precárias
enfrentadas num
mercado
extremamente concentrado, desigual,
segregador e excludente.
Quando
consegue se destacar e alçar o cume
é visibilizado como artista, mas é
invisibilizado em seu labor enquanto
assalariado comum, que tangencia a
cada momento a sua condição de
riedade, ainda que muitas vezes
obliterado pela falácia de ser
Nesse cenário dramático, a
exemplo de um mercado de trabalho e
de um governo Bolsonaro que
evidencia o mundo dos negócios,
se difícil garantir a retomada e a
tinuidade das políticas públicas
voltadas para a Cultura que levem em
conta a diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
políticas, sugerida pela maioria
das/dos entrevistados.
Com base em suas falas e
também nas análises feitas po
diferentes pensadores, é possível
perceber a necessidade de se
repensar os significados dos termos
cultura, trabalho, criatividade,
empreendedorismo, como também,
rever o papel do Estado. Além da
função do empreendedor que passou
a se desvirtuada e explo
empresas, com o incremento de
controle ideológico, de captura das
subjetividades. Por outro lado,
sabemos que não é todo mundo que
consegue performar, empreender e
cumprir o desempenho da chamada
meritocracia, criando-
se um exército
de reserva p
ara retroalimentar esse
imaginário individualista. Se o
trabalhador da cultura precisa assumir
múltiplas tarefas e funções, de
maneira independente, incerta,
intermitente, sem nenhuma garantia de
trabalho, renda e proteção social, ao
invés de assumir o pap
empreendedor, que lhe designaram na
intenção de fazê-
lo sentir
empresário, empoderado e
reconhecido, cabe a ele, portanto, que
carrega o sobrepeso laboral
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
políticas, sugerida pela maioria
Com base em suas falas e
também nas análises feitas po
r
diferentes pensadores, é possível
perceber a necessidade de se
repensar os significados dos termos
cultura, trabalho, criatividade,
empreendedorismo, como também,
rever o papel do Estado. Além da
função do empreendedor que passou
a se desvirtuada e explo
rada pelas
empresas, com o incremento de
controle ideológico, de captura das
subjetividades. Por outro lado,
sabemos que não é todo mundo que
consegue performar, empreender e
cumprir o desempenho da chamada
se um exército
ara retroalimentar esse
imaginário individualista. Se o
trabalhador da cultura precisa assumir
múltiplas tarefas e funções, de
maneira independente, incerta,
intermitente, sem nenhuma garantia de
trabalho, renda e proteção social, ao
invés de assumir o pap
el de
empreendedor, que lhe designaram na
lo sentir
-se
empresário, empoderado e
reconhecido, cabe a ele, portanto, que
carrega o sobrepeso laboral
atravessado pela precariedade, utilizar
a sua criatividade para se autonomear
e mudar esse m
odelo de economia em
nada criativa.
As políticas públicas culturais,
que implicam em implementar ações
que visam corrigir as distorções, de
forma ampla, democrática e
compartilhada com o acesso, a
participação e o controle social da
sociedade ci
vil, não podem assumir
um viés empresarial,
empreendedorista, adotando o modelo
e a defesa de interesses do mundo
dos negócios, que concentra recursos
públicos em grandes eventos e no
entretenimento, conforme destacaram
as/os entrevistados. Um modelo de
cu
ltura exploratória, espetacularizada,
mercantilizada e oferecida como
produto.
Nesse capitalismo estético,
cultural, uma estetização da crise
com animação e entretenimento,
diversão e clichês de publicidade,
onde o empreendedor, embora
contraditoriamente precário, é também
levado a oferecer-
se como produto
vendável para
atrair o mercado
consumidor-
espectador
sistema econômico de mercado, os
objetos estão esvaziados de conteúdo,
225
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
atravessado pela precariedade, utilizar
a sua criatividade para se autonomear
odelo de economia em
As políticas públicas culturais,
que implicam em implementar ações
que visam corrigir as distorções, de
forma ampla, democrática e
compartilhada com o acesso, a
participação e o controle social da
vil, não podem assumir
um viés empresarial,
empreendedorista, adotando o modelo
e a defesa de interesses do mundo
dos negócios, que concentra recursos
públicos em grandes eventos e no
entretenimento, conforme destacaram
as/os entrevistados. Um modelo de
ltura exploratória, espetacularizada,
mercantilizada e oferecida como
Nesse capitalismo estético,
cultural, uma estetização da crise
com animação e entretenimento,
diversão e clichês de publicidade,
onde o empreendedor, embora
contraditoriamente precário, é também
se como produto
atrair o mercado
espectador
-cidadão. No
sistema econômico de mercado, os
objetos estão esvaziados de conteúdo,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
o único valor existencial é o consumo,
onde o irreal devora tudo e as pessoas
viram paródias de si mesmas, autoras
e vítimas de uma auto-
encenação. E
uma expropriação de seres humanos e
suas culturas, com o extermínio das
populações indígenas, quilombolas
trabalhadores rurais, que vivem nas
florestas enfrentam
as constantes
invasões, queimadas
e conflitos com
latifundiários, mineradora
madeireiras na disputas pela terra.
troca, é oferecido e estimulado um
padrão fabricado com base no
consumo, lucro e interesses do
agronegócio e do mercado
empresarial. C
om a conivência e a
liberação por parte do governo, como
estamos vendo no moment
Após 520 anos, os corpos indígenas e
sua existência seguem sendo
resistência, para manter viva sua
história.
É preciso e
scapar dessa lógica
mercadológica, competitiva,
excludente e concentrada em
determinadas pessoas, áreas, regiões,
p
rojetos do chamado mérito cultural,
que além de ser precária e
autoexploratória, não é criativa,
inclusiva e sequer cidadã.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
o único valor existencial é o consumo,
onde o irreal devora tudo e as pessoas
viram paródias de si mesmas, autoras
encenação. E
uma expropriação de seres humanos e
suas culturas, com o extermínio das
populações indígenas, quilombolas
e
trabalhadores rurais, que vivem nas
as constantes
e conflitos com
latifundiários, mineradora
s,
madeireiras na disputas pela terra.
Em
troca, é oferecido e estimulado um
padrão fabricado com base no
consumo, lucro e interesses do
agronegócio e do mercado
om a conivência e a
liberação por parte do governo, como
estamos vendo no moment
o atual.
Após 520 anos, os corpos indígenas e
sua existência seguem sendo
resistência, para manter viva sua
scapar dessa lógica
mercadológica, competitiva,
excludente e concentrada em
determinadas pessoas, áreas, regiões,
rojetos do chamado mérito cultural,
que além de ser precária e
autoexploratória, não é criativa,
muita potência inventiva e
solidária em muitas comunidades
cujos coletivos, territórios e
equipamentos precisam ser
refo
rçados, de forma permanente, a
partir da ajuda mútua do trabalho
comunitário para enfrentar
conjuntamente o estado de
precariedade cuja mudança passa
fundamentalmente por uma nova
Cultura.
Referências
bibliográficas
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS IBGE,
2007-
2018: Setor cultural ocupa 5,2 milhões
de pessoas em 2018, tendo movimentado
R$ 226 bilhões no ano anterior.
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imprensa/2013
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noticias/releases/26235
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2-milhoes-de-
pessoas
movimentado-r-226-
bilhoes
anterior.
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DIÁRIO DA CAUSA OPERIA
5998, Abandonados à própria sorte
226
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
muita potência inventiva e
solidária em muitas comunidades
cujos coletivos, territórios e
equipamentos precisam ser
rçados, de forma permanente, a
partir da ajuda mútua do trabalho
comunitário para enfrentar
conjuntamente o estado de
precariedade cuja mudança passa
fundamentalmente por uma nova
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SIIC
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de pessoas em 2018, tendo movimentado
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racionalidade neoliberal e as
estratégias para “viver de cultura” a
partir de produtores/as culturais
freelancers na cidade do Rio de
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partir de produtores/as culturais
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113
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